Pesquisar neste blog e nos da lista

segunda-feira, outubro 31, 2005

Aconteceu agora há pouco:
- Bom dia. Gostaria de falar com o senhor Marcos Pontes.
- É ele.
- Senhor Marcos, devido a seu perfil de consumidor o senhor foi um dos dez felizardos de sua cidade escolhidos para fazerem parte dos satisfeitos portadores do Mega Super Hiper Power Cartão M Gold Plus...
- Mas que azarado que eu sou, hein?
- Como, senhor?
- Quantos são os felizardos que você falou?
- Só o senhor e mais nove.
- Tá vendo? Com mais de cem mil habitantes só eu e mais nove desgraçados. É muito azar!
- Que é isso, senhor Marcos. Estaremos enviando para o senhor nosso cartão internacional que lhe dá um limite de dois mil dólares...
- Minha cara, não tenho planos de viajar nem para a Bolívia.
- Além disso o senhor estará tendo vantagens no nosso clube hiper-restrito VIP com prêmios...
- Vamos fazer o seguinte: vocês pagam todos os meus débitos nos outros cartões e me dão um limite ilimitado, anuidade grátis e juros de 6% ao ano. Assim eu posso andar vinte e quatro horas por dia com a camisa do cartão, crachá e bandana com sua logomarca.
- Sinto muito, senhor Marcos, mas não podemos fazer isso.
- Quê isso! Vamos fazer negócio...
Tu... tu... tu...


Volto a lembrar-lhes, a Paulinha e seu livro. São Paulo dia 5, Campinas dia 8 e desde já vendas on-line. Para quem gosta de boa leitura, uma boa pedida.


Além disso, lembro também que no site do Pedro estou divagando sobre a cassação de José Dirceu.



Eunápolis, 31 de outubro de 2005.

Excelentíssimo senhor ministro,

Depois de muito matutar para quem escreveria esta missiva, me decidi pelo senhor que me parece o mais simpático e verdadeiro de todos os seus pares a partir daque discurso que vossa excelência proferiu em Catolé do Rocha prometendo cavar um poço artesiano em cada casa do sertão e colocar uma bomba elétrica para elevar a água até os reservatórios. O senhor é mesmo um homem porreta! Pensei também em escrever diretamente ao presidente, mas como ele todo dia está na televisão dizendo que não sabia de nada, fiquei com medo de que não soubesse também como me ajudar.

Na verdade, excelência, meu problema é um só, fácil, fácil do senhor resolver. Moro numa casa que era do meu pai. Ele adquirira o imóvel com financiamento da Caixa com prazo de 25 anos para pagar, coisa que fazia religiosamente, ou seja, ele pagaria aluguel da prória casa à Caixa. O contrato dizia que se ele morrese nesse prazo o financiamento estaria automaticamente quitado. Era o que ele chamava de pagar as contas com a própria vida, que nem a gente vê nos filmes quando o sujeito vende a alma ao diabo.

Meu pai morreu e eu levei o atestado de óbito na Caixa para realizar a quitação do débito. O perito de lá me disse que eu tinha que provar que o atestado era verdadeiro. Fui até o legista que o assinara e ele me disse que eu deveria enviar um ofício em doze cópias com minha firma reconhecida.

O cartório disse que minha firma não poderia ser reconhecida ali porque minha carteira de identidade, embora seja um documento de validade em todo o território nacional, era de outro estado.

Fui então para o meu estado para reconhecer a tal firma. Lá me disseram que eu teria que reescrever o ofício porque no cabeçalho o nome da cidade estava o da onde moro e não da cidade onde estava.

Fui a uma lan-house e reescrevi o documento, levei de volta ao cartório e ficou tudo resolvido.

De volta à minha cidade procurei o legista, entreguei-lhe o ofício, aí ele me disse que iria encaminhar ao Conselho Estadual de Medicina para que eles examinassem minha solicitação e que eu voltasse em quinze dias.

Duas semanas depois voltei e o médico me disse que sua secretária havia esquecido de enviar meus papéis, mas que ela já fora despedida (eu sei que é mentira uma vez que a secretária é a própria esposa dele, mas deixa isso pra lá). Assim que acabasse a greve dos Correios ele enviaria.

Dois meses depois os grevistas voltaram ao trabalho, retornei ao legista e gastei quarenta e cinco minutos para fazê-lo lembrar quem era eu e mais duas horas para que ele e a secretária achassem meu requerimento numa pilha de papéis no depósito de arquivo morto. Aí ele me ganrantiu que enviaria naquela tarde mesmo.

Depois de três meses, 28 telefonemas e mais quatro retornos la´, por fim recebi o atestado de óbito do meu pai com a autenticação cartorial e o reconhecimento da firma do médico, tudo bonitinho, e pude levar até a Caixa.

Depois de entregue o documento foi rapidinho. Quatro meses e treze dias depois eles deferiram meu pedido e o débito do meu pai foi quitado. A casa agora era minha, mesmo tendo que pagar todas as prestações durante os meses de tramitação desse processo.

Aí o senhor deve estar se perguntando, já que está tudo resolvido, o que estou querendo ainda?

Pois vou lhe dizer. É que apareceu um advogado aqui dizendo que eu tinha que fazer um inventário dos bens do meu pai, embora ele só tivesse essa casinha, para poder efetivar a herança e transferir o imóvel para meu nome, mesmo sendo eu o único herdeiro.

Eu sei que vossa excelência é ministro da saúde, mas é que o ministro da justiça também é advogado e o senhor sabe como eles são corporativistas, né?

Acreditando no que o senhor falou no seu discurso lá em Caicó que o cidadão comum era sua grande prioridade e sendo eu um cidadão comum, tenho certeza que o senhor vai resolver meu problema.

Seu eterno admirador,

domingo, outubro 30, 2005

Diz-me com quem andas, que te direi se irei junto



O julgamento do Zé Dirceu eu questiono no site do Pedro.



O Grande Mistério da Fé


Que os líderes religiosos, principalmente os de seitas e credos papa-níquel que surgem aos montes mundo afora, arrebanham com mais facilidade seguidores de pouca instrução, desesperados que procuram uma tábua divina onde se agarrarem na hora do desespero é sabido por todos e já virou até tese de doutorado. O que não consigo entender é o que leva pessoas cultas, bem informadas e inteligentes a seguirem esses líderes de olhos vendados.

Não questiono a necessidade que o homem tem de acreditar em algo superior para aliviar suas incertezas, nem da importância ou os propósitos da religião, nem da sapiência dos reverendos seja de que credo seja, mas a compulsão que médicos, advogados, assistentes sociais, engenheiros, enfim, profissionais bem formados de todas as áreas têm de jogarem-se numa nova vida, de uma hora pa outra, pouco se importando com o mundo que gira ao seu redor. Como essa gente segue sem questionar pessoas que lhes impõem uma maneira de viver muitas vezes oposto à vida que tinham antes.

São pessoas que passam a falar diferente, se vestir diferente, mudam o comportamento diante dos amigos antigos, mudam o corte de cabelo, o vocabulário, os gostos pela alimentação e pelos prazeres e divertimentos a partir de orientações de pastores muitas vezes semi-analfabetos, bitolados, com falas empoladas.

O paradoxo maior encontrei em um biólogo que passou a negar a possibilidade da evolução das espécies, principalmente a do homem, a partir do momento que o pastor o convenceu que essa teoria negava a Bíblia que dizia que o ser humano nasceu pronto, do barro, com Adão e Eva.

Não afirmo que os componentes da classe média ou da classe alta são superiores aos pobres analfabetos ou semi, mas não consigo entender que alguém que tenha lido sobre história da humanidade, filósofos das mais diversas linhagens, matemáticos, noticiários, livros variados no tema e na ótica, que entendam de estatística e da construção civil, pessoas que têm tudo para questionarem aqueles que ditam regras para seus fiéis, esqueçam-se desse poder da dúvida para tornarem-se sectários em suas crenças.

quinta-feira, outubro 27, 2005

Se me disserem que o mundo vai acabar amanhã, nem vou me preocupar. Me mudo pra Quixeramobim.



Antiguidade é posto

É comum em escolas tradicionais e empresas menos sisudas os mais antigos "batizarem" os novatos com trotes. Desde os primódios das escolas militares no Brasil isso ocorre. Na maioria das vezes são apenas curtições, pelo menos nos últimos tempos. Raramente se chegam a extremos como matar o "bicho" afogado na piscina a exemplo do que fizeram com estudante da USP, caso até hoje não resolvido.

Eu também já preguei minhas peças e fui vítima por vezes. O último de que me lembro foi na escola onde trabalho.

Os alunos do ensino médio haviam programado uma excursão para Guarapari, no Espírito Santo, mas só poderiam ir acompanhados por, pelo menos, dois professores, caso contrário os pais barrariam o passeio.

Meus colegas, todos já bem tarimbados, encheram-se de desculpas e foram tirando o corpo fora e o bobão aqui topou ir. Primeiro porque os alunos pediram, reflexo da minha boa relação com eles; segundo, porque eu também queria conhecer aquele balneário, maldosamente chamado por alguns de "banheira de mineiro" devido à grande afluência do povo daquele estado quando quer ver o mar.

Além de mim foram uma das diretoras e um professor de biologia. Até aí tudo bem, não fosse o fato de ambos estarem acompanhados por uma filha e dela ter familiares em Vitória.

Depois de uma noite inteira dentro de um ônibus com quarenta e cinco inquietos adolescentes cantando, gritando, passando pasta de dentes nos cabelos e rostos dos incautos que não resistiam ao sono, guerra de almofadas, banhos de água mineral e outras brincadeirinhas agradáveis, chegamos à pousada.

Por volta das sete horas desembarcamos na hospedagem no centro da cidade, distante do mar, portanto, sob uma chuva torrencial. Isso era sinônimo de que não haveria praia, ou seja, estaríamos confinados em nossos apartamentos.

Ainda na portaria, enquanto registrávamos a tropa, bastou o recepcionista dizer que ocuparíamos apartamentos nos três andares para um apressadinho pegar sua mochila e abrir carreira escada acima. Menos de cinco minutos para tocar o interfone. Era um hóspede reclamando da invasão do seu quarto.

O garoto afoito abriu a primeira porta que encontrou pela frente e jogou-se na cama marcando seu território: "esse quarto é meu!". Na cama encontrava-se um casal em lua-de-mel. Às oito o casal estava de malas prontas fechando a conta e com mais uma lição aprendida: nunca deixe de trancar sua porta em um hotel.

A diretora, uma senhora com seus cinqüenta anos, escolhera um apartamento para si, sua filha e uma sobrinha. Nada mais justo.

O professor de biologia exigiu um quarto para ele e a filha. Justíssimo.

O pato, eu, tive que dividir o quarto com três adolescentes: Ronaldo, Eros e Albert, coincidentemente o mesmo que invadira o quarto do casal.

Desfizemos as malas, higiene pessoal e tal e coisa e eu doido para tirar pelo menos uma sonequinha restauradora. Uma vez que o clima não nos aconselhava a sair, imaginei que fossem todos ficar em seus quartos papeando, assistindo à televisão, jogando alguma coisa ou dormindo.

Fui à portaria para saber em que quarto ficaram meus colegas a fim de combinarmos o que fazer caso a chuva não parasse. Eram apenas nove horas. O recepcionista me informou que eles haviam alugado um carro e ido para Vitória. O professor com a filha para fazerem compras e a diretora com a filha para visitarem os parentes, como fiquei sabendo depois. Só à noite, para ser mais preciso.

O caos estava decretado. Eu ficara sozinho para controlar a turba de hormônios ensandecida espalhada por três andares de um hotel numa cidade que não conhecia.

Furioso, sentei numa poltrona do lobby, peguei um jornal e tentei ler enquanto maquinava alguma coisa. Enquanto isso o carnaval tomava corpo nos três pisos acima da minha cabeça. Ouvia as correrias, portas batendo, gritos e gargalhadas, mas tentava ficar calmo, coisa que necessita de um grande exercício de paciência, confesso.

Estava na hora de fazer uma revista à tropa. O cenário que encontrei foi assustador.

No primeiro andar vejo duas garotas mineiras batendo boca com dois alunos meus. Furiosas por terem sido acordadas com a bagunça, soltavam todos os impropérios contra eles e, por extensão, contra todos os baianos. Certíssimas no primeiro caso, mas até entendo suas razões quanto ao segundo. Situação constrangedora ter que entrar numa briga sabendo que seu time não tem nenhuma razão.

Milhões de pedidos de desculpas e uma meia dúzia de empurrões e esporros nos moleques depois, caso encerrado.

No segundo andar sete moleques só de cuecas, sentados na posição de lótus, formando uma rodinha no meio do corredor, emitiam "uuuuuuummmmm..." e "ããããããã..." fazendo de conta que estavam meditando. Qual o propósito daquilo? Impadir que as garotas saíssem de seus apartamentos sem vê-los quase desnudos.

Sem paciência para sermões ou lições de moral, apelei para safanões. Dispersei os descarados e continuei escada acima.

"O que estou fazendo aqui?", era tudo o que conseguia pensar. Haviam esvaziado um extintor de incêndio, daqueles que contém pó, por baixo da portade um apartamento. Pelo estado em que se encontrava o corredor fiquei imaginando como estaria o interior do quarto. A vontade foi de sentar na escada e chorar. Maldizia meus colegas fujões e suas famílias até a terceira geração.

Bati à porta do apartamento atacado e o que vi nem me causou a estranheza que causaria em outra ocasião.

Havia pó branco por toda parte, inclusive nos cabelos das garotas. Cobertas, travesseiros, portas do guarda-roupas, janela, condicionador de ar, tudo unicolor, branco, alvo como a ante-sala do paraíso naquele inferno.

O último resquício de calma esvaiu-se. Mais uma sessão de impropérios e esporros, mandei que limpassem tudo, nem que fosse com suas toalhas e avisassem a todos que os estava esperando no refeitório.

Meia-hora depois, refeitório cheio de adolescentes, eu e o gerente ditamos as regras de conduta geral dali por diante pelos três próximos dias e, caso uma única dessas regras fosse quebrada, imadiatamente faríamos nossas malas e voltaríamos direto para casa, sem direito a parada nem para alguém ir ao banheiro.

Com aquele ar tocante de criança que levou um carão, todos aceitaram e concordaram se comportar.

Ótimo! Agora poderia ir para meu quarto e descansar um pouco.

Ao abrir a porta do meu apartamento vi o Albert sentado nu na janela mostrando a bunda branca para quem passasse na rua, o Ronaldo fazendo tiro ao alvo com bolas de papel higiênico que ele molhava nos dois dedos de água que cobriam o chão num alvo enorme de Hipoglós pintado na porta do banheiro, onde o Eros tomava banho na banheira transbordante.

quarta-feira, outubro 26, 2005

Há quem beba para se achar mais interessante. Eu bebo para achar os outros mais interessantes.



Sabe sobre o que vai ser o novo plesbiscito? No site do Pedro eu conto.


Já foi conferir as últimas sobre o livro da Paulinha? Eu já e estou ansioso.


Minha Mãe É Muito Macho


Uma das mais remotas memórias que tenho é dos meus três ou quatro anos de idade junto com meus então seis irmãos, sentados no chão em volta de uma tigela de ágata, almoçando. Minha mãe amassava feijão, misturava com arroz e farinha e fazia bolinhos apertando a maçaroca nas mãos, era o capitão.

Durante anos essa lembrança me parecia algo lúdico até que a ficha caiu e eu vi que na realidade era pobreza. O joguinho de nos fazer comer capitão com rapadura era para não nos deixar perceber que na casa não havia pratos e talheres para todos, mesa para as refeições e nem variedade de comida. Era arroz, feijão com toucinho, farinha e rapadura apenas.

E assim foi durante toda a vida. As dificuldades financeiras não chegavam até os filhos. Os atritos entre o casal não nos atingiam. Todos os sacrifícios pelos quais passaram foram chorados entre os dois, a nós cabiam as brincadeiras e os estudos.

Por muito tempo estranhei a falta de carinho entre eles e nós. Não havia beijo de boa noite, nem um feliz aniversário ou feliz Natal, não havia parabéns pelo dez em matemática nem um abraço pela medalha de ouro. Hoje compreendo que nos privando dessas manifestações de afeto evitavam que cobrássemos os presentes. Não havia como dar presentes. Sempre havia um aniversariante, são onze filhos, afinal. E eles sempre apareciam com uma nota dez em matemática já que eram muito bons na escola. Um ou outro sempre ganhava um torneio, um concurso literário, mais tarde os concursos de emprego, os vestibulares e nunca houve abraço, beijo e parabéns. A vida os endureceu.

O primeiro beijo que dei em minha mãe foi aos 21 anos sem que ela esperasse e em meu pai, alguns anos depois.

Se "seu" Chico sempre foi o provedor infalível e esforçado, cabia à minha mãe a educação, as cobranças, as surras... E quando algo não saia como o desejado e um filho atrapalhava os planos, era ela quem ouvia as reprimendas.

Aos cinco anos sofri um acidente muito grave e fiquei três dias em estado de coma. Por anos meu pai culpou dona Luci por negligência sem que eu soubesse.

Ela foi e é muito macho. Fez de cada filho um adulto responsável, honesto, competente no que faz e trabalhador. Se não conseguimos ser os melhores é por falta de nossas próprias capacidades ou por contigências, mas o melhor que uma mãe poderia ter feito por todos ela fez e a gratidão nunca será suficientemente grande.

terça-feira, outubro 25, 2005

Comer, beber, e amar... O resto não vale um níquel.
(Lord Byron)




* Ainda não foi ao site do Pedro? Tá esperando o quê?


* Volto a lembrar do livro da minha amiga Paula. Quem gosta de bons causos, de aviação e da fascinante vida dos comissários de bordo já podem começar a pensar em adquirir o seu.




Ela


Sempre tive verdadeira paixão pelas mulheres. Não me tornei um mulherengo por causa da timidez e da completa falta de jeito para a coisa, embora volta e meia seja chamado de canalha e cafajeste, adjetivos que reputo injustos. Nunca fui casado por ser seletivo. Entre tantas de todos os matizes e belezas, alturas e gorduras, intelectos e burrices, jamais me perdoaria de me permitir ser escolhido por aquela que descobriria mais tarde não ser a mais certa para meus padrões. Não quero dizer com isso que nenhum me mereça, muito pelo contrário. Talvez eu não mereça nenhuma delas. Já me vi atraidíssimo, caidinho por muitas delas, mas nunca dei a sorte grande de poder retirar umazinha desse harém natural.

O motivo dessa crônica, porém, não são as mulheres da minha vida, mas uma mulher que passou diante de mim centenas de vezes sem nunca ter-me permitido entrar na vida dela.

Seu nome: Ela. Não fui eu quem a batizou, mas um dos cento e cinqüenta alunos internos do colégio em que estudei, em Manaus. Logo se vê que ela não era minha ou de qualquer um dos outros.

Ela passava pontualmente às sete, meio dia, treze e trinta e dezoito horas sob nosso imenso janelão de oitenta metros de comprimento, toda a extensão do nosso alojamento do terceiro andar. Ia e vinha, provavelmente para e do trabalho.

Nós acordávamos às seis e meia ao grito da corneta, fazíamos a hogiene pessoal, descíamos ao refeitório para tomar o café e subíamos novamente ao alojamento para pegarmos os livros, prontos para as aulas.

Todos sabem como são alunos na hora de ir às aulas, sempre fazem uma cerinha até criarem coragem ou até que o sacrifício seja inevitável.

Certo dia, numa dessas enroladas de praxe, um dos alunos, debruçado no janelão a viu passar. Deus do céu! Que mulherão! E deve ter chamado mais um ou dois colegas para olharem. Como estavam todos, ou quase, com o mesmo propósito de "encerar", mais alguns prontamente se juntaram aos primeiros e hajam gritos e assobios até Ela sumir de nossas vistas. Depois os comentários: "cê viu?", "que pernas!", "que peitos (que adolescente não diz seios, ainda mais quando estão juntos)!", "que bunda!" e uma vaia para quem dissesse "que cabelos!".

O que não imaginávamos é que na manhã seguinte Ela passaria de novo. Talvez um dos iluminados pela visão do dia anterior tivesse se enchido de esperanças e ficara de plantão na janela para vê-la passar, talvez até sem ter descido para o café. O fato é que se ouviu o alarme de "lá vem Ela!". E não era qualquer mulherão, lhes garanto. Daquelas que qualquer executivo gostaria de ter como secretária, mesmo que ela não soubesse nada de datilografia (tá, isso já aconteceu há um tempinho) ou como atender um telefone.

Desse dia em diante a vigília matinal passou a ser sagrada e fazíamos até turnos de sentinelas para vigiar sua passagem.

Um mais chegado a estatísticas anotara seus horários da tarde e da noite o que quase nos fez agradecer-lhe com beijos. Para sorte dele o preconceito e o militarismo que nos cercavam não permitiam tais intimidades.

O código estava criado: Ela. Mal Ela surgia na esquina o grito ecoava no alojamento: Lá vem Ela!

Até o dia em que saí do colégio, um ano e tanto depois, Ela nunca se atrasara ou faltara e, se duvidar, ainda hoje a garotada se espreme no janelão na euforia de ver um movimento como aquele logo pela manhã cedinho.

Certo dia não pude me juntar à turba no janelão para esperar a feliz hora. Precisava resolver algum problema no comando da companhia que ficava no mesmo andar, separado do alojamento por duas paredes e um corredor. Alguma de que não me lembro eu havia aprontado e por isso fora chamado à sala do capitão. Ao entrar, junto com o comandante encontravam-se três sargentos, o subtenente e, de quebra, um soldado, todos na janela, a hierarquia esquecida, fazendo comentários sobre o avião pontual em seu vôo rasante.

segunda-feira, outubro 24, 2005

A febre aviária já chegou ao Brasil. Atingiu o Galo Mineiro (Clube Atlético Mineiro)



Momento classificados:
- Se alguém quiser saber como e por que votei, no site do Pedro eu conto.


- Para os usuários do Windows XP, dez dicas para acelerar seu dessempenho. Eu estou aplicando duas e já melhorou bastante.


- Minha amiga Paula estará lançando seu livro no próximo dia 5 em São Paulo e no dia 8 em Campinas. Será possível também adquirir seu exemplar on-line. O tema é bastante interessante e mau vejo a hora de receber o meu.


Cleptomania


Ninguém gosta de ser roubado, ponto passivo. Eu mesmo tive minha casa roubada há pouco tempo e só superei a raiva dando risadas ao ver que o calhorda levou minhas cuecas velhas.

A maioria dos brasileiros se diz cristã, e Cristo ensinou a dar a outra face ao levar uma bofetada. Ou seja, cristãos de butique, afinal, seguir os ensinamentos do Mestre é outra história.

Nossas novelas são o nosso maior produto de exportação artística no momento e há um bom tempo. Chegamos ao ponto de discriminar as mexicanas, mães dos teledramas brasileiros. Particularmente as tramas de Glória Peres são endeusadas pela mídia paga-pau por discutirem problemas sociais muitas vezes ignorados ou discriminados pela população. A autora já causou discussões nacionais sobre o desaparecimento de crianças, o mal de Alzeheimer, a deficiência mental, a deficiência física e um tanto de outras mazelas.

Na atual novela que escreve colocou uma personagem cleptomaníaca. Se sua intenção era mostrar esse mal como uma doença e discutir sobre o tratamento, esqueceu de avisar aos seus próprios autores.

Dia desses cheguei ao trabalho e vi o mulherio discutindo que uma das atrizes da novela estava roubado dinheiro das bolsas das colegas. Flagrada, causou um rebuliço porque as outras atrizes estavam se recusando a contracenar com ela.

Chamaram-na para uma conversa? Convocaram um psicólogo para tentar ajudá-la? Foi diagnosticada a cleptomania? Houve mesmo todo esse rebuceteio ou foi apenas um golpe publicitário para levar os novelistas a assistirem ao programa tentando identificar a ladra?

Aproveitadores como o roedor do SBT não perdeu tempo e levou a pobre discriminada e escorraçada da vênus platinada a fim de conquistar uns pontinhos no IBOPE, nem que para isso a dignidade de um ser humano, mais uma vez, fosse jogado na lama. Numa hora dessas que me pergunto onde andam os barulhentos defensores dos direitos humanos.

Enquanto isso a Amazônia passa por uma seca catastrófica, o Pará está ficando sem árvores, a aftosa está desempregando 5.000 pessoas diretamente e mais um tanto indiretamente, a gripe do frango chegou ao Peru e ao Chile, o Zé Dirceu equilibra-se sobre o cadafalço...

A novela é mesmo uma bênção para alguns.

domingo, outubro 23, 2005

Nós somos o que comemos. Defecamos o que comemos. Então somos o que defecamos.





Visitem também o site do Pedro, onde também mantenho uma coluna.




Os Críticos On-Line


Às vezes tenho vontade de escrever sobre duas coisas de que gosto muito, filmes e músicas, mas, por alguns motivos facilmente explicáveis, termino desistindo.

Primeiramente, porque não sou nenhum expert nos assuntos. Embora existam uns e outros por aí insistindo em definir arte, explicá-la, justificá-la ou condená-la, eu apenas consigo gostar ou não. Como gosto são como impressões digitais, não existem dois iguais, preferível não ficar defendendo os meus e condenando os alheios.

Depois vem a comparação com os que fazem essas críticas. Zinitos blogs, sites, revistas, colunas de jornais, programas de rádio e de tv já se dedicam a esses temas e, convenhamos, são muito chatos. Tá, é meu gosto sendo expresso, mas não vou me desculpar. São chatos demais!

E não são chatos pelo tema, mas pelas seleções. Tem gente que para falar de algo óbvio como o Titanic gasta todo seu latim com um falso eruditismo que, mais do que chato, se torna pedante. O pessoal do jet set gosta de pedantismo, eu prefiro a simplicidade da vendedora de caldo de mocotó da feira às seis da manhã.

De chatos já chega, mesmo nascendo zuitos a cada dia e muitos outros aprimoram sua chatice no esmeril de diamantes do dia-a-dia. Se tenho que ser mais um chato, que seja pela minha ranzinzice e não por ser igual a eles.

Naqueles perfis que muitos de nós blogueiros tacham em nossos lay-outs é quase unanimidade lermos "odeio pagode, axé e coisas que tais" - acho que esse ódio só é superado pela "falsidade" e pela "mentira", embora todos sejamos falsos, dissimulados e mentirosos de vez em quando. Não compro discos desses ritmos e nem vou a show de tais, mas daí a odiar... Levando-se em conta que esses tipos de música dão emprego e renda a tanta gente Brasilzão a fora, por que odiar? Para isso existe o botão "desliga".

Do lado oposto estão os "adoro rock, Evanescense, U2, bam-bam-bam-caixa-de-fósforos", o que me faz deduzir que para esses analistas de arte, seu gosto é superior aos dos que gostam de samba, axé, forro e "que tais".

Deixa eu ficar quieto no meu canto e continuar falando da vida alheia que é mais proveitoso.

sábado, outubro 22, 2005

www.pedrocamargos.com www.pedrocamargos.com www.pedrocamargos.com www.pedrocamargos.com

Hoje, aniversário do meu irmão Luis, entra no ar o site desse meu amigo mineiro.

www.pedrocamargos.com www.pedrocamargos.com www.pedrocamargos.com www.pedrocamargos.com

Ele cometeu a sandice de me convidar para escrever uma seção sobre política e atualidades do jeito que eu fazia aqui no Esculacho.

www.pedrocamargos.com www.pedrocamargos.com www.pedrocamargos.com www.pedrocamargos.com

Além da minha coluna, tem dicas de filmes, vídeos da internet e curiosidades.

www.pedrocamargos.com www.pedrocamargos.com www.pedrocamargos.com www.pedrocamargos.com

Espero que apareçam por lá e aos pouquinhos tornem esse site um dos seus preferidos.

www.pedrocamargos.com www.pedrocamargos.com www.pedrocamargos.com www.pedrocamargos.com

Aguardamos suas visitas.

sexta-feira, outubro 21, 2005

Penso, logo penso que existo.



A Cama


A cama é um móvel, embora não se mova.

A cama só se move quando movemos a cama.

A gente só pode entender que a cama é um móvel se compararmos a cama a uma montanha. A gente pode mover a cama, mas não pode mover a montanha, por isso a montanha é um imóvel e a cama é um móvel.

A Bíblia diz que a fé remove montanhas, mas eu acho que nunca teve ninguém com tanta fé porque nunca soube de uma montanha que se moveu, a não ser por terremotos e por explosivos.

A cama serve pra gente dormir nela.

Mas a gente faz um monte de outras coisas na cama.

A gente assiste televisão na cama, a gente come pipoca na cama, a gente lê na cama, os adultos fazem filhos na cama, a gente troca fralda de bebê na cama, a gente deita no colchão da cama molhado de mijo do bebê de quem a gente trocou a fralda...


A cama tem um companheiro inseparável, o colchão.

A cama sem colchão não é cama, é apenas uma armação de madeira sem serventia.

Cama sem colchão é catre.

Catre parece nome de peça de automóvel, mas é cama sem colchão.

Catre é cama de prisioneiro, mas também é cama de monge.

Nunca dormi em catre, mas já dormi em colchão duro que nem madeira.

Nunca dormi sobre madeira, mas deve ser igual a dormir num catre.

Eu tenho dez anos e adoro a minha cama.

quinta-feira, outubro 20, 2005

Pode até ser sublime remover montanhas com a fé, mas ainda prefiro dinamite.




Michel e seu camelo


O Michel estava radiante por ter recebido a notícia de que ia ser pai. Como, de nascença, era um cara para quem não existia segunda-feira, irresponsável até o último gen da medula, foi convidando a todos os amigos que encontrava pela frente para irem ao bar do Pernambuco mó de comemorar a boa nova. Era apenas terça-feira, e daí?

Éramos vizinhos e bons amigos, mas como não havíamos nos encontrado naquele fim de tarde não fui convidado.

Às dez da noite dona Maura, esposa do Michel, bateu lá em casa, preocupada com o marido que ainda não havia chegado e seu telefone celular direcionava todas as chamadas para a secretária eletrônica.

- Por favor, Marcos, vai dar uma voltinha pra ver se encontra ele...

Mesmo tendo que acordar às seis horas da manhã seguinte não podia me negar a atender a um pedido de uma grávida. Lógico, falo isso porque não seria eu que teria que agüentar mais sete ou oito meses de desejos pela frente. Lá fui eu atrás do camarada.

A Maura é mesmo uma ingênua. Começou a namorar com o Michel quando tinha apenas treze anos, estão casados há sete, tem trinta e dois de idade e ainda acredita que o rapaz vai mudar e se tornar um bom cumpridor dos deveres.

Conhecendo bem meu amigo e ajudado pela geografia do bairro, fui direto ao bar do Pernambuco. Cercado por uns onze sujeitos embriagados, monopolizando as atenções, lá estava o Michel, copo em punho, pagando cerveja e cachaça para os amigos e quem aparecesse.

- Michel, vambora. Dona Maura está preocupada com você. Já ligou mais de mil vezes pro teu celular.
- Ih! Descarregou a bateria.
- Vambora, cara. Pensa na tua mulher. Ela não pode mais ficar se preocupando à toa.
- É, vambora, mas antes você tem que tomar um copinho comigo.

Veio a cerveja, me encarreguei de servir os copos rapidinho, tomei o meu quase que de uma talagada para irmos embora logo. Já dizem os botequeiros: "Uma das três maiores mentiras é 'essa é a saideira'".

Quase duas e meia da madrugada quando consegui convencer o novo futuro pai a ir para casa. Eu mesmo já me encontrava meio balançando de um lado para outro sem vento. O Pernambuco nem esquentava. Se acabasse o dinheiro da freguesia, ele punha no caderninho; se os caras não tinham sono, problema deles, de manhã ele tinha a mulher e a filha para abrirem a bodega.

O Michel pegou sua bicicleta, tentou montar e foi ao chão sob a gargalhada solidária dos demais bebuns. Tentou uma vez mais e de novo viu o chão de perto. Terceira tentativa, mais um tombo.

- Eu vou empurrando essa porra, assim não caio mais.

Pois é, cachaceiro, irresponsável e o maior cabeça fria.

Peguei a carona no carro de um amigo e fui pra casa. Caso resolvido. Não chamei a Maura porque não valia a pena acordá-la, se é que ela havia dormido. Já imaginava a manhã de trabalho horrorosa que teria.

Quatro horas da manhã fui acordado por batidas insistentes na porta. Era a Maura:

- Marcos, por favor, vá atrás do Michel, o homem não chegou até agora!

Agora quem se preocupou fui eu. Havia deixado o cara com o nariz apontado para sua casa.

Nem precisei andar muito. Dois quarteirões à frente encontrei o Michel todo arranhado, sentado no meio-fio, massageando a batata da perna direita. À sua frente mil pedaços amassados do que fora sua bicicleta.

- Que foi isso, Michel? Você foi atropelado?
- Atropelado uma porra! Eu vinha empurrando essa desgraça pra num cair, mas a cada cinco metros que andava o pedal batia na minha perna e me dava uma rasteira me derrubando. O jeito foi matar essa filha do cão a pauladas.

quarta-feira, outubro 19, 2005

Convencido? EU?? Antes eu era convencido... Hoje, sou perfeito!



Fazendo o quê?


Lavador de jaulas, médico legista, inseminador artificial de vacas, varredor de ruas em dias quentes, auxiliar de rabecão, ascensorista, porteiro de puteiro, puta, garoto de programa, assessor de vereador em Quixeramobim, lavrador na caatinga, vendedor de loja de calçados, ginecologista, deiretor noturno de escola pública da periferia, enfermeira de centro de saúde, andrologista, advogado de traficante, policial militar, "mula", camelô de produtos paraguaios, mineiro (profissão e não naturalidade), catador de lixo, limpador de bueiros, caçador, madeireiro, zelador de banheiro de rodoviária, leão-de-chácara, enfermeiro de leprosário, coveiro...

Nada contra quase nenhum deles, mas você está reclamando de quê?

terça-feira, outubro 18, 2005

Exijo meu bom humor de volta!



Como é que pode...


... se viver cada dia e não aprender a viver?
... apaixonar-se tantas vezes e ainda sofrer?
... ser magra como um caniço e só pensar em dieta?
... ser gordo como um hipopótamo e só pensar em comida?
... viver pedindo ajuda e virar as costas para amigos com problemas?
... calçar número quarenta e comprar um par número 38?
... pagar uma baba de academia e ter preguiça de subir escadas?
... pagar as melhores escolas e aprender nada?
... esquecer de tirar os óculos antes de entrar no banho?
... esquecer como se anda de bicicleta?
... ter preguiça de dormir?
... encher a cara sabendo que terá ressaca?
... não gostar de pudim de leite?
... odiar um filho?
... virar a noite na farra se vai trabalhar de manhã?
... preferir uma prostituta à namorada?
... ser arquiteto há anos e morar de aluguel?
... preferir uma lipoaspiração a uma caminhada diária?
... preferir uma cesariana a um parto natural?
... preferiri refrigerante a suco de fruta?
E VIVAM AS ALTERNATIVAS!

segunda-feira, outubro 17, 2005

- Alô. Eu queria falar com o senhor Marcos.
- É ele.
- Gostaria de saber do preço do aluguel de um caminhão trunco.
- 150 reais de diária ou 5 reais por quilômetro rodado.
- Tá muito caro!
- Então compre um carrinho de mão.
- Seu grosso, mal educado, filho da... tu... tu... tu...
Eu acho que ele queria falar com meu amigo Marcos Pinheiro.



Seu Xexéo e Seu Maninho


Seu Xexéo era o típico coronel de cidade interiorana nordestina, exemplar de déspota ainda existente em boa parte do país, embora hoje não se use tanto mais o reio, a peixeira e a carabina para se fazer curral eleitoral. Cargos públicos e propinas têm-se mostrado mais eficazes.

Maninho, funcionário do cartório, compadre e apadrinhado de seu Xexéo, mataria e morreria pelo amigo-chefe-líder. Nunca matou e nem morreu porque não foi necessário. O coronel tinha gente mais preparada, cabras de couro grosso, para fazerem os serviços de encomenda e quanto a morrer pelo coronel, só morria quem não lhe desse obediência.

Certo dia Maninho procurou Xexéo, cara triste, olheiras profundas e escuras, maltrapilho.

- Que cara é essa, seu Maninho? Perdeu dinheiro na rinha?
- Ô, cumpade, é a Dolores...
- A cumade tá doente? Algum problema séro?
- Doente é que ela num tá, meu coroné. Meu problema é que ela tem saúde demais.
- Oxente, cumpade, as fornicação tá seno tanta assim pra deixá ocê nesse estado de penúria?
- Antes sêsse, antes sêsse...
- Num tô intendendo nada. Qual é o problema de muita saúde da cumade Dolores, intão?
- A muié deu de me batê, coroné. Toda noite, sem mais nem menos, ela pega a taca e me lambe o couro inté eu pedí arrêgo. Mesmo quando eu tô durmino ela me bate. Num tô agüentano mais...
- Larga dessa muié, cumpadi!
- Posso não, coroné. Eu amo aquela mardita.

Tomaram um gole de pinga enquanto seu Xexéo matutava. Homem prático, resolvedor de problemas e amigo dos amigos tinha que arrumar um adjutório para o amigo maltratado.

- Seu Maninho, acho que posso ajudar o sinhô. Só preciso que me dê carta branca.
- Oxente! Tá dada, coroné! Faça o que o sinhô quisé. Vô lhe sê grato mais uma vez pra vida toda.

Depois da despedida, seu Xexéo mandou chamar o delegado, seu Isidoro, cabra frouxo que nunca teve competência para fazer nada direito, mas que ganhara o cargo depois de negociações entre seu pai, atual prefeito, e seu Xexéo, o todo-poderoso do lugar.

Obedecendo as ordens do coronel o delegado foi à casa de dona Dolores acompanhado de dois meganhas. Deram voz de prisão à mulher e a arrastaram até a delegacia.

Deram uma peia de palmatória na esposa de seu Maninho, sova daquelas de esfolar o couro das mãos e depois a mandaram embora sem dizer nada.

No dia seguinte o marido procurou o compadre para queixar-se do que o delegado fizera com sua Dolores.

- Eu sei de tudo, cumpade. Fui eu que mandei.
- Mas, coroné, a muié tá que num consegue nem penteá os cabêlo.
- Põe as mão dela na salmora que em dois dias tá tudo bem. Se preocupe não.
- Mas por que o sinhô mandô sovarem minha Dolores, coroné?
- Ela vai pensá duas vêiz antes de batê no sinhô de novo, cumpade.

Salomônica decisão. Seu Maninho e dona Dolores comemoram bodas de ouro nessa semana e vivem cercados de filhos e netos em seu sítio em São Mateus.

Os nomes não são esses, mas a história é verdadeira.

domingo, outubro 16, 2005

Amar é bom, mas dói.




Justificativas


Primeiro deixem-me esclarecer uma coisinha. Os dois últimos posts são fictícios, não precisa ficarem com peninha de mim ou acharem que me dei tão mal. Apenas palavras, senhoras e senhores, sé é que palavras podem ser "apenas".




A Karina instalou o Exxtreme Tracking quando montou meu blog e o recurso que mais gosto nessa ferramenta é o que mostra as palavras-chave de busca que trazem as pessoas aqui. Até gostaria que viessem mais visitantes por meio dos sites de busca. É muito divertido ler o que traz os desavisados.

Muito divertido ver essas coisas. Olha só:

- "Seu nome em chinês". Essa não é engraçada e até explicável. Há alguns meses coloquei uma diquinha que escrevia qualquer nome em chinês. Cheguei a escrever o meu. Uma coisinha boba e divertida.

Devido ao nome do blog, a palavra mais usada para trazer alguém aqui é "simpatia", só que não no sentido de "relações que há entre pessoas que instintivamente se sentem atraídas entre si", como define o Aurélio, mas atrás de "ritual posto em prática, ou objeto supersticiosamente usado, para prevenir ou curar uma enfermidadae ou mal-estar", do mesmo Aurélio.

Já que aqueles que vêm em busca desses rituais e não encontraram aqui a resposta, quem sabe não posso ajudá-los?

- "Simpatia para bebê falar". Você pode gravar todos os verbetes do dicionário e usar essa gravação como cantiga de ninar para a pobre criança, dia e noite no ouvido dela. O risco que se corre é dela usar um palavrão em sua primeira manifestação verbal, mas que vai falar, lá isso vai. Ou então procure um fonoaudiólogo para ouvir o diagnóstico que a criança é normal, seus pais é que são encanados demais, afinal de contas querer que seu filho de dois meses reproduza o discurso do Último Ditador é um pouco de mais;

- "Simpatia para conquistar um cartão". Primeiro temos que saber que cartão é esse. Cartão de crédito é fácil conseguir. Basta abrir uma conta num banco qualquer, ter um saldo médio razoável e, depois de um mês procurar o gerente com sua antipatia ou simpatia fingida. Cartão de estacionamento é mais fácil ainda. Basta ter um carro. Cartão de aniversário. Avise a todo mundo de sua data de nascimento e encha o saco dos amigos. Um deles, para se ver livre de sua insistência lhe mandará um cartão no aniversário, nem que seja de despedida. Quem quer ter um amigo tão mala? Se seu sonho for um outro tipo de cartão, me desculpe, mas minha criatividade se resume a isso.

- "Simpatia para perder barriga". Das duas uma: ou dê logo à luz esse bebê ou suspensa o copo de chope e procure uma academia de ginástica.

- "Simpatia para ter vários amigos". Saia da frente desse computador e caia na gandaia. Retire toda a grana da caderneta de poupança, vá ao primeiro boteco, suba no balcão e anuncie que hoje pagará a conta de todo mundo. Tudo bem que no dia seguinte todo mundo vai estar falando que um maluco esbanjador fez isso ali no boteco do Raimundão e ninguém lembrará seu nome ou sequer sua fisionomia, mas por uma noite você será o sujeito com o maior número de amigos por metro quadrado nesse mundo.

- "Simpatia para passar de ano". Fácil, fácil: Vai estudar, vagabundo!

- "Simpatia com carvão". Hein?

- "Simpatia coruja". Hein?, de novo. Cada uma...

- "Simpatia mandar embora". Nisso eu sou bom. Faça cara de poucos amigos, xingue todo o sujeito, aponte a porta da rua e dê as costas. O perigo é do outro não ter o mínimo de amor próprio e ter um espírito masoquista. Aí você vai ter que ser um pouco mais enfático, como meter a mão na orelha do chato.

- "Simpatia vela". Uma freira talvez possa ser o conselheiro mais indicado nesse caso.

- "Blog simpatia". Obrigado.

- "Joguinho de futsal". Putz! Canal errado. Não jogo nem futsal de botão.

- "Maniçoba origem". Procura aí embaixo que eu conto.

- "Fuder brasileiras". Tenho três sugestões: sites de sacanagem, sites de bancos e sites do governo federal. Bom proveito.

- "Calcinha com enchimento". Essa deve ter uma bunda de tábua de passar roupas. Sinto muito, mocinha, mas não posso ajudar. Mas, caso não encontre, que tal encher a caçola com algodão? Mas não esqueça de tirá-la sozinha no banheiro para não correr o risco de ouvir uma gargalhada de deboche.

É divertido esse negócio de Exxtreme. Os caras conseguem ser mais engraçados do que os meus posts.

sexta-feira, outubro 14, 2005

Tá doendo? Pare de respirar.




Sexta-Feira


O cara chega cedo ao trabalho, como a cada dia, bem humorado como sempre procura estar. Bem sabe que a vida não é um oceano de delícias, mas sabe também que cabe a ela não amargar mais o amargor natural. E faz a sua parte. Amanhece sempre disposto a ter um bom dia e contribuir para que as pessoas com quem convive também o tenham.

Por exigência da profissão o cara convive com doutores e bacharéis, pessoas cultas e bem informadas o que permite discussões quase sempre inteligentes, embasadas, civilizadas, às vezes acaloradas, paixonadas, mas sempre bem fundamentadas de parte a parte.

Semana entra, semana sai e a cada dia ele cumpre sua rotina na maior boa vontade. Ele se diz da importânciado seu trabalho, da contribuição que está dando para o aprimoramento de outras pessoas e da sociedade, por conseguinte. Pensa que tem contas a pagar e que chegou a um padrão de vida bem melhor do que o que seus pais tinham. Gosta da profissão, dos colegas, do local de trabalho, dos clientes. Tem, portanto, todos os argumentos emocionais e práticos para ir trabalhar feliz naquela sexta-feira, como em todos os demais dias.

Pouco importa se a meteorologia promete temporal, se os bancos estão em greve, se a mulher amada não o ama, se a gasolina aumentou de preço, se a filha está com sarampo, se o vizinho ouve música gospel até as duas da madrugada, se o cachorro do outro vizinho não parou de latir a noite inteira, se seu time será rebaixado para a terceira divisão, se o sapato está apertado, se não sobrou grana nem pra cervejinha da happy-hour... A vida segue e o otimismo e o bom humor são imprescindíveis.

Precisava, porém, aquele imbecil usar uma argumentação tão idiota, não ouvir suas respostas e ainda insistir e insistir num monólogo filhodaputa tentando deixá-lo em situação ridicularizante diante de todos os mais e ainda sair fazendo fofoquinhas pelos corredores com o propósito de prejudicá-lo também profissionalmente?

Sexta-feira desgraçada e sem nem um puto no bolso para afogar as mágoas no boteco da esquina.

Receita para morrer do coração.

quinta-feira, outubro 13, 2005

"Enquanto as pessoas inteligentes conseguem freqüentemente simplificar o que é complexo, um tolo tem mais tendência a complicar aquilo que é simples."



Eunápolis, 13 de outubro de 2005.


Querido Oscar, meu caro Alho,

Me desculpe por não ter ido ao almoço de confraternização, culpa do imprevisto. Meu carro amanheceu com os quatro pneus cortados. Desconfio que foi obra do Zenóbio, meu vizinho, só porque quebrei suas telhas coloniais quando jogava bola no quintal com o Marcos Júnior. Seria tão difícil ele entender que não paguei seu prejuízo porque estou completamente sem grana?

A internação da dona Ofélia custou uma fortuna! Tudo por causa da prepotência daquele juiz insensível. Tudo bem que fui eu quem esbarrou com ela no alto da escada. Tudo bem que não pude me conter e caí na gargalhada ao vê-la despencando escada abaixo com as pernas pra cima. Mas se eles se colocassem em meu lugar veriam que o esbarrão foi casual e a gargalhada foi inevitável. Mas, não, o sem coração me fez pagar uma dinheirama de custas do processo, outra fortuna de hospital e uma terceira fortuna por danos morais e, se não pagasse, iria em cana.

Você, como bom e velho amigo, bem sabe que não posso ser preso de novo graças à Zenóbia, aquela vaca.

Eu não podia pagar a pensão, droga! Foram só seis meses de atraso... Meu pai bem me dizia que ex-mulher é pior que cascavel embaixo do travesseiro. Expliquei a ela mil vezes que não estava em condição de pagar. A corretora de seguros não acreditou no incêndio da loja. Me dei mal. A perícia provou que o fogo não foi causado por acidente daí fiquei sem ganha-pão, com dívidas por todos os lados, respondendo a cinco processos e a desgraçada da Zenóbia não me deu nenhuma chance.

Espero que entenda os motivos da minha ausência, caro Alho, mas pretendo ir ao próximo, caso o mundo não cometa mais uma injustiça comigo.

Do sempre seu fiel amigo,

terça-feira, outubro 11, 2005

Alguém disse que a vida é uma festa. A gente chega depois que começou e sai antes que acabe.

(Elsa Maxwell)




Eu sou normal


Criança saudável é criança que apronta, curiosa, ativa. Criança que anda pelos cantos, quietinha, macambúzia tem problema. Pode ser verme, anemia ou autismo. Alguma coisa está errada.

Eu fui uma criança que aprontava, curiosa e ativa, acho que até demais por conta dos castigos e surras que tomava. Ou eu era o capeta personificado ou minha mãe sofria de TPMs terríveis.

Era muito bom aluno. Por três vezes ganhei o prêmio de melhor da turma. Na adolescência, hormônios saindo pelas orelhas, as coisas mudaram um pouco, mas tive tempo de retomar o trilho. Nada preocupante.

Aprendi a ler antes dos sete anos, comecei a andar aos sete meses, rejeitei a chupeta aos três meses... O imediatismo, característica gritante da minha personalidade defeituosa, manifestou-se cedo, portanto.

Quanto a aprontar... Nossasenhorinhadabicicletadopneufurado! Era craque. Em se tratando de sacanagem sempre fui criativo.

Não me contentava em amarrar bombinhas em rabo de gato, isso qualquer moleque fazia. Divertido era dar sustos em qualquer um. Nas noites em que faltava energia, era uma festa. Meus irmãos sofriam, tanto os mais velhos, quanto os mais novos. Entre eles, miha irmã era a presa predileta.

Roubar frutas - as mangas do sub-tenente Cruz eram uma delícia - era esporte predileto, mas tinha que fazer a obra escondido do dono do quintal e da minha mãe, senão lá vinha bordoada.

Jogar pedra em quem passasse pela rua e me esconder atrás do muro foi divertido até o dia em que aquele senhor bigodudo me flagrou e me passou um sabão de deixar as orelhas roxas. Perdeu a graça...

Na escola amarrava o cadarço do tênis do colega da frente na carteira só pra vê-lo estatelar-se ao tentar levantar.

Quem diria que me tornaria um adulto tão bonzinho...?




Às as crianças, feliz dia das crianças.
Aos católicos, feliz dia de Nossa Senhora Aparecida.
A todos, felizes todos os dias.





Desculpe, Micha, ia me esquecendo.
Pessoal, esse é mais um post que participa dos postes comunitários da Micha. Vá até lá e visite os outros participantes.

segunda-feira, outubro 10, 2005

"Devagar é que não se vai longe"
Chico Buarque



Calos N'Alma


A vida caleja, tira o fio da lâmina, torna pétreo o miocárdio.

Como ver poesia e lirismo no cinza de vidas repetitivas? Não adianta citar Bilac ou Drummond, a vida não perdoou nem a eles. Se bem que a vida é um substantivo abstrato. Qual o superlativo de abstrato? Pois é, a vida é esse superlativo aí.

Sonhos isso, sonhos aquilo, querer é poder e dá-lhes Lair Ribeiro hemorróidas a dentro e o substantivo mais que abstrato não perdoará o Lair Ribeiro.

A vida não é romântica, embora caibam romances na vida. Romances esses criados para acabar antes que ela acabe. Nada pode ficar para além da vida. Se ficar é porque foi transferido para outra vida.

O que duas vidas vivem juntas passa a ser metade quando uma acaba e vai se esvaindo aos poucos no dia a dia da outra. E morre antes da segunda vida.

A vida é filme de ficção com enredo ruim e péssimos atores e a culpa é do diretor ausente. Há quem afirme que ele está descansando desde o sétimo dia de filmagem e deixou cada um dos participantes dessa produção B fazer o que bem quiser, daí a péssima qualidade do produto.

Nessa película confusa cada personagem é mocinho e bandido, herói e vilão. Isso causa uma confusão tremenda na cabeça do espectador, mas sempre aparece um sabichão que convence aos bobalhões que entendeu toda a trama e pode traduzí-la em troca de alguns dinheiros. E os bobalhões pagam e se deixam convencer.

A vida, superlativo mais que abstrato de um substantivo abstrato, não poupará Paulos Coelhos e nem os bobalhões. Ela dá as cartas.

domingo, outubro 09, 2005

"Se foi pra desfazer, por que é que fez?"

Vinícius de Moraes



Insatisfação Laborial


Reclamar de trabalho é coisa de preguiçoso. Não, acho que não...

Deixa tentar de novo.

Reclamar de trabalho é coisa de quem nunca teve que trabalhar. Agora ficou melhor,mas ainda não é uma coisa absoluta. Ninguém precisa trabalhar até que precise e nem todos reclamam.

Vamos ver...

Reclamar de trabalho é coisa de quem labora no que não gosta. Lá isso é verdade, mas tem gente que gosta do que faz e reclama do horário, por exemplo, ou do chefe pentelho, ou da distância que o local de trabalho fica da sua casa, ou dos colegas malas... Não é esse, portanto, o único motivo pelo qual se reclama do trabalho.

Reclama de trabalho quem não precisa trabalhar. Essa foi longe! Se a pessoa não precisa trabalhar e trabalha é porque quer e se quer, não deve reclamar.

Quer saber? Não tenho a mínima idéia de por quê alguém reclama do trabalho que faz, mas sei que tem muita gente querendo trabalhar e não consegue uma colocação.

Pode-se assim resolver o problema de ambos: quem está insatisfeito que peça demissão e ceda o lugar para quem quer.

No fundo, talvez as pessoas reclamem do trabalho por ser mais fácil reclamar do quê satisfazer-se com o que se tem.

sábado, outubro 08, 2005

As paixões passam, a poesia fica.



A Bicicleta ou o Casamento?


- Acho que vou fazer brigadeiros.
- Cuidado pra não engordar.
- Tô meio melancólica. Pra melancolia brigadeiro é um santo remédio.
- Terminei de comer bolo de milho.
- Ah!, bolo de milho... lembra o colinho da mamãe.
- Muito bom, hein?
- Faz tempo que não como bolo de milho. O que faz mais falta, bolo de milho ou colo de mãe?

Parece absurda a pergunta final, mas tudo tem seu momento e razão. Não tem colo de mãe que cure fome de marmanjo ou desejo de grávida, por outro lado, não tem bolo de milho que lhe faça cafuné como a mãe.

A velha piadinha popular que fala da dúvida cruel que assola um sujeito ("não sei se caso ou se compro uma bicicleta?") pode ser apenas uma piadinha despretensiosa, mas bem poderia ser aplicada à vida de uma pessoa pobre que recebe um dinheirinho extra.

Apaixonada, espera a melhor ocasião para unir-se ad eternum à pessoa a quem ama.

Apaixonada e querendo casar-se, essa pessoa, porém, trabalha longe, tem que pegar dois ônibus para ir e dois pra voltar diariamente, o que ajuda a afastar a melhor ocasião para casar. Daí a grande dúvida.

Se casa, continua pegando dois ônibus para ir e dois pra voltar, mas se compra uma bicicleta pode economizar o do ônibus, só que o casamento tem que continuar esperando a melhor ocasião.




Era isso que imaginava, Krisha?

quinta-feira, outubro 06, 2005

Viver cada dia como se fosse o último... Mais uma bobagem hiponga dos anos 60 que é tomada como a filosofia de vida ideal. O bom é viver cada dia fazendo seu melhor para que o amanhã, que sempre vem, venha sem dores de cabeça e sem ressaca moral.



Tudo é uma questão de crença ou lavagem cerebral


A convite da Micha, em mais um post comunitário, eis o texto estalando de novo que prometi ontem sobre "fatos" sobrenaturais que eu tenha presenciado, ou não.

Na verdade, nem sei se são sobrenaturais. Não sou do tipo que formula uma teoria e a expõe como se fosse verdade absoluta. Sou crédulo nas pessoas, além do que deveria em certas ocasiões, mas cético em relação àquilo que não entendo.

Se existem almas, espíritos, dimensão paralela, vida antes da vida (a mais nova discussão no meio filosófico e pseudo-filosófico) ou vida após a morte, se existe telepatia, deus e o Diabo na terra do sol e do gelo, premonição, destino ou coincidência, regressão, reencarnação em um novo corpo ou em uma vida em andamento, encosto e espírito obsessor, curupira, iara e negrinho do pastoreio, pouco se me dá.

Já tenho muito com o que me preocupar na vida prática e palpável cotidiana para investir meu tempo e preciosos neurônios em coisas que ninguém explica convincentemente.

Quando os atabaques do candomblé soam os filhos de santo costumam encorporar outros seres. É o ponto alto do culto. Já presenciei esse tipo de manifestação com todo o respeito que o momento, o local e as pessoas merecem, mas não tive medos, sustos ou grandes impressões. Em alguns isso causa pavor e em outros delírio, enorme satisfação. Em mim causa desconfiança. Não acho que seja embuste e má fé em iludir os crédulos, mas dou margem para que sejam apenas manifestações da sugestão e da auto-sugestão.

O mesmo ocorre em algumas religiões evangélicas, por exemplo. O pastor, treinado para causar comoção com as palavras, usa a voz como instrumento de hipnose e consegue que boa parte da platéia entre em transe e solte aleluias do nada, sem mesmo entender o que o líder está pregando.

Já vi e senti coisas estranhas e inexplicadas (não vou dizer inexplicáveis porque o mundo ainda não acabou) que não vale a pena colocar aqui se nem eu mesmo sei se acredito que elas ocorreram de verdade. Já vi, junto com vários colegas de escola, luzes estranhas no céu de Manaus, mas daí a dizer que são discos voadores...

quarta-feira, outubro 05, 2005

Sexo tântrico? Transar com uma parede parece mais divertido.


Post-colagem


Os jogadores de dominó dizem que quem não sabe jogar baixa as buchas, carroças, carrões... sei lá como se chama aquelas pedras repetidas em sua região. Eu como não estou com muito tempo nem com muita criatividade, não podendo postar decentemente vou colocar só diquinhas pra vocês. Valem a pena, garanto.

Voltarei amanhã com um textinho estalando de novo, prometo.

Divirtam-se.

Valentino RossiCelebridades transformadas em personagens de mangá.

Nervos no lugar!Labirinto para se entrar à meia noite. com as luzes apagadas e no maior silêncio. Isso se você tiver coragem.

Tô travado!Joguinho de dicas daqueles de que gosto tanto e nunca mais coloquei por aqui.

Cidade fantasmaFotografias militares de Chernobyl nos dias atuais. É de cortar o coração.

Crista do galo, mas não é DSTAfastando, afastando... dá pra imaginar isso numa animação. Muito legal!

Valeu a pena?
Então a vida é assim...

Sem por quê nem pra que alguém vai no MSN e pede autorização para um ser que nunca viu.
O ser autoriza e se ferra por que tem que tolerar ESSA "complicada e perfeitinha".
Daí nasce um sentimento de "coleguinha" e os papos vão aumentando.
Não satisfeitos em chorarem umas pitangas, começam a ficar amigos.
E hoje, depois de alguns meses, o ser dono deste blog tem que tolerar e fazer as vontades dessa que invadiu este espaço sem a autorização dele!
Será que ele vai brigar? rs...


PS.:Vou dar o calote!!! hahahahaha
Piadinha interna, queridos leitores!!!




Até fantasiada de ET eu fico gata!!! hahahahhahaha

terça-feira, outubro 04, 2005

Defunto ruim não merece vela.



Prévia Sobre o Referendum


Não vou me aprofundar em argumentos contra ou a favor do desarmamento, mas falar um pouquinho do que tenho lido e ouvido de argumentações. É uma grandeza! É cada chute que dão, que dói a canela.

Como ainda não sei como votar não sou nada indicado pra tentar convencer quem quer que seja, mas os profetas do apocalipse estão se fartando.

Alguns pregam o despreparo do governo, outros dizem que esse está empurrando para nós, cidadãos comuns, a decisão. Eu acho é ótimo que decidamos, aliás, deveríamos decidir sobre muitos mais coisas uma vez que o que os governos e o parlamento têm decidido por nós só tem nos trazido dores de cabeça e de bolso, além de uma descrença crescente nas instituições.

Não sei porquê ainda me surpreendo com essa insatisfação popular constante e bem brasileira. Se chove, reclamam; se faz sol, reclamam; se neva, reclamam... E assim tem sido com as decisões dos políticos. Quando eles ditam as regras sem nos consultar, ficamos furiosos. Quando nos consultam, argumentamos que estão nos empurrando a batata quente.

Claro que por trás disso existem zilhões de interesses, mas somos nós mesmos que devemos dizer o que o país deve ou não fazer. O país é nosso e não apenas dos engravatados de Brasília.

segunda-feira, outubro 03, 2005

A Cabeça está muito ocupada em algo mais importante que o blog, mas não mais importantes que seu leitores, por isso, para não deixá-los com água na boca, vou deixar umas diquinhas por aqui para que se divirtam até amanhã.


Krisha, valeu pelo tema, mas o tempo não me permitiu desenvolvê-lo. Amanhã, quem sabe?


1. Digite seu nome ou de seu blog e ele será reescrito em forma de sigla. Você ainda ganha o selo para colar em seu blog. Legalzinho.Image Hosted by ImageShack.us

2. O jornal teria mandado o leitor "se fuder". A Karina entrou em contato com um amigo, reporter do dito jornal, que jura que isso não aconteceu. Não satisfeito, liguei para outro amigo de Vitória, cidade em que circula o jornal, e ele, assinante, ficou de procurar o exemplar do dia 10 de setembro. Quando eu tiver uma resposta lhes direi. Enquanto isso, leiam o absurdo.Será que é verdade?></a><br /><br />3. Para quem gosta de passatempos on-line, eis um site que apresenta um<i> puzzle </i>por dia. Estou viciado nesses <a href=passatempos e não perco uma para o relógio. Além de resolver o do dia, você ainda pode fazer todos os que foram editados pelo último ano inteiro.

Com essas diquinhas vocês terão muito o que fazer até que eu volte.

domingo, outubro 02, 2005

Querer é poder? Isso é mantra de quem tem muita grana, ou de quem tem muita sorte ou de criança birrenta.



Sabadão e as oportunidades


Estava decidido a ficar em casa no sábado à noite quando o telefone toca. Era a secretária do prefeito. Ele me convidava para assistir à decisão da Copa Bahia de Futsal que Eunápolis decidiria com a seleção de Paulo Afonso. Apenas por uma questão de cortesia e política da boa vizinhança, aceitei.

Cheguei antes dele, lógico. Quem já viu autoridade chegar no horário marcado? Com a lista dos convidados na mão, um preposto do alcaide me dirigiu à tribuna de honra. Aos poucos chegavam os secretários e os contumazes puxa-sacos. Assim que o prefeito chegou, cumprimentei-o e, na primeira chance, sai da tribuna e fui pra arquibancada. O que diria minha mãe se me visse em tais companhias?

Tudo bem que o cara é um antigo amigo, mas agora é prefeito e as coisas mudam, sem falar que o vice é um energúmeno que me dá asco.

O preço do ingresso era um quilo de alimento não perecível. Louvável decisão uma vez que tais alimentos devem ser distribuídos para as creches. Só que ao chegar e ver uma multidão do lado de fora, numa daquelas atitudes populistas o prefeito mandou que fossem abertos os portões. O ginásio de esportes superlotou.

O povão cada vez mais excitado com o calor da disputa foi me deixando assustado. Não gosto de multidões em lugares fechados ainda mais numa situação de competição como aquela. O chefe do policiamento é um amigo. Me aproximei dele e perguntei com quantos homens ele contava, ao que ele me respondeu "nove". Nove homens para policiarem algo em torno de 4.000 eufóricos.

Não é programa para o qual me convidem. Fui até o prefeito e não me contive. "Você foi um irresponsável ao mandar abrirem os portões", lhe disse. "Tomara que não aconteça nada de grave aqui ou você vai ficar muito enrolado. Da próxima vez pensa bem antes de tomar uma atitude assim". E vim embora.

Sentei num barzinho para comer alguma coisa e fiquei observando o movimento nas ruas. Nossa! Como minha cidade está efervescente.

De repente vejo a caminho de casa o Ailton. Ele foi um promissor jogador de vôlei, chegando a defender a seleção do Distrito Federal. Logo que chegou aqui convidou o Giovani, aquele mesmo da seleção brasileira, o Giggio, a lhe fazer uma visita. Fez um churrasquinho em casa e chamou alguns poucos amigos, até para evitar constrangimentos ao ilustre convidado. Só que entre os convidados estava um rapazinho do tipo arroz de festa, chegado às "altas rodas" da sociedade eunapolitana. O coisinho espalhou entre todas as amiguinhas que Giggio estava no churrasco.

Do nada, repentinamente, choveram adolescentes histéricas na casa do Ailton, acabando com nossa festa. Giovani teve que ser retirado por nós numa operação abafa e levado para um hotel em Porto Seguro.

O Ailton veio para cá apaixonado por uma dentista que resolvera aventurar no interior, ao contrário da maioria que não consegue sair da cidade grande e passa a vida aventurando-se em concursos para a prefeitura ou num consultoriozinho de ponta de rua. O ex-atleta hoje pega no batente na fábrica de celulose e pode ser visto indo e vindo do trabalho com seu uniforme de camisa verde claro e calça oliva.