Nos anos 50 e 60 o Brasil era parada obrigatória dos grandes astros do show business americano e os artistas brasileiros eram tratados a pão de ló naquelas bandas acima do Equador. Nat King Cole, Louis Armstrong, Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, Orson Wells e tantos e tantos outros passaram por aqui, fosse de férias, fosse para shows ou para conhecer o que é que a brasileira tem. A fama do Hotel Copacabana Palace deve muito a esses astros que se hospedavam ali costumeiramente.
Na mão inversa, o Brasil mandava para lá Carmem Miranda, a mais brasileira de todas as portuguesas, Tom Jobim, João Gilberto, além de outros muitos com pouca fama, principalmente músicos, nas trilhas sonoras de filmes hollywoodianos.
Aí veio a ditadura e, já com o ranço incolor politicamente correto, passou a ser de mau tom visitar o país. Os astros sumiram, Brasília virou capital da Bolívia, nossa arte não passava da esquina e nossos astros não passavam de meteoritos, salvo um ou outro de talento acima da média e que se destacava lá fora sem ser conhecido por aqui, embora a Europa fosse o palco predileto para Chico Buarque, Vinícius de Moraes, Grande Otelo, Jorge Amado.
Depois de 85, findo o regime militar, as moscas verdes dos dólares voltaram a atrair timidamente as estrelas estrangeiras, muitas das quais jamais havíamos ouvido falar, como Nina Hagen, uma despirocada que veio drogar-se como Janis Joplin já fizera em Búzios com aquela coisa estranha chamada Sergei (um ser gay).
Medina criou o Rock in Rio, lançou dólares aos porcos e voltamos a entrar na rota do entretenimento internacional. Ufanismo à parte, nossa xenofilia, o espírito caipira que acha lindo tudo o que vem do estrangeiro, as praias com muita bunda de fora, a tolerância com embriaguez alheia e os preços baratos para produtos e pessoas foram nos colocando novamente em evidência. De Dire Straits a Silvester Stallone, todo mundo vem tirar uma casquinha. Bandas em final de carreira passam por aqui para ressuscitarem suas contas bancárias cobrando ingressos ao triplo do preço que cobram na Europa ou na Austrália e são tratados como semideuses.
Depois que voltamos a entrar em cartaz, apresentamos a performance moderna do silvícola exótico que fala nossa língua, melhor do que os silvícolas que os franceses levavam para entreter a burguesia do século 17 que apenas faziam mungangos e comiam bananas.
O melhor exemplar que levantou aplausos e ooohhhss da platéia boquiaberta, que falava asneiras com tradutor que as traduzia como a salvação do mundo, como fizeram com o pedófilo Gandhi e o sem teto Dalai Lama; tinha a língua presa, o que deve dar um trabalho danado para o tradutor entender o que dizia, o que aumentava os erros de tradução e concatenação das idéias do louco; usava ternos traçados pelos mais finos alfaiates, quem diria?, europeus e não bebia cauim ou água na moringa de barro, mas finos vinhos.
O povo urbano, desconhecedor dos costumes da colônia ultramar, admirava-se da maneira como um ser analfabetizado falava das coisas do mundo com tanta sapiência, tanto conhecimento de causa, tanta propriedade. Aquele ser não deveria ser brasileiro, mas um espécime extraterrestre que nos trazia a grandeza do pensamento venusiano, só podia.
Se Patativa do Assaré, um analfabeto do interior cearense havia feito tanta poesia linda que os franceses tanto admiravam, e com razão, por que aquele semi-anão pernambucano não poderia encantar todo o planeta com suas ficções político-sociais-econômicas e filosóficas?
Passados oito anos, o encanto da novidade esvaiu-se. Somente o povo português, aquele que ainda vive das memórias do tempo em que era império naval, o trata deveras como doutor, os demais, na bancarrota – não que o português não esteja – começam a perceber que se deram mal justamente por terem tentado seguir a receita socialista fácil ministrada pelo etezinho de Garanhuns. O que era bom para a América, era bom para o Brasil, mas, provou-se, o que é bom para o Brasil – a compra de votos e aceitação tácita do povo através de discursos e bolsas – não pode ser bom para a Europa.
Vencido o prazo de validade das engabelações do pequeno beócio, porém sábio enganador, eis que a mesma empresa que produzia seus shows apresenta sua sucessora. Uma e.t. fêmea, sem estado natal, como o pigmeu cerebral. Ele, nascido em Pernambuco, enriquecido em São Paulo; ela, nascida (?) em Minas Gerais e amamentada pelos gaúchos.
Na escolaridade também uma parecência: ele analfabeto funcional que cursou até a quinta série, ela uma graduada que falsificou um diploma para dar-se um pouco mais de respeitabilidade.
O comportamento moral também apresenta similitudes, ambos mentem com um cara inexpressiva, como bem fazem os psicopatas que acreditam nas próprias mentiras ou demonstram muito bem que acreditam para convencer a platéia a acreditar.
Sua visões sociais são similares: a esmola dignifica o homem e o trabalho sustenta a esmola. Embora uma recente assessora da e.t. fêmea afirme que a compensação financeira para pobres que fazem filhos não incentive a gravidez, não são poucos os pobres que parem de olho na adoção de suas crias por todos os cidadãos do país. Cada brasileiro é mantenedor de centenas de milhares de brasileiros que nascem sob o incentivo da política social.
Mais uma semelhança entre os dois seres estranhos: para apresentar-lhes nos palcos internacionais, ambos contavam com um barbudinho grisalho com visões comunistas e vistas grossas para os erros futuros, demonstrando que seguem bem a receita dos bichos-grilos dos anos sessenta: viva hoje como se não houvesse amanhã, esquecendo-se que para um país e suas relações internacionais o amanhã tem que ser pensado a longuíssimo prazo.
Muito boa a Prestidigitações Tropicais, a empresa que monta os espetáculos, seleciona os astros e os treina e ensaia até que a afinação, que surge a duras penas ou engana bem diante da assistência, torne o espetáculo convincente. À moda de Hollywood,a PT entretenimentos descobriu que as sequências, como Supr Man II, II e IV, Rambo, II, III, IV..., O Planeta dos Macacos, Star Trek, Sabe Com Quem Está Falando e blá-blá-blá só dão certo se alguns elementos dos personagens e das tramas forem mantidos e assim vai engabelando os públicos nacional e internacional, agora também com shows explícitos de mágicas.
©Marcos Pontes