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sábado, fevereiro 20, 2010

Diz-me Com quem andas que direi quem és





O PT passou os primeiros dez anos de sua existência evitando coligações. Com seu propósito de destoar da política partidária sempre praticada no Brasil e aplicando a máxima popular “quem com porcos anda, farelo come”, o partido evitava se unir com aqueles a quem combatia para não ser com eles confundido. O PT já era, por si, uma salada de siglas e ideologias.

Formado ainda no período ditatorial, com a anuência dos generais que desejavam a abertura por perceberem que o regime militar estava caducando, juntaram-se esquerdistas da Luta Operária, MR-8, Libelu, Ligas Camponesas, PCB, PCdoB, MNR e mais uma gama de letrinhas vermelhas. Além dessas, porrasloucas sem ideologia definida, que lutavam desordenadamente reivindicando vantagens para suas categorias laborais, entre elas o próprio Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, presidido por um tal Luiz Inácio que jamais havia lido um livro e, provavelmente, nada sabia das biografias de Marx, Lênin, Mao, Stálin ou Luiz Carlos Prestes, o que dava margem à sua manipulação por espertinhos com profundo embasamento político-ideológico de esquerda.

Percebendo que haveria uma guerra interna entre as muitas siglas que compunham o aglomerado PT quando este alcançasse o poder, sonho persistentemente perseguido, suas lideranças pardas começaram a ensaiar coligações tímidas nas eleições do início dos anos 90. Houve uma crise já esperada, portanto, facilmente contornada. Os petistas fundamentalistas, aqueles militantes de viseiras, sectários, que não conseguem ver as vias vicinais, somente a estrada principal, por causa dos antolhos que usam, ensaiaram uma rebelião, a expulsão dos progressistas. Para eles era inadmissível um partido que pregava a ditadura do proletariado, o comunismo mais comunista que pudesse existir, aceitasse sequer negociar com rosadinhos como o PDT de Brizola. E o embate persistiu, cada vez menos fraco e digerido pelos majoritários, se não em número, em poder, grupo em que se encontram os negociadores sem escrúpulos, como Lula, Mercadante, Palocci, Zé Dirceu, Greenhalgh, Mangabeira Unger, Berzoini, Genoíno e outros que tais. Esse grupo aglutinou os demais e quem não estivesse satisfeito que “pedisse as contas”.

Um grupinho, formado pelo paraense Babá, Luciana Genro, Heloísa Helena, Sebastião Nery, João Fontes, foi defenestrado. Babá, Genro, Helena e Fontes foram expulsos por acharem o PT igual aos a quem combatia, com razão, e montaram o PSOL, à imagem e semelhança do velho e vermelho PT. Levaram consigo meia dúzia de petistas insatisfeitos.

Com a expulsão desses companheiros de primeira hora, o PT dava o aviso à arraia miúda: quem manda nesse boteco somos nós, o grupo majoritário e progressista. Quem não se abaixar diante das nossas vontades, podem pular a cerca e por carreira ou nós os mandamos embora. As portas para coligações e negociações estavam escancaradas.

Assim surgiu essa agremiação monstruosa, não apenas no sentido figurado, numa referência ao tamanho a que chegou, mas também no sentido literal. O PT transformou-se numa massa disforme, sem identidade político ideológica, mas com os propósitos de um grande e inescrupuloso empresário que faz negócios, legais ou escusos, com Deus e o Capeta, desde que não perca nem as migalhas que, por ventura, escaparem de seus beiços gulosos. O PT tornou-se um monstro que engole a tudo e todos que se meterem à sua frente, insaciável por dinheiro e poder, capaz de associar-se a quem quer que seja para perpetuar-se no comando do país, mesmo que para isso seja necessário impor-nos uma ditadura disfarçada de democracia, como o bolivariano Hugo Chávez vem ensinando desde a sucursal do Foro de São Paulo instalada em Caracas.

Em nome desse poder e da insaciedade de gang inescrupulosa que comanda o partido do alto de seu pedestal intocável, colocado alguns metros acima da cegueira da Justiça, que o novo PT, sem foice e martelo, mas de gravata, pasta 007 e colarinho branco, consegue juntar ao redor do umbigo de ser líder supremo (pelo menos pró-forma, porque na verdade quem comanda é o grupo que se reúne na inviolabilidade dos escritórios escuros) e de sua candidata à continuidade dos desmandos, nomes tão esdrúxulos, quando juntos como Collor e Calheiros, inimigos mortais nas Alagoas; José Roberto Arruda e Paulo Octávio, as estrelas do DEM, segundo maior opositor do PT nessa legislatura; Paulo Maluf, o homem que, indiretamente, ensinou persistência a Lula, perdendo várias eleições até achar seu devido lugar na Câmara Federal; Ciro Gomes, tão presunçoso quanto Lula, que persiste numa candidatura falida em troca do fortalecimento de seu nome e de um séquito de ovelhas cegas que poderiam angariar algum poder para imporem para si cargos num possível futuro governo petista; Sérgio Cabral, o ignóbil menino amarelo que governa o Rio de Janeiro, estado pródigo em eleger incompetentes populistas como César Maia, seu filho Rodrigo, bispo Crivella e até um rinoceronte chamado Cacareco; José Sarney, o dono de dois estados miseráveis e cada vez mais pobres por conta da fome que a família e seus satélites têm de devorar recursos públicos; e outros tantos menos conhecidos, como Temer, que, segundo o historiador Marco Antonio Villa, “vende até a mãe”.

@Marcos Pontes



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terça-feira, fevereiro 16, 2010

Os muitos erros do Amorim

Gravura de William Blake representando a Europa apoiada na África e na América, 1796.



Muita gente mais lida e mais capacitada que eu já descerrou sobre o assunto, mas, ousado, me permito dar meu pitaco sobre a política externa do governo Lula.

Diz um ditado norteamericano “cuidado com o que deseja que isso pode tornar-se realidade”, assim posso me penitenciar por ter desejado tanto uma mudança nos ritmos do Itamaraty. Eu vivia reclamando do pragmatismo de nossos chanceleres, do faz de conta que não é conosco o que acontece no mundo. Reclamava da passividade dos nossos embaixadores, nem todos tão simpáticos e próximos do cidadão comum e seus anseios, como Vinícius de Moraes era. Tanto desejei mudanças, que deu no que deu.

Tá legal, eu não tenho nada a ver com isso e nem os rumos da política externa seguem os desejos do meu umbigo, mas que mudou, mudou e, no que vale realmente a pena, para pior.

Por exemplo, na briguinha milenar entre judeus e palestinos, o Brasil adotava uma postura de pacificação, mas apenas com discursos e conselhos iguais para ambas as partes, mais ou menos como fazem os papas, que todos ouvem e comentam, mas ninguém segue ou obedece. Deixamos para EUA, URSS, depois Rússia, e o Conselho de Segurança da ONU a resolução do problema, algo que nunca foi feito, embora muita gente tenha ganhado Nobel da Paz por conta disso: Anwar Al-Sadat, Jimmy Carter, Menachen Begin, Bill Clinton, Elie Wiesel... Na minha ignorância de idealista, esperava que o Brasil tomasse posição mais firme, que desse sugestões plausíveis para gerar paz. E o que aconteceu? Na contra-mão, Celso Amorim, a mando do Lula, analfabeto histórico e emprenhado pelos ouvidos, declarou apoio unilateral aos palestinos. Besteira grande que ainda não gerou contratempos, mas está, sem dúvida, na cadernetinha dos judeus e poderemos ser cobrados por isso no futuro.

Ainda no Oriente Médio, o Brasil enfrenta todo o Primeiro Mundo (ainda se usa essa terminologia? Vou usá-la, sou do tempo dos Três Mundos) e põe-se “incondicionalmente” do lado do “democrático” Mahmoud Ahmadinejad e seu “libertário” estado teocrático mulçumano fundamentalista. Todo o mundo sabe que, por baixo dos panos, o governo iraniano compra tecnologia e componentes para enriquecimento de urânio e fabricação de armamentos nucleares de cientistas russos que passam perrengues financeiros desde o fim da União Soviética. Por questões de segurança mundial, para não criar um clima de guerra fria com Rússia e China, a diplomacia americana faz de tudo para evitar a entrada do Irã no “clube atômico”, mas Lula, um ignorante confesso e incorrigível, parte para a política de seus assessores “antiimperialistas”, Franklin Martins, Zé Dirceu, Greenhalgh, Unger (que, paradoxalmente, trabalha e mora nos EUA), Marco Aurélio “rei do tártaro” Garcia e, lógico, Celso Amorim (que tem um filho cineasta ganhando grana no cinema estadunidense) e declara o Brasil amigo e apoiador do programa nuclear iraniano.

Ora, se nem nós podemos fabricar armas atômicas para nos defendermos de superpotências terroristas, como a Bolívia de Morales e a Venezuela de El Loco Chávez, por que diabos apoiamos a decisão do Irã? Porque criamos uma escola diplomática irresponsável e revanchista, para a qual tudo o que é anti-ianque é bom para nós.Posso até entender isso, porque é assim mesmo que me relaciono com o governo lulo-petista: se é bom pra eles, é ruim pra mim ou, pelo menos, motivo de desconfiança e análise.
Não temos mais uma política externa responsável e consequente, mas uma maquininha de dar dor de cabeça ao Tio Sam e tirar seu sono. É uma politiquinha tão tacanha que éramos parceiros e amiguinhos do odiado George W. Bush e nos tornamos adversários do queridinho mundial Barak Obama. Vai entender...

A bobagem e o desacerto são tão grandes que, após Ahmadinejad anunciar que ordenara o enriquecimento a 20%, Celso Freitas foi aos jornais anunciar que Mahmudizinho estava blefando. Com que autoridade Amorim pode fazer uma declaração dessas? Por um acaso as plantas atômicas iranianas foram abertas para a vistoria de cientistas brasileiros? Celso Amorim, além de defensor de ditadores (Chávez, Fidel, Ahmadineja, Mugabe,...) virou seu porta-voz e ministros de relações exteriores?

A historiazinha de bomba atômica para nos defendermos da Bolívia e da Venezuela foi apenas uma ironia, afinal de contas somos irmãos siameses, ao invés de separados após o parto, colados depois de velhos, desses dois países cujos os presidentes, outros dois irresponsáveis e despreparados administradores, como têm provado nos últimos anos, são coparticipantes do Foro de São Paulo, subscreveram os compromissos “bolivarianos”  (o pobre Bolívar, que defendia a alternância no poder, deve tremer na tumba a cada vez que alguém pronuncia essa aberração: bolivarianismo).

São muitos os exemplos de medidas mal tomadas e amplamente rechaçadas pela população brasileira e mundial, embora os diplomatas itamaratianos, cúmplices das sandices da dupla Lula-Amorim, façam de conta que nada aconteceu e que não houve uma grita geral: a expulsão dos boxeadores cubanos, a defesa do terrorista Battisti, a pretensão de sermos mais fortes que os EUA no socorro e reconstrução do Haiti, a defesa frustrada de Zelaya, a defesa da louca brasileira que se autoflagelou na Suíça, a frustração de Doha no encontro do G20, a geurra comercial que se prepara contra os EUA, a escolha iminente dos caças franceses,...

O lado positivo, embora questionável, é o de ter colocado o Brasil em foco, tê-lo tornado agente participativo nas grandes questões mundiais, embora quase sempre do lado errado. Mas isso não é gratuito, faz parte do projeto forjado por Zé Dirceu e crido pelos demais megalômanos do governo, inclusive e principalmente o maior deles, Lula, de dar ao presidente o desmoralizado Prêmio Nobel da Paz.

@Marcos Pontes

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segunda-feira, fevereiro 15, 2010

Mensalões, culpados e inocentes



A gente fala e fala e fala de mensalão e sua nova modalidade, o mensalão do DEM, também conhecido como panetonegate, mas termina falhando a memória quando tentamos relembrar do início dessa história. Para os mais esquecidinhos, em rápidas pinceladas o histórico do primeiro e original mensalão.

Em junho de 2005, durante investigações sobre os negócios escusos do todo poderoso (com minúscula, porque com maiúsculas eu me referiria a Lula) Daniel Dantas, a Polícia Federal descobriu que o Banco Oportunity havia injetado R$ 127 milhões na agência de publicidade DNA, do Marcos Valério, e que essa era a principal fonte de pagamento de mensalidades pagas extra-olerite a parlamentares da situação para que aprovassem projetos de interesse do governo e de seus amiguinhos que esperavam retorno dos investimentos feitos para bancar as campanhas políticas da gang. Estava descoberto o valeriduto.

O termo “mensalão” foi forjado pelo então deputado Roberto Jeferson em sua bombástica entrevista à imprensa em que admitia a prática de compra de votos, escrúpulos e consciências por parte do Executivo, tendo Zé Dirceu, um dos presidentes “de fato” da República. Jeferson, porém, sabe-se lá a que custo de ameaças ou propinas, isentou Lula de culpa. O ex-gordo e comandante da tropa de choque do Collor, jogou toda a culpa no Dirceu que, como bom zagueiro e comandante de quadrilha, recebeu as denúncias, não entregou os parceiros, culpou os adversários de perseguição política, jurou inocência, levou bengalada de um invejável e indignado brasileiro e saiu do cargo como se nada tivesse acontecido. Depois de uns meses mergulhado, voltou à tona com consultorias, lobbies, assessoramento remoto, palestras... Ou seja, aconselhando quem puder pagar a como burlar as fiscalizações do Fisco e da polícia e a quem procurar em Brasília e outros sítios para fazerem negócios e negociatas. Está livre, rico e influente e sem a perseguição da imprensa que tinha quando governava de dentro do Palácio do Planalto. Em outras palavras, está bem melhor agora do que quando no poder de direito. O de fato é mais tranquilo.

            Esse episódio apresentou ao país, da pior forma possível, figuras como Delúbio, Genoino, Severino Cavalcante, enfim quarenta ladrões devidamente processados pelo ministro Joaquim Barbosa e absolvidos pelo esquecimento, como é práxis em julgamentos de bandidos de colarinho branco e com amigos nas altas rodas. Lula, o chefe da gang, bastou dizer que nada sabia que tudo se acalmou para seu lado. Fico pensando se essa maneira de escapar de acusações fosse algo tão fácil: o cara mata a esposa, chega frente do delegado e diz “eu nem sabia que aquilo era uma arma ou que aquela mulher era minha esposa, autoridade”, aí o delegado liberava o assassino com um tapinha nas costas e um pedido de desculpas. Lula criou a desculpa perfeita, diversas vezes utilizadas nesses seus sete anos de mandato.

            Mas essa história toda só serviu pra mostrar aos eleitores mais desavisados uma maneira de se fazer política há séculos, no Brasil. Lembram-se de como Odorico Paraguaçu comprava votos de eleitores com um par de sapatos, um pé antes da votação e o outro depois da apuração? E de como comprava o apoio dos vereadores com promessas de emprego para a família, caixão para a sogra, roupa para o batizado do bebê, ambulância...? Nem Odorico e nem Dias Gomes criaram o mensalão e a corrupção de políticos por políticos, de legisladores por executivos, apenas retrataram, um escrevendo e outro agindo na ficção, o que viram muito nos muitos Brasis desse Brasilzão.

            E o que aconteceu com os mensaleiros petistas e seus compadres pepistas? Nada! Muitos são autoridades, outros estão submersos em cargos do terceiro escalão, alguns dirigem seus partidos (ta, me refiro diretamente aos petistas que fazem parte da Executiva do partido). Todos impunes. Pode-se considerar impunidade até mesmo a perda de direitos políticos de Zé Dirceu que faz fortuna, ou aumenta a que já tinha, aqui e no exterior e não sofre perseguição dos jornalistas e nem tem que dar explicações diárias sobre as besteiras que ele e seu chefe de papel  faziam desde a hora em que acordavam até o fim do dia, a cada dia.

            Agora, com o espetáculo do mensalão do Arruda, vemos os petistas cheios de puã, exigindo a punição exemplar dos corruptos, pregando a intervenção federal no Distrito Federal, acusando todo o DEM de corrupto, empunhando foices, espadas e martelos para decapitar o monstro corrupto da direita reacionária, como gostam de chamar a todos os que lhes fazem oposição.

            Muito justo que se exija a prisão dos salafrários, sua expulsão da vida pública, sua prisão, a devolução de tudo o que desviaram do cofre público, independentemente de que partido, corrente ideológica os amigos que tenha, mas não se pode cobrar a aplicação da pena dura ao mesmo tempo em que abriga sob suas asas bandidos tão ou mais sujos do que aqueles a quem apontam os dedos sujos da tinta de cédulas desviadas do curso legal.

            Que sejam presos e jamais soltos José Arruda, Paulo Otávio, Geraldo Naves, Wellington Moraes, Haroaldo Carvalho e todos e cada um dos demais envolvidos no mensalão brasiliense, mas, por ordem de chegada, que antes sejam também exemplarmente punidos o Zé Dirceu, Delúbio, Daniel Dantas, Lula, Roberto Jeferson e todos e cada um dos mensaleiros petistas que há cinco anos gargalham das nossas caras de babacas pagadores de impostos que nada podem.

            E eis que na hora em que fecho esse texto, a Roberta Blancato me manda esse link em que se mostra envolvimento do PT também no mensalão brasiliense, que deixa de ser mensalão do DEM.

            E antes de acabar, meu muito obrigado à Ana Graña, que foi quem sugeriu o tema desse post.

@Marcos Pontes


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domingo, fevereiro 14, 2010

Mudar para deixar como está






As campanhas estão todas nas ruas, não só as dos presidenciáveis, mas desde vereadores, que só concorrerão a dois anos. Todos sabem, menos a Justiça Eleitoral, numa patente corroboração do dito popular que a Justiça é cega.

Diriam os juristas, advogados e que tais, se por um acaso lessem esse texto, que a Justiça só se pronuncia quando e se for provocada. Ou seja, ela é cega e precisa de guia, sua bengala branca é insuficiente para fazer-se locomover.

Quem faz a legislação é justamente quem será objeto de fiscalização das leis e por elas deve ser observado. Isso está ficando confuso, tentemos traduzir de maneira mais didática:

Os parlamentares legislam sobre as eleições, suas tolerâncias e proibições, direitos e deveres dos candidatos, partidos e Judiciário. Depois de aprovadas as leis, esses mesmos parlamentares vão às ruas popularizar seu nome para as próximas eleições e, conhecendo-a bem, sabem onde estão os furos que permitem que ela seja burlada. Para um leigo, como eu, isso afronta o princípio elementar da ética e da moral que orienta os políticos a não legislarem em causa própria.

Mas se não forem eles a legislar, seria quem? Com a pregada independência dos Poderes pela Constituição Federal, Executivo e Judiciário não podem fazer leis e, se pudessem, no caso do Executivo, cujos cargos majoritários também são ocupados por vias eleitorais, também estaria legislando em causa própria. Não há, portanto, como evitar que as leis sejam feitas por quem por elas se beneficiará.

Na prática não é assim que a banda toca. Executivo e Judiciário legislam todo o tempo, o primeiro por seu autor das maioria das matérias discutidas e votadas pelo Legislativo e o segundo por interpretar as leis conforme a consciência e os interesses, sejam ideológicos ou pecuniários, dos juízes. E isso ocorre em todas as esferas do poder, federal, estadual e municipal.

Se as leis fossem claras e objetivas, não haveriam discordâncias dos juízes quando dos julgamentos. Se, no Superior Tribunal Federal, por exemplo, uma matéria recebe quatro votos contra três é porque a lei é mal escrita, tem mais furos que lona de circo mambembe e as decisões ficam por conta da individualidade dos ministros ao interpretarem os códigos.

No caso da legislação eleitoral, sempre a mesma, desde antes do regime militar, com apenas um remendo aqui, outro ali, no que os opositores de ontem e situacionistas de hoje chamavam de casuísmos, palavra em desuso por interesse dos partidos e seus componentes. Nada muda substancialmente e aqueles que pregavam a necessidade de mais que um reforma, que significaria mudanças no texto existente, mas de uma mudança radical a partir das bases, se contentam em substituir artigos que lhes beneficiem na hora de fazer negócios em troco de apoio político e financeiro de seus patrocinadores. A lei muda sempre para continuar a mesma.

E a Justiça, passiva em seu pedestal de onipotência vitalícia, fecha os olhos para parecer ainda mais cega, esperando que cidadãos comuns, como eu, tu e o rabo do tatu, nos estressemos e nos coloquemos sob risco de perseguição, censura e processos se apresentarmos denúncia contra os candidatos que forjarem descaradamente, como é práxis, o que diz a legislação.

O que nos resta, então? Reclamar pelos cantos de botecos, blogues e Twitters, sem sermos levados a sério, enquanto os três Poderes se entrelaçam em negociatas, permissões, cegueira providencial, jogos de cena, mentiras contumazes e discursos ocos de que a mudança radical é necessária, enquanto apertam as mãos para que tudo fique como está.

Não é à toa que a lei dos fichas limpas, ou fichas sujas, mais propício para os pessimistas em melhoras, como eu, está engavetada e promete continuar assim para ser desenterrada nos discursos prévios das próximas eleições e depois voltar à gaveta, ad aeternum.


@Marcos Pontes

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