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sábado, dezembro 29, 2007

Mais um recesso

CD 057

A maioria dos blogueiros diz que não escreve para os leitores, mas para si. Se fosse essa a minha intenção, escrever para mim, o faria num diarinho secreto e guardaria sob o travesseiro, como as garotinhas de quinze anos.

Escrevo porque gosto, óbvio, mas escrevo para compartilhar. Quando conto uma piada é porque a achei boa e gostaria que alguém risse comigo; quando critico uma nova lei ou mesmo um velho Código Penal, não faço questão de que concordem comigo, mas quero dividir minha indignação com alguém mais e, se eu estiver errado em minhas observações, que me corrijam. Enfim, é para meu reduzido público que escrevo.

Percebi que nessa época do ano, a maioria está ausente, curtindo merecidas férias. Eu mesmo me afastei por uns dias e estou aqui dizendo mais um até logo. Mesmo depois de retornar não tenho conseguido me colocar em dia com as coisinhas acumuladas que só podem ser feitas nas férias, por isso vou dar mais uma afastadinha.

Gostaria que estivessem todos aqui para receberem meu abraço de afeto, meus agradecimentos pelos prazeres que me deram a cada visita e meus votos de que o novo ano seja melhor do que todos os anteriores e pior do que 2009.

Vivendo no Brasil, a quase totalidade dos meus visitantes, não é nenhum trabalho de adivinhação saber que teremos muitos desgostos com os politicanalhas e seus cupinchas, que teremos a democracia arranhada muitas vezes, que continuaremos andando na corda bamba das incertezas econômicas, que, por ser ano eleitoral, em 2008 ouviremos mais mentiras e promessas vazias do que ouvimos normalmente, que serão eleitos para prefeitos e vereadores o que há de pior numa sociedade, que os sem terra, sem teto, sem cérebro continuarão suas ações de tentar tomar na força o que não lhes pertence e que o Estado nada fará para impedi-los ou punir seus exageros, que as televisões e os governos continuarão suas campanhas de achatamento da classe média e exigirão que essa se responsabilize pelas reformas e manutenção dos prédios escolares e as campanhas de esmolas sociais continuem, que os hospitais e previdência social continuarão sofríveis e que dessa vez culparão o fim da CPMF como desculpa, que aposentados continuarão morrendo nas filas de espera e os jovens continuarão morrendo pelas mãos de traficantes ou pelo efeito dos álcool no trânsito, que a Polícia Federal prenderá milhares de bandidos e os advogados e juízes os mandarão de volta às ruas. Sabemos que nada mudará no macro universo, mas como sou um otimista incorrigível, desejo do fundo do coração que cada um, não só meus parcos leitores, mas cada cidadão, cada criança, cada habitante dessa zona que chamamos de país, tenha uma vida leve, tranqüila, segura e feliz. Que consigam realizar seus melhores sonhos e que não lhes falte trabalho e salários justos, que a saúde não se abale, que os amores sejam correspondidos. Enfim, que sejam felizes.

Nos veremos novamente no dia 7 de janeiro, sem pieguices e com o melhor humor que me seja permitido.

Beijos e abraços e até lá.

quinta-feira, dezembro 27, 2007

Untitled




Roubei este post da Chris na maior cara de pau. Sei que ela vai me perdoar por isso. Não falarei mais, ela já disse tudo:

Retirado de um site americano

"Eu sou uma garota linda (maravilhosamente linda) de 25 anos. Sou bem articulada e tenho classe. (...) Estou querendo me casar com alguém que ganhe no mínimo meio milhão de dólares por ano. Tem algum homem que ganhe 500 mil ou mais neste site? Ou esposas de gente que ganhe isso? Vocês poderiam me mandar algumas dicas? Eu namorei um homem de negócios que ganha por volta de 200 a 250 mil. Mas eu não consigo passar disso. 250 mil não vão me fazer morar em Central Park West. Eu conheço uma mulher da minha aula de ioga que casou com um banqueiro e vive em Tribeca, e ela não é tão bonita quanto eu, nem é inteligente. Então, o que ela fez de certo que eu não fiz? Como eu chego ao nível dela"?

Sim, é isso mesmo! A mulher queria dicas sobre como arrumar marido rico, mas isso não é o mais legal, o melhor da história é que um cara, possivelmente um economista ou investidor, deu a ela uma resposta muito bem articulada e fundamentada

"Eu li seu anúncio com grande interesse e pensei com cuidado sobre seu dilema. Fiz a seguinte análise da situação. Primeiramente, não estou gastando seu tempo, pois me qualifico como um homem que atende ao seu orçamento; ou seja, eu ganho mais de 500 mil por ano. Isto posto, eu considero os fatos da seguinte forma: sua oferta, quando vista da perspectiva de um homem como eu, é simplesmente um péssimo negócio. Eis o porquê: deixando as firulas de lado, o que você sugere é uma negociação simples. Você entra com sua beleza física e eu entro com o dinheiro.

Ótimo, fácil. Mas tem um problema. Sua aparência vai se acabar e meu dinheiro vai continuar existindo, perpetuamente... de fato, é bem possível que meus rendimentos aumentem, mas é certeza absoluta o fato que você não vai ficar nem um pouco mais bonita! Assim, em termos econômicos, *você é um ativo sofrendo depreciação e eu sou um ativo rendendo dividendos*.

Você não somente sofre depreciação como esta depreciação sempre aumenta! Explicando, você tem 25 anos hoje e deve continuar gostosa pelos próximos 5 anos, mas sempre um pouco menos a cada ano. Então o fim de sua aparência começa cedo. Aos 35 anos você já estará acabada! Então, usando o linguajar de Wall Street, *nós a chamaríamos de "trading position" (posição para comercializar), e não de "buy and hold" (compre e retenha) - que é o que você deseja*... daí o problema... casamento.

Não faz sentido, do ponto de vista de negócios, "comprar" você (que é o que você quer), portanto *prefiro alugá-la*. Se você estiver pensando que estou sendo cruel, eu tenho a dizer o seguinte: se meu dinheiro vai se acabar, você também se vai. Então, quando sua beleza se esvair eu tenho de ter uma opção de saída. É simples assim. Um negócio razoável, portanto, é um namoro, e não casamento.

Paralelamente a isso, bem no início da minha carreira me ensinaram sobre mercados eficientes. Assim, eu me pergunto como uma garota "articulada, com classe e maravilhosamente linda" como você ainda não achou seu tio Sukita. Acho difícil acreditar que você é tão bonita quanto diz e os 500 mil dólares ainda não te encontraram, nem que fosse pra um "test drive". Por sinal, sempre há um jeito de você descobrir como ganhar dinheiro por conta própria, para que não precisemos ter essas conversas difíceis.

Com tudo isso dito, devo dizer que você está tentando da maneira certa. É a clássica "capitalização via golpe do baú". Espero que tenha sido útil e, *se quiser negociar um contrato de aluguel, fale comigo.*

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quarta-feira, dezembro 26, 2007

Contos e Descontos




Caro Ordisi, teu livro também tem três metades e, espremendo-se, jorrará até uma quarta porção. Devorei todas numa lida.

A volta do paraíso onde estava entocado foi longa, tuas letras foram a companhia ideal no retorno à vida rotineira e real, embora em doses de ficção, quase ficção e pseudo ficção.

Não há sobejo, nada sobra, nada falta na sobriedade moleca, na sobriedade de letras unidas tão magistralmente.

Ainda traduzirei a salada de letras que forma teu pseudo nome, a curiosidade aumentou. Os parabéns hão de ser para o autor, não apenas para o personagem prosaico e poético que diverte e instrui com cores de brincadeira.

Na troca de nossas brochuras saí ganhando e não adianta cobrar troco, não conseguiria dar-lhe o merecido.

Parabéns e sucesso. Não vou pedir um segundo porque já sei o quanto é chato ouvir esse tipo de cobrança, mas se resolver escrevê-lo...

Abraço.

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terça-feira, dezembro 25, 2007

Popularíssimo




Caro Marco, num dos muitos paraísos que existem em nosso litoral, devorei tim-tim por tim-tim a história do Popularíssimo.

Parabéns pela pesquisa, pela dedicação àquele projeto e pela paciência que teve que ter para trazê-lo à luz.

Teu livro deveria estar em todas as bibliotecas, escolas de artes dramáticas, nas mãos dos pesquisadores e estudante por conta do documento de pesquisa e de deleite em que se transformou.

Fui ator por oito anos, por isso muitos daqueles jargões também usei e muitas daquelas superstições eu segui, embora não soubesse de todas as origens; muitos daqueles nomes eu já conhecia, outros, como o do próprio Brandão, jamais havia ouvido. Motivo a mais para agradecer-lhe.

É um livro perfeito? Lógico que não, mas é de uma grandeza de intenção e de realização louvável.

A capa do Benício (quantos cartazes de cinema e capas de livros dele já admirei! Esse é mais um motivo de aplausos. Foi ótimo saber que ele está vivo e ativo) é por si só uma obra louvável. O acervo de fotografias é outra coisa agradabilíssima de ver. Isso apenas para me prender nos aspectos visuais da obra.

Me permita criticar, porém a falta de revisão. Essa falha permitiu, por exemplo, que nas páginas 282 e 283 você usasse a mesma citação de Marques Pinto; o a craseado antes de palavras masculinas; e o uso, 11 vezes, da palavra “extremamente, duas delas no mesmo trecho em que abria parênteses no texto para nos falar de um dos personagens. Esses pequenos deslizes não diminuem em nada sua obra, apenas tiram dela o adjetivo da perfeição. Não comprometem a leitura ou sua compreensão, talvez sejam apenas a ranzinzice de um leitor metido a perfeccionista como eu.

Há quem torça o nariz para trocadilhos, eu já acho os bem feitos uma características de mentes brilhantes e você os domina como poucos. Seus trocadilhos não são gratuitos e tornam ainda mais leve a leitura. Ponto pra você.

A linguagem fácil e acessível, por vezes utilizando-se da língua quase como era escrita na época dos fatos faz-nos viajar.

O capítulo em que narra a morte de Brandão é de uma sensibilidade e beleza poética que me trouxe lágrimas. Aliás, por vários momentos me vi torcendo por esse ou aquele personagem, como se fosse possível mudar suas histórias.

Espero que leve à frente o projeto de continuar contando histórias de outros vultos do Teatro (em maiúscula como você gosta), mesmo que isso lhe doa e cause contragostos. Para nós, leitores, será a garantia de mais cultura e prazer da boa leitura.

Parabéns, mais uma vez, e sucesso nas vendas e no reconhecimento de tão bom trabalho.

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segunda-feira, dezembro 24, 2007


Vou tentar ser suscinto, embora seja difícil, levando-se em conta o que passei de bom nos últimos cinco dias.

Alguém, não sei quem, chegou a uma pousadinha num lugarzinho lá no finzinho da Bahia, fronteira com o Espírito Santo, com meu livro na algibeira. O cara lia e gargalhava, sucessivas vezes. A dona da pousada, uma velhinha com seus 70 anos, ficou curiosa, de que tanto ria aquele sujeito?

Ele então falou das história do livro, que o havia adquirido em Eunápolis, e contou alguns dos contos para a velhinha.

Alguns dias depois recebi um e-mail do dito cujo, que não se identificou, dizendo que a tal senhora queria me conhecer e que tinha muitos "causos" pra me contar. Para ela, aquelas ficções que eu lançara no papel eram, na verdade, transcrições de conversas que eu ouvira por aí.

Como eu adoro "causos" e fiquei, também, curioso em conhecer a velhinha e ouvir os seus, procurei me informar sobre o lugar, como chegar lá.

Tenho um amigo que trabalha no posto fiscal, justamente ali na fronteira. Liguei pra ele e perguntei como chegar ao lugarejo chamado Costa Dourada, nome pomposo, digno de um daqueles resorts que infestam nosso litoral. O amigo, o O.X. (esse merece um post só pra ele. Por três vezes eu tentei apresentá-lo a vocês, mas nenhum dos textos ficou à altura de tão magnífico sujeito. Uma hora eu acerto a mão e desencanto), disse que já estivera lá, mas que era difícil explicar por telefone. Eu, então, sugeri que iria até o posto fiscal na sexta feira e lá ele me indicaria como chegar ao lugar.

Mais uma vez ele me desanimou. Saindo da BR-101 havia um vedadeiro labirinto entre as plantações de eucalipto, eu me perderia com certeza. Em contrapartida, ele me propôs que fosse com ele daqui de Eunápolis na quinta-feira, ele me levaria até lá e voltaria para o posto, uma vez que na sexta começaria seu plantão. O.k., topei a oferta e sugestão.

Saímos na quinta cedinho. O O.X. tem uma perua Quantum, ano 1985, o carro está velho, mas funciona perfeitamente. No bagageiro ele levava 20 cestas básicas. Lógico que era para distribuir entre os pobres, o que eu não sabia é que ele faz isso todos os meses quando sai daqui para dar expediente no posto fiscal, não é um ato nobre apenas porque estávamos às vésperas do Natal, o que fez aumentar ainda mais minha admiração por ele.


À beira da BR existem dezenas de casebres, muitos com placas com a da foto aí de cima. Como não pode auxiliar a todos, o O.X. já fez sua seleção: prioriza aqueles em que existem crianças. Eu me envergonhava a cada parada porque as pessoas achavam que eu fazia parte da distribuição e porque me senti um sujeitinho pequeno e egoísta diante da nobreza do meu amigo. Para não ficar um post enfeitado demais, colocarei apenas essa foto, de todas as que tirei no decorrer da viagem.

É de chorar de emoção, que fiz força pra controlar, ao ver as crianças sorrindo de tão felizes, das mães aliviadas por terem algo para dar aos filhos pelo menos naquele dia.

Por conta dessa distribuição de alimentos, percorremos os 260 km de viagem em 8 horas. Façam as contas comigo e chegaremos a uma velocidade média de 32,5 km/h. E isso não é por conta de estrada ruim ou do mau funcionamento do carro, não, senhoras e senhores, mas por conta da atenção que o O.X. dá a cada família agraciada. E tem mais uma coisinha: ele não se identifica, não pede nada, não sugere nada. Apenas entrega as sacolas e bate um papinho com aquela gente carente de atenção.




Voltando à viagem. Realmente, eu jamais acharia a Costa Dourada sem me perder umas quinhentas vezes naquele labirinto de árvores e estradinhas entrecruzando-se a toda hora. Saindo da BR-101, são apenas 37 km de estrada de terra, estrada, aliás, bem feitinha e conservada, por conta da fábrica de celulose Suzano, que dá manutenção constante para que seus caminhões que transportam as toras para a usina não sofram acidentes e nem se depauperem facilmente.


Mais uma vez vou ter que abreviar a postura de fotos, mas tentarei dar uma idéia do que é a Costa Dourada.


A localidade é um distrito do município de Mucuri. Lá pode-se chegar de carro ou de ônibus, embora esse ônibus só acorra ao local nas segundas-feiras e sábados, saindo da cidade espiritossantense de Pedro Canário. A Costa Dourada não passa de um arraial com casas esparsas que até chegam a lembrar as localidades amazônicas onde os vizinhos distam sete quilômetros uns dos outros. Na Costa Dourada as distãncias não são tão grandes, muito pelo contrário, a densidade demográfica é que é pequena. A localidade surgiu de um loteamento e as casas estão sendo construídas muito lentamente.


O O.X. já havia se hospedado na Pousada da Tia Fina, essa a velhinha que queria me conhecer. É ela que nós vemos na foto acima. À direita está seu Betinho, marido da Tia Fina. Não é uma pousadinha, mas um pousadão para os padrões locais. Tem, se não me engano, 24 apartamentos e mais uma casa mobiliada também para aluguel.


Tia Fina nos recebeu como velhos amigos. Mineirinha de Governador Valadares, está há 17 anos morando na Costa Dourada. Fico imaginando como era aquele arraial há dezessete anos... Gente boa demais da conta, sô! Os dois têm sempre um sorriso no lábio e dois dedinhos de prosa, embora estejam vinte e cinco horas por dia envolvidos nos afazeres da pousada.


No Google você poderá encontrar várias imagens da Costa Dourada, por isso não colocarei muitas por aqui.


Voltando à Tia Fina e seu Betinho. Terminei não ouvindo seus "causos". Cada vez que eu dava uma alfinetada para ela destampar o baú, ela desconversava, coisa de mineiro. Eu ali, prontinho, mp-4 na mão, pronto pra gravar as histórias e ela saindo pela tangente. Como meu propósito era de passar alguns dias, preferi não forçar a barra. Tentaria conquistá-los primeiro e, na hora que ela se sentisse à vontade, eu estaria ali para ouir, gravar e anotar.


Havia levado dois livros, bagagem constante em minha viagens, o do Marco e o do Ordisi (amanhã colocarei um post sobre o livro do Marco e depois de amanhã um sobre o do Ordisi). Como tempo não faltava, o dividia entre explorar o lugar, ler e bater papo com os velhinhos.




Sexta-feira, só eu naquelas areias. Andei sete quilômetros para o sul, pela areia; depois mais sete quilômetros para o norte. Sabem o que encontrei? Nada, apenas uma beleza estonteante e o mar menos ruidoso que já ouvi na vida. É impressão minha, estou ficando surdo ou aquelas ondas não fazem aquele barulho de escola de samba quando quebram na areia? Só se ouve o barulho da água e não aquele ribombar que impede o sono à noite.


Falésias e mais falésias que lembram Canoa Quebrada ou Morro Branco, embora menores e menos coloridas. Lindo! Não vi mangue, por isso não vi caranguejos, conchas, tatuís... Isso também explica a pouca pesca nos cardápios dos poucos restaurantes. Bom para os espiritossantenses que afluem ao lugar e adoram carne.

Pela primeira vez viz algo assim na minha vida. Volte lá em cima e veja a primeira foto. Era a Lua indo dormir hoje às seis horas da manhã. Agora olhem a última. Era o Sol se pondo às seis horas da manhã. Bati as duas da sacada da pousada, no mesmo horário. Impressionantemente lindo.

Os "causos" da tia Fina? Não ouvi. Acho que a velhinha está tentando me forçar a voltar lá para ouví-los, o que farei com o maior prazer, assim que pintar uma boa oportunidade. Mas nem tudo foi perdido em se tratando de histórias. Seu Betinho me contou sua vida desde os dezessete anos até seus atuais 75. Nossa! Que saga!

O homem já trabalhou na plantação e colheita de café, três anos sem receber um centavo; limpou banheiro; trabalhou em serraria serrando toras de madeira em turnos de 36 horas ininteruptas por oito de descanso durante quatro meses; tornou-se mestre de obras na marra, não porque quis, mas porque um cliente o obrigou a fazer um galpão onde instalaria uma fábrica de roupas; já bateu no filho do patrão e foi agradecido por isso; já deu sova em marido de filha que a agrediu... Impressionante a história do homem. Ele diz que gostaria de escrever um livro sobre sua vida e o faria se não fosse analfabeto. Seria isso uma indireta pro escritorzinho de meia tigela que o estava ouvindo? Juro que fiquei tentado.

Hoje, o homem que tem o indicador da mão direita atrofiado por conta de muilhares de horas de trabalho pesado, sustenta filhos e netos com o aluguel de quarenta e três imóveis, construiu sozinho sua pousada e a da filha e trabalha desde antes do sol raiar até oito horas da noite.

Eu perguntei se ele não tem um ajudante nas obras. Sua resposta: "tenho, mas tô com medo dele pedir as contas, eu trabalho demais".

Encerro sugerindo que você, meu leitor e minha leitora, se quiser umas férias sossegadas no litoral da Bahia sem trio elétrico, sem preços exorbitantes, com muito sossego e uma prosa sempre pronta, vale a pena passar uns dias na Costa Dourada. E não esqueça de deixar uma mensagem na agenda de Tia Fina, logo abaixo da que eu deixei.




domingo, dezembro 16, 2007

Anjos de Furgão



 

            Era apenas mais um dia de trabalho para Barteno, embora poucos na cidade fossem dar expediente naquele dia. No final da tarde deu um beijo na mulher, fez um carinho dos três pequenos e recomendou que esses cuidassem da mãe, pegou sua bicicleta e pedalou até a pequena fábrica de cimento onde o auto-forno recém instalado não podia ser desligado. O equipamento, caríssimo, tinha que manter-se ativo vinte quatro horas por dia. Em caso de desligamento haveria perda de componentes do equipamento, causando grande prejuízo para a fábrica e a conseqüente demissão de vários trabalhadores que atuavam em três turnos. Com uma família já grande e outro rebento por vir, não poderia sequer imaginar a possibilidade de ficar desempregado.

            No caminho entre a casa e o trabalho, a noite surgindo, observa as casas mais abastadas enfeitadas de lâmpadas, músicas e cores. Ouvia a animação por trás dos muros, as harpas soando pelas caixas de som. As ruas com seus postes e árvores enfeitadas, muita luz, muito brilho, as pessoas com rostos amáveis que não mostravam no restante do ano. Algumas lojas abarrotadas de retardatários que haviam deixado para a última hora a compra de seus presentes, muitos pais de família caminhando apressados, mas felizes, com suas sacolas de mimos ou a última guloseima da ceia.

            Vendo todo aquele burburinho que tomava a cidade que atravessa, o peito de Barteno apertava. O filho mais velho pedira uma bicicleta, a filha do meio esperava a bonequinha do anúncio da revista e o caçula sonhava com aquele caminhãozinho vermelho de bombeiros que vira na vitrine quando voltava da escola. As lágrimas vinham aos olhos do pai que desejava dar tudo aqui, mas como? O que sobrava do parco salário era aplicado em telhas, tijolos e canos para poder ampliar o casebre nas próximas férias. A vontade era muita de presentear toda a família, além de dar o que as crianças pediam, queria também que Suleima, a esposa, pudesse vestir-se com aquele vestido de seda que ela mesma desenhara e redesenhara dezenas de vezes, sonhando em tê-lo pelo menos por uma noite. Barteno sabia que veria os sorrisos mais lindos do mundo se pudesse realizar esses desejos, por isso chorava em silêncio enquanto pedalava.

            Eram tantos os rostos sorridentes, as risadas que ouvia, as sacolas e pacotes que passavam por seus olhos que os sentimentos misturavam-se. Se alegrava com a alegria alheia, mas sentia uma pontinha de inveja, frustração de um pai sem recursos, vergonha por não poder ver aqueles mesmos sorrisos nos rostos da própria família. Ao passar diante da igreja, viu o padre e os voluntários enchendo o baú de um caminhão com milhares de brinquedos arrecadados que, provavelmente seriam distribuídos entre as crianças do orfanato ou aos moradores de alguma favela. E ficou mais triste um pouquinho. Talvez bastasse ele freqüentar as missas para que suas crianças fossem lembradas por aqueles voluntários, mas por não ver em Deus uma figura tão provedora como diziam os fiéis, se afastara dele. Por que Deus permitia que alguns tivessem tanto e outros o mínimo ou nem isso? Deixara de acreditar na justiça divina e nas crenças da maioria. Deus nada lhe deu nem lhe daria, ele precisava suar e aspirar aquela sílica, encarar pó calor do forno, suar em bicas, desgastar os músculos oito horas madrugada a dentro, seis dias por semana para dar o mínimo de alimentação e conforto para os seus, Deus nada tinha a ver com aquilo.

            Apeou da bicicleta ao chegar à fábrica, misturou as lágrimas ao suor que escorria na face, identificou-se na guarita e seguiu para o trabalho. Durante seu turno que iria das oito da noite às quatro da manhã, procuraria concentrar-se apenas no trabalho, sua ocupação e diversão. Se por um lado era um trabalho desgastante, com uma hora para descanso e um lanche de pão com manteiga e com copo de leite dados pelos patrões, por outro lado era o que permitia que o mesmo pão e o mesmo leite não faltassem em casa. Entregou-se à labuta com afinco, atenção total ao serviço para não se permitir em mais nada.

            Já madrugada alta, a sirene toca. Barteno e os vinte iguais a tomam um meio banho das torneiras do pátio, apenas de calça, retiram parte do pó fino e acinzentado que cobrem todo o corpo, quase fazendo uma argamassa nos cabelos, cospem uma papa também acinzentada imaginando quanto daquela poeira fora parar em seus pulmões. Pega a bicicleta, cansado, desejando encontrar o sorriso de Suleima que sempre o esperava no portão com um copo de café. Pobre Suleima, dormia depois das crianças, acordava antes dele chegar e trabalhava o dia inteiro arrumando as crianças para a  escola, fazendo o almoço, limpando a casa, mantendo suas roupas lavadas e passadas, tomando a lição de casa dos pequenos, ... Não tinha como amar aquela mulher, tão forte, tão bonita e a amiga que qualquer homem desejaria ter por perto. Seu maior tesouro e estímulo para agüentar a vida dura que prometia ser assim para sempre.

            As ruas ainda mostravam suas luzes, a maioria das casas já se encontrava apagada, mas em uma ou outra ainda se ouviam o vozerio dos bêbados, os filhos dos pais alcoolizados brincavam com seus presentes novos, alguns já destruídos, uma ou outra cantoria, a ambulância suas luzes e sirene apressado, provavelmente para socorrer algum bêbado que dirigia ou algum bêbado em coma alcoólica. Pó todo seu caminho as ruas cheias de papéis coloridos que antes cobriam presentes. As lágrimas voltavam depois de oito horas de descanso. Sabia que ao chegar em casa receberia o beijo pontua da mulher, tomaria seu café, tomaria um banho de verdade e cairia na cama. Ao acordar veria o rostinho triste dos filho que choramingavam a não vinda de Papai Noel, de novo. Isso lhe rasgava o peito como uma navalha cega.

            Ao dobrar a esquina, absorto em suas tristezas, foi despertado pela buzina do caminhão, o mesmo que vira horas antes na porta da igreja. Quase batia de frente. Assustado, desviou para a direita, parou junto ao meio-fio, e ficou olhando aquele Papai Noel de aço que fizera a alegria de alguns pequenos cristãos. Se ele pelo menos fosse à igreja... Espantou os pensamentos e as lágrimas e retomou o caminho de casa, já pertinho, logo ali no próximo quarteirão.

            Lá vinha em sua direção um molequinho em sua bicicleta nova, bambaleando como bambaleiam as crianças que terminaram de aprender a pedalar. Ele pouco viu a bicicleta do garoto, o que lhe chamava a atenção e deu-lhe um calor gostoso no peito, foi aquele sorriso enorme onde faltavam dois dentinhos de leite recém caídos.

            - Pai! Pai! O Papai Noel trouxe minha bicicletinha! O Papai Noel lembrou de mim!

            Barteno, as lágrimas agora incontroláveis, virou a cabeça e ainda viu a traseira do caminhão-baú desaparecer na esquina lá em frente.

            O sol ensaiava suas cores no horizonte, Suleima amarelada pelo sol, escorada no caixilho da porta, sorriso tatuado nos lábios, não trouxera seu café pontual, olhava a filha feliz com a boneca que fala e o pequenino salvando vidas com sua escada Magirus.

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Caros amigos, estou de férias e ficarei alguns dias sem aparecer por aqui. Preciso colocar em dia as leituras, as escritas, as pinturas e mais aquelas coisinhas chatas e burocráticas do dia a dia que a gente termina deixando acumular. Internet, por esse tempo, só para ler e-mails e visitar os blogs. Tenham ótimo Natal, excelente 2008 e uma vida inteira  longa prenhe de felicidades.
Abraços e beijos para quem merece e para quem os deseja.
Até logo.

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sexta-feira, dezembro 14, 2007


The Tree of Life, Gustav Kimt

 

            Ninguém na praça àquela hora. De vez em quando o vigia noturno passava ali em sua ronda pelo quarteirão e não via qualquer coisa fora do normal. Não ver nada de anormal nas ruas de Capinzal é quase uma redundância. Naquela pequena cidade catarinense, o máximo que acontecia era uma discussão na feira por conta do preço do repolho. O chucrute estava ficando caro...

            Vigia noturno era apenas uma desculpa para se dar uma ocupação para seu Wilfredo, pai de três guris.

            Na noite fresca de março, seu Wilfredo passeava pelas ruas calçadas, radinho de pilha ao ouvido, apito no bolso e o despreocupado ar de quem sabia que não encontraria qualquer ladrão. O cacetete pendurado no cinto era apenas um cacoete da profissão.

            Em sua terceira passada pela praça, em posição diametralmente oposta à em que se encontrava, viu o doutor Asdrúbal sentado sob a luz do poste, vestindo um pijama de listras. Ficou curioso em saber o que levava o advogado a colocar-se ali às três da manhã, mas conteve-se. Primeiro, porque ele se negava a contribuir para seu salário, religiosamente pago em vaquinha por todos os demais moradores,  o que o isentava de vigiar a casa do rábula; segundo, porque o doutor Asdrúbal fora o advogado da última empresa em que Wilfredo trabalhara e o fizera perder uma boa grana na causa trabalhista que abrira contra os ex-empregadores. O advogado jamais fora perdoado pelo vigilante.

            Tentando ignorar  advogado, Wilfredo continuou em sua ronda.

            Mais uma volta no quarteirão, não pôde evitar uma olhadela em direção ao banco em que Asdrúbal se encontrava. Teve a impressão de que ele arfava, com a cabeça caída sobre o peito. Teria dormido? Estaria passando mal? Recostou-se em uma árvore e, por alguns minutos, não desprendeu os olhos do homem de pijama. Quando já se preparava para continuar sua caminhada viu Asdrúbal cair de lado abruptamente e, com as pernas na mesma posição, o tronco dilatar-se e comprimir-se com sofreguidão. O advogado tentava respirar e o ar lhe faltava.

            Wilfredo tirou o apito do bolso e o soprou a pulmão cheio enquanto corria em direção ao seu desafeto.

Aos poucos as janelas ao redor iluminavam-se, algumas abriam-se mostrando os moradores assustados atrás de suas caras de sono, moradores saíam para as varandas e calçadas. Todos viam Wilfredo socar o peito do advogado e soprar forte em sua boca na tentativa de dilatar-lhe os brônquios e refazer o coração retomar a pulsação.

Ainda sonolento, o médico, doutor Astrildo, logo percebeu o que acontecia. Entrou em casa rapidamente, recolheu sua maleta com os apetrechos médicos e, acelerado, foi ajudar o vigilante que já suava na tentativa de salvar a vida daquele que, por tantas vezes, desejara que morresse.

Os primeiros socorros ministrados por Wilfredo, aprendidos num curso obrigatório para os funcionários da transportadora em que trabalhara, ressuscitaram o homem que depusera contra ele.

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quarta-feira, dezembro 12, 2007

  • Dona Frida é alemã, albina, tem 70 anos, sogra do "melhor clínico geral da cidade" (segundo ela) e, além de radical em tudo o que faz, é muito influenciável. Há seis meses numa consulta de rotina com o genro, descobriu que estava com osteoporose e recebeu dentre tantas recomendações a de tomar sol e caminhar. Hoje almocei com dona Frida. Está crioula e com as pernas mais grossas que as da Rebeca Gusmão.

  • Garibaldi Alves Filho foi eleito presidente do Senado. Com aquela cara, o sujeito será uma festa para os chargistas.

  • Jodie Foster nunca me enganou...

  • Oh, meudeusinhodos pés atados! O que estão servindo nos restaurantes desse país? Purê de bosta? Eis que pesquisa CNI/Ibope revela que a avaliação de ótimo ou bom para o governo é de 51%. Alguém, por favor, distribua jornais gratuitamente junto com a bolsa-família!

  • Leiam isso e me digam se dá pra confiar em alguém. Nem o Barba escapou.

  • Solução para o trânsito de São Paulo: desativar o metrô e transformar as vias férreas em vias asfaltadas; derrubar quarteirões inteiros de moradias para transformar em estacionamentos. Uma mais radical: fechar as fábricas e proibir a venda de automóveis por 10 anos. Tudo bem que em 2017 a cidade estará parecendo Cuba, mas, pelo menos, as pessoas poderão se locomover do ponto A para o ponto B.

  • Amanhã, na Base aeoespacial da Barreira do Inferno, no Rio Grande do Norte, será lançado um foguete brasileiro com experimentos argentinos. Quer apostar quanto como vai dar chabu?

  • Uma escola púlica de São Paulo adotou como livro didático para Educação Física o livro de Selton Melo "O Dia Em Que Me Tornei Sãopaulino". Do mesmo modo que outras disciplinas Brasil a dentro adotam livros de História, Biologia, Geografia, Sociologia e que tais, totalmente parciais. esse é mais um 3X4 da educação pública nacional. Depois neguinho fica surpreso quando temos notas péssimas nas avaliações internacionais.

  • Por falar em educação, mais uma para meu amigo Maucir: Na Olimpiada brasileira de Matemática (não a das escolas Públicas, mas a 29ª do IMPA, UFRJ) tem entre os cinco que ganharam medalha de ouro no Nível 1, um cearense; entre os dez medalhas de prata, um pernambucano e um tocatinense; entre os 15 medalhas de bronze, um soteropolitano, um cearense e um paraibano. No Nível 2, entre os 5 ouro, dois cearenses; entre os 9 prata, 4 cearenses; e entre os 17 bronze, 9 cearenses. Como eu digo, existem ilhas de excelência no ensino de ciências exatas no Nordeste, principalmente no Ceará e em Pernambuco, pouquíssimo conhecidas pelo Brasil. Em valores absolutos, lógico, a quantidade de cearenses premiados é menor que a de paulistas, mas em valores percentuais, é, inegavelmente, o melhor rendimento nacional, e não é de hoje. Em São José dos Campos tem uma escola magnífica de ensino médio, que conta com turmas preparadas exclusivamente para o vestibular do ITA. A mensalidade é altíssima e os horários de aula é integral, tr~es turnos de domingo a domingo. Os professores dessa escola são inimigos mortais da Escola Farias Brito, de Fortaleza que, anos após ano, aprova mais que a escola paulista. Definitivamente, o "Brasil não conhece o Brasil", como cantou Elis nos versos de aldir Blanc.

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terça-feira, dezembro 11, 2007

Poesia e Net


Michelângelo, Capela Sistina



A internet é como livros, qualquer pessoa da classe média tem acesso e neles se encontra de tudo. Como existem livros dos mais variados temas, também os sites. Se existem livros bonitos na capa, mas com conteúdo deplorável, o mesmo acontece com os sites. O inverso também é verdadeiro, aparência desagradável e conteúdo excelente. Além daqueles bons por fora e por dentro. Algumas poucas coisas diferenciam esses dois veículos.


Para quem está familiarizado com os livros, a princípio é cansativo ler um texto longo na telinha; o computador não nos dá o mesmo prazer do tato que o livro dá; a boa sensação do cheiro de um livro novo ou de um livro velho não podem ser encontrados na internet; ler um livro enquanto rola-se na cama antes de dormir não pode ser repetido nem mesmo com um lap-top; e quando chega o sono, com o livro basta virar-se de lado, depositá-lo sobre o criado mudo e apagar o abajur (abat-jour, sempre quis escrever isso), já com o lap-top tem-se toda a trabalheira de desligá-lo, esperar o sistema operacional ser fechado, tomar cuidado para não deixá-lo perto de onde o cotovelo pode chegar durante o sono e apagar o abajur. Isso termina tirando alguns segundinhos gostosos de sono; sem falar que podemos dormir durante a leitura, nesse caso o livro pode cair para qualquer lado ou mesmo sobre o rosto que não tem problema, enquanto que levar uma computadorzada no nariz pode não ser muito agradável.

O conteúdo, ah, esse pode ser o mesmo, não vejo porque não. Será que essa pergunta foi feita pelos monges que eram as máquinas copiadoras da Idade Média? "Poesia e a prensa de Gutemberg combinam?". Há mais adolescentes lendo sites hoje do que lendo livros, portanto a poesia pode atingir muito mais jovens por via cibernética do que por via "celulótica", sacou?

A poesia, no decorrer da história, mudou de temática, de forma, de linguagem e também de meios. Até poesias engarrafadas já inventaram, poesias em paralelepípedos, em folhetos grudados em postes, poesia de cordel... São tantos os meios de divulgação dessa literatura, que não vejo porque imaginar que ela possa não combinar com a informática.

Eu já tive meu blog de poesias, que hoje hiberna porque perdi acesso a ele, e participo de um blog coletivo com o David, o Rayol, a Saramar e a Anne, lá eu sou o patinho feio. Além de visitar dezenas de outros, esporadicamente, nos quais pouco comento porque acho difícil comentar poesias. Quando ela é ruim, dá vontade de falar, mas pra quê ferir a suscetibilidade do poeta se ele não me pediu opinião e nem eu sou crítico literário? Mas quando ela é boa, lê-la basta.

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Minha insignificante contribuição ao post coletivo proposto pelo Rayol.

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segunda-feira, dezembro 10, 2007


Novaes, Gazeta Mercantil, SP


  • Lembram daquela piadinha ofensiva e sem graça na qual um santo ia reclamar com Deus porque Ele havia loteado a Terra muito mal? Um lugar ele condenou à miséria eterna, em outro ele colocou uma seca permanente, em outros um frio de lascar durante todo o ano, em mais um terremotos, em outros furacões. Deus não estava sendo justo quando criou o Brasil com muita água, clima agradável, terra agricultáveis, flora e fauna riquíssimos, alegava o santo. Aí, Deus explicou ao santo: "Você ainda não viu o povinho que eu vou colocar lá pra compensar". Deus deve ter-se arrependido. Esse ano já aconteceram quatro tremores de terra no país, dois deles reflexos de terremotos ocorridos em outros lugares, como o que assustou São Paulo e o da semana passada que chocou quatro estados do Norte. Além desses dois, ocorreu um no Nordeste e o desse final de semana em Minas Gerais, que não foi exatamente um terremoto, mas, segundo os técnicos, um processo de acomodação de terras por conta de uma falha geológica na região. Isso seria de menos se uma criança não houvesse morrido, nossa primeira vítima num abalo sísmico dentro do território brasileiro. Deus deve estar mesmo zangado conosco.

  • Ainda falando em Deus. A Bíblia, até meu sobrinho recém nascido sabe, é cheio de metáforas, o que permite a cada um interpretá-la do jeito que melhor lhe convier, para o deleite dos espertalhões que enchem o rabo de dinheiro criando religiões. Matusalém, por exemplo, teria vivido 900 anos, o que não se fala é quantos dias tinha cada ano. Tá lá no Gênesis: Deus fez o mundo em sete dias. No primeiro a luz, depois a noite e o dia, vieram as terras e a águas e assim por diante. Imaginemos que dia tenha um sentido figurado, que queira dizer, na verdade, etapa. Cada uma das sete etapas pode ter durado milhares, milhões de anos. Sendo assim, provavelmente ainda estamos no sétimo dia e Deus ainda está descansando, por isso o mundo está à deriva.

  • Saindo do céu e voltando para o inferno. Já se começa a falar de carnaval mesmo antes de ter chegado o Natal e a primeira notícia que leio já não é nada animadora. A Petrobrás e as petroquímicas Braskan e Uniper darão de presente R$ 12 milhões para o carnaval carioca. Estão fazendo com que uma empresa estatal se associe à contravenção do jogo do bicho e ao crime do tráfico de drogas no patrocínio da festa. Sérgio Cabral alega que a entrada de empresas oficiais afastará os criminosos das escolas de samba. Qual o quê, seu moço! A bandidagem começa na presidência das escolas, como esses bandidos serão afastados? Será que Lula vai nomeá-los? Eu acredito que cabe ao governo da cidade do Rio de Janeiro dar condições para que a festa aconteça com segurança, higiene, transporte, iluminação, atendimento médico, enfim, com a infraestrutura, mas daí a bancar as escolas, que são entidades privadas... A prefeitura já entra com R$ 5,2 milhões e o governo estadual injeta mais R$ 4 milhões. Somando tudo, são R$ 21,2 milhões de reais do erário para a sacanagem generalizada. Quantos quilômetros de esgotos ou casas populares poderiam ser construídos com essa grana? Isso equivale ao salário anual de quantos professores ou médicos?

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sexta-feira, dezembro 07, 2007


Rico, Vale Paraibano, SP


  • Oh, Jisuis! Tô na maior crise de identidade. Primeiro o Ciro Gomes diz que quem é contra a CPMF é a elite branca, e eu sempre me considerei pobre e preto; depois o Lula diz que quem é contra a CPMF são os sonegadores, e eu sempre me orgulhei de ser um sujeito honesto; agora Lula, de novo, esbraveja que se fosse para beneficiar os ricos ninguém se oporia à aprovação do imposto, enquanto que eu fico fazendo meus trabalhinhos voluntários na maior boa vontade. Preciso de um terapeuta...

  • Era brincadeirinha quando eu disse que depois do acidente com o navio petroleiro na semana passada a Petrobrás deveria anunciar a descoberta de uma nova jazida, mas não é que os homens levaram a sério? Ontem a empresa anunciou a descoberta de uma nova jazida de gás e óleo fino na costa do Espírito Santo. Se continuarem ocorrendo cagadas na área da energia, nesse ritmo logo, logo teremos mais petróleo que a Arábia Saudita. Te cuida, Chávez!

  • Diz o desembargador Roberto Wilder, do TRE-RJ, que os partidos devem evitar a filiação de cidadão que não tenham "uma vida pregressa compatível com os princípios constitucionais da moralidade". Tolinho. E os que já estão filiados, se candidatarão e se elegerão com a folha corrida mais suja que pau de galinheiro? Ah! Esses podem.

  • A gente fala, fala, fala e ninguém dá bola, agora que a revista inglesa The Economist afirma que a renúncia de Renan Calheiros à presidência do Senado fez parte de uma negociação do governo federal para facilitar a aprovação da CPMF, vira manchete. Nem a Velhinha de Taubaté duvidava que esse seria o motivo da tal renúncia.

  • Por falar nisso, quem será seu substituto? Lançaram a candidatura de Pedro Simon. Entre ele e Sarney, prefiro o gaúcho, uma das últimas e poucas reservas morais no legislativo.

  • Eu sou mesmo uma má influência como irmão. Depois de começar a blogar, o Normando enveredou pelo mesmo caminho; depois veio a Glendinha, sobrinha, que me causou admiração com sua redação enxuta, criativa e limpa, justamente numa idade em que a molecada esquece o português para escrever em internetiquês indecifrável; mais tarde veio o irmão caçula, o Ronaldo um cronista muito interessante; e agora aparece o Rui, doutor Rui, ocupadíssimo, mas que arruma tempo para seus contos. E ainda acho que tem mais um irmão blogando anônimo por aí. Se eu confirmar minhas suspeitas, vou dedurá-lo aqui.

  • Vou ter um final de semana cheio de trabalho e compromissos, por isso só nos veremos na segunda. até lá.

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quinta-feira, dezembro 06, 2007


Lute, Hoje em Dia, MG


  • Não é pra me gabar, não (mentira, é, sim), mas dêem uma olhadinha no comentário do Rui no post de ontem. Coisinhas simles que fazem um tremendo bem à alma.

  • Por conta da absolvição de Renan Calheiros, mandei o e-mail abaixo para todos os senadores. Até o momeno, como era de se esperar, nenhum respondeu:

É, senhoras e senhores senadores, mais uma vez vossas excelências ficaram contra a vontade popular e votaram contra nosso desejo. Cada vez fica mais nítida a certeza que os desejos do cidadão só são ouvidos por vossas excelências durante as campanhas eleitorais, e em público. Entra quatro paredes os senhores devem fazer chacota com a nossa cara. Já tenho absoluta certeza que depois de todas as "negociações" por baixo do pano, vossas excelências encarrarão o ano legislativo aprovando a continuidade da CPMF, mesmo sabendo que nada desse dinheiro vai para a saúde ou para qualquer obra ou programa de política pública essenciais. Vossas exceLências, bem melhor que qualquer cidadão comum (os senhores também deveriam ser cidadãos comuns, mas são super-homens, intocáveis, né?) que o dinheiro arrecadado com tal imposto é apenas uma alavanca para o governo federal se promover comprogramas assistencialistas e alguns "negócios" que o grande público jamais ficará sabendo. Envergonho-me mais a cada dia com os "legisladores" que elegemos. A palavra legisladores está entre aspas no período anterior porque já está mais que provado que quem legisla de verdade é o executivo, vossas excelências apenas referendam o que é desejo do governo central. É uma pena, uma grande pena que um país tão grande e tão rico esteja entregue nas mãos de negociantes e não de legisladores de verdade.

  • Vocês que são mais chegados às religiões e suas coisas, por favor me esclareçam: a Igreja Católica Apostólica Romana considera o suicídio um pecado que condena o praticante ao inferno, certo? Se D. Luiz Cappo, bispo de Sobradinho, que está fazendo greve de fome para impedir a transposição das águas do São Francisco levar essa greve às últimas conseqüências e morrer por isso, ele estará praticando suicídio, certo? O bispo, então, pode ir para o inferno? Questão interessante...

  • Clodovil apresentou um projeto de lei que obrigaria os homens a fazerem exame de próstata. Ok, a intenção é boa, mas como alguém me obrigaria, ou a qualquer outro homem, a fazer tal exame? Não seria muito mais educativo fazer campanhas, orientar os cidadãos, facilitar o acesso dos homens a esse exame do que vir com essa coisa ditatorial da obrigatoriedade? É cada uma...

  • A Comissão da Câmara aprovou o direito a mulheres agredidas de fazerem cirurgia plástica gratuita. O que vai ter de feiosa pobre pedindo pro marido lhe dar uma porrada bem dada... Ima gina a cena: "amor, tô a fim de tirar esses pezinhos de galinha. Me dá um karatê no meios dos cornos?".

  • Não sei por que ainda fico feliz quando leio notícia sobre a prisão de alguém do colarinho branco, como hoje ocorreu em Alagoas, onde foram presos dois deputados estaduais e um ex-governador. Eu me esqueço que amanhã estarão soltinhos, prontos pra cometerem outros crimes. Por exemplo, o tal Onaireves Moura, agora processado por mil desmandos na Federação Paranaense de Futebol, já teve irmão preso por tráfico de drogas, já foi processado por impobridade administrativa, já teve o mandato de deputado federal cassado em 1993 acusado de comprar deputados para o PSD, já foi preso por sonegação fiscal em 2000, em 2005 foi acusado por um árbitro de estar envolvido em compra de resultados no campeonato paranaense, em 2006 foi novamente preso por sonegação fiscal, em junho de 2007 foi suspenso por seis anos, pelo STJD por desviar recusos da FPF... E continua à vontade pra continuar roubando, mandando e desmandando. Num país sério esse crápula ficaria em cana por duas reencarnações.

  • Atenção povo mineiro e sul baiano! algumas famílias dessa região deverão ficar sem os euros que recebiam de familiares que trabalham na Europa. A polícia italiana estourou um puteiro cheio de garotas brasileiras que ganhavam até 1.200 euros por programa. Tadinhas... Das famílias, quero dizer.

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quarta-feira, dezembro 05, 2007

Herança

Max Ernst, Surrealism and Paint


Adevanair não gostava do seu nome e jamais perdoara seu pai pelo batismo. Já não bastasse em nome que gerava dúvidas sobre seu gênero, ainda era acrescentado de um Júnior. Adevanair, pai, não satisfeito de ter um nome tão feio, ainda o repetira no filho mais velho. Por conta de seu ego, o rebento teria que levar esse quase apelido por toda a vida.
Ainda garoto achava que fora fruto de uma gravidez indesejada e o nome seria uma vingança. Na adolescência concluíra que não, não seria uma vingança, seu pai apenas acreditava ao pé da letra na velha história de perpetuação da espécie ou na sua própria perpetuação. Papo de pai biólogo. Tirando a Ásia e o Oriente Médio, onde há guerra todo dia e qualquer quedinha de bicicleta mata vinte de vez, em qualquer outro lugar do planeta a espécie já tinha exemplares garantidos por muitos séculos. Homens e mulheres gostam de ter filhos apenas para poderem gabar-se para os amigos, parentes e vizinhos de fizeram um bolinho de carne lindo e inteligente, como eles mesmo dizem, perfeito. Como se algum ser humano pudesse ser perfeito.
Pedia, implorava. Chorava, esperneava, chantageava o velho Adevanair para que ele mudasse seu nome no cartório, mas o pai se negava a fazê-lo. Dizia-se ofendido, como poderia o próprio filho renegar o nome do pai que o amava, alimentava, educava... Rebuliços no ego ofendido.
Ao fazer dezoito anos arrumou um emprego, mudou-se da casa dos pais, emancipou-se e entrou com processo na justiça solicitando a mudança de nome. Passaram-se intermináveis cinco anos entre argumentações, audiências, recursos, gavetas e prateleiras até que o juiz o autorizasse a adotar uma nova identidade.
Hoje anda faceiro e orgulhoso, queixo erguido, auto-estima em alta e satisfeito com a nova identidade: Adenair. Achara um nome lindo para dar ao filho que nasceria em breve, mas não colocaria Júnior, e, sim, Filho.
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Neste Natal dê livros. Que tal o meu? Hehe (pontes.mr@gmail.com)

terça-feira, dezembro 04, 2007


César, Jornal da Manhã, SC


  • Nosso mundinho porco e emporcalhado é mesmo uma piada. Acontece cada uma, que só rindo. Um sujeito, na Inglaterra, cheio de boa vontade, vai a um banco de sêmem e doa uma porção de "soldadinhos". Uma mulher, muito a fim de ser mãe (tem gosto pra tudo) recorre ao dito banco de sangue e recebe os soldadinhos do rapaz bem intencionado. Nasce o rebento e a mulher recorre à justiça. Depois do julgamento o rapaz bem intencionado é condenado a pagar pensão alimentícia para o rebento. Caraca! É o golpe do baú mais macarrônico de que já ouvi falar.

  • Pesquisa do Datafolha: 45% dos entrevistados acham o Congresso ruim ou péssimo; 13% acham-no ótimo ou bom; 37% acham-no regular. Ou seja, 50% da população brasileira são pouco ou mal informados.

  • Pesquisa revelada na semana passada dizia que a maioria dos petistas achavam que o PT não havia superado a crise, mas como a burrice é a mais grave, incurável e proliferada das doenças, os "companheiros" reelegeram Berzoini para presidir o partido.

  • Quem acha que o NO à reforma contitucional de Chávez vai fazê-lo baixar a bola, que ponha suas barbinhas de molho. O cara vai usar esse plebiscito e sua aparente aceitação do resultado para propagar aos sete cantos que ele é um democrata. A oposição saiu fortalecida, mas deu munição para o lunático.

  • O Cleoni criou seu calendário para 2008. O legal do calendário é que ele colocou links de 48 blogs sem a pretensão de indicar como os melhores, os mais supimpas, os fodásticos, apenas relacionou os seus favoritos. Gostei da postura do rapaz.

  • Brasil a dentro, professores, policiais e outros funcionários públicos costumam fazer um bico para aumentar sua renda. Infelizmente há uma tremenda diferença entre os salários, por exemplo, de um assessor parlamentar de uma câmara de vereadores de cidade do interior e o engraxate do Congresso Nacional, que ganha mais de R$ 5 mil por mês. Tem policial ganhando menos de R$ 500, 00 por aí e como a maioria é desabilitada para outro tipo de serviço, termina fazendo segurança de supermercados, de mansões ou traficando drogas. Embora atividades paralelas sejam proibidas por lei, os comandantes fazem vistas grossas, pelo menos quando o serviço paralelo de seus comandados é honesto. Na educação, professores costumam dar aulas particulares ou trabalham em duas, três escolas, outras são manicures, vendem Avon, tuppeware, trazem muambas do paraguai... Enfim, se viram. Numa cidade do interior do rio Grande do Sul, uma professora descobriu um filão provavelmente mais rentável: a prostituição. A mestra comanda uma rede de garotas de programa. Matou dois coelhos com uma paulada só: aumentou a renda da família e ainda arrumou emprego para as alunas.

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segunda-feira, dezembro 03, 2007


Sinovaldo, Jornal NH, RS


  • Um bom exemplo de cultura popular é você dizer pra uma amiga que sua ópera predileta é Carmina Burana e ela, toda empolgadinha pra te agradar, mostrar um link do Hollyday On Ice no You Tube.

  • Uma das vantagens que eu via em ser homem era o preço da cueca ser a metade do preço da calcinha. Foi-se o tempo... Vou precisa fazer um financiamento pra repor as minhas rasgadas.

  • A influência mineira é tão forte na cultura sul-baiana que quando a gente reencontra um amigo que não via há mais de um ano pode perguntar em que país ele estava. A diferença é que o sul-baiano vai para a Europa e não para Miami, na esperança de chegar aos EUA um dia.

  • Três e meia da madrugada, final de festa, enfim o cara consegue convencer outra desesperada a ir ao motel. Lá a recepcionista lhe o ferece a suíte mega-master-plus, de 360 metros quadrados. O cara, já fazendo nas calças: "minha filha, eu vim aqui pra trepar e não pra comprar terreno!".

  • Preparem os saquinhos, já, já começam aquelas listas de melhores e piores do ano elaborada por algum desocupado qualquer de uma redfação qualquer de uma revista qualquer e que todo mundo noticia como a melhor e mais importante lista do ano.

  • Décimo terceiro salário chegando e um monte de gente animadinha pra gastar o capilé naquele baguinho comque sonhou o ano inteiro. Aprendam, crianças: hora boa de comprar é depois de 31 de dezembro, quando as lojas entram em liquidação para se livrarem do estoque encalhado. Até lá, coloca a graninha na poupança.

  • Gosto de quem compra briga grande. Esse negócio de picuinha com vizinho é pra quem tem tempo de sobra e pouco a fazer. Chris Anderson, no post do dia 29 de outubro, fez uma enorme lista de e-mails de vagabundos que ficam nos enviando spams. Bem que poderia aparecer um herói pra fazer a mesma lista por aqui.

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sábado, dezembro 01, 2007

VIDA DURA


Qual é? Vai ficar encarando? Tira o olho, Mané! Tá, tô bem vestido, tô sabendo, mas esse lance de você ficar me tirando não ta pegando bem. Sou macho, cara! Tá vendo essa magrela aí do lado? Por que não olha pra ela? Pelo visto você gostou mesmo da minha roupa... Vai lá dentro, cara, tem um monte de iguais a essa, sem falar que com essa barriguinha que você carrega a duras penas, minha camisa não vai caber em você, muito menos a calça. Imagina se tua cintura vai passar por esse cós... Isso, vai embora. Isso aqui não é pro seu bico, não. Vai procurar algo que te sirva lá no MR! Não sabe o que é MR? Raimundo Marreteiro, Mané! Aquele cearense na barraca de camelô, ali do outro lado da rua. Hehe

...

Opa! Boa tarde, gostosa. Tá gostando do que vê? Isso, dá uma voltinha, olha só esse corpaço, barriguinha de tanque, bíceps perfeitos... Hein? Hein? Me leva pro teu hangar, avião. Isso, vai lá, conversa com a Sandrineide.

...

Sabia que você ia voltar. Vai, Sandrileide, tira o cinto, assim... Vai, abre o zíper. Que gostoso... Ué, vai tirar minha calça aqui mesmo, na frente desse povão todo? Safadinha...

Ô! Volta aqui! Devolve minha roupa! Socorro! Segurança! Pega essas duas aí!

...

Cole, Zoaldo? Me larga, cara! Não! No depósito não, Zoaldo. Me larga, cara! Só porque você é maior que eu? Me põe no chão, camarada, por favor, por favor...

Vai me deixar aqui, Zoaldo, sozinho nessa sala escura, úmida e mal cheirosa? Faz isso comigo, não. Tenha piedade.

...

Droga! Essa vida de manequim de loja é um saco!

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