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segunda-feira, fevereiro 15, 2010

Mensalões, culpados e inocentes



A gente fala e fala e fala de mensalão e sua nova modalidade, o mensalão do DEM, também conhecido como panetonegate, mas termina falhando a memória quando tentamos relembrar do início dessa história. Para os mais esquecidinhos, em rápidas pinceladas o histórico do primeiro e original mensalão.

Em junho de 2005, durante investigações sobre os negócios escusos do todo poderoso (com minúscula, porque com maiúsculas eu me referiria a Lula) Daniel Dantas, a Polícia Federal descobriu que o Banco Oportunity havia injetado R$ 127 milhões na agência de publicidade DNA, do Marcos Valério, e que essa era a principal fonte de pagamento de mensalidades pagas extra-olerite a parlamentares da situação para que aprovassem projetos de interesse do governo e de seus amiguinhos que esperavam retorno dos investimentos feitos para bancar as campanhas políticas da gang. Estava descoberto o valeriduto.

O termo “mensalão” foi forjado pelo então deputado Roberto Jeferson em sua bombástica entrevista à imprensa em que admitia a prática de compra de votos, escrúpulos e consciências por parte do Executivo, tendo Zé Dirceu, um dos presidentes “de fato” da República. Jeferson, porém, sabe-se lá a que custo de ameaças ou propinas, isentou Lula de culpa. O ex-gordo e comandante da tropa de choque do Collor, jogou toda a culpa no Dirceu que, como bom zagueiro e comandante de quadrilha, recebeu as denúncias, não entregou os parceiros, culpou os adversários de perseguição política, jurou inocência, levou bengalada de um invejável e indignado brasileiro e saiu do cargo como se nada tivesse acontecido. Depois de uns meses mergulhado, voltou à tona com consultorias, lobbies, assessoramento remoto, palestras... Ou seja, aconselhando quem puder pagar a como burlar as fiscalizações do Fisco e da polícia e a quem procurar em Brasília e outros sítios para fazerem negócios e negociatas. Está livre, rico e influente e sem a perseguição da imprensa que tinha quando governava de dentro do Palácio do Planalto. Em outras palavras, está bem melhor agora do que quando no poder de direito. O de fato é mais tranquilo.

            Esse episódio apresentou ao país, da pior forma possível, figuras como Delúbio, Genoino, Severino Cavalcante, enfim quarenta ladrões devidamente processados pelo ministro Joaquim Barbosa e absolvidos pelo esquecimento, como é práxis em julgamentos de bandidos de colarinho branco e com amigos nas altas rodas. Lula, o chefe da gang, bastou dizer que nada sabia que tudo se acalmou para seu lado. Fico pensando se essa maneira de escapar de acusações fosse algo tão fácil: o cara mata a esposa, chega frente do delegado e diz “eu nem sabia que aquilo era uma arma ou que aquela mulher era minha esposa, autoridade”, aí o delegado liberava o assassino com um tapinha nas costas e um pedido de desculpas. Lula criou a desculpa perfeita, diversas vezes utilizadas nesses seus sete anos de mandato.

            Mas essa história toda só serviu pra mostrar aos eleitores mais desavisados uma maneira de se fazer política há séculos, no Brasil. Lembram-se de como Odorico Paraguaçu comprava votos de eleitores com um par de sapatos, um pé antes da votação e o outro depois da apuração? E de como comprava o apoio dos vereadores com promessas de emprego para a família, caixão para a sogra, roupa para o batizado do bebê, ambulância...? Nem Odorico e nem Dias Gomes criaram o mensalão e a corrupção de políticos por políticos, de legisladores por executivos, apenas retrataram, um escrevendo e outro agindo na ficção, o que viram muito nos muitos Brasis desse Brasilzão.

            E o que aconteceu com os mensaleiros petistas e seus compadres pepistas? Nada! Muitos são autoridades, outros estão submersos em cargos do terceiro escalão, alguns dirigem seus partidos (ta, me refiro diretamente aos petistas que fazem parte da Executiva do partido). Todos impunes. Pode-se considerar impunidade até mesmo a perda de direitos políticos de Zé Dirceu que faz fortuna, ou aumenta a que já tinha, aqui e no exterior e não sofre perseguição dos jornalistas e nem tem que dar explicações diárias sobre as besteiras que ele e seu chefe de papel  faziam desde a hora em que acordavam até o fim do dia, a cada dia.

            Agora, com o espetáculo do mensalão do Arruda, vemos os petistas cheios de puã, exigindo a punição exemplar dos corruptos, pregando a intervenção federal no Distrito Federal, acusando todo o DEM de corrupto, empunhando foices, espadas e martelos para decapitar o monstro corrupto da direita reacionária, como gostam de chamar a todos os que lhes fazem oposição.

            Muito justo que se exija a prisão dos salafrários, sua expulsão da vida pública, sua prisão, a devolução de tudo o que desviaram do cofre público, independentemente de que partido, corrente ideológica os amigos que tenha, mas não se pode cobrar a aplicação da pena dura ao mesmo tempo em que abriga sob suas asas bandidos tão ou mais sujos do que aqueles a quem apontam os dedos sujos da tinta de cédulas desviadas do curso legal.

            Que sejam presos e jamais soltos José Arruda, Paulo Otávio, Geraldo Naves, Wellington Moraes, Haroaldo Carvalho e todos e cada um dos demais envolvidos no mensalão brasiliense, mas, por ordem de chegada, que antes sejam também exemplarmente punidos o Zé Dirceu, Delúbio, Daniel Dantas, Lula, Roberto Jeferson e todos e cada um dos mensaleiros petistas que há cinco anos gargalham das nossas caras de babacas pagadores de impostos que nada podem.

            E eis que na hora em que fecho esse texto, a Roberta Blancato me manda esse link em que se mostra envolvimento do PT também no mensalão brasiliense, que deixa de ser mensalão do DEM.

            E antes de acabar, meu muito obrigado à Ana Graña, que foi quem sugeriu o tema desse post.

@Marcos Pontes


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Um comentário:

André Wernner disse...

Pelo critério político tupiniquim todos são inocentes. A culpa é do eleitor que votou neles! E toma Bolsa Família e bolsas conveniências políticas para continuar surfando no poder e nos corredores da República. Independente se higienizados ou não. A ordem é trafegar e, se necessário, atravessar... Bem entendido, o caminho dos demais, né?