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quinta-feira, janeiro 27, 2011

A Bandeira não é pessoal

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O Brasil é o país do “primeiro”. Volta e meia vemos cartazes, faixas, convites e propagandas da “primeira semana disso”, “primeira mostra daquilo”, “primeiro seminário daquilo outro”, “primeiro congresso de tal coisa”... Poucas são as realizações que chegam a segunda ou mais edições. Essa prática demonstra a falta de continuidade, o descompromisso com o planejamento a longo prazo.

Agora que novos governos assumem em estados e na União, muitos dos projetos anteriores, mesmo alguns que estavam dando certo, são jogados na lixeira numa demonstração explícita que os novos governantes não conhecem os projetos dos anteriores e que, no eterno afã de marcar suas administrações com os traços do personalismo, criam novos projetos – se bem que essa palavra “projeto” também já foi violentada e seu sentido está completamente deturpado – que terão vida curta, sendo prontamente substituídos pelo sucessor.

Não bastasse essa prática nociva às tradições benéficas e ao erário, a onde vermelha, que prega a mudança e a revolução a qualquer oportunidade, vem também destruindo tudo o que há de estabelecido, como se o mundo todo esteja errado desde antes do poder cair em suas mãos.

Casamento, por exemplo, instituição aceita há milênios como a associação de adultos de sexos diferentes, passa a ter outra conotação, mais “moderna”, “revolucionária”. Não bastasse o reconhecimento das relações intrassexo, os “progressistas” têm que negar as relações anteriores. Não é raro ouvirmos alguém dizer que casamento é coisa ultrapassada ao mesmo tempo em que defende o casamento homossexual. Ou seja, o que já havia é velho e ultrapassado, enquanto que o novo é que é bonito.

Dias desses recebi em minha casa um casal, ele holandês e ela brasileira, que negam a igreja católica como coisa ultrapassada, velha, rabugenta e retrógrada, mas defendem os wicca, os cultos afro e o santo daime como a solução religiosa para o mundo. Independentemente de achar que essas vertentes estejam corretas, sejam deveras a salvação das almas, algo em que não creio, não há a necessidade de destruir o que já existe há séculos. Aliás, tal necessidade não há para pessoas com um mínimo de análise e conhecimento histórico, mas em nome do “moderno”, é assim que agem e pensam os miquinhos amestrados e lobotomizados pela maré vermelha que assola o planeta.

Celso Amorim, o mais bem acabado símbolo dessa mudança irracional, empregou nos dois mandatos do presidente anterior, a política externa de “o que é bom para os Estados Unidos, é ruim para nós”. Não havia propósito econômico, político, ideológico nesse rumo que ele traçou a partir do Itamaraty, apenas o propósito de destruir o que já estava estabelecido, uma maneira de concretizar um projeto a longo prazo de fazer ruir o império ianque para estabelecer, lá em seus sonhos magalômanos, um império com a corte em Brasília, tendo um sapo barbudo como imperador.

A resolução da presidente em acabar com a obrigatoriedade de se hastear a bandeira de comandante em frente ao Palácio do Planalto, ao Palácio da Alvorada e à Granja do Torto quando ela estiver presente, é mais uma pequena demonstração de que os propósitos escusos espreitam e se encorpam em pequenos atos.

Quartéise navios de guerra, por exemplo, têm a bandeira do comando hasteada sempre que o comandante esteja presente. É uma forma do público saber que o chefe está trabalhando e, teoricamente, à disposição do público, que é quem paga seus salários e por quem ele, o chefe, teoricamente, trabalha. Até o Palácio de Buckingham hasteia a bandeira de comando quando a rainha está presente.

Mudar esta norma internacionalmente conhecida, reconhecida e aceita é mais uma maneira de destruir instituições antigas sem propósito aparente, mas, com a mais absoluta certeza, com propósitos inconfessáveis e escusos que a observação vai nos revelar em muito pouco tempo.

 

©Marcos Pontes

domingo, janeiro 23, 2011

Fomos vendidos

oposição

Na época da ditadura, mesmo com colegas cassados ou seqüestrados, “desaparecidos, presos, intimados e torturados, alguns valorosos congressistas não se calavam. Mesmo alguns da situação abriam o verbo e protestavam publicamente contra um ou outro ato do executivo.

Retornado à democracia, o país abriu também as comportas para o surgimento de muitos partidos, desde o PT, que eram um aglomerado de siglas de grupos de oposição, seja armada ou democrática, até os até então banidos PCB e PCdoB. Na carona, cumprindo a exigência legal de número mínimo de filiados, vieram dezenas de siglas hoje chamadas de aluguel, alguns já finados, cumprida seu objetivo de fazer negócio vendendo apoio e fazendo fortuna para seus dirigentes, como o PP e o PRN, apenas para citar dois exemplos.

Se havia uma urgência de se fazer oposição aberta, legalizada e democrática, a nova democracia encheu-se de partidos, hoje consigo contar 23, depois de muitos coligarem-se, alguns fecharem suas portas e outros surgirem. A quase totalidade diz-se de esquerda ou centro esquerda, o que leva o cidadão sem malícia perguntar por que tantos se falam a mesma coisa?

Tornou-se, efeito colateral da ditadura, quase uma ofensa dizer-se de direita ou conservador, como se esta posição política caracteriza-se um câncer social. O PDS, partido de sustentação da ditadura, tornou-se PFL, hoje DEM, mudando de nome numa tentativa de afastar-se de seu passado direitista. E o afastou. Poucos de seus quadros, sendo Jair Bolsonaro seu maior expoente, diz-se claramente um conservador, por isso mesmo recebendo a pecha de louco, “reacionário” (o xingamento predileto das esquerdas e dos analfabetos políticos), “capistalista” (outro xingamento vazio, que por mim seria tomado apenas como uma identificação honrosa).

Por outro lado, cada esquerdista declarado e os que vão na maré dita “progressista”, embora defendam práticas russas de 1917, ou chinesas da época de Mao Tsé-Tung ou, ainda pior, castristas, acha-se no direito de abocanhar sua parte privada do Estado, principalmente do erário. Dizem-se injustiçados por terem sido desconsiderados como força política legal pelos generais e metem a mão legalizadamente, mas imoralmente, retirando suas pensões, indenizações e outras vantagens pecuniárias. Se pregam a igualdade social, diferenciam-se pelos privilégios recebidos, numa clara demonstração da contradição que eles carregam intrinsecamente.

E lá vem o governo centro-esquerda de FHC, depois o falso socialismo, que eu apelido de socialismo para os muitos e capitalismo voraz para os seus, de Lula e a corja vermelha que se enterrou sob o chão, como as cigarras, que ao primeiro sinal de verão põem a cabeça para fora e cantam alto sua melodia Internacional Socialista sem a preocupação de perturbar a vizinhança.

No medo de declarar-se direitista, capitalista e conservador, os politicanalhas embarcam no barco vermelho, deixando o país sem oposição.

FHC poupou Lula da cassação quando estourou o desmando do mensalão, toda a pseudo-oposição fez de conta que acreditou na desculpa cínica do presiente que afirmou que nada sabia do desvio de dinheiro público para comprar apoio para o seu governo no Congreso Nacional e o canavial de demais partidos manteve-se calado, acoitando o roubo e a corrupção, talvez em troca de cargos, vantagens, promessas e, quiçá, o mesmo mensalão que continuou em voga, embora mais velado.

O barro podre que faz os políticos da situação filiados ao PT, aos partidos companheiros ou apenas a sindicatos, é o mesmo que dá vida aos políticos de oposição que fazem de conta que são contra o governo e suas falcatruas em discursos para os jornais e nenhuma ação concreta no parlamento.

Não pode haver democracia ou equilíbrio de forças num país sem oposição, situação em que o Brasil se encontra há, pelo menos, 26 anos. Esse monocódio discurso de que somos vítimas nos deixa com a sensação de que a eternização da esquerda nos rumos do país já deu-se, deixando os muitos cidadãos comuns de direita sem representatividade e sentido-se traídos por aqueles que foram eleitos para se oporem a esse estado de desorganização e privatização das riquezas do Estado.

 

©Marcos Pontes

segunda-feira, janeiro 17, 2011

Este ano será igual àquele que passou

corrupcao PT Cartaz

Colocar em ordem cronológica requeriria um exercício de pesquisa a que não estou disposto a me entregar, prefiro contar com brain storm da memória, para isso não é preciso pensar muito para quem tentava manter-se minimamente informado sobre a política nacional nos últimos 8 anos. Me refiro, obviamente, aos inúmeros escândalos surgidos, seja por desonestidade, seja por pura e clara incompetência, no decorrer do governo que se findou, pelo menos pró forma, em 31 de dezembro de 2010.

O primeiro escândalo, sabido e decorado, foi o mensalão, espalhado no ventilador pelo boquirroto bandido que saiu do episódio com aura de bom mocinho, Roberto Jefferson, sujeito já maculado em sua moral ao encabeçar a tropa de choque que defendeu Collor até o penúltimo segundo durante o processo de impeachment do outro boquirroto.

Depois de emagrecer duzentos quilos, ficando com a cara de seu irmão mais magro, o populacho esqueceu-se de quem ele era. A propósito, ligando o mensalão do Jefferson com as denúncias contra Collor, deflagradas pelo irmão que não teve acesso ao bolo, Pedro, em ambos Jefferson teve participação ativa. Passiva e venal. Em ambos saiu arranhado, mas de pé, como os bandidos que saem ilesos ao toparem a delação premiada.

Voltando aos escândalos.

O mensalão, ao ser levantado seu tapete, mostrou a podridão nos Correios. Poxa!, justamente os Correios, a empresa pública que mais contava com a confiança popular havia décadas? Pois é, a administração corrupta da República Sindicalista começou destruindo uma entidade forte.

No rastro dos desmandos desvendados, mas não julgados, aí é querer muito, vieram os sanguessugas, roubando grana da saúde pública, pouco se importando com os usuários do sistema que não contam com hospitais decentes, esperam por meses por exames que podem salvar suas vidas, ou morrem nas filas de espera; os negócios escusos do tal, desculpem o palavrão, Lulinha, que fez fortuna mediando negociatas com a Telemar. A competência a toda prova o fez sair do emprego de limpador de bosta de elefantes a multimilionário e latifundiário, em episódios explícitos de tráfico de influência; na Ciência e Tecnologia, depois da promessa do então presidente de destinar 4% do PIB para essa área, o que se viu foi a transferência de suas verbas para outras áreas, pior, nem sempre aplicadas com transparência. À Ciência e Tecnologia sobraram menos de 1%; a dinheirama destinada, sem licitação ou processo legal, para os tais “movimentos sociais”, inclusive com parecer do inútil Tribuna de Contas da União e redundando num balcão de negócios chamado Comissão Parlamentar de Inquérito das Organizações Não Governamentais, popularmente conhecido como CPI das ONGs. Um dos principais beneficiados é o MST, organização dedicada ao terrorismo rural que nem tem matrícula legal, portanto, sem CGC, o que o impediria de receber verbas oficiais. E daí? Leis, para petistas, foram feitas para serem ignoradas; a dinheirama que Duda Mendonça confessou ter transferido para a Suíça por vias sub-reptícias e recebidos pela primeira campanha do PT e sem recibos. Mesmo diante da confissão, ele continua impune, seu candidato continuou governando, o partido não foi admoestado e nós, contribuintes, tivemos que chorar de raiva caladinhos sob nossos cobertores; o assassinato do prefeito incômodo ao seu partido e seus então companheiros. Caso jamais explicado, mesmo com tantas denúncias claras e não apuradas pelas polícias ou pela justiça; as muitas amizades com ditadores que o presidente abraçou a conselho de seu Richilieu de baixa moralidade, Celso Amorim. Mugabe, Khadafi, Chávez, Morales, Ahmadinejad... São tantos os mandatários de viés ditatorial, alguns, como os latinoamericanos, travestidos de democratas por conta de suas eleições manipuladas, que caíram na boca do povo informado e nas graças do presidente desinformado, que ficamos mal vistos, embora com disfarce, por parte de nossos antigos parceiros do Hemisfério Norte. Não bastasse isso, no apagar das luzes de seu governo, o terrorista Battisti recebeu o aval para continuar em nossas terras, terras de bandidos; no rastro do Amorim, havia o revanchista maoísta gramsciano Tarso Genro, que o povo gaúcho premiou com a governadoria, negando a crença nacional que os gaúchos são bons em política.

Muitos outros escândalos poderiam ser enumerados, mas nada de novo seria dito. Por que, então, resolvi falar desses? Porque percebi que NENHUMA área sob a tutela do Estado saiu incólume da corrupção, dos escândalos e da função de cabide de empregos para os sindicalistas e petistas desempregados. Até a educação pública, que de tão ruim e sucateada parecia não ter como ser mais maculada, caiu no descrédito total com o roubo de provas do ENEM em 2009 e os erros dos gabaritos de 2010, mesmo tendo, o MEC, um ano inteiro para preparar-se para as provas. No finalzinho do mandato, as falhas do ENADE, que nem deram manchetes, tão calejados estamos com a burrice petista.

Pois 2011 parece que vai seguir no mesmo ritmo. Os estudantes não conseguem se inscrever no SiSU e revela-se um esquema de roubos de mais de 500 milhões de reais na Funasa. Para nosso desgosto, no ano previsto para o julgamento do mensalão, tudo indica que ninguém será punido, fazendo desse ano igualzinho aos anos que passaram.

 

©Marcos Pontes

domingo, janeiro 16, 2011

Solidão Palaciana

alvorada

Alguém já disse que o poder é solitário, sem querer minimizar a solidão de quem o exerce, assim como, bem lá no fundo, a de quem está em posição de destaque político, artístico ou esportivo, filosoficamente diria eu que viver é solitário.

O tuiteiro amigo @kubipinheiro08 sugeriu que eu escrevesse sobre a solidão que a presidente encarará no Palácio do Jaburu. Imagino que o caro amigo estivesse se referindo ao Palácio da Alvorada, uma vez que o Jaburu é residência oficial do vice presidente e neste, muito provavelmente, a presidente não será bem vinda nos próximos quatro anos; enquanto que o Palácio da Alvorada é a residência oficial do(a) presidente. A bem da verdade, crieo que o vice também não será persona gratíssima na residente da presidente. Bom, talvez o @kubipinheiro08 tenha referido-se ao Palácio do Jaburu qurendo referir-se à jaburu que ocupará o Palácio da Alvorada, mas aí seria muita maldade nossa, dele e minha.

Os dois tornaram-se uma chapa mais por imposições políticas do que por afinidade de idéias.

Lula havia construído a vice às custas da propaganda farta e de seus vontades impostas, precisava solidificar o nome dela às custas dos companheiros políticos. Nessas horas, os amigos mais propícios para apoiá-lo nessa tarefa eram justamente os desafetos de um passado não muito longínquo, o PMDB. O mesmo PMDB chamado de pelego, pelo finado e esquecido Lula dos anos 80, do Sarney, chamado de ladrão pelo mesmo Lula, juntamente com sua famiglia e partidários. O temerário Temer foi apenas o nome escolhido pelos cardeais venais do PMDB, não houve qualquer interferência da candidata situacionista na escolha desse nome.

Melhor dizendo, talvez a candidata, Poe exclusão, deva ter escolhido o nome que lhe daria, teoricamente, menos dor de cabeça no caso de uma vitória. Mas, brasileiros leitores de jornais e revistas, quantas vezes vimos a dupla mandatária se reunir, fazer declarações conjuntas, defenderem publicamente o mesmo programa governamental ou assumir qualquer compromisso com a nação? Eu não lembro de nenhuma.

A solidão que a presidente encarará no Palácio da Alvorada será minimizada pelas visitas das altas horas, que não aparecem nos jornais, seja porque a imprensa dorme, seja por “pedidos” – e eu não quis dizer chantagem ou compra de silêncio. Amigos, ou amigas, principalmente, a visitarão diante do silêncio das manchetes e até acho isso normal. Pelas suas convidadas especiais para as solenidades da posse e para o primeiro baile do seu império, percebe-se que suas influências perseveram por todos esses anos e é natural que sejam constantes em seus momentos íntimos. Já a solidão que a acompanhará no Palácio do Planalto é mais preocupante.

A Casa Civil, encabeçada pelo ex-ministro e deputado eleito de moral maculada por atitudes nada éticas, amorais e ilegais, pode ser tomada como o parachoque da presidente, é o crivo do que e de quem deve chegar a ela ou não. Contudo, com o corporativismo petista e seu projeto de poder bem maior que seu projeto de governo, muitos dos que chegarão ao gabinete do terceiro andar ocupado pela presidente levarão propostas de lobbies, negociatas. Não devem ser poucos os companheiros a fim de favores presidenciais que acessarão o gabinete sem a intimidade pessoal, apenas por indicações dos líderes partidários, gente nada confiável que a própria presidente, calejada no trato com esse tipo de gente, da qual ela também já foi uma cabeça, sabe que não pode dar-lhes confiança demais, confessar seus dissabores, discutir seus planos ou dar esperanças. É a pior das solidões, do tipo em que se dá no meio da multidão.

No Palácio da Alvorada um exército de 75 serviçais será mais confiável que a centena de visitas diárias ao Palácio do Planalto. Na Alvorada as amigas terão entrada franqueada sempre que a moradora as convidar, enquanto que no Planalto as visitas serão amigas de outros amigos, gente de segunda, terceira ou totalmente desqualificada categoria.

 

©Marcos Pontes

sexta-feira, janeiro 14, 2011

Tricolor ou trifacetada?

Dilma 1

Dilma 2

Três momentos da presidente no Rio, ontem: 1. Seu desfile por uma rua,entre as centenas destruídas, o ar sério, ladeada pelo governador, dezenove seguranças e da Presidência, policiais, papagaios de pirata, jornalistas... Uma multidão; 2. A chegada alegre ao campo do Fluminense, sorriso largo, foto posada com a camisa do clube, acenos para a insignificante patuléia das arquibancadas ao lado do governador, 19 seguranças, policiais, jornalistas, como se estivesse chegando de um chá com as amigas onde haviam discutido banalidades cotidianas; 3. Novamente a máscara séria de pessoa preocupada durante a entrevista coletiva, o esforço para tirar do aliado Cabral a culpa por qualquer falta de ação que resultaram em mais de 500 mortes, as promessas de reconstruir os Rio e aquela fanfarronice típica de qualquer dirigente desse país.

13-01-2011; Rio de Janeiro; O governador Sérgio Cabral, a presidente Dilma Rousseff em coletiva após sobrevoarem as áreas atingidas pelas fortes chuvas na região serrana do estado; Foto : Marino Azevedo 

Aliás, seu antecessor havia prometido reconstruir Santa Catarina, mas, um ano depois da tragédia das enchentes, ainda existem famílias morando em abrigos temporários que já tendem a tornarem-se permanentes.

O mesmo presidente prometeu reconstruir as áreas destruídas nas enxurradas de Alagoas, mas, ao que tudo indica, a ajuda de roupas e comidas arrecadadas por entidades civis foi mais significativa do que a ajuda oficial do governo federal. Nada foi reconstruído, as verbas ainda não chegaram ao destino e a miséria continua no seu rumo à perpetuação.

Quantos morreram há um ano no desmoronamento do Morro do Bumba, em Niterói? Quantos foram retirados, receberam moradia decente em locais seguros? Qual é o montante, por família, para o tal aluguel social ou ajuda aluguel ou sei lá que nome tem? Um miserê que não permite que se alugue um imóvel decente.

Em poucas horas a presidente mostrou suas três caras, de consternação, de satisfação com o puxassaquismo e de técnica estóica. Essa técnica estóica mostrou-se também boa companheira ao isentar o estado e município das responsabilidades numa clara egolatria, uma vez que a Constituição Federal alega que o uso do solo urbano é atribuição dos municípios. Ao tomar para o governo federal a responsabilidade, mostra, além do desconhecimento das leis, algo que seu antecessor mostrou dominar como um craque de quatro patas, que anseia pela aura de heroína nacional.

Do governador fluminense nada falo. Como diria no populesco, não vale a pena gastar vela com defunto ruim. Esse senhor nada mais é do que um populista de palácio. Cada vez que brinda seus concidadãos com sua presença, tirando férias das férias parisienses permanentes, é para falar bobagens, assumir uma empostação de voz típica de vendedores de Bíblia; falar o que o populacho gostaria de ouvir; vomitar razões que sua própria razão desconhece com soluções para todos os problemas de seu estado, sem nada resolver. Ano após ano as desgraças de verão se repetem; durante todo o ano o flagelo do tráfico de drogas se fortalece; emprega toxicômanos contumazes, como Carlos Minc, enquanto defende a legalização das drogas. Nada acrescenta à qualificação dos políticos nacionais.

A presidente, porém, que já demonstrou não ser tão fantoche do seu mentor político e antecessor, mostra ter alguns mesmos defeitos de personalidade dele, a empáfia, a destreza da desfaçatez, mudando de pele, cara e discurso de acordo com a platéia para quem fala.

©Marcos Pontes

quinta-feira, janeiro 13, 2011

A Desgraça Anunciada

encostas

Daqui a duas semanas, dia 27 de janeiro, o governador Sérgio Cabral estará comemorando 48 anos de idade. Há alguns dias o governador fluminense está em Paris, segundo a agenda oficial. Muito chic passar o aniversário em Paris, qualquer sujeito com o mínimo de bom gosto gostaria disso. Para alguns, melhor ainda seria se a festa fosse bancada por um amigo ou pela viúva companheira, não que este seja o caso do governador do Rio, homem de posses, dono de fortuna pessoal que não lhe permitiria tirar férias tão caras às custas do erário.

Vamos retificar. O governador Sérgio Cabral encontrava-se de férias em Paris, mas já encontra-se no Brasil, pelo menos isso. Solidariedade às vítimas da tragédia na Serra de Itaipava será demonstrada com ar de pesar e palavras de consolo devidamente decoradas. Nenhuma novidade até aí, uma vez que, há pelo menos 30 anos, o governador do Rio, seja quem for, em janeiro é obrigado a vir às televisões e jornais, face lúgubre, dizer-se pesaroso com os males das chuvas e enchentes que vitimaram pessoas, destruíram família, desabrigaram cidadãos e coisas que tais. Falo em 30 anos que é o quanto minha memória pode me levar, recordando de desgraça igual ocorrida em 1981.

Ao contrário da mentalidade paulista, a dos governadores do Rio não levam a obras e medidas eficazes para evitar que a tragédia se repita no verão seguinte.

Ano passado houve uma enchente terrível no Jardim Romano, as águas não baixavam, por semanas as pessoas passavam sobre tábuas pelas ruas fétidas. Este ano a chuvarada repetiu-se, pessoas morreram, regiões paulistanas foram alagadas, mas o Jardim Romano, símbolo da desgraça de 2010, já não ficou submerso. Em um ano a prefeitura construiu um piscinão que deu conta do problema, minimizando os males que as chuvas poderiam repetir naquele quinhão de terra bandeirante. Já no Rio...

Dom Pedro II, um sujeito inteligente, brasileiro que amava o Brasil, estudioso dos problemas nacionais, tanto que locomoveu-se de Norte a Sul, conhecendo o continente que administrava, em carruagens, trens, navios e lombo de burro, já havia proibido a construção nas encostas da Serra de Itaipava. Há 200 anos o imperador já sabia dos perigos de se desmatar as encostas, de construir na ribanceira com fundações rasas. Seu decreto, provavelmente, salvou muitas vidas durante os anos em que tal lei foi respeitada.

Veio a República e tudo o que era legal na época da monarquia passou a ser démodé nos novos tempos. Em nome da tal égalité, fraternité et liberté, criamos uma democracia burra, liberdade de mais, se é que possa existir excesso de liberdade. Defino, pois, “liberdade de mais” como a liberdade sem responsabilidade, o tipo de liberdade que coloca as vontades pessoais acima das vontades coletivas. O caso, por exemplo, do cidadão achar que pode construir pendurado no morro sem importar-se que seu ato pode levar perigo aos que moram abaixo de sua construção.

A culpa maior dessa tragédia que se repete anualmente não é só do cidadão que constrói sem alvará em áreas de risco, mas, principalmente, dos órgãos públicos que não fiscalizam, mostrando-se eficientes somente depois que as mortes são computadas às dezenas. Se o governador Cabral, já indo para seu quinto anos de mandato, ou todos os que o antecederam, tomassem medidas sérias, proibitivas, fiscalizatórias, punitivas e inibidoras, muitas vidas teriam sido poupadas, mas, infelizmente, após cessarem as águas, já podemos nos preparar para as mesmas manchetes no verão de 2012. Espero estar errado, mas os últimos 200 anos não me fazem pensar assim, infelizmente.

 

©Marcos Pontes

quinta-feira, janeiro 06, 2011

Cabeça de Brasileiro

blogue-social-darcy-ribeiro-o-povo-brasileiro

 

Quem está na rede é pra se molhar, parafraseando o ditado popular numa referência à internet. Precisava explicar diante da obviedade? Pois bem, meu post anterior chegou aos olhos do jornalista Lucas Echimenco, o que nos levou a uma breve e curta discussão, como o Twitter permite. Travar duelos longos com sentenças de 140 caracteres é missão para monge tibetano. Dessa discussão surgiu um desafio, no bom sentido, proposto por Echimenco: por que não escrevíamos sobre o mesmo tema, postássemos em nossos blogs e colocássemos as sentenças nas mãos dos leitores. Lógico, creio que a intenção dele não era o duelo gratuito, mas uma discussão mais aprofundada.

Pedi que ele sugerisse o tema e ele mandou “a cabeça do brasileiro”, motivado pelo livro de mesmo nome, de Alberto Carlos de Almeida. Missão um tanto dura, já que o Almeida levou 280 páginas para concluir que não somos tão simples de entender, o que também me parece óbvio.

Para se entender a mentalidade de um povo e uma vila que seja, muitos são os fatores a se levar em conta, a começar da origem dessa população, das miscigenações surgidas no decorrer de sua história, de seus hábitos alimentares, do seu sistema social de classes ou castas, enfim, uma gama infindável de afluentes que levam ao caudaloso rio da interação social. Como imaginar, então, que é uma ciência exata traçar o perfil de quase 200 milhões de cabeças?

Partindo para o simplismo que o empirismo me apresenta, já que não sou sociólogo, antropólogo ou sequer analista do IBGE ou do IPHAN, me atrevo a determinar alguns traços comuns à maioria dos brasileiros, mesmo sabendo que desagradarei aos mais ufanistas, sem levar em conta, porém os regionalismos. Os sulistas, por exemplo, julgam-se mais cultos que os nordestinos; os paulistas, com alguma razão, alegam que transportam o país em suas costas econômicas; os alagoanos raramente abandonam seu estado, enquanto que os cearenses espalham-se mais que gíria em boca de adolescentes; os cariocas, quando criticados, costumam alegar, como se fosse a defesa ideal, que o restante do país os inveja. O país é muitos, parafraseando Thayguara que um dia cantou “o homem é mil”.

Ouvi, desde a primeira infância, que o Brasil tinha muitos problemas por ser um país jovem. A história se encarregou de me mostrar que essa justificativa é falha. Os Estados Unidos têm apenas 8 anos a mais que nós e, talvez, mais de 8 vezes o tamanho da nossa economia. Já ouvi a justificativa que a culpa de nossas mazelas é nossa colonização feita por bandidos, degredados e aproveitadores. Ora a Austrália, além de descoberta 160 anos depois de nós, somente em 1770 passou a ser oficialmente uma colônia inglesa, além de ter sido moeda de troca com bandidos condenados. Ou eles cumpririam suas penas ou iriam, como “voluntários”, desbravar, colonizar e explorar a possessão na longínqua Oceania. Em 1997 o PIB da Austrália era de US$ 988, 99 trilhões e o do Brasil, em 2010, 13 anos depois, foi de US$ 2,1 trilhão; a renda per capta da Austrália, em 1997, era US$ 35.677, enquanto que a do Brasil, em 2010, foi US$ 10.296. E olhe que a Austrália não tem a metade dos recursos naturais que nós temos.

Talvez, então, os bandidos portugueses eram mais vorazes que os ingleses. Se lá eles exploraram as riquezas naturais, escravizaram os aborígenes e arrumaram tempo para construir um país que respeitasse à risca as leis do Império britânico, os nossos bandidos também exploraram as riquezas da terra, também escravizaram e mataram os aborígenes, mas fizeram suas próprias leis e preferiam contrabandear os produtos explorados do que pagarem altos impostos para a corte portuguesa. A propósito, a Austrália jamais sediou a moradia dos reis ingleses, mas nós já fomos moradia da Coroa portuguesa. Seriam nossos imperadores mais venais que os bandidos ingleses?

Talvez por termos tantas riquezas, tanto alimento e água, negligenciamos o valor das coisas, afinal, já vaticinava Pero Vaz, em se plantando, tudo dá. Para quê tanto esforço se basta esticar o braço e tirar da mata ao lado o alimento de amanhã?

Talvez por contarmos em nosso DNA a mistura de tantas culturas, algumas conflitantes, como os bantos e os Boubon, uns silvícolas e macumbeiros, outros nobres europeus e católicos por determinação do estado, tenham havido conflitos de idiossincrasias e dificuldade na formação de uma identidade nacional.

Nos acostumamos com a vida fácil, levando vantagem econômica as regiões que mantiveram-se mais fiéis aos costumes europeus: A São Paulo poliglota, o Rio Grande Alemão, o interior paulista italiano e japonês (que, embora não europeu, aprendeu cedo a lutar contra as forças naturais e inimigos poderosos, China e EUA, para produzirem alimento, moradia, educação, saúde e transporte para sua população hoje quase tão grande quanto a nossa numa ilha do tamanho do Piauí), os pomerodes catarinenses e espiritossantenses. Essa gente já veio ao país sabendo que seu suor é o maior adubo para sua riqueza, enquanto que os norte-nordestinos, e não vai aqui nem uma discriminação maldosa, foram educados com a esmola do Estado, o assistencialismo eleitoral, a compra de sua produção por favores mentirosos.

No segundo Império, mesmo que houvesse boa intenção, D. Pedro II tratou o Nosdeste com uma região de coitados que mereciam a ajuda dos demais sem a necessidade da contrapartida. Na primeira República, instaurada por um alagoano e tendo outros grandes nomes nordestinos no pelotão de frente, como Floriano Peixoto, também alagoano, apelaram para o ufanismo e o privilegiamento, embora parco, do Nordeste, do que no investimento sólido em educação e geração de emprego e renda. Mais uma vez o assistencialismo e a esmola social, precursora das bolsas sociais, foi moeda de compra de consciências.

E assim nascemos, crescemos e envelhecemos sob antigos hábitos e mudanças de hábitos não se dão por decreto e composição de caráter levam gerações, enquanto isso não se dá, e nem afirmo que seja bom ou ruim que mudemos, vamos vivendo como país de mil cabeças e muitas sentenças.

Em Mossoró, em pouco mais de dois dias, ouvi a mesma queixa de três pessoas diferentes, em ambientes diferentes: como nosso sotaque é feio. De tanto assistirem ás novelas e programas do Centro Sul, muitos com discriminação patente contra qualquer cultura fora do eixo, faz com que quem não tenha os mesmos costumes envergonhe-se de quem é. O Rio de Janeiro deixou de ser a Corte, deixou de ser a capital da República, mas ainda dita as regras sociais tanto quanto São Paulo dita as regras econômicas. Somos uma grande periferia das duas grandes capitais, nos envergonhando de nossos hábitos, muitos dos quais deveriam mesmo ser razão de vergonha, e aceitando muitos dos hábitos de lá como os a serem seguidos, como a marra, a carteirada, o golpe econômico, o rouba ma faz de Maluf, ou o mundo nos inveja, de Sérgio Cabral.

Não somos uno, mas muitos países, cada um com sua identidade e alguns costumes se intercedendo, muitos dos quais vergonhosos e amorais.

 

©Marcos Pontes

terça-feira, janeiro 04, 2011

Enquanto outro ri

6. A mentira2

“E na vida a gente
Tem que entender
Que um nasce prá sofrer
Enquanto o outro ri..”
Namorei com uma socialista – é, amiguinhos, também tenho meus pecados – e ela criticava esse trecho da música Azul da Cor do Mar, do Tim Maia. Na sua análise marxista, isso era puro determinismo, equivalia a dizer que uns nasceram para mandar e outros para obedecer, uns para serem ricos e outros para serem pobres. Eu, na minha inocência juvenil, via apenas a dor de um sujeito abandonado por uma mulher feliz, talvez a mesma que Chico Buarque cantou:
“atrás de um homem triste
há sempre uma mulher feliz”
Esses dois sujeitos, as personagens do Maia e do Buarque, apenas amargavam as dores de corno inconformados com a alegria da mulher amada.
Essa amiga acreditava na ditadura do proletariado, a mesma que, anos depois do nosso enrosco, fizera água na União Soviética, levando ao naufrágio de todo o império bolchevique.
A revolução vindo das bases, ou melhor, tendo as bases como massa de manobra, sempre passaram por carnificina, sendo as maiores vítimas os mesmos idiotas úteis, como nos denominou Yuri Alexandrovich Bezmenov, o ex-agente da KGB. Aliás, aí está o primeiro contrassenso dos esquerdistas. Para eles só os adversários usavam e abusavam das massas de manobra, os comunistas usaram a cooperação dos injustiçados sociais.
Mas isso tudo foi antes do Gramsci.
O inteligente vermelhinho italiano percebeu que a revolução marxista poderia ser mais inteligente, pacífica e paciente se manipulasse os senhores de engenho, ao invés de incitar as massas ao combate armado. Alguns nasce pra sofrer, mas o que lhe interessava eram os que riem. Cooptar os mandatários e fazer deles comparsas na revolução seria mais proveitoso, levaria mais facilmente à tomada do poder. Gramsci, contrariando os comunistas que, como minha ex-namorada, repudiavam a idéia de classes dominante e comandada, que eles preferem chamar de dominada, idealizou a revolução de cima para baixo e isso se tornou o caminho da revolução bolchevique moderna.
Franklin Martins, Antonio Palocci e a convertida Dilma, junto com o metamorfoseado Dirceu, aprenderam a lição. Uns, por ideologia, outros por inteligência tardia. Dirceu e Dilma pegaram em armas, criam na revolução sangrenta, que terminou dando em nada, enquanto que os mais intelectualizados da esquerda, preferiram a paciência.
É pela aplicação dos mandamentos de Gramsci que essa camaradagem chegou ao poder. Usaram do capital para instalar o tal socialismo marrom de que falou Brizola, o que não mudou foi a incompetência, seja dos tempos de Lênin e seus consecutivos, seja da turma que governa a América Latina, com exceção do Chile que vai muito bem, obrigado.
Não é à toa que vemos grandes donos de fortunas apoiando esses governos vermelhos. A eles foram oferecidas mais fortunas, vantagens e negociatas em troca de algumas “taxas de sucesso” e verbas públicas diretas ou por meio de isenção fiscal.
Gramscianamente, aplicam a máxima leninista de usar o capital dos capitalistas para instaurar o comunismo de meia dúzia. Enquanto isso, nas carteiras de trabalho alguns sofrem enquanto que nos palácios vermelhos, outros riem.

©Marcos Pontes

segunda-feira, janeiro 03, 2011

Só faltam 1458 dias

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Como prometido e já sabido por todos os que me conhecem, não haverá trégua em relação ao governo atual, afinal de contas, 12 anos de PT é dose cavalar. Bom, 12 anos é a promessa, mas não são poucos os que apostam num governo peemedebista. Seja pela recidiva da doença da presidente, que teimam em especular nos corredores de Brasília, seja por um possível golpe dos hoje aliados.

No terceiro dia de mandato e primeiro dia útil, já há informação a rodo, embora jornalões, daqueles que não escrevem notícias, apenas reproduzem o que as assessorias de imprensa de políticos e empresas lhes envia, teimem em dar o cardápio trivial do almoço do ex-presidente, a cor da bermuda com que ele apareceu à sacada do seu tríplex e outras baboseiras.

Algumas posses dos ministros, que vêm ocorrendo a conta gotas, para que haja mais espaço nos noticiários, chamam a atenção, outras passam batidas, principalmente pela insignificância dos ministros e ministérios, outras já preenchem melhor as páginas de fofocas do que as de política e algumas outras tem muito texto no subtexto.

Um exemplo do último caso foi o discurso do ministro da Ciência e Tecnologia. No primeiro momento, Mercadante afirmou que seu ministério fará o máximo possível com os mínimos recursos que lhe caberão, numa referência aos cortes no orçamento, prometidos pelos componentes da área econômica. Antes da segunda parte do seu discurso, cabe aqui uma rápida reflexão sob alguns tópicos: 1. Lula não investiu os 4% do PIB em ciência e tecnologia, como havia prometido no início do seu segundo mandato; 2. Ciência e tecnologia, que podem ser consideradas infraestrutura, jamais foram priorizadas em qualquer governo, desde há meio século; 3. Se o orçamento já baixo vai sofrer redução, como fazer o máximo? Vai sobrar para fazer apenas o mínimo, principalmente depois de saldada a folha de pagamento.

No mesmo discurso o falso doutor promete repatriar os pesquisadores brasileiros. Ora, se existem tantos e tão bons pesquisadores brasileiros nos Estados Unidos e na Europa, isso se dá por conta, justamente, de compromisso dos governos e universidades públicas com a área da pesquisa. Nossos cientistas têm três caminhos: aceitam convites de instituições estrangeiras, de ensino ou fabris, que lhes darão salários dignos e condições materiais de primeira linha, além de toda um estrutura física e psicológica para a produção; ficam no Brasil em alguma instituição de ensino, orientando formandos e pós-graduandos em pesquisas meia-boca, sobrando apenas para um seleto grupo as pesquisas de ponta; ou abandonam a pesquisa e dedicam-se ao magistério teórico ou ao emprego burocrático atrás de alguma linha de produção. Lógico, sem falar nos que, simplesmente, abandonam a produção científica.

Se não vai haver recursos para acelerar, turbinar ou equipar a pesquisa no Brasil, situação admitida pelo próprio ministro ao referir-se aos cortes no orçamento, como sobrará verba para trazer de volta cientistas bem remunerados e apoiados no exterior?

Bem ao feitio petista, Mercadante repete a receita do ex-presidente e continua com discurso de palanque, por meio de promessas que não serão cumpridas, não só pela sua já tão conhecida incompetência, mas pelas próprias condições pecuniárias. Para bancar os 200 mil companheiros aboletados em cargos comissionados pelo presidente anterior e mantidos pela atual presidente, com promessa de aumento desse número de vermelhinhos sanguessugas, além das benesses que, por práxis histórica, os funcionários de primeiro e segundo escalões dos três Poderes se dão, desconsiderando completamente as urgências do populacho, alguma área tem que abrir mão de seu dinheiro e ciência e tecnologia sempre fez parte dos que abrem mão do pouco que têm em favor dos companheiros e compadres.

Eu já esperava que Mercadante pregasse na parede, numa moldura de ouro, sua incapacidade gerencial e sua falta de compromisso com a verdade, mas não esperava que fosse já no seu primeiro dia de expediente.

E este foi apenas o terceiro dia dos 1461 que teremos que agüentar essa gang nos governando. Por outro lado, só faltam1458 e contando.

 

©Marcos Pontes

domingo, janeiro 02, 2011

Meio ProUni

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A presidente de quem recuso citar o nome, falou em ampliar o ProUni para o Ensino Médio. Houve uma grita contra no Twitter, minha maior fonte de informação política, no momento. Acredito que oposição tem mais é que se opor mesmo, mas vou me contrariar aqui. Em 2006 eu já elogiava o ProUni, um programa de promoção social através da educação, mas sem as malditas cotas racistas ou sexistas.

O ProUni provou, no decorrer dos anos, que seus opositores estavam errados. Jovens de renda abaixo da média passaram a ter acesso a faculdades que jamais poderiam pagar, sem a necessidade do malfadado crédito universitário, aquela falsa bolsa que endivida os profissionais recém formados antes mesmo deles conseguirem o primeiro emprego, e sem a necessidade de serem negros, índios, deficientes físicos ou outra aparência física qualquer discriminatória.

Como é bem sabido, as classes mais pobres têm acesso à pior qualidade de ensino, não por serem pobres, como a esquerda gosta de fazer parecer, mas por terem acesso à escola pública, um depósito de jovens alunos que não são ensinados a serem estudantes. Nem mesmo esse governo que, ate que enfim, encerrou ontem, que fez tanto proselitismo e demagogia em nome dos pobres, fez algo para melhorar, deveras, a qualidade de ensino da escola pública.

Criou o piso nacional do magistério, ótimo. Mas para que serviu isso, se não para aumentar a renda de profissionais que continuam com a mesma prática de fazer de conta que ensina? Não melhorou a qualificação dos professores e nem exigiu deles a contrapartida da qualidade a ser avaliada em provas a cada ano. Pagou melhor pelo mesmo produto mal acabado.

Construiu ou reformou escolas federais e ajudou aos estados e municípios a construir e reformar as suas. Ótimo. Mas jogou lá dentro os mesmos desestimulados e mal preparados professores de antes. Ano após ano nossa posição nossa posição nos rankings internacionais estagna ou diminui, sinal de que a tão cantada e decantada melhoria na qualidade de ensino através de investimentos é uma grande mentira. Os indicadores mostram isso claramente.

Ao manter o ministro da educação do governo anterior, a presidente demonstra que não tem compromisso com a melhoria da educação, não só pelos fatos citados acima, mas também pelas seguidas demonstrações de incompetência, despreparo e falta de planejamento que o ministro Haddad vem demonstrando nos últimos três anos. Pior, com a conivência cega e bem remunerada da Justiça.

O ProUni, além de facilitar o acesso dos pobres à educação superior, ajuda às instituições privadas que apresentam ociosidade em boa parte de suas carteiras, algumas tendo que demitir professores ou contratar gente menos qualificada. O convênio com o ProUni obriga essas escolas a terem o mínimo de qualidade, a ser avaliada pelo Enade, correndo o risco de terem o convênio rompido se as metas não forem alcançadas.

Este modelo poderia muito bem sem empregado nas escolas particulares de ensino médio. Já que a educação pública esta sucateada, falida, catatônica e sem qualquer perspectiva de melhora, jovens pobres, mas que desejam estudar, fariam uma prova para conseguirem a vaga na escola particular e fariam uma avaliação ao final do ano letivo em que deveria comprovar o mínimo de assimilação dos conteúdos determinados pelo MEC.

Ganhariam os jovens, as famílias e, talvez, até a universidade pública, que receberia alunos pobres pela sua qualificação e não somente pela cor de sua pele ou pela deficiência física.

Meu lado de oposicionista sem condescendência a esse governo, desde antes mesmo dele começar, dessa vez dá uma trégua e apóia o ProUni para o ensino médio, seja lá que nome venha a receber, exigindo, porém, a avaliação anual das escolas e estudantes conveniados para que haja, de fato e não só na propaganda, a melhoria gradual de nossa educação.

Ah, diriam alguns, mas aí os donos das escolas ficarão ainda mais ricos. E daí?, pergunto eu. Sou um capitalista e gosto de ver as pessoas fazerem fortuna através do trabalho qualificado, do esforço e do investimento. Nenhum dono de escola, se a fiscalização for séria como deve ser, fará fortuna sem ser testado. O resto é choro de quem não consegue enriquecer e nutre esse ranço esquerdista contra os bem sucedidos.

 

©Marcos Pontes