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segunda-feira, novembro 29, 2010

Adeus, Dedo Duro

 

 

O conheci alguns meses antes do primeiro turno das eleições. Eu na oposição ao governo Lula e ele numa posição meio dúbia. Hoje entendo essa posição, era mais ou menos a que assumi no primeiro ano de mandato do Lula, apoio à distância, menos por crença no que ele poderia fazer, mais por querer que ele realmente fizesse algo melhor.

O Dedo pesquisava dados políticos, sociais, econômicos, fosse o que fosse, e os comparava com os mesmos números do governo FHC. Era um pesquisador. Por vezes pensei em deixar de segui-lo, até por não gostar muito de pseudônimos, sem falar que seu avatar não mostrava seu rosto. Era mais um anônimo sem face. Mas aí ele entrou em um entrevero com algum petista e eu fiquei do seu lado. Naquela hora ele tomou uma posição mais clara e não mais se afastou dela, pelo contrário, colocava-se cada dia mais à distância da situação, abraçava a précandidatura tucana e a abraçou com força depois. Não afastou-se um milímetro de suas convicções.

Suas pesquisas tonaram-se mais profundas e seu discurso mais contundente. Nos aproximamos mais, passamos a trocar idéias mais amiúde e links diariamente, mas nunca falávamos de nossas vidas. Não sabia seu nome ou a cidade de onde postava, sua idade, sua escolaridade ou profissão e ainda não sei quase nada disso, e nem vem ao caso. Este rapaz mostrou-se um verdadeiro brasileiro, de alma e coração, corajoso em sua postura e convicto em suas posições. Levava nas ações o vigor da juventude.

Passaram-se as eleições, perdemos todos, e ainda no dia 10 de novembro ele postou no Twitter ” E me desligo do twitter, minha missão terminou p hora! Obrigado aos amigos q fiz aqui e que continuarão comigo, de todas as vertentes. Um bj”. Como eu estava cansado, abatido e com uma tremenda ressaca eleitoral, não dei importância à segunda postagem depois dessa, que dizia “E me desligo do twitter, minha missão terminou p hora! Obrigado aos amigos q fiz aqui e que continuarão comigo, de todas as vertentes. Um bj”. Perdi a chance de dar-lhe uma força. Apenas me despedi desejando bom descanso e retorno breve, precisaríamos dele.

Mas ele não conseguiu ficar longe do front. Já no dia três ele voltava à carga. Parabenizou José Serra, de quem ele tornou-se interlocutor constante, além de cabo eleitoral atuante. Remontava-se como opositor de primeiro minuto ao governo que assumirá em janeiro. Voltava a mostrar-se o garoto forte, partia para a luta antecipada.

Poucos dias depois fiquei sabendo que estava hospitalizado e com leucemia. Foi um baque. Nunca pensamos ou esperamos que um jovem vigoroso seja vítima de doença tão cruel. Mostrei minha solidariedade e fiquei na torcida ansiosa como vários outros amigos virtuais. Na negativa da dor, o tratava como se tivesse apenas um dente inflamado ou uma caxumba que logo passa. Mandava-lhe uma ou outra mensagem de conforto. Ele jamais respondeu a qualquer delas. Ocupava seu tempo virtual com postagens ácidas e certeiras contra o governo atual.

Vejo agora o quanto ele amava deveras o país em que nascera. Não se queixava das dores, dos remédios ou dos prognósticos. Pouquíssimas vezes referia-se ao quarto do hospital e, em algumas delas, com mensagens simples, como “Saudade do café”. A doença era um detalhe, o bem estar do país era a bandeira. E ele lutou, sem dúvida, até o último suspiro.

Ainda sei muito pouco de sua vida, mas não importa mais. O exemplo que deixou é sua biografia, seu legado de convicções, fé e luta como poucos brasileiros podem repetir.

Sua última postagem foi uma piada para uma amiga: “@miaeloin hahahaha eu comilao? Comida de hospital e um misterio... Todas tem o mesmo sabor, nenhum!! Nos EUA no Brasil, Sao Paulo, Parana...”. É, para mim, o seu adeus.

A propósito, o vídeo do início do post é o que ele mantinha em seu perfil no Twitter. Mais uma prova de seu amor ao país e sua esperança de um Brasil melhor. Tomara que possamos dar esse presente a ele um dia.

Boa viagem, Raphael.

 

©Marcos Pontes

terça-feira, novembro 23, 2010

“Ricos, mas capados”

trabalhadores em pintura

A frase reproduzida no título é do filósofo Olavo de Carvalho, o terror dos comunistas brasileiros, porta bandeira dos conservadores e um direitista incompreendido, ou até desconhecido, pela direita de botequim. Ela é uma referência aos empresários, mormente os de grande porte – significa fortuna – que bancam a esquerda por razões diversas.

O que levaria um grande capitalista como Abílio Diniz ou Guilherme Leal se juntar aos socialistas, bancar parte de suas campanhas e até candidatar-se com eles, como fez Leal? Ou o Paulo Skaf, ex-presidente da FIESP, a organização que reúne os maiores capitães da indústria nacional, se filiar ao Partido Socialista Brasileiro?

Para entender, há de se fazer vasta pesquisa antropológica, sociológica, econômica e psicológica, algo que não sou capaz de fazer em curto prazo e ninguém seria capaz de explicar em apenas uma lauda, espaço que me dou para que a leitura não seja tão cansativa. Mas, resumindo a análise profunda e muito bem embasada do Olavo de Carvalho, essas pessoas sofrem de “loucura revolucionária”.

Além desses senhores, intelectuais, artistas e intelectualóides, como Gabriel Garcia Márquez, Chico Buarque, Oscar Niemeyer ou Paulo Coelho, não necessariamente na ordem respectiva, tendem a romantizar as guerras contra qualquer regime institucionalizado, colocando seus atores como gente do povo, sujeitos comuns e injustiçados que “deram a volta” no regime opressor, para usar um jargão comum empregado por essa gente.

Seja na vida real, seja nas artes, esses “heróis populares” sempre foram vestidos com áurea coroa de paladinos dos injustiçados, de Robin Hood, o bom ladrão, que roubava dos ricos e dava aos pobres, passando por Lampião, Leonardo Pareja, a Che Guevara, um pequeno burguês, “paranoitizado” pelos muitos livros e armado de atrativos físicos e discurso engajado.

Roger Green Lancelyn, autor de Robin Hood, era um pesquisador de mitologia grega, do Egito antigo, tema sobre os quais escreveu, além da histórias do Rei Arthur, um monarca com espírito socialista. Inglês de posses e notoriedade nos meios acadêmicos, estudante e professor em Oxford, Lancelyn, muito provavelmente, não teve contato próximo com a miséria pecuniária se seus concidadãos, um pouco diferente de Buarque, Niemeyer e Coelho, ou mesmo de Márquez, homens de países miseráveis, cercados por favelas, crimes, tráfico de drogas, assassinatos e políticos corruptos. A semelhança está na romantização dos marginais.

A obra poética e literária do Chico está prenhe – palavra que aprendi com ele na letra de “Jorge Maravilha”, lá na minha infância – de heróis marginais ou o que passaram a chamar de antiherói, a partir de Macunaíma, do Mário de Andrade. “O Meu Guri”, o protagonista de Estorvo, os bichos de Saltimbancos, o Malandro da Ópera e até Lily Braun, uma mal amada cantora de cabaré, são alguns dos marginalizados envergando as vestes de heróis populares idealizados por Chico. Mas Chico, filho e sobrinho de intelectuais de alta cepa, não conhece mais de malandragem do que a dos jogadores do seu Politeama. E como ele, via de regra, artistas, escritores e intelectuais não conseguem ver o macro, tomam pequenos exemplos como exemplos prontos e acabados, empatizam-se com esses seres idealizados por criatividade ou visão distorcida, mas não conseguem ver todos os lados do ambiente em que se contextualizam. Inventam santos sobre a carcaça de pecadores.

A tudo se permite aos artistas e eles, em suas paranóias, crentes que suas invenções são reais, despejam sobre os incautos uma verdade mentirosa.

E os milionários empresários, onde se incluem? No exército dos covardes.

Por medo das retaliações que, historicamente, os esquerdistas aplicam contra seus opositores logo que conquistam o poder ou por negociarem seu sucesso futuro, entregam-se nos braços dos vermelhos.

Os bolcheviques soviéticos já ensinavam a usar do capital dos capitalistas para instaurarem suas ditaduras. Não existe comunismo sem capital e os grandes capitalistas, ricos, mas sem culhões, cedem às pressões para manterem seu status quo. Vendem-se em troca de nada, deixam-se manobrar e não conseguem coragem para enfrentar a fera socialista voraz e sedenta de fortuna. Acham-se seguros atrás de seu capital e a inviolabilidade – como se isso fosse possível num governo do qual faz parte Antonio Palocci – de seus negócios não conhecendo ou tentando não ver os exemplos dos muitos figurões dos negócios que foram mantidos atuantes e aumentando a fortuna em regimes ditatoriais como o socialista soviético e o nazista hitleriano apenas enquanto faziam o jogo dos ditadores.

Atualmente essa manipulação vem sendo feita pelo governo bolivariano de Hugo El Loco Chávez, que se apóia nos encagaçados milionários para aumentar seu poder destrutivo.

A massa proletária, desempregada, sem estudo e sem saúde não é formada de heróis, apenas é composta por manobráveis ignorantes pelos artistas, intelectuais e ditadores.

 

(Obrigado à @BeatrizMMoura pelo tema)

 

©Marcos Pontes

quarta-feira, novembro 17, 2010

Ditadura em slow motion

joao-franco-caricatura-01

 

A ditadura em slow motion foi o conceito que, se não me engano, Reinaldo Azevedo criou para definir o golpe pardo – porque branco, imaculado, é algo que me recuso a imaginar vindo do Hugo Chávez –que se aplica na Venezuela.

Este tipo de ditadura é o mais torpe de todos os tipos. Ele não se apresenta como propósito de ditadura como esperamos que uma ditadura se apresente. Ele não mostra sua face autocrática na figura estereotipada dos ditadores montados a cavalo, envergando um uniforme militar enfeitado de medalhas e bigodão a la Zapata. Ele não mostra a face áspera de um regime absolutista com tanques à mostra e paredões crivados de balas e manchados do sangue dos opositores.

A ditadura em slow motion, produto da mente doentia do mandatário venezuelano nasceu da urgência que o Foro de São Paulo tinha de montar um modelo para os países que enviaram signatários. Chávez, louco esquizofrênico e megalômano, uma espécie de Hitler iletrado, não podia, pelas suas características psicóticas, costurar planos elaborados, maquinar com intelectuais de sua estirpe. Meteu o pé na porta e partiu para o ataque.

Fantasiou sua ditadura de democracia e impôs plebiscitos e referendos, dando ao eleitor a falsa ilusão de que ele, o eleitor, quem decidia os rumos políticos da nação. Aproveitando o cacófato, aí danou-se.

Por plebiscito, por exemplo, deu-se um terceiro mandato. Por referendos anulou leis antigas e deu-se o poder de prender qualquer opositor sempre com o mesmo argumento paranóico de golpistas em maquinações. Fechou veículos de comunicação que sequer falassem mal de sua boina vermelha. Aloprou geral. E quando seus concidadãos perceberam o golpe, era tarde.

A fortuna pessoal estava garantida, assim como a autointitulação de representante direto do Divino. Breve tornar-se-á o Deus Sol redivivo.

A amiga tuiteira @anagrana_ me chamou a atenção para artigo no blog do Aluízio Amorim (@blogdoamorim) que nos traz a aprovação de parecer da Comissão de Constituição e Justiça do Senado da PEC 26, que reza a autorização de realização de plebiscitos e referendos populares. Assim nasce um grande problema.

Vivemos numa democracia representativa, por isso elegemos legisladores, para que nos representem. O uso de plebiscitos e referendos é maneira pseudodemocrática de dar ares leves a uma ditadura em slow motion também no Brasil.

Dar ao povaréu iletrado e venal o direito de decidir que leis devem ser anuladas e que mecanismos legais devem ser implementados, é tirar dos nossos representantes legais e eleitos o poder de legislar. É dar à massa manipulável o direito de aprovar os desejos de quem vende melhor a idéia em propagandas de conteúdo raso e apelação marqueteira profunda. É o primeiro tiro na democracia de fato.

O PT criou o mote do orçamento participativo, lá pelo final dos anos 80, quando ganhou as primeiras prefeituras. Lembram disso? Os que lembram podem nos dizer quando que o tal orçamento participativo deu certo ou foi deveras aplicado em algum município petista? Pois me adianto e respondo: Nunca! Foi apenas um engodo para passar ao populacho que ele mesmo, o populacho, havia reunido-se e decidido o que fazer com o dinheiro público.

A PEC 26 é o exemplo de Chávez sendo seguido por um grupo que, nos últimos oito anos, tentou, por várias vezes, impor seu absolutismo vermelho, sempre dando de cara no muro de alguns jornalistas, articulistas e intelectuais mais atentos às manobras comunistas. Se for aprovada no plenário, não resta dúvida, e podem escrever para me cobrar depois, a primeira consulta ao eleitor será sobre o controle público, ou externo, como eles gostam de dizer, dos veículos de comunicação.

Não me causa surpresa que enganadores fingidos de oposicionistas e bons caráteres, como o senador Álvaro Dias, assinem o parecer da CCJ. Esses covardes ajudam a entregar o bolo aos bolivarianos que nos governam e sonham ser enteados do casal Fidel Castro e Hugo Cháves.

Já preparo e-mail para mandar aos parlamentares sobre o assunto. Quando entrar em pauta de votação o enviarei e colocarei aqui. Enquanto isso, nos preparemos, os democratas e “golpistas”, a colocarmos pressão contra esses senhores.

 

©Marcos Pontes

terça-feira, novembro 16, 2010

Camarilha

Lula e Dirceu Chefoes

Espalham a verve incontida

Oceano de lama em profusão

Enodoam a pátria combalida

Promovendo a briga entre irmãos

 

Mentem e não se ruborizam

Agridem quem da mentira foge

Enganam em nome da moral em que pisam

Trazem sempre a traição no alforje

 

Leis, Constituição, Código Penal

São para eles inúteis resmas

Sabem da conivência do Tribunal

Que compram à mancheia e fazem lesmas

 

Elaboram, maldosos, a guerra sul-norte

Jogam negros contra brancos sem piedade

Lançam ricos contra pobres, vendem morte

Ao preço do seu poder e vaidade

 

Do erário fazem vítima e refém

Com propagandas do que não fizeram

Os números de menos viram além

Com os erros daqueles que não erram

 

Com balelas, favores e bolsas

Compram a permanência no poder

Com promessas e obras falsas

Corrompem até quem não os quer

 

Artistas, intelectuais, povaréu se vendem

Fazem-se piso para a malta passear

Imitam avestruzes, a consciência escondem

Sobra à nação a conta a pagar

 

Mafiosos urbanos, terroristas rurais,

Sindicalistas ineptos, juízes venais,

Escritores apócrifos, jornalistas e que tais

Incham a máquina. Bandidos boçais.

 

Não há governo, há quadrilha

Fantasiada de companheiros

Nos bastidores a camarilha

Rouba vidas e dinheiro

 

©Marcos Pontes

segunda-feira, novembro 15, 2010

Em defesa do Lobato

Nilma

"Tia Nastácia, esquecida dos seus numerosos reumatismos, trepou, que nem uma macaca de carvão".

"Não é à toa que os macacos se parecem tanto com os homens. Só dizem bobagens".

Trechos de “Caçadas de Pedrinho”, de Monteiro Lobato, obra de 1933

 

“Nega do cabelo duro

Qual é o pente eu te penteia”

Treco da música “Nega do Cabelo Duro”, de David Nasser e Rubens Soares

 

“Nega do cabelo duro
Que não gosta de pentear
Quando passa na baixa do tubo
O negão começa a gritar”

Treco da música “Fricote”, de Luís Caldas e Paulinho Camafeu

 

“Veja, veja, veja os cabelos dela
Parece bombril de ariar panela
Quando ela passa, me chama atenção
Mas seus cabelos não têm jeito não
A sua catinga quase me desmaiou”

Trecho de “Veja os cabelos dela”, de Tiririca

 

A heresia é minha em querer comparar Monteiro Lobato, a Tiririca, mas ao lembrar de um, não deixei de lembrar do outro. E o que Tiririca e Monteiro Lobato têm em comum? Uma visão culturalmente racista? Provavelmente, sim.

Vem a professora Nilma Lino Gomes, da UFMG, membro (ou seria “membra”, pela lógica sexista da “presidenta”?) do Conselho Nacional de Educação, esta negra linda que ilustra o post, sugerir ao ministro que vira manchete uma vez por ano, quando dá chabu nas provas do ENEM, Fernando Haddad, que não permita a distribuição do livro de Lobato pelo seu conteúdo racista. Sei não, a discussão não pode ser tão rasa, mas também não merece um maremoto.

Muitos anos depois das mortes de David Nasser e Rubens Soares, sua música, um clássico do cancioneiro popular há pouco desencavado por Marcelo D2, um negro de cabelo desgrenhado, também foi alvo da sanha furiosamente politicamente correta. Não me lembro quem e nem gostaria de lembrar, pediu a censura à música, sua exclusão dos anais brasileiros.

Tiririca, em 1996 foi apresentado ao Ministério Público e teve que se explicar. Por pouco não foi parar em cana por dizer que sua negra tem catinga e cabelo de bom bril. Ora, ora, ora, logo Tiririca, um caboclinho que esconde sua cabeleira crespa por baixo de uma peruca amarela? Um cearensezinho de Itapipoca, terra onde se misturam índios, negros e portugueses gerando um monte de mulatinhos engraçados, como seu Chico, meu pai, e branquinhas graciosas, como Luci, minha mãe.

Luís Caldas, pelo que me diz a memória e o conhecimento, passou incólume pela ira persecutória dos politicamente étnicos, mas só por citar uma “negra do cabelo duro” já corria o risco de ser empurrado para a Lei Afonso Arinos por alguma ONG ansiosa por notoriedade.

Nasser, Caldas e Francisco Everardo cometeram o pecado do mau gosto. Quiseram ser engraçadinhos e erraram a mão. Merecem crítica poética e musical das mais severas, sim. Mas talvez seja apenas elitismo meu querer que todo letrista brasileiro seja um Chico Buarque ou um Lupicínio Rodrigues, talvez por isso jamais comprasse um disco do Tiririca ou do Luís Caldas.

Monteiro Lobato, não por comparar a agilidade da Tia Nastácia à de um macaco em escalar árvores, ou de chamar os homens de macacos por termos cérebros defeituosos – talvez os cérebros dos macacos sejam mais bem acabados do que os nossos -, mas por não ter dito no mesmo livro, por exemplo, que Pedrinho corria mais rápido que um coelho, ou que o Marquês de Sabugosa era tão pensativo quanto uma coruja, merece um puxão de orelhas por não ter-se precavido contra os censores raivosos do seu futuro.

©Marcos Pontes

domingo, novembro 14, 2010

Transição ou transação?

transação

Não começou o novo governo, mas a bateria antidesmandos e anticorrupção já encontra alvos.
Caiu um advogado da Casa Civil, por corrupção. Caiu uma componente da equipe de transição, a advogada Christiane Oliveira, por estar envolvida no caso dos sanguessugas, bandidos que desviavam verbas da saúde por meio de licitações fraudadas, notas frias, propinas de prefeitos e tais coisinhas. E hoje aparece o nome de Maria das Graças Foster, engenheira da Petrobrás e nome cotadíssimo para o primeiro escalão do novo governo, em operações no mínimo suspeitas.
Desde que a dona Graça assumiu cargo na diretoria da Petrobrás, a empresa do marido dela, Colin Vaughan Foster, assinou 42 contratos com a empresa estatal (na verdade, é uma economista mista, mas apenas para provocar os vermelhinhos desinformados).
O simples fato de uma empresa ganhar licitações seria motivo para condenar as relações entre a C.Foster, empresa do Colin? Claro que não, mas as coincidências indicam caminho lamacento.
Seria coincidência os contratos, em número tão volumoso, surgirem justamente depois que a dona Graça assumiu o cargo? Mesmo sendo coincidência, não haveria aí choque de interesses, já que a mulher, pela legislação brasileira, torna-se dona de 50% dos bens do marido, deduzindo eu que o casamento tenha sido feito em comunhão parcial de bens, regime preferido no Brasil? Não havendo suspeita, o que demonstra ingenuidade ou conivência da presidência da Petrobrás, não seria o caso de todos os contratos serem devidamente esclarecidos à opinião pública, seja por notas públicas entregues à imprensa, sejam por esclarecimentos no site da Petrobrás?
E que tal uma cabeleireira na equipe de transição? Tá, a senhora Márcia Westphalen não é apenas uma cabeleireira, é uma graduada em direito e será contratada, sem concurso, como secretária trilíngue e receberá R$ 6, 8 mil mensais. Nada mal para quem trabalhava num salão de beleza até um mês atrás.
O salto salarial da senhora Westphalen me lembra o de outro advogado, o senhor Toffolli. Advogado mal sucedido, dono da churrascaria freqüentada por petistas , entre eles Mercadante, Toffolli asfaltou com farinha de trigo e calabresa sua ascensão ao Supremo Tribunal Federal. Terá a senhora Westphalen garantido a boquinha com tinturas e uma peruquinha muito mal ajambrada que determinada senhora utilizou há uns meses?
A disputa por cargos é tão acirrada que até o ministro do Trabalho, sem cargo, sem emprego e sem moral ou competência, anda brigando com o próprio partido na tentativa de manter-se no cargo. Outra briga de foice é pela Secretaria-Geral da Presidência da República. Provando o que todos sabem, que a presidente apita muito pouco na composição do governo, dentro da equipe de transição já há quem defenda a alavancagem da Secretaria ao status de ministério. Já são 37 ministérios atualmente, certo? Pois a senhora Rousseff não diminuirá a quantidade e, tudo indica, aumentará para abrigar mais companheiros sem desempregar os antigos.
Explica-se, assim, porque a reforma fiscal e tributária a ser desenvolvida pelo novo governo deverá nos presentear com mordidas ainda maiores e mais dolorosas do que os governos anteriores. Como bancar tanta gente desocupada com o orçamento atual?
A bolha cresce e uma hora estourará. Torcemos que não, mas pela pisada da equipe transitória as perspectivas são de mais amoralidade e falcatruas como jamais visto na história desse país, mesmo se nos lembrarmos de todas do governo que se acaba.

©Marcos Pontes

segunda-feira, novembro 08, 2010

Faltam Exemplos

Bob e Bob

O melhor professor é o exemplo.
O melhor exemplo é o dos pais.
Nenhuma novidade até aí e talvez não haja outra daqui para baixo, mas não consigo deixar de refletir sobre isso, por isso essa blogagem que fará chover no molhado e não mudará qualquer coisa no rumo tortuoso pelo qual segue o país.
Em janeiro desse ano já escrevi sobre minhas impressões sobre a atual geração de jovens, a quem chamei de “netos de 68”, o que faz desse um tema recorrente, mas tentarei dar um enfoque mais político desta feita.
Quando vejo jovens tentando subornar professores, principalmente nesta época de final de ano letivo, para serem aprovados me asseguro de que os bons valores estão agonizando.
Alguns desses mesmos jovens, de 15, 16 anos vão à escola ou à festinha com a turma dirigindo o carro graciosamente oferecido pelos pais e nessa festa não se furtam a usar álcool ou drogas ilegais e voltam para casa à hora que bem entendem, tenho certeza que o exemplo familiar também foi corrompido.
Ao refletir sobre o lixo em que se transformou a educação pública, com professores preguiçosos, falta de equipamentos e a famigerada “aprovação continuada” que praticamente aprova qualquer freqüentador, mesmo que sazonal, me dói saber que os caminhos da facilidade estão mais escancarados e são mais bem pavimentados do que os que levam à promoção social pelo mérito.
Foi-se o tempo em que os pais aconselhavam aos seus pimpolhos que a educação era o único meio de progredir socialmente. Os pais que ouviam isso e levaram a sério ou progrediram deveras ou, por não terem conseguido, desencantaram-se com a escola e procuraram outros caminhos para satisfazerem suas aspirações de consumo. Caminhos nem sempre honestos. Não que não haja bandidos graduados. Aliás, a sucessão de governos nas três esferas demonstra que eles são em número imenso e aumentando a cada dois anos.
É obrigação dos governos darem aos cidadãos meios de ascenderem a pirâmide social, mas o Estado também optou pelo caminho mais fácil.
Para quê gastar tubos em aprimoramento dos professores, equipagem das escolas, aparelhamento científico das instituições se sai muito mais barato criar um piso salarial de menos de dois salários mínimos e fazer propaganda dizendo que esse dinheiro foi investido na Educação?
Para quê fazer das tais bolsas sociais um programa emergencial, como é o seguro desemprego, se pode tornar-se fonte permanente e legalizada de compra de votos? Há justiça social nisso? Quem trabalha e perde sua fonte de renda seja lá por qual razão, só conta com ajuda financeira por cinco meses, mas quem nunca trabalhou, mas tem filhos, recebe por anos.
As leis e os juízes contribuem com os caminhos da facilidade quando são benevolentes com a bandidagem. Os bandidos pobres são tratados como vítimas sociais e empurrados de volta à sociedade para continuarem delinqüindo; os bandidos ricos são tratados como seres superiores e intocáveis e delinqüem impunes. Vale bem o exemplo do presidente Lula ao defender Sarney com o argumento que ele não poderia ser tratado como uma pessoa comum. Que Sarney não é uma pessoa comum, vá lá, não é mesmo, para alívio das pessoas comuns, mas essa defesa joga na lama o preceito legal de que somos todos iguais perante as leis.
Faltam exemplos, bons exemplos, e esses bons exemplos deveriam ser dados do berço e não na transferência da responsabilidade que cabe à família para a escola que conta com despreparados no cuidado das crianças.
Quando vejo um professor furando a fila da lanchonete da escola, vejo que ele não é diferente das autoridades que dão carteiradas a torto e a direito.
©Marcos Pontes

domingo, novembro 07, 2010

CPMF, já pagamos

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Naquele panavueiro dos anos 90, pouco depois da dupla Itamar/FHC aniquilar a hiperinflação, sem meter a mão em nossa poupança, seja no sentido literal, seja no jocoso, sem plano mirabolante colocando a população contra produtores e comerciantes, como fez Sarney, as contas públicas ficaram menos incompreensíveis.

Tirando a novela da Previdência Social, que economistas, analistas, autoridades, segurados e pensionistas, contribuintes ou a Santa Providência jamais conseguem entender, os governos passaram a ver com mais clareza onde entrava dinheiro, por onde saía, onde estavam os ralos e gargalos. Se não resolveram os problemas de “vazamento”, popularmente conhecidos como “desvios de verbas” ou “caixa dois”, ou seja lá que nome se dê, é outra história. Entre os ladrões sempre estão os amigos do governante de plantão e expor o malfeitor à execração pública é dar arma aos adversários, por isso ficam sempre caladinhos.

Isso acontece desde Deodoro até, já posso adiantar, o governo futuro da senhora Rousseff.

Voltando às contas públicas porque corrupção nacional não é assunto para uma página de Word, caberia numa enciclopédia.

Estabilizada a economia, percebeu-se o rombo na Saúde. Não sobram recursos para atender uma população que teima em crescer e adoecer. Coisa de gente subdesenvolvida. Onde se viu gente educada nas zoropa contrair dengue, tuberculose, febre amarela, piriri, ziquizrira? Mas esse povinho brasileiro não pode deixar os presidentes em paz e teimam em arrumar mazelas físicas para gastarem dinheiro público.

Aí o Doutor Jatene, grande figura da medicina nacional, teve a idéia genial de criar a CPMF. O presidente viu ali sua segunda galinha dos ovos de ouro, depois do próprio plano real. Tudo bem que os ovos dessa galinha eram amargos, mas a população acostumar-se-ia com o gosto. Era, temporário o remédio, tanto que o P da sigla significava Provisório. Duraria apenas o tempo para resolver as questões pendentes na área. Além do mais era um quantia tão insignificante, apenas 0,18% das operações financeira, ninguém chiaria.

Engano. Chiamos e chiamos muito.

Mas o governo ria. Vencido o prazo, o P virou “permanente”, deixou de ser dinheiro para a Saúde e tornou-se fonte para cobrir rombos do governo.

Mais uma vez o prazo de validade esgotou-se e, já no governo Lula, tentaram ressuscitar o imposto fantasiado de “contribuição”, como se fosse algo optativo. Dessa vez a grita foi geral e o governo, mesmo com maioria na Câmara, perdeu a parada para a vontade popular. Esse osso está engasgado até hoje na garganta do presidente que tudo pode e nada sabe.

Se essa coisa voltar, quem será o maior beneficiado? O pobre, dirão os governistas e o governo. O próprio governo, direi eu, que usará esse dinheiro para o que bem lhe convier, uma vez que a fiscalização é inexistente, o TCU é apenas um adorno sem utilidade pendurado na parede dos fundos, o Congresso, do rabo às tetas, é do próprio governo.

E quem será o maior prejudicado? Ora, resposta fácil, a classe média, como sempre. Os milionários, via de regra, como forma de dar um drible no Fisco, não têm renda. Suas empresas bancam as despesas pessoais e familiares, já o assalariado classe média, além de pagar todas as contribuições que o “leão” impõe, inclusive para que tenha Saúde decente, o que não ocorre, ainda paga plano de saúde privado e pagará pela famigerada CPMF. São três pagamentos pelo mesmo produto e, pior, recebendo-o com defeito, seja qual for a forma de pagamento, já que o atendimento médico, tirando Sírio Libanês, Fleury e outros hospitais usados pela gangue que detém o poder, seja de que cor for, é de qualidade duvidosa, Brasil a dentro.

Fiquemos alertas e prontos para cobrar dos parlamentares, a partir de 2 de janeiro, e dos governadores eleitos, a não aprovação desse imposto independentemente do nome que derem a ele para nos enganar.

©Marcos Pontes

quinta-feira, novembro 04, 2010

Guerra Norte-Sul

 

O separatismo de parte do Sul, principalmente de sul riograndenses, é uma constante na história brasileira. Não entro no mérito se a causa é justa, se seria deveras melhor para a região tornar-se um país, se outras regiões também deveriam ou não emancipar-se ou as causas passadas desse anseio.

Não vou entrar na seara fácil exaustivamente repetida que somos um só povo, uma só língua, uma só cultura e blá-blá-bá.

Muito menos perderei meu e seu tempo, caro leitor, discutindo que parte do país é melhor ou pior, mais bonito ou mais feio, de gente mais elegante ou menos elegante e esses conceitozinhos subjetivos. Mais me interessa e preocupa o maltrato atual entre os que, para a falsa definição aceita pela maioria, crêem sermos todos iguais e os desdobramentos que a descoberta das diferenças terão.

A inconsequente Mayara Petruso ficou famosa pela porta dos fundos, pelo caminho mais doloroso da fama, depois de suas tuitadas antinordestinas.

Logo a promulgação do resultado das eleições presidenciais fui mais um que tentava entender as causas da derrota oposicionista, não me aprofundei na busca e evitei especulações mirabolantes. Como faço exercício diário de evitar o maniqueísmo como modo de ver um mundo tão complexo, não creio que as causas sejam unas, mas um aglomerado de erros nossos, acertos alheios e outras ainda indefinidos. Uma dessas causas, que eu já alertava há meses e que ninguém me convenceu do contrário, foi a negativa de Aécio Neves, tão vingativo e vaidoso quanto Ciro Gomes, que fez o inverso do lado de lá, de participar efetivamente na campanha de Serra. Mas esse é outro papo.

A falta de análise, uma das características preponderantes na formação intelectual brasileira, não permite que mesmo pessoas minimante graduadas, como a menina Petruso, tomem como verdade absoluta sua primeira centelha de achismo e ela, assim como muitos, entraram na canoa de que os nordestinos são os culpados pela derrota tucana e todas as mazelas que o petismo continuará a nos deixar, mais e mais, a cada dia de seu governo.

Foto que os índices sócio-educacionais-econômicos do centro-sul e do sul do país são muito melhores que os do norte-nordeste, mas as causas são muito mais profundas do que a simples “vontade” popular de viver na miséria e dependendo das esmolas, ou melhor, assistencialismo oficial; é verdade que a quantidade de agraciados pelas tais bolsas é bem maior no nordeste do que no centro-sul e isto é nada menos que conseqüência justamente dos baixos índices educacionais-econômicos. Há aí um ciclo vicioso em que a miséria alimenta a ignorância e o assistencialismo, que, por sua vez, são alimentados, governo após governo, desde o Brasil Colônia, como forma de manter os currais eleitorais.

Mas a estagiária é apenas uma gota nesse oceano de xenofobia que andava reclusado e desaguou com a vitória petista, ou derrota oposicionista, como queira. No vídeo aí em cima vêem-se outros muitos Petrusos excretando sua ignorância letrada, seu preconceito desinformado, sua burrice acadêmica contra os nordestinos. Gente que não soube perder e, sem tomar conhecimento das análises dos números, como esta encontrada no G1, pegou uma região inteira como bode expiatório.

E a burrice é contagiosa.

Em sua defesa débil, nortistas e nordestinos tão imbecis e burros quanto os sulitas-sudestinos que o agridem, partiram para a agressão recíproca. Ambos utilizam-se da arma plantada por Lula, uma lição leninista, que a melhor forma de conquistar o inimigo é dividindo-o. E Lula soube, como poucos, dividir o país. E isso também eu já explorei em diversos textos. Jogou pobres contra ricos, letrados contra analfabetos, norte contra sul, brancos contra pretos, homens contra mulheres... Por oito anos ele plantou a cisão e colheu os frutos: conquistou o país três vezes seguidas.

Sua última cisão, dessa vez sem programar, apenas contando com mais uma burrice da oposição, foi a de tucanos do norte contra tucanos do sul. E nós, massa de manobra, caímos direitinho. Ao invés de nos unirmos para evitar um quarto mandato petista, preferimos nos agredir e deixar as feras vermelhas à solta.

 

©Marcos Pontes

terça-feira, novembro 02, 2010

Mea culpa

mea

 

Eu sou um injusto que tenta se justo e no meu senso de justiça defeituoso, perco a mão. Por sorte, tenho bons leitores, poucos, mas bons, que me mostram que exagero nos meus comentários, que perco o peso da mão nas minhas críticas, que minhas ofensas são injuriosas.

Alguém, ou mais do que um alguém, uma multidão de escritores de auto-ajuda, já disseram que só os grandes de caráter dão a mão à palmatória, admitem a culpa e pedem desculpas. Pois bem, quero ser um dos grandes.

Peço desculpas por ter atentado incontáveis vezes contra os propósitos nobres do PT que nasceu democraticamente misturando metalúrgicos do ABC Paulista e intelectuais da PUC com o mais nobre propósito de reduzir as injustiças sociais, elevarem a moral depauperada dos brasileiros menos favorecidos economicamente e alavancarem o país à elite mundial - embora a palavra elite seja justamente repugnada pelo partido por conta dos riquinhos mimados que exploram a mão de obra barata e analfabeta para se locupletarem.

Peço desculpas por ter lançado farpas, ou melhor, lanças contra as lideranças esquerdistas do país, homens e mulheres valorosos que jamais labutaram em causa própria, mas sempre com os olhos voltados para o bem comum. Se alguns desses líderes socialistas amealharam fortuna, foi devidamente. Se seus filhos também conseguiram seus pés de meia milionários, mesmo tendo o mínimo de escolaridade em alguma faculdade particular de qualidade duvidosa (aliás, duvidosa apenas para a elite intelectualizada da USP) é porque são jovens esforçados no trabalho diário, inteligentes, sagazes e capazes de gerirem com sucesso seus empreendimentos particulares, longe de qualquer influência de seus pais nas negociações comerciais.

Peço desculpas por ter falado mal das coligações que em muito acrescentam para a melhoria das comunidades Brasil a dentro. O Rio de Janeiro, por exemplo, só vem vencendo a violência urbana, melhorando sensivelmente seus índices de criminalidade, graças à união firme do PT do nobilíssimo presidente Lula com o impoluto PMDB do magnânimo governador Sérgio Cabral, justamente reeleito em primeiro turno numa clara demonstração de reconhecimento da população fluminense à administração primorosa dos últimos quatro anos.

Peço desculpas pela minha ranzinzice preconceituosa contra os pobres brasileiros que pouco se informam não devido à preguiça intelectual ou à má qualidade do telejornalismo nacional, mas por culpa da elite – novamente ela, a elite, o câncer social que corroi os intestinos de nossa sociedade tão violentamente aviltada por essa burguesia podre – que, por meio de patrocínio, obriga os telejornais a usarem palavreado fora do vocabulário do brasileiro comum.

Peço desculpas pelo meu machismo imbecil que não poupou críticas abusivas contra a então candidata e hoje presidenta eleita Dilma Rousseff. Não tendo qualquer argumento que denegrisse sua tão apregoada e comprovada competência e honestidade no trato da coisa pública, resolvi agredi-la gratuitamente apenas pelo fato de ela ser mulher. Sou um troglodita ultrapassado com os ranços dos coronéis nordestinos do início do século vinte.

Mea culpa, mea máxima culpa por todas as tentativas de enlamear a moral, a probidade e o caráter irretocáveis de nossos administradores atuais e de todos os que nos governarão nos próximos quatro anos. Independentemente dos nomes que o excelentíssimo e imaculado senhor José Dirceu escolher para comporem o ministério de nossa excelentíssima presidenta Dilma Simpática Católica e Sorridente Rousseff, tenho certeza que nada teremos com que nos preocupar, nós, brasileiros comuns que nada temos que nos meter a criticar a administração pública regida por homens e mulheres experientes e honestos.

Porra nenhuma!

Não peço desculpas por nada e muito menos aos leitores insatisfeitos.

Lamento, amigos e amigas, mas este blog é escrito para expressar minhas idéias e não conteúdo programático de qualquer partido ou aula de etiqueta e boas maneiras.

Fui serrista? Não! Fui antilulista, antipetista e antidilmista, logicamente anti qualquer coisa ou pessoa ou coligação referente a essas coisas.

Não parti para a ofensa pessoal e nem esculachei a aparência física dos governantes, mas a aparência moral, a propaganda mentirosa, a incompetência gerencial e o caráter canhestro, esses eu não poupei e nem pouparei daqui por diante.

Lamento a dureza, mas a porta de saída para os insatisfeitos é aquela ali no canto, a com uma estrela vermelha.

 

©Marcos Pontes

segunda-feira, novembro 01, 2010

Eu golpista

Midia_Golpista 2

 

Às vezes quase acredito que o Brasil é mesmo o país do futuro, como preconizou Stefan Zweig. Hoje, um dia depois da eleição que direcionou a senhora Rousseff à cadeira presidencial, sentindo um estranho vazio no oco do peito, percebo que a quase totalidade dos jornais fala do futuro governo, como se o atual não tivesse ainda 60 dias pela frente.

Olhando para o futuro, Lula falou há algumas semanas, ou dois meses, o passado não me cai bem, que ainda havia muito governo pela frente, que ele ainda tinha a caneta e que ainda faria muita miséria. Não é preciso ser pitonisa para saber que ele ainda tem muita miséria a fazer. Eles as faz diariamente à profusão.

Há um mês, de olho no futuro, Zé Dirceu – me sinto mal em falar ou escrever o nome desse senhor, ainda mais no diminutivo carinhoso. Só o uso para apressar em duas letras o final da referência a ele -, num discurso em Salvador mandou o aviso definitivo à senhora Rousseff: de acordo com o projeto DE PODER do PT, o partido governaria e não a presidente.

Ao ouvi-la proferir seu discurso da vitória, pensei na fala do Dirceu. Olhando seu discurso passado, me veio a insegurança futura. Se vai ser o partido o governante, em outras palavras, seria, ou será, um governo de muitas mãos e cabeças, predominantemente as do Dirceu e dos chefões petistas, o discurso da presidente eleita cai no vazio. ZD - - legal, economizei 8 letras na referência ao mal – avisou, não só a ela, mas também aos demais partidos da coligação, mormente o PMDB, “baixem a bola, quem manda agora sou eu e meus amiguinhos”.

Antecipando o futuro em quatro anos e contando com a amnésia coletiva brasileira, além de nossa facilidade em perdoar, Aécio Neves preocupou-se primeiro em eleger-se, depois em fazer seu sucessor e, só depois do champanhe secar – entrar na campanha do Serra. Mesmo com o candidato tucano ter avisado ser contrário à reeleição e, se eleito, teria 72 anos quando a próxima campanha estiver em curso, Aécio preferiu não esperar. Fez-se de morto para, na última semana de campanha, fazer um mise-em-scène de bom companheiro que ajuda o candidato comum. Não colou. Hoje vê-se mais gente furiosa com sua postura egoística do que triste com a derrota de Serra. O futuro dirá se Aécio jogou bem ao contar com nosso esquecimento.

De minha parte, o que posso adiantar é que o futuro próximo de quatro anos será igual ao passado imediato de sete anos (dei um ano de tolerÂncia ao Lula até partir rumo à sua jugular): oposição total. Nem sempre tão bem comportada, justa ou benevolente com o governo. Ou ele, o governo, mostra ser sério desde o discursos de posse em 1o de janeiro de 2010 ou, dia após dia, estarei em seu calcanhar, enviando e-mails, como fiz nos últimos anos, aos parlamentares, enchendo o saco dos jornalistas da grande mídia, me solidarizando com os blogueiros e tuiteiros opositores e sendo o golpista que os petistas acusam de ser cada opositor.

Não sou um golpista de fato, como o PIG espalhado pelo PHA também é fantasia, mas se é assim que os asseclas partidários ou os apenas eleitores desinformados vêem a mim e a cada um que se opõe aos ditames autoritários, usurpadores, maniqueístas e bolcheviques dos mandatários petistas, que assim seja. Sou um golpista!

 

©Marcos Pontes