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domingo, dezembro 26, 2010

Perspectiva

calendario2011

 

Quando criança e adolescente, ouvia muito falar em filosofia de vida, hoje essa expressão está meio fora de moda, talvez porque filosofia ou qualquer exercício intelectual esteja completamente démodé, tanto quanto a palavra démodé.

Pois bem, de tanto ouvir a dita expressão, ficava me perguntando qual seria minha filosofia de vida, quais seriam meus objetivos, quais os melhores caminhos a alcançá-los e tais que coisas. Deveras, esse negócio de filosofar é trabalhoso. E, em se tratando do próprio umbigo, não adianta ler Anaxágoras, São Tomás de Aquino, Aristóteles, Kant, Kierkegaard, Sartre, Pascal ou seja lá que nome dos mais altos panteões filosóficos, eles não conhecem seu umbigo. Ou melhor, meu umbigo.

Pensar é como aquela dorzinha muscular no dia seguinte a uma caminhada: dói, mas é gostoso. Eu buscava entender o que me movia, além de arroz, feijão e as ordens da mãe para ir à escola, estudar e lavar as próprias cuecas.

Um dia, após uma viagem de avião, comecei a entender como deveria viver e como eu já vivia e não sabia. Adotei para mim a filosofia do avião: “Senhores passageiros, em caso de descompressão da cabine, máscaras de oxigênio cairão do teto. Coloque a sua primeiro para depois tentar ajudar às pessoas ao seu redor”, diz aquela voz feminina robótica e fria como o ar das alturas.

Entendi que aquilo que eu achava egoísmo é autopreservação e solidariedade. Se você não estiver bem, como poderá ajudar aos outros? Se quem te cerca estiver mal, como você poderá ficar bem? Há um ciclo, uma simbiose entre mim e quem me cerca? Não sei se círculo ou simbiose, mas há uma interdependência. Se meu vizinho estiver empregado, alimentado e feliz, não pulará o muro para roubar minha casa; se eu estiver empregado, alimentado e abrigado, poderei começar a ajudar ao vozinho, ao vizinho do vizinho, ao quarteirão e pela cidade a fora.

Havia me presenteado com uma filosofia de vida. Ou melhor, aquela aeromoça havia me dado este presente.

Depois de muitas cabeçadas, muitas mudanças de rumo, de prumo e de objetivos, entendi que olhar para trás é perda de tempo, a não ser quando for para tirar alguma lição ou acalentar o coração com boa memória, mas por puro saudosismo, por autopiedade, autoflagelação ou qualquer outra forma de sofrer, é burrice. Presenteei-me com a segunda filosofia de vida: viver em perspectiva.

Antes disso eu lia e assistia a todas as retrospectivas dos anos que se acabavam, já não o faço mais. Numa olhadela rápida por cima dos ombros, agora que toquei no assunto, vejo um monte de perrengues, todos ultrapassados, alegrias indeléveis da memória e do coração; vejo os vizinhos no mesmo caminhos; alguns, graças a Deus, poucos cadáveres; muitos surgimentos, por parto ou pela proximidade da nova amizade. Há, no ano que se acaba, nada mais e nem menos que vida, pura e simples vida. E ela continua.

Nada de olhar para trás apenas pelo prazer da saudade, hora de apontar o nariz para a frente e caminhar sem medo, firme e honestamente, preparado para dores, amores, alegrias, dores de cabeça, fortuna ou dureza, pouco importa. Planejar nada tem a ver com adivinhar, predizer, sofrer por antecipação ou contar com o ovo no fiofó da galinha. Planejar para o sucesso, sabendo que troncos atravessados na estrada surgirão, mas sem temor. A cada passo uma alegria por ter conseguido dá-lo e já preparando para o próximo, em frente sempre.

Primeiro coloque sua máscara de oxigênio, depois de ter a respiração ordenada, ajudar à senhora da cadeira ao lado e pensar no pouso da aeronave, não na decolagem que já foi.

Sejamos muito felizes em 2011, sem pensar muitos em 2010.

©Marcos Pontes

sábado, dezembro 11, 2010

Nossos medinhos e Gramsci

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Em que se diferenciam as ditaduras vermelhas idealizadas pelo russo Lênin e o italiano Gramsci? Se bem que a idealizada por Lênin também foi implantada, enquanto que a de Gramsci nasceu em seus anos de cadeia. O brutamontes Mussolini deu a ele lápis, caneta, comida e todo o tempo do mundo para maquinar suas idéias. Entre tantas, talvez essa seja a maior burrice de Mussolini uma vez que a obra do Gramsci perdura ao passo que os malfeitos de Il Duce já se perdem no fog da história.
A principal diferença entre os dois modelos é o tipo de medo. Lênin impôs o medo palpável, o medo real das armas, da brutalidade dos agentes do estado, da KGB, do MVD, do Exército Vermelho, do seqüestro, da Sibéria; já Gramsci, bem mais sutil e paciente, investiu no medo de assombração, aquele medinho escondido sem se saber exatamente do quê. O medo do desconhecido, das maquinações maquiavélicas, do preconceito no verdadeiro sentido, de coisa pré concebida e que, por isso mesmo, deveria ser evitada, desmontada e negada.
Ao ver o movimento gay, por exemplo, negar o modelo de família predominante como sendo uma coisa ultrapassada, percebe-se nas entrelinhas a revolução gramsciana, gritando em surdina que tudo o que já existia deve ser negado. Dos bancos das universidades, principalmente as de ciências humanas, às cartilhas da pré-escola a revolução gramsciana mostra suas garras encobertas por veludo. Temos que reaprender a ler para percebermos no subtexto o pretexto da revolução embutido.
Sabendo que quem faz a cabeça do povaréu brasileiro são as novelas e o Jornal Nacional, aí a mente revolucionária investiu seus esforços sob o manto do politicamente correto, criando tabus modernos. Se antes da revolução feminista era tabu mulher “séria” sair de casa de calça comprida ou cantar o cara que lhe agradasse, depois da queima de sutiãs passou a ser feio discriminar as que tomassem a iniciativa, o mesmo acontece hoje em relação à erotização infantil, o homossexualismo, o aquecimento global, o consumo de carne vermelha, o consumo de supérfluos e por aí a fora.
Depois que criaram Xuxa, menina alguma quis mais ser Marie Curie. Pensar dói, mais fácil balançar a bundinha do que tentar interpretar um livro cheio de letras e palavras impossíveis; depois que inventaram Bruno Cateaubriand, nenhum menino sonhou em ser Garrincha. Pra quê suar, trabalhar pesado pra ganhar uns caraminguás e morrer de cirrose hepática se pode viver à champagne, morar na Zona Sul e aparecer cheio de glamour em qualquer programinha de celebridade?
Inverter os valores e criar medinhos contra o que está estabelecido é a tática gramsciana e na ponta de lança desse exército estão os gays que escrevem novelas e os jornalistas que fazem os jornais nacionais, não apenas o Jornal Nacional, por meio de releases enviados pelos todos poderosos assessores de imprensa. Jornalistas não precisam mais pensar, transformaram-se em copiadores que publicam o que as empresas, políticos, editoras e agências de notícias enviam. Não há sequer a necessidade de checar informações, já que suas fontes são as próprias personagens da notícia.
Não é à toa que Franklin Martins, um gramsciano profissional, foi alçado à condição de Göebbels particular de Lula nesses quase oito anos. Como poucos esse jornalista sabe manipular os medos coletivos. Por anos ele foi um dos editores dos jornais da Globo, conhece como pouquíssimos o inconsciente coletivo e sabe usar dos nossos medinhos em favor da causa revolucionária petista como nem o Maquiavel redivivo, Zé Dirceu, saberia fazê-lo. Dirceu é um executivo do mal, enquanto que Martins é um intelectual, portanto muito mais perigoso.
A propósito, se levantarmos todos os assessores de imprensa e dirigentes da área de comunicação social dos repetidos governos, desde Figueiredo, perceberemos que quase todos saíram dos quadros da Globo. Alexandre Garcia (Figueiredo), Antônio Brito (Tancredo/Sarney), Tereza Cruvinel (TV Brasil), Hélio Costa (Lula/Ministério das Comunicações), Franklin Martins e sabe-se lá quantos outros mais. Não entro no quartel dos que condenam a Globo, o Papa e a Coca-Cola por todos os males do país, isso também é hipocrisia coletiva, mas a Globo nos deve muito Porter formado esses mentores da revolução vermelha silenciosa que se instala aos pouquinhos e sem doer.

©Marcos Pontes

quarta-feira, dezembro 08, 2010

Educação, melhoria relativa

Educação

 

“Todos pela Educação”, “Escola para todos”, “Educação solidária”... São muitos os programas oficiais e “projetos” privados em busca de uma educação pública de qualidade, pelo menos pró-forma.

Um parênteses: “projetos”, no parágrafo anterior, está entre aspas por conta de minha desconfiança com projetos e ONG. Primeiro porque projeto significa algo futuro, plano de algo a ser executado; projeto, portanto, palavra tão em voga, é a consubstanciação da máxima do autor austríaco “o Brasil é o país do futuro”. Num país em que o presente vive pedindo socorro, o futuro só pode ser incerto. E em relação às ONG, a desconfiança dá-se por conta das enormes falcatruas, noticiadas á mancheia, envolvendo esses “institutos”, “fundações” e que tais. Há mais ONG roubando o erário do que bandidos nas ruas cariocas. Fecho parênteses.

A divulgação dos resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), avaliação anual da educação mundo a fora, realizado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) volta a colocar a educação em primeiro plano. Para os governistas e emprenhados pelas orelhas, o discurso ufanista de que estamos no caminho certo e o país melhorou; para opositores e profissionais da área da oposição ou isentos, há muita vitrine e pouco conteúdo.

Cláudio Moura Castro, um dos mais renomados especialistas em educação nacional deu uma no cravo e outra na ferradura em sua última análise sobre o Pisa. Percebe que em se tratando de meios materiais, deveras a escola pública melhorou. Não falta mais papel, carteiras, instalações físicas adequadas, alimentação escolar, piso nacional de salário dos professores etc, tudo graças ao Fundo Nacional da educação. Nisso ele está mais ou menos certo.

Recursos financeiros há, deixaram de faltar, mas sua fiscalização ainda é precária. Dinheiro para ônibus escolares zero quilômetro tornam-se aluguel de ônibus caindo aos pedaços; em salas de 50 alunos, superlotação comum em cursos noturnos, contam com 40 carteiras; alimentação escolar que deveria contar com cardápio montado por nutricionistas, via de regra são criados pelo menor preço e não pela melhor qualidade. Dos males o menor, uma vez que em regiões mais pobres a alimentação escolar é o melhor ou único atrativo para manter o aluno da escola.

A alimentação escolar e a Bolsa Família ajudaram a manter as crianças mais tempo na escola, o que torna mais alvissareira a melhoria dos índices internacionais. O tempo de escola é um dos critérios na avaliação da OCDE e este, sem dúvida, tem melhorado desde o governo de FHC, é poça em que foi criado o FNDE e a Bolsa Escola, o que há, então, de ruim? A qualidade.

A nova Lei de Diretrizes e Base da Educação, em vigor desde 1997, obrigava a qualificação dos professores, com terceiro grau, até 2007. Aos trupicões esse item da LDB foi cumprido. Municípios fizeram convênios com universidades públicas, fundações e faculdades particulares, presenciais ou a distância. A finada Licenciatura curta ressuscitou como medida emergencial e alguns professores foram “capacitados” em dois anos, a toque de caixa. Os menos exigentes dirão que melhor isso do que nada. Eu até concordaria se esse pouco não fosse quase nada. Não foram aplicados em grande escala, nessas capacitações, programas de qualificação de fato.

Educação, lógico, é investimento a longo prazo, o início foi dado, mas para gestores que não analisam o futuro, principalmente de tema tão complexo que a maioria não domina, mas tão somente seu próprio futuro eleitoral, nega-se a investir a totalidade do que a lei reza que deve ser investido.

Educação continua sendo mote de campanhas eleitorais e pouco de realizações de fato.

São muitos os descalabros, desmandos e desvios, mas isso é assunto para outro texto. A qualidade dos livros didáticos é duvidosa.

Há falta de planos de carreira; há o advento da malfadada formação continuada, mais um meio de manter o aluno em sala de aula e melhorar os índices internacionais; há a excessiva intromissão de pais leigos na regência de salas e gerenciamento das escolas; há a intromissão dos prefeitos no destino das verbas do PDDE e do PDE, verbas que são depositadas direto nas contas bancárias de cada escola e administradas diretamente pelos diretores e conselheiros; há a escolha de livros didáticos “mais fáceis”, que permitem que professores mal preparados consigam dar suas aulas sem maiores dores de cabeça. São muitas as contra-marés empurrando o barco de um desejado desenvolvimento rumo às condições antigas.

Todo o recurso financeiro direcionado para a melhoria da educação não compra a consciência e nem muda o mau preparo intelectual de muitos professores e gestores da educação. Muito ainda há a ser feito para que a decantada melhoria se dê mais do que apenas melhoria dos índices.

 

©Marcos Pontes

terça-feira, dezembro 07, 2010

Cachorro só cheira cachorro

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A personalidade fuçadora e inquieta e a ascensão social de Lula podem ter sido motivo de orgulho de Dona Lindu, sua digníssima progenitora, mas seu caráter seria motivo de vergonha, disso ele deu exemplos mil durante esses seus trinta e poucos anos de notoriedade pública.

Este primeiro parágrafo não foi lá uma grande introdução ao tema, então reescrevo-o assim: Cachorro só cheira cu de cachorro. Ficou muito mais deselegante, mas está mais de acordo com a idéia a ser desenvolvida.

Como tenho quase que as mesmas origens pobres e nordestinas do presidente, sei bem que o máximo de convites que recebíamos era para o aniversário do filho da vizinha com bolinho feito em casa e Q-Suco. Se as posses fossem um pouquinho maiores, guaraná.

Como fui um adolescente irresponsável e cheio de rebeldia, com ou sem causa, como foi Lula, penetrei muita festa, fosse por autoafirmação típica da idade, fosse para superar o complexo de rejeição por não ter sido convidado, seja apenas para comer e beber de graça.

Já adulto, muito provavelmente Lula recebia mais convites para churrascão na laje de algum companheiro, casamento de alguém do bairro ou companheiro do sindicato do que para festa de posse da nova diretoria do Corínthians ou da inauguração de alguma galeria de arte e, também provavelmente, penetrou em várias festas com os amigos da 51.

Hoje recebi um e-mail do blogueiro, tuiteiro e amigo admirado, Ery Roberto (@eryroberto ) em que dizia que ele ouvira pela CBN que 200 pessoas haviam entrado via carteiradas na festa da CBF, no Teatro Municipal do Rio, em que foram premiados os melhores times, torcidas, jogadores, técnicos e árbitros do campeonato brasileiro, fazendo com que vários convidados fossem barrados.

Saí em busca de notícias a respeito e tudo o que encontrei foi um artigo no Terra. Mais uma vez a imprensa comprada falhou. Aliás, quem noticiou o tumulto, culpou a CBF e seu cerimonial.

Assisti a alguns trechos da solenidade e percebi a superlotação das galerias, mas não imaginava que o motivo fora a entrada dos amigos do rei. Gente do mesmo caráter defeituoso do líder que forçaram a entrada, deixando de fora, por motivo de segurança, convidados de fato. Até o capitão do Corinthians, time terceiro colocado, e que deveria receber o troféu de bronze, fora barrado e mandado de volta para casa.

Lula pode ter deixado a pobreza, mas a pobreza de espírito não o abandonou e, pelo visto, continua se fazendo acompanhar por seus iguais. Legalmente, o que ocorreu poderia ser classificado como tráfico de influência por parte de seus companheiros. E me pergunto que multidão seria essas, quais seriam os 200 que se convidaram, deixando de fora quem deveria estar dentro.

A imprensa, mais uma vez, falhou ao não procurar a origem da bagunça, sobrando para a CBF o ônus.

Se num simples evento futebolístico as portas são derrubadas por amigos de Lula, fico me perguntando quantas portas e leis não são derrubadas em eventos em que os participantes catam cargos, comissões e dinheiro público? Quanta dessa gente não trata o país como uma festinha de bolo caseiro e Q-Suco e se apossa dele sem licença e sem convite? Quão grande não deve ser a participação do presidente no arrombamento de festas, seja por omissão, seja por cumplicidade permitida?

 

©Marcos Pontes

segunda-feira, dezembro 06, 2010

Samba é jazz?

 

 

Jazz é um ritmo estadunidense, de origem nas raízes negras, ou afroamericanas, como preferem os moderninhos politicamente corretos. Sua letras têm um forte caráter de improviso e ritmo sincopado. De 1914 até hoje, passando por Ray Charles e chegando a Amy Winehouse, as letras se prenderam em lamentar amores perdidos ou espinafrar o/a amante fujão/ona. Puxou para as dores de corno e break hearts. As mais moderninhas, como Rihanna, que quem a defenda como jazzista, partem para esculachar o objeto do desejo, ao contrário dos mais antigos, que se faziam de esculachado. Sinal dos tempos.

Já o samba, de origens ainda duvidosas levando estudiosos a se contradizerem, uns afirmando que ele é baiano, outros apostando que é carioca e os mais puristas defendendo a continentalidade africana, nasceu, isso sem qualquer dúvida, também da musicalidade negra, assim como o jazz.

A contradição em torno da origem do samba talvez dê-se por não existir só um tipo de samba, portanto, o que saiu da Bahia e foi para o Rio de Janeiro sofreu suas alterações, adaptando-se à temática, ao ritmo e os costumes cariocas. Os negros não vieram todos do mesmo lugar em navios negreiros, foram tirados de vários campos da África, principalmente do região subsaariana, tendo, portanto, as mais diversas bases culturais.

Samba de coco, samba de tambor, samba canção, samba de enredo... São muitas as variações e diversas as influências, desde o simples batuque tribal africano, passando pelo maxixe, a polca e até a música clássica. Tem até samba que nem parece samba. Para um leigo como eu, o Samba do Avião, do Tom Jobim, é difícil classificar como samba, mas se o autor disse que é e os estudiosos também, então, é.

Se na minha curta pesquisa não descobri muita variação temática, por outro lado, o samba fala de tudo, desde o gago apaixonado, do Noel, até os costumes da malandragem, como Pelo Telefone, do Donga; fala de amores perdidos e de catástrofes urbanas. Não se prende um ritmo e nem a um tema. O samba fala até de si mesmo, como em Samba de uma nota só, de Newton Mendonça e Tom. O samba não é, portanto, apenas um ritmo, mas um estilo, formado por vários subestilos.

O samba é jazz? Não, samba é samba e jazz é jazz. O fato de terem nascido do mesmo banzo da mãe preta não faz deles siameses. As sete notas são muito maiores do que a análise rasa de qualquer maniqueísta que tenta dar títulos fáceis e fazerem comparações incabidas.

Felizes dos que conseguem gostar de ambos sem a preocupação de compará-los. Quem não gosta de jazz, bom sujeito não é.

 

A @MarKramer , tuiteira sempre presente em minha TL (time line, para os não íntimos), sugeriu e eu, temeroso por dominar o tema, demorei a criar coragem para desenvolvê-lo. Não se intimide e dê seu pitaco.

 

©Marcos Pontes

sexta-feira, dezembro 03, 2010

Buraco sem fundo

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Precisaremos de um Wik Leaks nacional para descobrirmos as despesas do poder público?

Ah, dirão os governistas, mas existem sites, como o Portal Transparência, que mostra para onde está indo o dinheiro, basta pesquisar. Eu, um crédulo duvidoso, uma Velhinha de Taubaté ressabiada, digo que não é bem assim.

Temos uma fama histórica, principalmente aqui dentro, de sermos um povo criativo. Criamos o balão dirigível, depois o avião, criamos a máquina de escrever e deixamos a patente para os gringos, há quem diga que criamos a máquina fotográfica e deixamos os créditos para Louis Daguerre, há poucos anos vivíamos com inflação mensal de dois dígitos e tirávamos de letra, mas também somos criativos do mal.

Criamos, por exemplo, a nota fiscal fria, a maior invenção para os administradores públicos corruptos. No tempo da megainflação, uma obra era licitada por um preço, mas devido à alta constante dos preços, pagávamos várias vezes esse preço e as obras ainda ficavam pela metade ou eram concluídas com material inferior ao contratado. Com um arremedo de fiscalização e a Lei de Responsabilidade Fiscal, as obras inacabadas ficaram muito à vista e os bandidos tiveram que diversificar, descobriram a propaganda.

O mais notório dos bandidos da propaganda terminou sendo Duda Mendonça. Quantos milhões mesmo foram dados a ele pelo candidato Lula e pelo seu primeiro ano de governo e depositados no exterior sem prestação de contas ao Fisco? Fala-se em mais de trinta milhões. E onde estão as propagandas? Ah, essas são voláteis. Acabou-se o prazo de sua veiculação e elas, simplesmente, evaporam-se deixando vaga lembrança nuns poucos que as assistiram ou leram ou ouviram, nos demais, um vazio total.

A propaganda tornou-se as obras inacabadas da nova era republicana. Não deixam rastros, assim como honorários de advogados. Como não há tabela, eles cobram o preço que quiserem, os governos passam uma nota de cem quando só pagaram 50 e o restante fica para dividir entre os amiguinhos.

Em se tratando de despesas não comprovadas do governo federal, o buraco mais fundo, mais escuro e menos prospectado está na ciranda dos cartões corporativos da primeira dama e da Presidência da República. Em nome da segurança nacional, os gastos são escamoteados.

Mas são poucos milhões, perto do muito que é desviado. O que o presidente e sua digníssima estátua de cera e botox gastam com cartão corporativo nem faz cócegas nos milhões desviados em todos os escalões do governo. Se só na Assembléia Legislativa do Paraná desviaram-se 100 milhões de reais, quanto não foi pelo ralo sujo dos ministérios?

A reforma do Palácio da Alvorada passa dos 100 milhões, boa parte deles entregues sem licitação às empreiteiras amigas; o jato presidencial foi outra fábula e já se fala em comprar outro, talvez pela nova presidente ocupa mais lugar que o batráquio que sai; a FAB deverá comprar os Rafalle, muito menos eficientes que os F-18, o que leva à desconfiança de que a propina a ser paga deva ser muito boa e por aí vai.

Sintomático o fato de que os maiores financiadores das campanhas eleitorais, não só a nível federal, mas também nos estaduais, foram empreiteiras. Estariam elas comprando a aprovação em licitações às custas de financiamentos legais? Não digo que sim, mas desconfio profundamente.

Pagar impostos não é tão ruim, péssimo é não recebê-los de volta em benefícios para todos e ver uma fatia muito gorda ser engolida pelos corruptos que nos governam. Esse papo do novo ministério de gastar menos e equilibradamente já é sepultado no nascedouro a partir do momento em que o insigne partinte presidente defende compra de um avião milionário e estrangeiro. Um pouco menos pior seria se se comprasse avião da Embraer, que exporta para empresas e governos, mas não vende para o nosso próprio governo federal.

 

O tema desse texto foi desenvolvido a partir da sugestão da tuiteira @Zinha_09, a quem agradeço.

 

©Marcos Pontes

quinta-feira, dezembro 02, 2010

No meu tempo já era assim

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No Brasil Colônia a política era hereditária. Só os ricos e nobres (parece piada falar em nobreza num arremedo de país colonizado por traficantes, escravistas, ladrões e desterrados), além de seus apaniguados, poderiam exercer cargos públicos. Na inauguração dos governos instituiu-se o nepotismo.

Essa prática tornou-se característica permanente, ou quase.

Dom Pedro I, no auge de sua diarréia às margens do Ipiranga nos separou politicamente da matriz, mas as moscas permaneceram. De pai para filho desde 1510, os cargos públicos permaneceram nas mãos dos amiguinhos, puxa-sacos e dos filhos playboys dos grandes comerciantes que poderiam emplacar suas crias na gerência do Estado.

Veio a república e o vício permaneceu. Deodoro mudou a forma, mas não o conteúdo do modo de se fazer política por aqui.

Já estava arraigada na cultura político-administrativa nacional a práxis de se colocar nos cargos e eleger para os parlamentos municipais, estaduais e federal não os mais competentes nem os mais técnicos, mas os mais fiéis ao chefe de algum clã. Raramente alguém conseguia furar o cerco e emplacar-se. Oligarquias proliferavam-se e solidificavam-se Brasil a dentro.

O país ampliava suas fronteiras e os ratos se proliferavam, como ainda hoje e pela natureza dos ratos, em progressão geométrica. Dividiram-se as capitanias hereditárias, depois os estados para dar lugar aos mantenedores financeiros das famílias mandonas, seja pela paz, seja pela cisão. Novos estados, novas oligarquias.

O Nordeste é sempre o berço das oligarquias, no ideário popular, mas elas apenas mudam de forma em todo o país. Se no Maranhão há hoje a mais conhecida das oligarquias, com a malta Sarney mandando, desmandando e contando com o apoio sucessivo dos governantes federais e do Judiciário, em toda a Federação existem os grupelhos familiares se dividindo e alternando nos postos eletivos ou indicados.

Na Bahia, os Magalhães; em Pernambuco, os Arraes; no Rio, os Brizola e os Maia; em Minas, os Neves; no Ceará, os Cals; no Pará, os Barbalho; em Santa Catarina, os Amin... Não precisa governar diretamente e nem estar nas manchetes do noticiário político, mas estão lá, ocupando ou indicando, postos importantes da máquina ou ocupando cadeiras com o sobrenome ou com nomes de agregados nos legislativos e judiciários.

Os Maia, por exemplo, no Rio, criaram Índio, o vice de Serra. Se esse moço tiver equilíbrio e esperteza, logo se emancipa de sua família criadora e forma seu próprio feudo. Via de regra, é assim que se faz.

João Durval Carneiro, por exemplo, foi catapultado à condição de celebridade política por Antônio Carlos Magalhães. Ganhou nome e vulto, separou-se do seu Frankenstein e hoje tem filho prefeito de Salvador, nora deputada federal eleita, outro filho deputado federal e ele próprio no Senado. Os Siqueira Campos ganharam o estado de Tocantins de presente, quando este foi separado de Goiás – que, por sua vez divide seu território e seus cargos públicos com parentes e amigos de Íris Rezende e Marconi Pirillo. Os Siqueira Campos fizeram fortuna, abandonaram o poder virtual, mas espalham-se como metástase nas estranhas do estado.

Via de regra, mesmo quando fora do poder virtual, chefes de oligarquias fazem candidatos e emplacam alguns, usam de sua influência, chantagem e poder econômico para preencherem cargos estratégicos para seus negócios e negociatas, indicam desembargadores e delegados... A festa está feita, os caminhos abertos para fazerem, desfazerem e, literalmente, soltarem e prenderem.

A política nacional é viciada em todos os seus níveis. Quem conhece algum partido por dentro já deve ter visto, por exemplo, um candidato a candidato, por exemplo, a deputado estadual ser “convencido” pelos dirigentes do partido a abrir mão de sua candidatura e apoiar alguém de mais interesse para a cúpula. Não interessa se aquele afastado seria melhor parlamentar do que o indicado, o que interessa é o que o eleito pode fazer pelos amiguinhos .

Na atual montagem do mega ministério da presidente eleita, está claríssima a manobra dos bastidores. A presidente não tem a mínima força política natural, seu único trunfo é ser próxima do Lula, amiga do capo, mas não é amiga do Dirceu, o dono herdeiro do PT, nem de seus coligados; não é amiga, sequer interlocutora de seu vice, o testa – e que testa cheia de botox – de ferro do PMDB. Por essas e outras, os rios da política só correm para pó mar de lama das lideranças.

Ingenuidade do eleitor que acredita que pode mudar a política mudando os políticos. O feudalismo, a corrupção, o nepotismo e o oligarquismo corre da mesma cor nas veias de todos eles, antigos ou recém aparecidos.

 

Tema desenvolvido a partir de sugestão do tuiteiro @JrMouraBa , a quem agradeço.

 

©Marcos Pontes

quarta-feira, dezembro 01, 2010

Gente Humilde

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“Eu nunca sonhei com você

Nunca fui ao cinema

Não gosto de samba

Não vou a Ipanema

Não gosto de chuva

Nem gosto de sol...” (Lígia, de Chico Buarque e Tom Jobim)

Quando a moda musical era a música sertaneja, que algum engraçadinho apelidou excelentemente como “sertanojo”, aquela ex-sem-terra e hoje piloto de Fórmula Truck, Débora Rodrigues, xingou uma celebridade, de quem não lembro o nome, porque o rapaz havia dito que não gostava do dito estilo musical. Agora me vejo imaginando o que o povo de Ipanema falaria mal do Chico e do Tom por eles não gostarem de sol e jamais terem ido a Ipanema; o quanto seriam xingados pelos sambistas por não gostarem de samba. Se eu tivesse um pouquinho mais de bom humor, me divertiria com a chatice que o mundo tem se tornado.

Você é quase obrigado a gostar de filme brasileiro, de novela brasileira, de futebol, de Chico Anísio (ou Anysio, porque pobres de espírito adoram y e w) e mais um monte de coisinhas.

Está no receituário dos politicamente corretos, dos papagaios acéfalos e nos livros de auto ajuda para os papagaios acéfalos: Se você quer fazer sucesso, comece sendo você mesmo. Só essa segunda oração do período tão imbecil já daria uma enciclopédia. Como ser “você mesmo”? Alguém consegue ser outra pessoa? Até quando você finge ser quem não é, está sendo você mesmo, ou seja, uma pessoa dissimulada.

Como vou ser eu mesmo se eu for, por exemplo, um pedófilo? “Por favor, respeitem minha opção sexual, eu sou um pedófilo e exijo respeito”. Tá legal, mudemos, então, as leis e o senso popular para que o pedófilo seja aceito como um respeitável cidadão e não um psicopata. Para isso, modifiquemos também os anais da psiquiatria.

“Por favor, troquem a arrumadeira do meu quarto. A atual é lésbica e eu sou homófobo”. Prontamente o hóspede teria seu pedido, afinal de contas ser homófobo é um direito seu tanto quanto ser lésbica é direito da camareira.

Ah, mas o politicamente correto também não diz que somos todos iguais? Aliás, o politicamente correto diz que temos que saber viver com as diferenças. Peraí, afinal de contas somos todos iguais ou todos diferentes? Ou somos todos iguais em nossas diferenças? Ou somos todos diferentes em nossa igualdade?

“Senhor, por favor, sente-se e aperte o cinto, o avião está pronto para decolar”; “Não, aeromoça (só os comissários de bordo se tratam como comissários de bordo, repararam?), vocês colocaram um oriental na poltrona ao lado da minha e eu sou racista”; “Bem, senhor, como ele chegou primeiro, arrumaremos para o senhor um lugar na primeira classe ao lado de outro negro”. Tá, todos teríamos o direito de sermos racistas, como se houvesse mais de uma raça humana, mas isso é papo para biólogos e filósofos.

O politicamente correto prega, por exemplo, o respeito ao credo alheio proibindo drasticamente que se fale mal dos credos minoritários, como o judaísmo ou as religiões afro-brasileiras, mas falar mal do catolicismo, pode. Tudo o que for maioria está sujeito a pedradas e aceitação passiva dos politicamente corretos. Pode-se, por exemplo, xingar um machista, mas nem pensar em macular as convicções feministas; pode-se ultrajar o patrimônio dos ricos (tá, os ricos não são maioria em número, mas são em numerários o que faz deles alvos legítimos dos pobres, desculpa, dos menos favorecidos, historicamente explorados e blá-blá-blá esquerdista), mas nem pensa em chamar pobre de pobre. O mesmo Chico Buarque, na magnífica e emocionante “Gente Humilde” apelidava pobres de gente humilde. Pobre é ofensa.

Aliás, virou ofensa chamar bairro de bairro e favela de favela. Agora são “comunidades”. Coletivo de “gente humilde” é “comunidade”. Os milionários de Angra não formam comunidade em seus condomínios fechados; os sócios do Pen Club não formam uma comunidade; não pode mais existir a comunidade científica. Esses privilegiados que arrumem outro nome para suas associações, comunidade é coisa de “gente humilde”.

Esse mundinho está muito chato! Já passou da hora de acabarmos com essas tais “justiças sociais” e os pseudo “resgates históricos” . Justiça social é tratar todo cidadão com os mesmos direitos como manda a Constituição Federal e não criar castas privilegiadas pela cor da pele, opção sexual, altura ou massa corporal. Resgate histórico é desculpa de recalcados que, a seu favor, pregam que as gerações atuais paguem pelos desmandos de seus tetravós, impingindo a todos os crimes de outrem, num claro desrespeito às normas legais.

 

©Marcos Pontes

segunda-feira, novembro 29, 2010

Adeus, Dedo Duro

 

 

O conheci alguns meses antes do primeiro turno das eleições. Eu na oposição ao governo Lula e ele numa posição meio dúbia. Hoje entendo essa posição, era mais ou menos a que assumi no primeiro ano de mandato do Lula, apoio à distância, menos por crença no que ele poderia fazer, mais por querer que ele realmente fizesse algo melhor.

O Dedo pesquisava dados políticos, sociais, econômicos, fosse o que fosse, e os comparava com os mesmos números do governo FHC. Era um pesquisador. Por vezes pensei em deixar de segui-lo, até por não gostar muito de pseudônimos, sem falar que seu avatar não mostrava seu rosto. Era mais um anônimo sem face. Mas aí ele entrou em um entrevero com algum petista e eu fiquei do seu lado. Naquela hora ele tomou uma posição mais clara e não mais se afastou dela, pelo contrário, colocava-se cada dia mais à distância da situação, abraçava a précandidatura tucana e a abraçou com força depois. Não afastou-se um milímetro de suas convicções.

Suas pesquisas tonaram-se mais profundas e seu discurso mais contundente. Nos aproximamos mais, passamos a trocar idéias mais amiúde e links diariamente, mas nunca falávamos de nossas vidas. Não sabia seu nome ou a cidade de onde postava, sua idade, sua escolaridade ou profissão e ainda não sei quase nada disso, e nem vem ao caso. Este rapaz mostrou-se um verdadeiro brasileiro, de alma e coração, corajoso em sua postura e convicto em suas posições. Levava nas ações o vigor da juventude.

Passaram-se as eleições, perdemos todos, e ainda no dia 10 de novembro ele postou no Twitter ” E me desligo do twitter, minha missão terminou p hora! Obrigado aos amigos q fiz aqui e que continuarão comigo, de todas as vertentes. Um bj”. Como eu estava cansado, abatido e com uma tremenda ressaca eleitoral, não dei importância à segunda postagem depois dessa, que dizia “E me desligo do twitter, minha missão terminou p hora! Obrigado aos amigos q fiz aqui e que continuarão comigo, de todas as vertentes. Um bj”. Perdi a chance de dar-lhe uma força. Apenas me despedi desejando bom descanso e retorno breve, precisaríamos dele.

Mas ele não conseguiu ficar longe do front. Já no dia três ele voltava à carga. Parabenizou José Serra, de quem ele tornou-se interlocutor constante, além de cabo eleitoral atuante. Remontava-se como opositor de primeiro minuto ao governo que assumirá em janeiro. Voltava a mostrar-se o garoto forte, partia para a luta antecipada.

Poucos dias depois fiquei sabendo que estava hospitalizado e com leucemia. Foi um baque. Nunca pensamos ou esperamos que um jovem vigoroso seja vítima de doença tão cruel. Mostrei minha solidariedade e fiquei na torcida ansiosa como vários outros amigos virtuais. Na negativa da dor, o tratava como se tivesse apenas um dente inflamado ou uma caxumba que logo passa. Mandava-lhe uma ou outra mensagem de conforto. Ele jamais respondeu a qualquer delas. Ocupava seu tempo virtual com postagens ácidas e certeiras contra o governo atual.

Vejo agora o quanto ele amava deveras o país em que nascera. Não se queixava das dores, dos remédios ou dos prognósticos. Pouquíssimas vezes referia-se ao quarto do hospital e, em algumas delas, com mensagens simples, como “Saudade do café”. A doença era um detalhe, o bem estar do país era a bandeira. E ele lutou, sem dúvida, até o último suspiro.

Ainda sei muito pouco de sua vida, mas não importa mais. O exemplo que deixou é sua biografia, seu legado de convicções, fé e luta como poucos brasileiros podem repetir.

Sua última postagem foi uma piada para uma amiga: “@miaeloin hahahaha eu comilao? Comida de hospital e um misterio... Todas tem o mesmo sabor, nenhum!! Nos EUA no Brasil, Sao Paulo, Parana...”. É, para mim, o seu adeus.

A propósito, o vídeo do início do post é o que ele mantinha em seu perfil no Twitter. Mais uma prova de seu amor ao país e sua esperança de um Brasil melhor. Tomara que possamos dar esse presente a ele um dia.

Boa viagem, Raphael.

 

©Marcos Pontes

terça-feira, novembro 23, 2010

“Ricos, mas capados”

trabalhadores em pintura

A frase reproduzida no título é do filósofo Olavo de Carvalho, o terror dos comunistas brasileiros, porta bandeira dos conservadores e um direitista incompreendido, ou até desconhecido, pela direita de botequim. Ela é uma referência aos empresários, mormente os de grande porte – significa fortuna – que bancam a esquerda por razões diversas.

O que levaria um grande capitalista como Abílio Diniz ou Guilherme Leal se juntar aos socialistas, bancar parte de suas campanhas e até candidatar-se com eles, como fez Leal? Ou o Paulo Skaf, ex-presidente da FIESP, a organização que reúne os maiores capitães da indústria nacional, se filiar ao Partido Socialista Brasileiro?

Para entender, há de se fazer vasta pesquisa antropológica, sociológica, econômica e psicológica, algo que não sou capaz de fazer em curto prazo e ninguém seria capaz de explicar em apenas uma lauda, espaço que me dou para que a leitura não seja tão cansativa. Mas, resumindo a análise profunda e muito bem embasada do Olavo de Carvalho, essas pessoas sofrem de “loucura revolucionária”.

Além desses senhores, intelectuais, artistas e intelectualóides, como Gabriel Garcia Márquez, Chico Buarque, Oscar Niemeyer ou Paulo Coelho, não necessariamente na ordem respectiva, tendem a romantizar as guerras contra qualquer regime institucionalizado, colocando seus atores como gente do povo, sujeitos comuns e injustiçados que “deram a volta” no regime opressor, para usar um jargão comum empregado por essa gente.

Seja na vida real, seja nas artes, esses “heróis populares” sempre foram vestidos com áurea coroa de paladinos dos injustiçados, de Robin Hood, o bom ladrão, que roubava dos ricos e dava aos pobres, passando por Lampião, Leonardo Pareja, a Che Guevara, um pequeno burguês, “paranoitizado” pelos muitos livros e armado de atrativos físicos e discurso engajado.

Roger Green Lancelyn, autor de Robin Hood, era um pesquisador de mitologia grega, do Egito antigo, tema sobre os quais escreveu, além da histórias do Rei Arthur, um monarca com espírito socialista. Inglês de posses e notoriedade nos meios acadêmicos, estudante e professor em Oxford, Lancelyn, muito provavelmente, não teve contato próximo com a miséria pecuniária se seus concidadãos, um pouco diferente de Buarque, Niemeyer e Coelho, ou mesmo de Márquez, homens de países miseráveis, cercados por favelas, crimes, tráfico de drogas, assassinatos e políticos corruptos. A semelhança está na romantização dos marginais.

A obra poética e literária do Chico está prenhe – palavra que aprendi com ele na letra de “Jorge Maravilha”, lá na minha infância – de heróis marginais ou o que passaram a chamar de antiherói, a partir de Macunaíma, do Mário de Andrade. “O Meu Guri”, o protagonista de Estorvo, os bichos de Saltimbancos, o Malandro da Ópera e até Lily Braun, uma mal amada cantora de cabaré, são alguns dos marginalizados envergando as vestes de heróis populares idealizados por Chico. Mas Chico, filho e sobrinho de intelectuais de alta cepa, não conhece mais de malandragem do que a dos jogadores do seu Politeama. E como ele, via de regra, artistas, escritores e intelectuais não conseguem ver o macro, tomam pequenos exemplos como exemplos prontos e acabados, empatizam-se com esses seres idealizados por criatividade ou visão distorcida, mas não conseguem ver todos os lados do ambiente em que se contextualizam. Inventam santos sobre a carcaça de pecadores.

A tudo se permite aos artistas e eles, em suas paranóias, crentes que suas invenções são reais, despejam sobre os incautos uma verdade mentirosa.

E os milionários empresários, onde se incluem? No exército dos covardes.

Por medo das retaliações que, historicamente, os esquerdistas aplicam contra seus opositores logo que conquistam o poder ou por negociarem seu sucesso futuro, entregam-se nos braços dos vermelhos.

Os bolcheviques soviéticos já ensinavam a usar do capital dos capitalistas para instaurarem suas ditaduras. Não existe comunismo sem capital e os grandes capitalistas, ricos, mas sem culhões, cedem às pressões para manterem seu status quo. Vendem-se em troca de nada, deixam-se manobrar e não conseguem coragem para enfrentar a fera socialista voraz e sedenta de fortuna. Acham-se seguros atrás de seu capital e a inviolabilidade – como se isso fosse possível num governo do qual faz parte Antonio Palocci – de seus negócios não conhecendo ou tentando não ver os exemplos dos muitos figurões dos negócios que foram mantidos atuantes e aumentando a fortuna em regimes ditatoriais como o socialista soviético e o nazista hitleriano apenas enquanto faziam o jogo dos ditadores.

Atualmente essa manipulação vem sendo feita pelo governo bolivariano de Hugo El Loco Chávez, que se apóia nos encagaçados milionários para aumentar seu poder destrutivo.

A massa proletária, desempregada, sem estudo e sem saúde não é formada de heróis, apenas é composta por manobráveis ignorantes pelos artistas, intelectuais e ditadores.

 

(Obrigado à @BeatrizMMoura pelo tema)

 

©Marcos Pontes

quarta-feira, novembro 17, 2010

Ditadura em slow motion

joao-franco-caricatura-01

 

A ditadura em slow motion foi o conceito que, se não me engano, Reinaldo Azevedo criou para definir o golpe pardo – porque branco, imaculado, é algo que me recuso a imaginar vindo do Hugo Chávez –que se aplica na Venezuela.

Este tipo de ditadura é o mais torpe de todos os tipos. Ele não se apresenta como propósito de ditadura como esperamos que uma ditadura se apresente. Ele não mostra sua face autocrática na figura estereotipada dos ditadores montados a cavalo, envergando um uniforme militar enfeitado de medalhas e bigodão a la Zapata. Ele não mostra a face áspera de um regime absolutista com tanques à mostra e paredões crivados de balas e manchados do sangue dos opositores.

A ditadura em slow motion, produto da mente doentia do mandatário venezuelano nasceu da urgência que o Foro de São Paulo tinha de montar um modelo para os países que enviaram signatários. Chávez, louco esquizofrênico e megalômano, uma espécie de Hitler iletrado, não podia, pelas suas características psicóticas, costurar planos elaborados, maquinar com intelectuais de sua estirpe. Meteu o pé na porta e partiu para o ataque.

Fantasiou sua ditadura de democracia e impôs plebiscitos e referendos, dando ao eleitor a falsa ilusão de que ele, o eleitor, quem decidia os rumos políticos da nação. Aproveitando o cacófato, aí danou-se.

Por plebiscito, por exemplo, deu-se um terceiro mandato. Por referendos anulou leis antigas e deu-se o poder de prender qualquer opositor sempre com o mesmo argumento paranóico de golpistas em maquinações. Fechou veículos de comunicação que sequer falassem mal de sua boina vermelha. Aloprou geral. E quando seus concidadãos perceberam o golpe, era tarde.

A fortuna pessoal estava garantida, assim como a autointitulação de representante direto do Divino. Breve tornar-se-á o Deus Sol redivivo.

A amiga tuiteira @anagrana_ me chamou a atenção para artigo no blog do Aluízio Amorim (@blogdoamorim) que nos traz a aprovação de parecer da Comissão de Constituição e Justiça do Senado da PEC 26, que reza a autorização de realização de plebiscitos e referendos populares. Assim nasce um grande problema.

Vivemos numa democracia representativa, por isso elegemos legisladores, para que nos representem. O uso de plebiscitos e referendos é maneira pseudodemocrática de dar ares leves a uma ditadura em slow motion também no Brasil.

Dar ao povaréu iletrado e venal o direito de decidir que leis devem ser anuladas e que mecanismos legais devem ser implementados, é tirar dos nossos representantes legais e eleitos o poder de legislar. É dar à massa manipulável o direito de aprovar os desejos de quem vende melhor a idéia em propagandas de conteúdo raso e apelação marqueteira profunda. É o primeiro tiro na democracia de fato.

O PT criou o mote do orçamento participativo, lá pelo final dos anos 80, quando ganhou as primeiras prefeituras. Lembram disso? Os que lembram podem nos dizer quando que o tal orçamento participativo deu certo ou foi deveras aplicado em algum município petista? Pois me adianto e respondo: Nunca! Foi apenas um engodo para passar ao populacho que ele mesmo, o populacho, havia reunido-se e decidido o que fazer com o dinheiro público.

A PEC 26 é o exemplo de Chávez sendo seguido por um grupo que, nos últimos oito anos, tentou, por várias vezes, impor seu absolutismo vermelho, sempre dando de cara no muro de alguns jornalistas, articulistas e intelectuais mais atentos às manobras comunistas. Se for aprovada no plenário, não resta dúvida, e podem escrever para me cobrar depois, a primeira consulta ao eleitor será sobre o controle público, ou externo, como eles gostam de dizer, dos veículos de comunicação.

Não me causa surpresa que enganadores fingidos de oposicionistas e bons caráteres, como o senador Álvaro Dias, assinem o parecer da CCJ. Esses covardes ajudam a entregar o bolo aos bolivarianos que nos governam e sonham ser enteados do casal Fidel Castro e Hugo Cháves.

Já preparo e-mail para mandar aos parlamentares sobre o assunto. Quando entrar em pauta de votação o enviarei e colocarei aqui. Enquanto isso, nos preparemos, os democratas e “golpistas”, a colocarmos pressão contra esses senhores.

 

©Marcos Pontes

terça-feira, novembro 16, 2010

Camarilha

Lula e Dirceu Chefoes

Espalham a verve incontida

Oceano de lama em profusão

Enodoam a pátria combalida

Promovendo a briga entre irmãos

 

Mentem e não se ruborizam

Agridem quem da mentira foge

Enganam em nome da moral em que pisam

Trazem sempre a traição no alforje

 

Leis, Constituição, Código Penal

São para eles inúteis resmas

Sabem da conivência do Tribunal

Que compram à mancheia e fazem lesmas

 

Elaboram, maldosos, a guerra sul-norte

Jogam negros contra brancos sem piedade

Lançam ricos contra pobres, vendem morte

Ao preço do seu poder e vaidade

 

Do erário fazem vítima e refém

Com propagandas do que não fizeram

Os números de menos viram além

Com os erros daqueles que não erram

 

Com balelas, favores e bolsas

Compram a permanência no poder

Com promessas e obras falsas

Corrompem até quem não os quer

 

Artistas, intelectuais, povaréu se vendem

Fazem-se piso para a malta passear

Imitam avestruzes, a consciência escondem

Sobra à nação a conta a pagar

 

Mafiosos urbanos, terroristas rurais,

Sindicalistas ineptos, juízes venais,

Escritores apócrifos, jornalistas e que tais

Incham a máquina. Bandidos boçais.

 

Não há governo, há quadrilha

Fantasiada de companheiros

Nos bastidores a camarilha

Rouba vidas e dinheiro

 

©Marcos Pontes

segunda-feira, novembro 15, 2010

Em defesa do Lobato

Nilma

"Tia Nastácia, esquecida dos seus numerosos reumatismos, trepou, que nem uma macaca de carvão".

"Não é à toa que os macacos se parecem tanto com os homens. Só dizem bobagens".

Trechos de “Caçadas de Pedrinho”, de Monteiro Lobato, obra de 1933

 

“Nega do cabelo duro

Qual é o pente eu te penteia”

Treco da música “Nega do Cabelo Duro”, de David Nasser e Rubens Soares

 

“Nega do cabelo duro
Que não gosta de pentear
Quando passa na baixa do tubo
O negão começa a gritar”

Treco da música “Fricote”, de Luís Caldas e Paulinho Camafeu

 

“Veja, veja, veja os cabelos dela
Parece bombril de ariar panela
Quando ela passa, me chama atenção
Mas seus cabelos não têm jeito não
A sua catinga quase me desmaiou”

Trecho de “Veja os cabelos dela”, de Tiririca

 

A heresia é minha em querer comparar Monteiro Lobato, a Tiririca, mas ao lembrar de um, não deixei de lembrar do outro. E o que Tiririca e Monteiro Lobato têm em comum? Uma visão culturalmente racista? Provavelmente, sim.

Vem a professora Nilma Lino Gomes, da UFMG, membro (ou seria “membra”, pela lógica sexista da “presidenta”?) do Conselho Nacional de Educação, esta negra linda que ilustra o post, sugerir ao ministro que vira manchete uma vez por ano, quando dá chabu nas provas do ENEM, Fernando Haddad, que não permita a distribuição do livro de Lobato pelo seu conteúdo racista. Sei não, a discussão não pode ser tão rasa, mas também não merece um maremoto.

Muitos anos depois das mortes de David Nasser e Rubens Soares, sua música, um clássico do cancioneiro popular há pouco desencavado por Marcelo D2, um negro de cabelo desgrenhado, também foi alvo da sanha furiosamente politicamente correta. Não me lembro quem e nem gostaria de lembrar, pediu a censura à música, sua exclusão dos anais brasileiros.

Tiririca, em 1996 foi apresentado ao Ministério Público e teve que se explicar. Por pouco não foi parar em cana por dizer que sua negra tem catinga e cabelo de bom bril. Ora, ora, ora, logo Tiririca, um caboclinho que esconde sua cabeleira crespa por baixo de uma peruca amarela? Um cearensezinho de Itapipoca, terra onde se misturam índios, negros e portugueses gerando um monte de mulatinhos engraçados, como seu Chico, meu pai, e branquinhas graciosas, como Luci, minha mãe.

Luís Caldas, pelo que me diz a memória e o conhecimento, passou incólume pela ira persecutória dos politicamente étnicos, mas só por citar uma “negra do cabelo duro” já corria o risco de ser empurrado para a Lei Afonso Arinos por alguma ONG ansiosa por notoriedade.

Nasser, Caldas e Francisco Everardo cometeram o pecado do mau gosto. Quiseram ser engraçadinhos e erraram a mão. Merecem crítica poética e musical das mais severas, sim. Mas talvez seja apenas elitismo meu querer que todo letrista brasileiro seja um Chico Buarque ou um Lupicínio Rodrigues, talvez por isso jamais comprasse um disco do Tiririca ou do Luís Caldas.

Monteiro Lobato, não por comparar a agilidade da Tia Nastácia à de um macaco em escalar árvores, ou de chamar os homens de macacos por termos cérebros defeituosos – talvez os cérebros dos macacos sejam mais bem acabados do que os nossos -, mas por não ter dito no mesmo livro, por exemplo, que Pedrinho corria mais rápido que um coelho, ou que o Marquês de Sabugosa era tão pensativo quanto uma coruja, merece um puxão de orelhas por não ter-se precavido contra os censores raivosos do seu futuro.

©Marcos Pontes

domingo, novembro 14, 2010

Transição ou transação?

transação

Não começou o novo governo, mas a bateria antidesmandos e anticorrupção já encontra alvos.
Caiu um advogado da Casa Civil, por corrupção. Caiu uma componente da equipe de transição, a advogada Christiane Oliveira, por estar envolvida no caso dos sanguessugas, bandidos que desviavam verbas da saúde por meio de licitações fraudadas, notas frias, propinas de prefeitos e tais coisinhas. E hoje aparece o nome de Maria das Graças Foster, engenheira da Petrobrás e nome cotadíssimo para o primeiro escalão do novo governo, em operações no mínimo suspeitas.
Desde que a dona Graça assumiu cargo na diretoria da Petrobrás, a empresa do marido dela, Colin Vaughan Foster, assinou 42 contratos com a empresa estatal (na verdade, é uma economista mista, mas apenas para provocar os vermelhinhos desinformados).
O simples fato de uma empresa ganhar licitações seria motivo para condenar as relações entre a C.Foster, empresa do Colin? Claro que não, mas as coincidências indicam caminho lamacento.
Seria coincidência os contratos, em número tão volumoso, surgirem justamente depois que a dona Graça assumiu o cargo? Mesmo sendo coincidência, não haveria aí choque de interesses, já que a mulher, pela legislação brasileira, torna-se dona de 50% dos bens do marido, deduzindo eu que o casamento tenha sido feito em comunhão parcial de bens, regime preferido no Brasil? Não havendo suspeita, o que demonstra ingenuidade ou conivência da presidência da Petrobrás, não seria o caso de todos os contratos serem devidamente esclarecidos à opinião pública, seja por notas públicas entregues à imprensa, sejam por esclarecimentos no site da Petrobrás?
E que tal uma cabeleireira na equipe de transição? Tá, a senhora Márcia Westphalen não é apenas uma cabeleireira, é uma graduada em direito e será contratada, sem concurso, como secretária trilíngue e receberá R$ 6, 8 mil mensais. Nada mal para quem trabalhava num salão de beleza até um mês atrás.
O salto salarial da senhora Westphalen me lembra o de outro advogado, o senhor Toffolli. Advogado mal sucedido, dono da churrascaria freqüentada por petistas , entre eles Mercadante, Toffolli asfaltou com farinha de trigo e calabresa sua ascensão ao Supremo Tribunal Federal. Terá a senhora Westphalen garantido a boquinha com tinturas e uma peruquinha muito mal ajambrada que determinada senhora utilizou há uns meses?
A disputa por cargos é tão acirrada que até o ministro do Trabalho, sem cargo, sem emprego e sem moral ou competência, anda brigando com o próprio partido na tentativa de manter-se no cargo. Outra briga de foice é pela Secretaria-Geral da Presidência da República. Provando o que todos sabem, que a presidente apita muito pouco na composição do governo, dentro da equipe de transição já há quem defenda a alavancagem da Secretaria ao status de ministério. Já são 37 ministérios atualmente, certo? Pois a senhora Rousseff não diminuirá a quantidade e, tudo indica, aumentará para abrigar mais companheiros sem desempregar os antigos.
Explica-se, assim, porque a reforma fiscal e tributária a ser desenvolvida pelo novo governo deverá nos presentear com mordidas ainda maiores e mais dolorosas do que os governos anteriores. Como bancar tanta gente desocupada com o orçamento atual?
A bolha cresce e uma hora estourará. Torcemos que não, mas pela pisada da equipe transitória as perspectivas são de mais amoralidade e falcatruas como jamais visto na história desse país, mesmo se nos lembrarmos de todas do governo que se acaba.

©Marcos Pontes

segunda-feira, novembro 08, 2010

Faltam Exemplos

Bob e Bob

O melhor professor é o exemplo.
O melhor exemplo é o dos pais.
Nenhuma novidade até aí e talvez não haja outra daqui para baixo, mas não consigo deixar de refletir sobre isso, por isso essa blogagem que fará chover no molhado e não mudará qualquer coisa no rumo tortuoso pelo qual segue o país.
Em janeiro desse ano já escrevi sobre minhas impressões sobre a atual geração de jovens, a quem chamei de “netos de 68”, o que faz desse um tema recorrente, mas tentarei dar um enfoque mais político desta feita.
Quando vejo jovens tentando subornar professores, principalmente nesta época de final de ano letivo, para serem aprovados me asseguro de que os bons valores estão agonizando.
Alguns desses mesmos jovens, de 15, 16 anos vão à escola ou à festinha com a turma dirigindo o carro graciosamente oferecido pelos pais e nessa festa não se furtam a usar álcool ou drogas ilegais e voltam para casa à hora que bem entendem, tenho certeza que o exemplo familiar também foi corrompido.
Ao refletir sobre o lixo em que se transformou a educação pública, com professores preguiçosos, falta de equipamentos e a famigerada “aprovação continuada” que praticamente aprova qualquer freqüentador, mesmo que sazonal, me dói saber que os caminhos da facilidade estão mais escancarados e são mais bem pavimentados do que os que levam à promoção social pelo mérito.
Foi-se o tempo em que os pais aconselhavam aos seus pimpolhos que a educação era o único meio de progredir socialmente. Os pais que ouviam isso e levaram a sério ou progrediram deveras ou, por não terem conseguido, desencantaram-se com a escola e procuraram outros caminhos para satisfazerem suas aspirações de consumo. Caminhos nem sempre honestos. Não que não haja bandidos graduados. Aliás, a sucessão de governos nas três esferas demonstra que eles são em número imenso e aumentando a cada dois anos.
É obrigação dos governos darem aos cidadãos meios de ascenderem a pirâmide social, mas o Estado também optou pelo caminho mais fácil.
Para quê gastar tubos em aprimoramento dos professores, equipagem das escolas, aparelhamento científico das instituições se sai muito mais barato criar um piso salarial de menos de dois salários mínimos e fazer propaganda dizendo que esse dinheiro foi investido na Educação?
Para quê fazer das tais bolsas sociais um programa emergencial, como é o seguro desemprego, se pode tornar-se fonte permanente e legalizada de compra de votos? Há justiça social nisso? Quem trabalha e perde sua fonte de renda seja lá por qual razão, só conta com ajuda financeira por cinco meses, mas quem nunca trabalhou, mas tem filhos, recebe por anos.
As leis e os juízes contribuem com os caminhos da facilidade quando são benevolentes com a bandidagem. Os bandidos pobres são tratados como vítimas sociais e empurrados de volta à sociedade para continuarem delinqüindo; os bandidos ricos são tratados como seres superiores e intocáveis e delinqüem impunes. Vale bem o exemplo do presidente Lula ao defender Sarney com o argumento que ele não poderia ser tratado como uma pessoa comum. Que Sarney não é uma pessoa comum, vá lá, não é mesmo, para alívio das pessoas comuns, mas essa defesa joga na lama o preceito legal de que somos todos iguais perante as leis.
Faltam exemplos, bons exemplos, e esses bons exemplos deveriam ser dados do berço e não na transferência da responsabilidade que cabe à família para a escola que conta com despreparados no cuidado das crianças.
Quando vejo um professor furando a fila da lanchonete da escola, vejo que ele não é diferente das autoridades que dão carteiradas a torto e a direito.
©Marcos Pontes

domingo, novembro 07, 2010

CPMF, já pagamos

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Naquele panavueiro dos anos 90, pouco depois da dupla Itamar/FHC aniquilar a hiperinflação, sem meter a mão em nossa poupança, seja no sentido literal, seja no jocoso, sem plano mirabolante colocando a população contra produtores e comerciantes, como fez Sarney, as contas públicas ficaram menos incompreensíveis.

Tirando a novela da Previdência Social, que economistas, analistas, autoridades, segurados e pensionistas, contribuintes ou a Santa Providência jamais conseguem entender, os governos passaram a ver com mais clareza onde entrava dinheiro, por onde saía, onde estavam os ralos e gargalos. Se não resolveram os problemas de “vazamento”, popularmente conhecidos como “desvios de verbas” ou “caixa dois”, ou seja lá que nome se dê, é outra história. Entre os ladrões sempre estão os amigos do governante de plantão e expor o malfeitor à execração pública é dar arma aos adversários, por isso ficam sempre caladinhos.

Isso acontece desde Deodoro até, já posso adiantar, o governo futuro da senhora Rousseff.

Voltando às contas públicas porque corrupção nacional não é assunto para uma página de Word, caberia numa enciclopédia.

Estabilizada a economia, percebeu-se o rombo na Saúde. Não sobram recursos para atender uma população que teima em crescer e adoecer. Coisa de gente subdesenvolvida. Onde se viu gente educada nas zoropa contrair dengue, tuberculose, febre amarela, piriri, ziquizrira? Mas esse povinho brasileiro não pode deixar os presidentes em paz e teimam em arrumar mazelas físicas para gastarem dinheiro público.

Aí o Doutor Jatene, grande figura da medicina nacional, teve a idéia genial de criar a CPMF. O presidente viu ali sua segunda galinha dos ovos de ouro, depois do próprio plano real. Tudo bem que os ovos dessa galinha eram amargos, mas a população acostumar-se-ia com o gosto. Era, temporário o remédio, tanto que o P da sigla significava Provisório. Duraria apenas o tempo para resolver as questões pendentes na área. Além do mais era um quantia tão insignificante, apenas 0,18% das operações financeira, ninguém chiaria.

Engano. Chiamos e chiamos muito.

Mas o governo ria. Vencido o prazo, o P virou “permanente”, deixou de ser dinheiro para a Saúde e tornou-se fonte para cobrir rombos do governo.

Mais uma vez o prazo de validade esgotou-se e, já no governo Lula, tentaram ressuscitar o imposto fantasiado de “contribuição”, como se fosse algo optativo. Dessa vez a grita foi geral e o governo, mesmo com maioria na Câmara, perdeu a parada para a vontade popular. Esse osso está engasgado até hoje na garganta do presidente que tudo pode e nada sabe.

Se essa coisa voltar, quem será o maior beneficiado? O pobre, dirão os governistas e o governo. O próprio governo, direi eu, que usará esse dinheiro para o que bem lhe convier, uma vez que a fiscalização é inexistente, o TCU é apenas um adorno sem utilidade pendurado na parede dos fundos, o Congresso, do rabo às tetas, é do próprio governo.

E quem será o maior prejudicado? Ora, resposta fácil, a classe média, como sempre. Os milionários, via de regra, como forma de dar um drible no Fisco, não têm renda. Suas empresas bancam as despesas pessoais e familiares, já o assalariado classe média, além de pagar todas as contribuições que o “leão” impõe, inclusive para que tenha Saúde decente, o que não ocorre, ainda paga plano de saúde privado e pagará pela famigerada CPMF. São três pagamentos pelo mesmo produto e, pior, recebendo-o com defeito, seja qual for a forma de pagamento, já que o atendimento médico, tirando Sírio Libanês, Fleury e outros hospitais usados pela gangue que detém o poder, seja de que cor for, é de qualidade duvidosa, Brasil a dentro.

Fiquemos alertas e prontos para cobrar dos parlamentares, a partir de 2 de janeiro, e dos governadores eleitos, a não aprovação desse imposto independentemente do nome que derem a ele para nos enganar.

©Marcos Pontes

quinta-feira, novembro 04, 2010

Guerra Norte-Sul

 

O separatismo de parte do Sul, principalmente de sul riograndenses, é uma constante na história brasileira. Não entro no mérito se a causa é justa, se seria deveras melhor para a região tornar-se um país, se outras regiões também deveriam ou não emancipar-se ou as causas passadas desse anseio.

Não vou entrar na seara fácil exaustivamente repetida que somos um só povo, uma só língua, uma só cultura e blá-blá-bá.

Muito menos perderei meu e seu tempo, caro leitor, discutindo que parte do país é melhor ou pior, mais bonito ou mais feio, de gente mais elegante ou menos elegante e esses conceitozinhos subjetivos. Mais me interessa e preocupa o maltrato atual entre os que, para a falsa definição aceita pela maioria, crêem sermos todos iguais e os desdobramentos que a descoberta das diferenças terão.

A inconsequente Mayara Petruso ficou famosa pela porta dos fundos, pelo caminho mais doloroso da fama, depois de suas tuitadas antinordestinas.

Logo a promulgação do resultado das eleições presidenciais fui mais um que tentava entender as causas da derrota oposicionista, não me aprofundei na busca e evitei especulações mirabolantes. Como faço exercício diário de evitar o maniqueísmo como modo de ver um mundo tão complexo, não creio que as causas sejam unas, mas um aglomerado de erros nossos, acertos alheios e outras ainda indefinidos. Uma dessas causas, que eu já alertava há meses e que ninguém me convenceu do contrário, foi a negativa de Aécio Neves, tão vingativo e vaidoso quanto Ciro Gomes, que fez o inverso do lado de lá, de participar efetivamente na campanha de Serra. Mas esse é outro papo.

A falta de análise, uma das características preponderantes na formação intelectual brasileira, não permite que mesmo pessoas minimante graduadas, como a menina Petruso, tomem como verdade absoluta sua primeira centelha de achismo e ela, assim como muitos, entraram na canoa de que os nordestinos são os culpados pela derrota tucana e todas as mazelas que o petismo continuará a nos deixar, mais e mais, a cada dia de seu governo.

Foto que os índices sócio-educacionais-econômicos do centro-sul e do sul do país são muito melhores que os do norte-nordeste, mas as causas são muito mais profundas do que a simples “vontade” popular de viver na miséria e dependendo das esmolas, ou melhor, assistencialismo oficial; é verdade que a quantidade de agraciados pelas tais bolsas é bem maior no nordeste do que no centro-sul e isto é nada menos que conseqüência justamente dos baixos índices educacionais-econômicos. Há aí um ciclo vicioso em que a miséria alimenta a ignorância e o assistencialismo, que, por sua vez, são alimentados, governo após governo, desde o Brasil Colônia, como forma de manter os currais eleitorais.

Mas a estagiária é apenas uma gota nesse oceano de xenofobia que andava reclusado e desaguou com a vitória petista, ou derrota oposicionista, como queira. No vídeo aí em cima vêem-se outros muitos Petrusos excretando sua ignorância letrada, seu preconceito desinformado, sua burrice acadêmica contra os nordestinos. Gente que não soube perder e, sem tomar conhecimento das análises dos números, como esta encontrada no G1, pegou uma região inteira como bode expiatório.

E a burrice é contagiosa.

Em sua defesa débil, nortistas e nordestinos tão imbecis e burros quanto os sulitas-sudestinos que o agridem, partiram para a agressão recíproca. Ambos utilizam-se da arma plantada por Lula, uma lição leninista, que a melhor forma de conquistar o inimigo é dividindo-o. E Lula soube, como poucos, dividir o país. E isso também eu já explorei em diversos textos. Jogou pobres contra ricos, letrados contra analfabetos, norte contra sul, brancos contra pretos, homens contra mulheres... Por oito anos ele plantou a cisão e colheu os frutos: conquistou o país três vezes seguidas.

Sua última cisão, dessa vez sem programar, apenas contando com mais uma burrice da oposição, foi a de tucanos do norte contra tucanos do sul. E nós, massa de manobra, caímos direitinho. Ao invés de nos unirmos para evitar um quarto mandato petista, preferimos nos agredir e deixar as feras vermelhas à solta.

 

©Marcos Pontes

terça-feira, novembro 02, 2010

Mea culpa

mea

 

Eu sou um injusto que tenta se justo e no meu senso de justiça defeituoso, perco a mão. Por sorte, tenho bons leitores, poucos, mas bons, que me mostram que exagero nos meus comentários, que perco o peso da mão nas minhas críticas, que minhas ofensas são injuriosas.

Alguém, ou mais do que um alguém, uma multidão de escritores de auto-ajuda, já disseram que só os grandes de caráter dão a mão à palmatória, admitem a culpa e pedem desculpas. Pois bem, quero ser um dos grandes.

Peço desculpas por ter atentado incontáveis vezes contra os propósitos nobres do PT que nasceu democraticamente misturando metalúrgicos do ABC Paulista e intelectuais da PUC com o mais nobre propósito de reduzir as injustiças sociais, elevarem a moral depauperada dos brasileiros menos favorecidos economicamente e alavancarem o país à elite mundial - embora a palavra elite seja justamente repugnada pelo partido por conta dos riquinhos mimados que exploram a mão de obra barata e analfabeta para se locupletarem.

Peço desculpas por ter lançado farpas, ou melhor, lanças contra as lideranças esquerdistas do país, homens e mulheres valorosos que jamais labutaram em causa própria, mas sempre com os olhos voltados para o bem comum. Se alguns desses líderes socialistas amealharam fortuna, foi devidamente. Se seus filhos também conseguiram seus pés de meia milionários, mesmo tendo o mínimo de escolaridade em alguma faculdade particular de qualidade duvidosa (aliás, duvidosa apenas para a elite intelectualizada da USP) é porque são jovens esforçados no trabalho diário, inteligentes, sagazes e capazes de gerirem com sucesso seus empreendimentos particulares, longe de qualquer influência de seus pais nas negociações comerciais.

Peço desculpas por ter falado mal das coligações que em muito acrescentam para a melhoria das comunidades Brasil a dentro. O Rio de Janeiro, por exemplo, só vem vencendo a violência urbana, melhorando sensivelmente seus índices de criminalidade, graças à união firme do PT do nobilíssimo presidente Lula com o impoluto PMDB do magnânimo governador Sérgio Cabral, justamente reeleito em primeiro turno numa clara demonstração de reconhecimento da população fluminense à administração primorosa dos últimos quatro anos.

Peço desculpas pela minha ranzinzice preconceituosa contra os pobres brasileiros que pouco se informam não devido à preguiça intelectual ou à má qualidade do telejornalismo nacional, mas por culpa da elite – novamente ela, a elite, o câncer social que corroi os intestinos de nossa sociedade tão violentamente aviltada por essa burguesia podre – que, por meio de patrocínio, obriga os telejornais a usarem palavreado fora do vocabulário do brasileiro comum.

Peço desculpas pelo meu machismo imbecil que não poupou críticas abusivas contra a então candidata e hoje presidenta eleita Dilma Rousseff. Não tendo qualquer argumento que denegrisse sua tão apregoada e comprovada competência e honestidade no trato da coisa pública, resolvi agredi-la gratuitamente apenas pelo fato de ela ser mulher. Sou um troglodita ultrapassado com os ranços dos coronéis nordestinos do início do século vinte.

Mea culpa, mea máxima culpa por todas as tentativas de enlamear a moral, a probidade e o caráter irretocáveis de nossos administradores atuais e de todos os que nos governarão nos próximos quatro anos. Independentemente dos nomes que o excelentíssimo e imaculado senhor José Dirceu escolher para comporem o ministério de nossa excelentíssima presidenta Dilma Simpática Católica e Sorridente Rousseff, tenho certeza que nada teremos com que nos preocupar, nós, brasileiros comuns que nada temos que nos meter a criticar a administração pública regida por homens e mulheres experientes e honestos.

Porra nenhuma!

Não peço desculpas por nada e muito menos aos leitores insatisfeitos.

Lamento, amigos e amigas, mas este blog é escrito para expressar minhas idéias e não conteúdo programático de qualquer partido ou aula de etiqueta e boas maneiras.

Fui serrista? Não! Fui antilulista, antipetista e antidilmista, logicamente anti qualquer coisa ou pessoa ou coligação referente a essas coisas.

Não parti para a ofensa pessoal e nem esculachei a aparência física dos governantes, mas a aparência moral, a propaganda mentirosa, a incompetência gerencial e o caráter canhestro, esses eu não poupei e nem pouparei daqui por diante.

Lamento a dureza, mas a porta de saída para os insatisfeitos é aquela ali no canto, a com uma estrela vermelha.

 

©Marcos Pontes

segunda-feira, novembro 01, 2010

Eu golpista

Midia_Golpista 2

 

Às vezes quase acredito que o Brasil é mesmo o país do futuro, como preconizou Stefan Zweig. Hoje, um dia depois da eleição que direcionou a senhora Rousseff à cadeira presidencial, sentindo um estranho vazio no oco do peito, percebo que a quase totalidade dos jornais fala do futuro governo, como se o atual não tivesse ainda 60 dias pela frente.

Olhando para o futuro, Lula falou há algumas semanas, ou dois meses, o passado não me cai bem, que ainda havia muito governo pela frente, que ele ainda tinha a caneta e que ainda faria muita miséria. Não é preciso ser pitonisa para saber que ele ainda tem muita miséria a fazer. Eles as faz diariamente à profusão.

Há um mês, de olho no futuro, Zé Dirceu – me sinto mal em falar ou escrever o nome desse senhor, ainda mais no diminutivo carinhoso. Só o uso para apressar em duas letras o final da referência a ele -, num discurso em Salvador mandou o aviso definitivo à senhora Rousseff: de acordo com o projeto DE PODER do PT, o partido governaria e não a presidente.

Ao ouvi-la proferir seu discurso da vitória, pensei na fala do Dirceu. Olhando seu discurso passado, me veio a insegurança futura. Se vai ser o partido o governante, em outras palavras, seria, ou será, um governo de muitas mãos e cabeças, predominantemente as do Dirceu e dos chefões petistas, o discurso da presidente eleita cai no vazio. ZD - - legal, economizei 8 letras na referência ao mal – avisou, não só a ela, mas também aos demais partidos da coligação, mormente o PMDB, “baixem a bola, quem manda agora sou eu e meus amiguinhos”.

Antecipando o futuro em quatro anos e contando com a amnésia coletiva brasileira, além de nossa facilidade em perdoar, Aécio Neves preocupou-se primeiro em eleger-se, depois em fazer seu sucessor e, só depois do champanhe secar – entrar na campanha do Serra. Mesmo com o candidato tucano ter avisado ser contrário à reeleição e, se eleito, teria 72 anos quando a próxima campanha estiver em curso, Aécio preferiu não esperar. Fez-se de morto para, na última semana de campanha, fazer um mise-em-scène de bom companheiro que ajuda o candidato comum. Não colou. Hoje vê-se mais gente furiosa com sua postura egoística do que triste com a derrota de Serra. O futuro dirá se Aécio jogou bem ao contar com nosso esquecimento.

De minha parte, o que posso adiantar é que o futuro próximo de quatro anos será igual ao passado imediato de sete anos (dei um ano de tolerÂncia ao Lula até partir rumo à sua jugular): oposição total. Nem sempre tão bem comportada, justa ou benevolente com o governo. Ou ele, o governo, mostra ser sério desde o discursos de posse em 1o de janeiro de 2010 ou, dia após dia, estarei em seu calcanhar, enviando e-mails, como fiz nos últimos anos, aos parlamentares, enchendo o saco dos jornalistas da grande mídia, me solidarizando com os blogueiros e tuiteiros opositores e sendo o golpista que os petistas acusam de ser cada opositor.

Não sou um golpista de fato, como o PIG espalhado pelo PHA também é fantasia, mas se é assim que os asseclas partidários ou os apenas eleitores desinformados vêem a mim e a cada um que se opõe aos ditames autoritários, usurpadores, maniqueístas e bolcheviques dos mandatários petistas, que assim seja. Sou um golpista!

 

©Marcos Pontes

domingo, outubro 31, 2010

Perdemos Todos

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O PT ganhou, perdemos todos.

Argentinos e ingleses não se engolem desde a guerra das Malvinas/Falkland. Numa dessas Copas do mundo, jogaria o Brasil contra a Inglaterra. Na ocasião o jornal El Clarín, de Buenos Aires, lançou a manchete “Que percam ambos!”. Ao ver o resultado da eleição que elevou a senhora Roussef à presidência da República, lembrei-me dessa manchete.

Seja por identificação ideológica (minoria); seja por ter melhorado de vida por esforço próprio, seja pelas “bolsas sociais” (uma boa parte); seja por achar que votando na senhora Roussef, estaria votando em seu mento (maioria absoluta), os eleitores que fazem com que os incompetentes, corporativistas e ditadores petistas amealhem mais, pelo menos, quatro anos de poder, escândalos, desvios, censura e vitimização, também perderam.

Como democrata, espero estar completamente errado. Não sou da turma do “quanto pior, melhor”, como eram os petistas quando oposição. Pelo contrário. Como brasileiro que bate ponto, estuda e sua para pagar as contas, quero mais é que o país dê certo e ande para a frente. Mas que dê certo de verdade, não essa falsa imagem de que o país está nos trilhos que as propagandas oficiais dão a entender.

Como oposicionista a esse governo e seus programas falsificados, poderia aqui fazer análises mais rebuscadas para justificar a derrota da oposição, como a compra de votos por meio de artifícios legais, como as “bolsas sociais” ou a exploração exacerbada da imagem do presidente que, por ser o “mais popular” de todos os tempos, confunde os eleitores menos esclarecidos como sendo também o “mais competente”, fato longe de ser verdadeiro. Poderia culpar os opositores de brincadeirinha que olharam mais para o próprio umbigo, de olho na campanha de 2014, como Aécio Neves e Arthur Virgílio (apenas como exemplos). Poderia utilizar do artifício barato de culpar a mídia. Não farei nada disso. Para essas análises existem os “experts” – a maioria chutadores bem assalariados. Me reduzirei à posição de cidadão envergando luto e tristeza.

Na atual campanha não elegi meu governador, meu senador e nem meu presidente. Jamais votei em tantos derrotados nesses 28 anos de eleitor, mas ver a senhora Roussef eleita é a maior das minhas tristezas. Não por ela simplesmente, mas por toda a caga de incompetentes, sindicalistas inoperantes exercendo cargos de chefia, o PNDH-3 que pode ser aplicado na íntegra diante do Congresso venal que se elegeu, dos amiguinhos da tropa que estarão pongados nos cargos e mandando, desmandando e perseguindo quem a eles se opuser.

Que a senhora Roussef é uma mentirosa patológica e uma incompetente de quatro costados, não é novidade, mas, pior, é uma traidora contumaz. Traiu os companheiros de guerrilha a quem dedurou ou “justiçou” (para quem não sabe o que significa esse termo, faça uma pesquisazinha e assuste-se ao final), traiu o marido, traiu os eleitores gaúchos a quem deixou com os cofres da Secretaria da Fazenda vazios. Trairá seus eleitores.

Volto a afirmar meu profundo desejo de estar completamente enganado e que seja apenas um opositor ranzinza e ferido, mas, infelizmente, acho que estou correto.

Zé Dirceu, Lula, Palocci, Delúbio, Mercadante, Erenice, Jaques Wagner, Ünger, Greenhalgh, Tarso Genro, Toffoli... Essa gangue venceu, o país inteiro perdeu, apenas ainda não percebeu e só perceberá muito tarde.

 

©Marcos Pontes

sexta-feira, outubro 29, 2010

acabou!

serra dilma

 

Acabou!

Depois de quatro anos de campanha presidencial, acaba amanhã, oficialmente, essa campanha. Depois de amanhã começa a campanha para 2014. Já vi e ouvi analista da Globo News fazendo exercício de adivinhação e lançando Lula, Marina e Aécio como candidatos mais fortes para a sucessão do sucessor de Lula.

Não vejo em quê esse tipo de especulação pode ajudar ao país. Ainda sequer decidimos quem assumirá no próximo 1o de janeiro e os ditos especialistas já especulam. Vejo essa gente tratando a presidência da República como a novela das oito, que no primeiro capítulo já sabemos quem vai comer quem, quem vai roubar, quem vai em cana, quem terminar junto e feliz e qual o bandido que sairá por cima causando falsa indignação no populacho.

A atual campanha foi fraca. Ouvimos muitas acusações de lado a lado, umas com fundamento, o outras apenas para municiar os ditos militantes – no caso de uma certo partido, mais apropriado seria denominá-los meliantes. Foram desenterrados os passados dos principais contendores, um com muita história de progressão intelectual e serviços prestados, outra com um passado obscuro e ajudado a se manter escondido por aqueles que um dia foram seus inimigos, os militares.

Vimos candidato propondo mudanças para melhorar o pouco que já foi feito e vimos candidata prometendo continuar o que está aí. Seria ótimo se a situação atual fosse o mar de rosas que a propaganda oficial mostra num faz de conta marqueteiro.

Vimos gente com passado ilibado, embora os adversários tentem de todos os modos e com todas as armas, inclusive bombas sujas, macular, sem, contudo, apresentarem fatos e provas cabais. E vemos uma senhora que se escondeu sabe-se onde no período de 64 a 85, nos restando apenas flashs esporádicos de seu passado obscuro.

Vimos um administrador com obras vencedoras em todas as suas realizações públicas, de parlamentar, ministro, prefeito e governador e uma candidata que exerceu algumas direções de órgãos públicos com histórias de insucesso repetidas, seja na Secretaria da Fazenda do Rio Grande do Sul, de onde saiu deixando um enorme rombo ao Casa Civil da Presidência da República, onde entrou substituindo um ministro afastado por desmandos e condenado por corrupção e de onde saiu deixando uma companheira que saiu pelos mesmos motivos do antecessor da candidata. Aliás, ao ser afastada, a última ministra chefe da Casa Civil foi a décima primeira pessoa a ser afastada do segundo escalão do governo por envolvimento em corrupção. Com exceção do primeiro, justamente o todo poderoso do partido e do governo, nenhum outro foi devidamente punido e todos estão ainda prestando serviços ao governo petista, seja em cargas de terceiro escalão, seja dirigindo o partido, seja como parlamentares, governadores ou prefeitos. A turma suja do PT não largou o osso e nem foi repreendido pelo partido, faz de conta nada que aconteceu diante da cegueira da Justiça e da conivência dos seus pares, que contam com a desinformação do público passivo.

Temos um homem de longa história de meritocracia se opondo a uma curta e secreta história de incompetência no trato tanto da coisa pública como na administração de coisas particulares, que vão de casamentos mal sucedidos e plenos de traições à falência de loja de produtos populares.

Estudando os currículos, as amizades, as realizações, a moral, a ficha policial, a competência administrativa, enfim, o conjunto biográfico dos dois candidatos, não é difícil escolher o melhor em quem votar.

Se sairá vitorioso, não dá pra fazer exercício de adivinhação, apenas torcer. Em caso da vitória do melhor candidato, todo o país sairá ganhando, embora não se desenhe um caminho colorido e iluminado pela frente, já que contará com um Congresso hostil, mas se ganhar a senhora de muitas vidas secretas, todos perderemos, mesmo e talvez por isso mesmo, ela tendo o Congresso companheiro para apoiá-la e ajudá-la a instalar no país um Estado intromissor, incompetente, fisiológico e nada meritocrático.

Continuemos na batalha incessante e incansável de fazer desse país o país que todos queremos que ele seja nos fazendo presente e participativos na construção de sua história. As urnas nos esperam de boca aberta, não a decepcionemos colocando lixo em seu interior.

©Marcos Pontes