A primeira moda lançada por Lula foi a barba. Quando começou a popularizar-se com as greves dos metalúrgicos, nos jurássicos anos 80 do século passado, a barba desgrenhada de quem não tinha dinheiro para comprar giletes passou a ser imitada. Tirando Karl Marx, Lênin, Che Guevara e Fidel Castro, não me lembro de um socialista/comunista notório que usasse o adereço facial.
“Comunistas” de norte a sul passaram a copiar o líder recém surgido. A barba era usada como uma espécie de crachá. Não bastasse estarmos saindo dos deselegantes anos 70 em que barba, cabelo e bigode grandes, além das pantalonas e bocas de sino, eram aceitos, hoje restritos à Argentina, a barba socialista era um identificador entre seus pares. O equivalente feminino era a falta de depilação, os cabelos de piaçava e as batas indianas. Homens e mulheres se igualavam nas bolsas a tiracolo e nas sandálias de couro de bode, mas essa é outra conversa.
Dessa época vem a piada de uma festa regada a rum cubano e charutos cubanos e paraguaios, se é que me entendem. Os barbados identificavam-se como policiais cubanos e tinham passe livre. Um penetra imberbe é barrado na porta. Tentando imitar os barbudos que entraram antes, também disse ser da polícia de Castro, o leão-de-chácara duvida, alega que falta a barba. O imberbe mostra os pêlos pubianos e sussurra “polícia secreta”.
Os socialistas enriqueceram, pelo menos os mandatários. Depois do fim da ditadura saíram da clandestinidade, formaram um partido que mais tarde tornou-se mais um sindicato como os muitos sindicatos que sempre comandaram, só que um sindicato de ladrões; elegeram-se legisladores, de vereadores a senadores, fizeram estardalhaço na Assembléia Nacional Constituinte; ascenderam às prefeituras e subiam mais, às governadorias e, por fim, à presidência da República. A cada degrau da subida a barba se fazia presente.
Petista sem barba era objeto de desconfiança, embora pudesse ser da “polícia secreta” de Lula. Talvez fosse essa a intenção, assim prestássemos atenção às barbas e esquecêssemos de notar os caráteres defeituosos que elas escondiam, superficialistas que somos.
Já existiam e proliferavam os lulistas e eles se dividiam e se dividem em dois grupos: os que creem cegamente em seu líder e os que se aproveitam do brilho de seu inegável carisma para fazerem negócios e negociatas na sombra. No primeiro grupo, além da barba, outra característica de Lula era imitada: a língua presa. Não são poucos os lulistas de primeira ordem que ou tinham essa característica nata ou, simplesmente, copiavam o chefe. Vicentinho talvez seja o melhor exemplo da língua presa do primeiro escalão.
A respeito do Vicentinho, quando percebeu que estudar não doía, distanciou-se do antigo companheiro e… retirou a barba.
Mas prender a língua dá trabalho, é incômodo e pode ser esquecido no meio de uma discussão, tipo de ação em que os vermelhinhos são pródigos. A barba era mais fácil de manter.
Com a escalada social petista a barba transformou-se. Zé Dirceu, por exemplo, tirou a barba, manteve o bigode por um tempo e hoje, nem isso. Fazendo parte da turma que trabalha nas sombras, de preferência as mais escuras, Dirceu mostra que não é tão lulista e muito menos socialista, é capitalista dirceusista puro, dono do próprio bigode e intenções.
Marco Aurélio Garcia mantém uma barba totalmente desalinhada, mas esse é um deselegante completo. Dentes com tártaro secular, ternos amassados, gestos obscenos e mente transversa. Um verdadeiro lulista que não evoluiu, manteve-se nos 80, fora a influência e a conta bancária.
Berzoini, que nunca privou da amizade íntima de Lula, reduziu a barba a um asqueroso cavanhaque; Vaccari, o desonesto tesoureiro, herdeiro de outro desonesto tesoureiro barbudo, o delúbio, repete a barba desenhada do mestre depois de usar um emaranhado de pêlos na época de início de ascenção; Mercadante, o capachão, a estrela em decadência, também usa os pêlos aparados como Lula; Suplicy jamais usou barba, talvez por isso mesmo tornou-se petista do bloco do “eu sozinho”. Marta tirou a barba com depilação permanente.
Até lula mudou de barba. Hoje a desenha meticulosamente e só a mantém por ter ela tprnado-se um símbolo pessoal depois da eternização do “sapo barbudo” proferido pelo Mário Amato. Até tentou apenas o bigode por um tempo, mas voltou à velha iagem externa. Internamente esqueceu-se que foi pobre e que a gilete era cara. A pobreza passada ficou apenas para os discursos populistas.
A barba petista é símbolo mais revelador do caráter de quem a usa do que a estrela vermelha relegada à lapela do rebutalho da militância. Quanto mais se aproxima dos altos negócios e negociatas do vértice superior da pirâmide petista, mas a barba é trabalhada ou excluída.