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quinta-feira, dezembro 31, 2009

Feliz 2010

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Quem tem como principal assunto a política nacional, é de se esperar que uma retrospectiva do ano que ora finda seja um tremendo apanhado de coisas ruins e vergonhosas. Corro o risco de parecer uma viúva portuguesa, daquelas que andam de preto pro resto da vida e reclamam de tudo, maldizem até a comida cotidiana. Por outro lado, pra alívio dos poucos que me lerão e pra minha própria auto-estima, não procurarei nos jornais os fatos que marcaram o ano. Vamos viver em perspectiva e deixar um pouco de lado as agruras passadas.

As batatadas que o Beócio-mor comete cada vez que abre a boca em público (fico imaginando que absurdos ele não deve cometer em reuniões particulares regadas a alguma bebida alcóolica) me envergonharam e irritaram dezenas de vezes em 2009, mesmo devendo eu estar acostumado, afinal de contas, já são sete anos ouvindo-o “bostejar” pelas páginas da mídia.

A empáfia do PT que tomou o país, suas instituições, seus cargos públicos de assalto, literalmente, tornou-se mais feroz. Dominaram tudo o que há de público e forçam as portas das empresas privadas, como aconteceu recentemente com a imprensa, em sua segunda tentativa de controlar o que deve ser ou não divulgado, por quem e de que modo, mesmo sendo atitude frontalmente contrária às diretrizes da Constituição Federal, que prega  a proibição de qualquer tipo de censura. Aliás, o próprio PT e seu constituinte mais famoso, hoje presidente da República, foram defensores ferrenhos dessa liberdade de expressão e opinião. A diferença é que era oposição e tinha como meta perturbar o governo, fosse ele qual fosse, mesmo tendo que repetir todas as práticas desses mesmos governos, algumas de forma aprimorada, como a corrupção de todos os tipos, uma vez que descobriu que esta jamais é punida.

Aliás, para não dizer que a corrupção não foi punida, um ou outro exemplo pode ser citado, como o afastamento de Agaciel Maia da presidência de fato do Senado. Claro que num país sério ele seria preso, demitido do serviço público e condenado a devolver cada centavo que desviou. Mas isso em um país sério.

Agaciel foi apenas um “cala boca”, como a Justiça faz de vez em quando. Pega-se um bandido pra Cristo, de preferência um bandido de segundo ou terceiro escalão e faz de conta para a nação que puniu um safado. E a patuléia fica maravilhada vendo um bandido passar maus bocados. A mesma patuléia que na primeira oportunidade mostra seu coração bom, sua memória falha e seu caráter duvidoso devolvendo todas as benesses ao bandido afastado, como pôde ser excelente exemplo a reeleição de Arruda ao governo do Distrito Federal.

Perdoado no crime de quebra de sigilo do painel de votação, Arruda recebeu o tapinha nas costas de seu eleitorado imbecilizado por cinco séculos de lavagem cerebral com esmolas, e voltou ao trono, seguro de que poderia cometer crimes mais graves, sairia ileso da mesma forma. Provavelmente ele tinha razão em pensar assim, afinal de contas, até o momento não sofreu qualquer punição ou reprimenda, apenas a vergonha de aparecer em todas as mídias como um safado corruptor e corruptível. Mas vergonha para esse tipo de canalha só dura alguns minutos. Recompoem-se rapidamente e e reaparecem diante das câmeras alegando perseguição política e manobra dos opositores. E a patuléia se compadece e perdoa de novo. E a Justiça acredita em suas palavras, nada investiga e os deixa impunes. Assim tem sido e assim será por mais 509 anos, pelo menos.

Morreram ídolos, renascerão outros incapazes de apagar as imagens fortes dos que se foram. É uma falácia dizer que brasileiro não tem memória. O que nós temos é memória seletiva e memória coletiva fragmentada. Lembramos de nossos ídolos, mas não sabemos fazer memoriais como fazem os ianques e os russos. A mesma televisão que vive pregando a falta de memória dos brasileiros, não ajuda, nos enfiando olhos, ouvidos e goela abaixo as celebridades nescafé que ficam prontas com um pouquinho de água quente, esfriam rápido e ficam intragáveis em pouco tempo. A mídia não mostra o que o povo gosta, ela ajuda a formar o gosto popular ao gosto de seus programadores, que têm demonstrado ter péssimo gosto.

Novelas, músicas e cinema, por exemplo, renovam-se para baixo. Os mesmos folhetins são escritos há 5 décadas e a patuléia continua fazendo deles “campeões de audiência” numa demonstração de gosto cultural imbecilizante. A sensação do ano, por exemplo, em termos de cinema, embora ainda nem tenha entrado no circuito, foi O Filho do Brasil, uma elegia à vida do Beócio, como se só ele tenha passado dificuldades de viver e sobreviver nesses país de castas, e o único a ter vencido as agruras para tornar-se um homem bem sucedido. O The Times descobriu até a mensagem subliminar de trecho da música tema do Filme Super-Homem na trilha sonora do filme sobre o Beócio. Ou Super Man é um beócio, ou o Beócio é um super-homem. Justiça seja feita, foi o único que conseguiu fazer fortuna e comprar um duplex em São Bernardo sem bater ponto num trabalho por mais de vinte anos. Mas lógico que essa parte de sua biografia não é mostrada no filme, não se explica a origem dessa fortuna ou da de seus filhos.

Continuamos a pagar a conta. E nossos vizinhos latinoamericanos não pagam contas menores. Venezuelanos têm que aguentar um louco megalomaníaco na presidência; os bolivianos suportam um cocaleiro mais despreparado que nosso torneiro mecânico, uma maria-vai-com-as-outras que segue a moda de seus vizinhos um pouquinhos mais inteligentes (ou menos burros, como preferirem); no Equador uma besta populista com práticas ditatoriais ao estilo maoísta, sem o carisma e inteligência de Mao, cala qualquer oposição no chicote, escondidinho do mundo por trás da grande cordilheira; Paraguai e Uruguai entregam suas presidências a vermelhinhos com passado duvidoso e futuro igual ao passado de outros presidentes… Pelo menos levamos uma lição de Honduras que não dobrou-se aos arroubos intervencionistas dos mandatários sulamericanos. Deixaram bem claro que quem manda em seu nariz são eles próprios, que não aceitam pitaco. E Brasil e Venezuela, com o rabinho entre as pernas, abandonaram Zelaya chupando dedo, prisioneiro na casa que lhe foi dada como asilo. Sem ter para onde ir, Zelaya queda-se calado, impotente e exilado em seu próprio país. Burro, ainda não percebeu que está encarcerado, justamente o que ele não queria. Pior, no exílio ele estava livre, em casa ele está preso, e quem o colocou nessa situação, agora lhe vira as costas.

Mas estamos vivos. Espero que todos saudáveis, com uma fonte de renda garantida, cercado por pessoas amadas e que os amem, com voz e coragem para elevá-la. Se 2010 não promete ser melhor do que os anos anterirores em se tratando de política, se as eleições prometem reeleger quase toda a canalha que hoje detém os cargos, pelo menos continuamos vivos e terminaremos 2010 ainda vivos, bem vivos. Se as leis não serão renovadas aumentando a pena para bandidos, diminuindo a quantidades de recursos a que eles têm direito e reduzindo os benefícios que lhes cabem, pelo menos os homens e mulheres de bem, honestos e trabalhadores, terminarão 2010 vivos e saudáveis. Se teremos o mesmo governo que nada sabe, nada ouve, nada vê e fala besteiras pelos gorgomilos, os homens e mulheres sensatos, de senso crítico, filtro para informações e boas intenções continuarão vivos, saudáveis e alertas.

Que as agruras, desmandos e roubos de nossos mandatários tenham fim, embora eu duvide; que as esmolas sociais deixem de existir e sejam trocadas por educação de qualidade, saúde pública de qualidade, transporte, moradia e, principalmente, emprego de verdade; que a violência das ruas tenha fim e possamos voltar a colocar as cadeiras nas calçadas no final de tarde e colocar o cotidiano em dia sem medo de balas; que nossas crianças possam crescer sem o medo de viver que nós aprendemos a ter em nome da auto-preservação; que consigamos acertar uma vezinha só, só uma, e escolhamos governantes e legisladores comprometidos com a causa pública, os males comuns e façam desse país uma verdadeira e única nação e não esse fragmento de país em que existem os amigos do governante e os que comerão as migalhas. Que 2010 seja de fato um ANO NOVO e não a repetição, o moto contínuo, dos anos anteriores em que o culto à personalidade dos líderes fez-se mais importante que o crescimento real e equilibrado do bem comum.

Seja você, parco leitor, agente transformador, vigilante e fiscalizador dessa mudança. Feliz 2010!

 

 

©Marcos Pontes

quinta-feira, dezembro 24, 2009

Feliz Natal

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Sei que poucos lerão esse post, mea culpa, tão ausente daqui e dos blogs amigos por tanto tempo. O segundo semestre foi longo, cansativo e frustrante em se tratando de Brasil, país amado que demonstra não amar muito seus filhos.

Por outro lado, o balanço do ano foi ótimo: Muito trabalho, alimentei-me todos os dias, fiz novos amigos e mantive os antigos, nenhum mal entendido venceu a razão e as amizades… Nada a reclamar, apenas a agradecer.

O melhor de todos os presentes que ganhei, ou me dei, não sei ao certo, foi o casamento com a mulher amada. Quem já amou de verdade sabe o que quero dizer. Pra não ser piegas, fica apenas a referência como sinal da minha alegria e mais completa satisfação.

Tirando o casamento – a não ser para os que casaram – espero que seu ano também tenha sido assim tão primoroso, feliz e saudável. E que neste Natal você esteja cercado de pessoas que ama, se não fisicamente, pelo menos na certeza da presença, e que você abra a alma e o peito no mais sincero e honesto agradecimento seja a Deus, à natureza, a si próprio ou seja lá a quem você deva achar que deve, mas agradeça. Agradeça à própria vida, ela é tudo e muito pouco, dadas tantas coisas que a preenchem. Agradeça e sorria.

Feliz Natal!

©Marcos Pontes

quarta-feira, dezembro 02, 2009

O Menino do MEP II

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O artigo abaixo, me enviado por e-mail pelo tuiteiro amizo Zazá e pela tuiteira Yoyoheller (meu obrigado a ambos) é de autoria do César Benjamin, petista de primeira hora, co-fundador do partido, companheiro antigo do Lula e autor do artigo publicado na Folha sobre Lula e o Menino do MEP.

Este artigo, também publicado na Folha de hoje (02/12) só pode ser lido por assinantes, mas achando que todos deveriam lê-lo, tomei a liberdade de copiá-lo e publicá-lo aqui.

Por que agora?

Autor(es): CÉSAR BENJAMIN

Folha de S. Paulo - 02/12/2009

DEIXO de lado os insultos e as versões fantasiosas sobre os "verdadeiros motivos" do meu artigo "Os Filhos do Brasil". Creio, porém, que devo esclarecer uma indagação legítima: "por quê?", ou, em forma um pouco expandida, "por que agora?". A rigor, a resposta já está no artigo, mas de forma concisa. Eu a reitero: o motivo é o filme, o contexto que o cerca e o que ele sinaliza.
Há meses a Presidência da República acompanha e participa da produção desse filme, financiado por grandes empresas que mantêm contratos com o governo federal.
Antes de finalizado, ele foi analisado por especialistas em marketing, que propuseram ajustes para torná-lo mais emotivo.
O timing do lançamento foi calculado para que ele gire pelo Brasil durante o ano eleitoral. Recursos oriundos do imposto sindical -ou seja, recolhidos por imposição do Estado- estão sendo mobilizados para comprar e distribuir gratuitamente milhares de ingressos. Reativam-se salas pelo interior do país e fala-se na montagem de cines volantes para percorrerem localidades que não têm esses espaços. O objetivo é que o filme seja visto por cerca de 5 milhões de pessoas, principalmente pobres.
Como se fosse pouco, prepara-se uma minissérie com o mesmo título para ser exibida em 2010 pela nossa maior rede de televisão que, como as demais, também recebe publicidade oficial. Desconheço que uma operação desse tipo e dessa abrangência tenha sido feita em qualquer época, em qualquer país, por qualquer governante. Ela sinaliza um salto de qualidade em um perigoso processo em curso: a concentração pessoal do poder, a calculada construção do culto à personalidade e a degradação da política em mitologia e espetáculo. Em outros contextos históricos isso deu em fascismo.
O presidente Lula sabe o que faz. Mais de uma vez declarou como ficou impressionado com o belo "Cinema Paradiso", de Giuseppe Tornatore, que narra o impacto dos primeiros filmes na mente de uma criança. "O Filho do Brasil" será a primeira -e talvez a única- oportunidade de milhões de pessoas irem a um cinema. Elas não esquecerão.
Em quase oito anos de governo, o loteamento de cargos enfraqueceu o Estado. A generalização do fisiologismo demoliu o Congresso Nacional. Não existem mais partidos. A política ficou diminuída, alienada dos grandes temas nacionais. Nesse ambiente, o presidente determinou sozinho a candidata que deverá sucedê-lo, escolhendo uma pessoa que, se eleita, será porque ele quis. Intervém na sucessão em cada Estado, indicando, abençoando e vetando. Tudo isso porque é popular. Precisa, agora, do filme.
Embalado pelas pré-estreias, anunciou que "não há mais formadores de opinião no Brasil". Compreendi que, doravante, ele reserva para si, com exclusividade, esse papel. Os generais não ambicionaram tanto poder. A acusação mais branda que tenho recebido é a de que mudei de lado. Porém os que me acusam estão preparando uma campanha milionária para o ano que vem, baseada em cabos eleitorais remunerados e financiada por grandes grupos econômicos. Em quase todos os Estados, estarão juntos com os esquemas mais retrógrados da política brasileira. E o conteúdo de sua pregação, como o filme mostra, estará centrado no endeusamento de um líder.
Não há nada de emancipatório nisso. Perpetuar-se no poder tornou-se mais importante do que construir uma nação. Quem, afinal, mudou de lado? Aos que viram no texto uma agressão, peço desculpas. Nunca tive essa intenção. Meu artigo trata, antes de tudo, de relações humanas e é, antes de tudo, uma denúncia do círculo vicioso da extrema pobreza e da violência que oprime um sem-número de filhos do Brasil. Pois o Brasil não tem só um filho.
Reitero: o que escrevi está além da política. Recuso-me a pensar o nosso país enquadrado pela lógica da disputa eleitoral entre PT e PSDB. Mas, se quiserem privilegiar uma leitura política, que também é legítima, vejam o texto como um alerta contra a banalização do culto à personalidade com os instrumentos de poder da República. O imaginário nacional não pode ser sequestrado por ninguém, muito menos por um governante.
Alguns amigos disseram-me que, com o artigo, cometi um ato de imolação. Se isso for verdadeiro, terá sido por uma boa causa.

©Marcos Pontes