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domingo, julho 31, 2011

Políticos, muito salário para pouco trabalho

PartidosPolíticos

Recebo convite para fazer parte de um grupo que reivindica a redução dos salários dos políticos, logo em seguida leio no Jornal do Brasil a notícia de que 20 novos partidos pedem registro no Tribunal Superior Eleitoral.

Passei a pesquisar a quantidade de partidos políticos, o salário médio de um parlamentar e comparar com o tamanho da economia de alguns países, tentando achar uma relação que ligue esses três fatores ao desenvolvimento sócio-econômico dos diversos lugares, mas não foi possível determinar com clareza essa interdependência.

Na França, que conta com 19 partidos políticos, um parlamentar ganha o equivalente a 16 mil reais mensais; a Dinamarca conta com 6 partidos e cada parlamentar recebe 13 mil reais; o Japão tem apenas 5 partidos e cada parlamentar tem salário de 28 mil reais; o deputado sueco tem salário de 14 mil reais e o país conta com 14 partidos; o deputado americano tem vencimentos na ordem de 23 mil reais e o país tem 76 partidos, com a diferença de que muitos desses partidos são estaduais, não têm, portanto, atuação nacional. Os partidos Democrata e Republicano, aqueles dois de que o mundo ouve falar, são os dois com representatividade em todos os estados da confederação; a Inglaterra, o país sem constituição federal, tem apenas três partidos políticos e, embora seja uma das maiores economias mundiais, cada parlamentar recebe 14 mil reais mensais. O Brasil conta com 27 partidos oficializados e tem salário médio de R$ 26.723,00.

Será que somos tão mais ricos que os mais ricos? Nossos parlamentares trabalham mais e melhor que os parlamentares dos campeões econômicos mundiais para justificarem ganhos tão mais altos? Óbvio que ambas as respostas são “não”. Por outro lado, esses senhores que dizem nos representar têm a liberdade de determinarem seus ganhos (não só os salários, mas todos os penduricalhos extras adicionados ao salário básico, como verbas de representação, auxílio moradia, transporte, décimo terceiro, décimo quarto e décimo quinto salários, “auxílio paletó”, previdência parlamentar e sabe-se lá quantas outras mordomias), suas punições, seus muitos direitos, suas atribuições legais...

Se todos fôssemos iguais perante a lei, como determina a Constituição Federal, cada trabalhador teria o mesmo direito de determinar quanto a empresa em que trabalha deveria pagar-lhe ao final do mês. Ou, o que seria melhor, nossos parlamentares deveriam seguir o regime determinado pela Consolidação das Leis do Trabalho, seus descontos fiscais e obrigações de carga horária.

Neste momento, em plena crise por que passa a economia americana, em busca de uma solução para a economia do país e, consequentemente, a salvação da economia mundial, os deputados e senadores americanos fazem serão, sábado, domingo e quantos dias forem necessários, em busca de uma proposta positiva para o país. Já os nossos representantes legais (não significa isso que sejam representantes de fato), ausentam-se todas as segundas-feiras, não comparecem ao Congresso nas sextas-feiras, presenteiam-se com férias e recessos, que são férias com outro batismo, duas vezes ao ano, faltam quando querem porque sabem que não terão as faltas descontadas nos vencimentos... Enfim, agem como donos da empresa e não empregados de todo e cada cidadão da nação.

Já ouvi muitas vezes e, se bobear, também já disse isso: o dia em que eu estiver na lona, sem dinheiro e sem perspectiva, crio uma igreja, um sindicato ou um partido político. Essas três instituições contam com as benesses da lei, a complacência da justiça e os beneplácitos que o Poder Executivo dá àqueles que podem ajudá-lo em questões espinhosas que por ventura aparecerem. Tirando as igrejas, pelo menos as sérias e seculares como a Católica, a Batista, a Presbiteriana, a Adventista, a Seicho-No-Ie e mais algumas poucas, as outras duas agremiações – Partidos e sindicatos, que nadam mais são do que parte do braço arrecadatório dos partidos e seus figurões – tornaram-se balcões de negócios escusos e inconfessáveis. Seus componentes, via de regra, fazem mais dinheiro com suas atividades paralelas e “para-legais” – para não dizer criminosas – do que com o próprio salário, salvo aqueles poucos honestos ou sem poder de regatear, não merecem, portanto, mais do que uma ajuda de custo para dedicarem-se à vida político-partidária ou sindical.

O país paga caro para se deixar lesar.

 

©Marcos Pontes

terça-feira, julho 26, 2011

Dos sindicatos aos ministérios, o roubo

transporte-coletivo

Onde as máfias sempre brigaram, volta e meia com assassinatos registrados, é nos sindicatos ligados ao transporte urbano. Os casos mais notórios ocorrem, volta e meia, em São Paulo, como o assassinato de Sérgio Ramos, do Sindicato dos Motoristas em Transporte Rodoviário Urbano de São Paulo, em outubro de 2010 (vídeo), depois de ameaças a outros dez componentes da diretoria do sindicato; o assassinato de Jair Donizeti de Paula Assis, presidente do Sindicato dos Transportes Alternativo de Mogi das Cruzes, em fevereiro de 2004; assassinato de Paulo Roberto Colombiano dos Santos, tesoureiro do Sindicato dos Rodoviários de Salvador, em junho de 2010; assassinato de José Carlos da Silva, do mesmo sindicato de Sérgio Ramos, em novembro do ano passado.

Não são raros também os casos de fraudes em sindicatos e empresas, públicas e privadas, atuantes na área dos transportes: perueiros piratas no aeroportos de Confins, em BH; fraudes na licitação de radares no RS; fraude nos bilhetes gratuitos de idosos, em SP; fraudes no sistema de transporte alternativo, no AM; “anistia” de multas no Ciretran de SP; venda de CNH no Ciretran de Itapevi; fraude no Detran do RJ.

Esse tipo de safadeza acontece em todos os estados, nuns mais, noutros menos, mas o mal é epidêmico e nacional.

Bom, diriam os que não se ofendem com essa roubalheira a varejo, mas isso acontece desde que inventaram o transporte no Brasil, nada tem a ver com as recentes “suspeitas”, como gostam os politicamente corretos, de falcatruas quilométricas recentemente reveladas no Ministério dos Transportes.

Continuemos, pois, em nosso rápido e magro dossiê, um degrau acima das canalhices das ruas.

Nove delegados investigados por fraude em licitação; irregularidades no uso do DPVAT; desvio de verbas no Detran-RS; desvio de verbas no Detran-DF; fraude em licitação de estrada de ferro no Amapá; roubo de verbas do DNER em Tocantins; Operação Gautama e corrupção nas estradas; os aeroportos também sofrem com a corrupção há anos; e, por incrível que pareça, em 2007, Pagot falava em combater corrupção no Denit. Nesse tópico também o que não falta, para a infelicidade do contribuinte e esvaziamento do erário, são notícias e fontes de pesquisa.

Deduz-se, então, que, em se tratando de transporte o que não falta é corrupção, desvio de verbas, negócios ilícitos. No governo anterior a ANAC foi alvo de incontáveis denúncias e não se pode esquecer dos policiais rodoviários federais e fiscais das receitas estaduais que fazem vistas grossas em troca de alguns trocados para excesso de cargas, mercadorias sem notas fiscais, carros roubados ou com alguma irregularidade física ou documental, tráfico de drogas, armas, bebidas, cigarros ou mercadorias estrangeiras.

Se os sindicatos são antros capitaneados por ex-profissionais que entram na política classista e colocam entre seus negociantes bandidos das mais diversas especialidades, ministérios e secretarias estaduais e municipais são dirigidas por amigos e correligionários dos chefes dos Executivos que também montam esquemas criminosos sem sequer o pudor de manterem seus familiares afastados de suas sujeiras. Basta ver os filhos, irmãos, esposas e outros parentes compondo as quadrilhas.

A devassa que ora ocorre no Ministério dos transportes é apenas um carnavalzinho para mostrar à mídia e, por extensão, os cidadãos-palhaços-contribuintes, algo de sério e saneador está sendo feito, que a moralidade está vencendo a guerra contra o roubo constante. Gatos escaldados, como este que lhes escreve, não crêem.

Como a safadeza não está apenas no Ministério dos Transportes, ainda mais em tempos petistas, é de se imaginar o panavueiro em que outros ministros se meteram e transformam suas pastas para esconder o que ocorre de podre no reino da Dilmamarca. Muita gente escondendo os podres e fazendo de conta que se preocupam.

 

©Marcos Pontes

sábado, julho 23, 2011

Educação é a saída. E daí?

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Educação, esta é a saída e todos sabem disso desde tempos imemoriais. Sempre se soube que quem detém o conhecimento tem o poder, talvez e provavelmente por isso ela jamais foi prioritária, a não ser nos discursos de campanha.

Para doenças crônicas, remédios amargos. No governo FHC criou-se o PDV, Programa de Demissão Voluntária, que visava desinchar a máquina, a começar pelo Banco do Brasil e estendido a outras estatais e empresas de economia mista. Retiravam-se da ativa funcionários descontentes, ineptos, cansados pela repetição da rotina (desculpem, mas a redundância aqui se aplica). Através de prêmios pecuniários, afastavam-se quem não mais produzia e a informática ajudava a cobrir a diminuição dos quadros. Bom, funcionou até o governo assumir a presidência e os cargos foram preenchidos “emergencialmente” por “companheiros” despreparados, mas aí é outra novela de quinhentos capítulos.

Programa semelhante ao PDV seria minha proposta para a educação pública. Estados, municípios e União poderiam oferecer prêmios, como um ano de salário e mais todos os direitos trabalhistas para quem desejasse se afastar das salas de aula. Aqueles desestimulados que persistissem, por insegurança ou pela facilidade de ganhar sem trabalhar, que fossem afastados das salas de aula e colocados em serviços burocráticos, cantina, secretaria, biblioteca, zeladoria, o que fosse, mas longe da educação formada das crianças e adolescentes.

O segundo passo seria ir às portas das universidades contratar, com salários maiores e melhores condições de trabalho, jovens cheios de gás, dispostos a trabalhar de verdade e sem a terrível estabilidade. Ao fim de cada ano os professores seriam avaliados e aqueles que não cumprissem metas seriam enviados a recapacitação, teriam uma segunda chance. Na terceira reprovação, seriam definitivamente afastados.

Seria um programa caro, demorado e controverso? Sim, seria, e talvez nem tivesse o resultado que eu e os pais e cidadãos preocupados com a má formação dos nossos jovens desejamos que fosse alcançado, mas seria uma chacoalhada na mesmice, na inoperância e na falsificação de índices oficiais.

Japão e Coréia são exemplos citados à exaustão no que se trata de investimento em educação e lá também não foi fácil e nem barato, mas o resultado todo o mundo conhece, os dois países tornaram-se referencial em educação e potências econômicas que tremem de vez em quando, mas não quebram.

Os jovens professores seriam a garantia de melhoria na qualidade? Talvez não. Há poucos dias tive uma discussão com um professor de história (ah, sempre os vermelhinhos...) que alegava que não se pode aprender história através de vídeos. Um outro nega a Bíblia não apenas como guia religioso, algo que respeito, é um direito dele, mas também como documento histórico. Um sujeito que não reconhece todas as referências a costumes, personagens, geografia, organização política e tudo o mais a que a Bíblia se refere jamais daria aula a um filho meu. E, como disse antes, nem são senhores velhos e desestimulados, mas dois jovens com menos de trinta anos. Num programa como o que proponho corriam o risco de serem jubilados, mas não invalidam a idéia da proposta. A jubilação de professores levaria, ou deveria levar, à reestruturação também do ensino de terceiro grau e formação de professores. A partir do ensino fundamental a reforma qualitativa poderia chegar à pós-graduação.

Chega de casuísmos populistas, como a proposta inconstitucional de Cristóvam Buarque de obrigar homens públicos a matricularem seus filhos em escolas públicas. Não conheço a família do Buarque, mas fica a pergunta: se ele tem filhos, esses filhos estudaram em escolas públicas? Hummm...

Chega de cotas, de ENEM ideológico, de ENADE desrespeitado e todos os artifícios e artimanhas que a esquerda vem experimentando sobre nossos jovens sem resultados palpáveis. Chega de currículos politicamente corretos e escolas sucateadas. Chega de professores faltosos, diretores coniventes e fiscalização capenga. Chega de educação politizada em favor de prefeitos, governadores, deputados e presidentes. Procure nos jornais ou na memória nomes de homens e mulheres eu tornaram-se boas referências em suas áreas, seja política, científica ou empresarial, faça uma pesquisa e veja em que tipo de escola estudaram. Aposto dez contra um que a maioria vem de escolas conteudistas e tradicionais, sem essas invenções experimentais construtivistas, Nova Escola e sabe-se lá quantas outras mais. A vida não vive de modas e o sucesso está diretamente relacionado ao conhecimento e não à habilidade em tocar tambor, trançar drads nos cabelos, tatuagens, peladas em campo do bairro, endeusamento de personalidades duvidosas e politicismo correto.

 

©Marcos Pontes

sexta-feira, julho 22, 2011

Insegurança Jurídica, um câncer

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Os problemas nacionais brasileiros são muitos, mas nenhum realmente de origem econômico. O que nos trava são problemas de cunho moral, ético e educacional, que não deixa de ser moral e, numa simbiose, alimentam-se.

A insegurança jurídica, calcada na falta de visão a longo prazo (imediatismo a despeito da moral), no despreparo de nossos legisladores (educação) e na visão eleitoreira que leva aos casuísmos (ética), vivemos sempre na ponta da baioneta.

Para se abrir um pequeno comércio, por exemplo, são tantas as legislações existentes, tantas taxas e impostos, tantos órgão, da Receita Estadual, passando pelo alvará municipal, até a Receita Federal e, dependendo do tipo de negócio, Estudo de Impacto ambiental e consequente Relatório de Impacto Ambiental. Esse imbróglio legal não seria tão nocivo se houvesse constância, não é assim, porém.

Na ânsia de arrecadar mais e mais e devido aos interesses fisiológicos e corporativistas, políticos, partidários e ideológicos colocados à frente dos interesses populares, vê-se aumento de IOF, redução de IOF, guerras fiscais entre estados e a conivência ou inoperância do governo federal que não estanca essas disputas, discussões sem fim sobre onde deve ser cobrado o ICMS, se no local da venda ou no da entrega, na dúvida, cria-se uma nova legislação cobrando em ambos os lugares, numa flagrante agressão à Constituição Federal, mais uma, que proíbe a bitributação; um governo incentiva o consumidor a comprar e endividar-se para que, poucos meses depois seu sucessor pregue o fim do endividamento e dificulte o crédito para que a inflação não suba; taxam-se os gastos em cartões de crédito no exterior e, numa tentativa populista, diminui-se virtualmente a quantidade de taxas e cobranças nos cartões de crédito nacionais...

Nessa ciranda legal, entre 1985 e 1994, por três vezes fomos dormir com uma moeda e acordamos com outra. Apenas no Plano Real a mudança foi paulatina, preparando a população homeopaticamente. Baixada a Medida Provisória pelo então presidente Itamar Franco criando a nova moeda, caberia ao Congresso Nacional discutir, aprovar e regulamentar o despacho presidencial, o que não ocorreu até hoje. Do ponto de vista puramente judiciário, nossa moeda não existe oficialmente, o que é coerente num país em que a metade da produção e da mão de obra são informais, portanto, nada mais justo do que uma moeda informal.

Fala Paulo Eduardo de Figueiredo Chacon, em seu artigo O princípio da segurança jurídica, (...) temos que o Princípio da Segurança Jurídica se encontra intensamente relacionado ao Estado Democrático de Direito, podendo ser considerado inerente e essencial ao mesmo, sendo um de seus princípios basilares que lhe dão sustentação. (...)Não é de se espantar que a população insurja-se contra medidas que a priori prejudiquem seus direitos fundamentais, pressionando o Governo para que sejam mantidos seus direitos adquiridos, acarretando um verdadeiro clamor público pela observância dos princípios que norteiam o Estado Democrático. (...)Nesse passo, temos que o Princípio da Segurança Jurídica se encontra intensamente relacionado ao Estado Democrático de Direito, podendo ser considerado inerente e essencial ao mesmo, sendo um de seus princípios basilares que lhe dão sustentação.

Somos vítimas constantes do despreparo de nossos legisladores, do seu descompromisso com os anseios populares, com sua falta de visão de país a longo prazo, prendendo-se na urgência e não no planejamento.

Já faz parte da cultura legislativa brasileira primeiro aprovar leis, decretos e medidas provisórias, medidas emergenciais, para depois analisar se são aplicáveis, se são justas e, até mesmo, se são constitucionais. Os juízes mesmos não concordam, via de regra, com as leis baseadas nas quais devem embasar seus julgamentos, o que seria normal, mas que torna-se grave à medida que os casos repetem-se sucessivamente, seja pela vontade pessoal dos meritíssimos, seja pela redação primária dos legisladores.

E aí vemos jornais reproduzindo os releases da comunicação social do governo celebrando a grande entrada de moedas estrangeiras no país, como se esse fluxo de capital se devesse pela segurança de nossa indústria e comércio, sendo, de fato, apenas dinheiro especulativo em sua maior monta. O dinheiro vem do exterior por conta de nossos juros altos, não para ser aplicado na produção, educação ou infraestrutura. Ao primeiro sinal de susto, como uma revoada de pombos, esse capital virtual volta aos bolsos de seus donos, deixando os nativos pindoramenses perdidos diante de suas leis que vão e vêm, numa eterna ciranda de insegurança.

 

©Marcos Pontes

sábado, julho 09, 2011

GV, JK, FHC E O INOMINÁVEL

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O brasileiro adora rankings, disputas subjetivas, comparações muitas vezes esdrúxulas, como “quem foi melhor, Pelé ou Garrincha?”, “quem trai mais, o homem ou a mulher?”, ”o que é mais gostoso, chocolate ou pizza?”. Para incentivar essas discussões vazias há sempre um jornalistazinho pé de chinelo ou algum programa televisivo sem conteúdo. Umas dessas comparações recorrentes é sobre quem foi o melhor presidente que o Brasil já teve. Como é um país de povo com memória curta, o debate está entre FHC e o inominável, mas ainda há quem lembre-se do passado ou conheça, um pouquinho mais do que a média, nossa história e inclua dois outros nomes: JK e Getúlio.

Sem querer comparar FHC a JK ou Vargas ao inominável, alguns paralelos podem ser feitos, principalmente nas posturas de estadistas ou populistas. Os dois primeiros podem ser enquadrados na primeira categoria, enquanto os dois últimos são, indubitavelmente, exemplos bem acabados da segunda. Não é à toa que o inominável comparou-se a Getúlio por mais de uma vez.

Uma coisa FHC, JK e GV têm em comum: mudaram o país com visão a longo prazo. Juscelino só é lembrado por ter construído Brasília, mas teve atuação decisiva na formação do parque industrial brasileiro, abrindo a economia para o capital estrangeiro, o que permitiu a instalação da indústria automobilista, com a implantação da Volkswagen, Willys, Ford e General Motors. No rastro da industrialização, houve um crescimento qualitativo e quantitativo dos ensino técnico. Apoiado nas realizações trabalhistas herdadas de Getúlio Vargas, com a CLT, o salário mínimo, a Justiça do Trabalho, a semana de trabalho de 48 horas, acabando de vez com a escravatura, JK colocou o Brasil, mesmo que ao preço de um endividamento externo monstro, virado para o futuro. Preparava o país a acabar com a miséria embasado na força de trabalho e realizações do homem brasileiro. Antes que alguma feminista politicamente correta chie, ao falar de “homem”, me refiro a homens e mulheres, à espécie e não ao gênero.

FHC também olhava para a frente, como um estadista. Cometeu erros? Claro que sim, assim como GV e JK também, e não foram poucos. Havia corrupção em seu governo? Sim, havia, como há no Brasil desde a chegada de Cabral. Mas, na essência, mesmo que com visão esquerdista, tentou-se preparar o país para o futuro, para andar para a frente, sair do marca-passo em que nos enfiamos nos anos 80, a conhecida “década perdida”. E o país cresceu. Não tanto quanto deveria ou desejávamos, mas cresceu. Melhor, com os pés no chão, sem a porralouquice do Brasil Grande dos generais e sem o aumento da dívida externa.

Se o inominável gabou-se da autosuficiência do petróleo, isso deveu-se ao investimento seguro e paulatino na pesquisa e na prospecção do governo anterior. Se o inominável fez a propaganda mentirosa de que acabamos com a dívida externa ao livrarmo-nos do FMI – e aí caberia uma longa explanação do que realmente aconteceu e o preço disso na explosão do endividamento interno, o que levaria a outro texto – isso só foi possível graças à estabilidade da moeda e a Lei da Responsabilidade Fiscal aprovada pelo governo tucano e que o governo petista tantas vezes tentou anular, até que desistiu pelo meio político e simplesmente a rasgou sob as vistas grossas do Legislativo e do Judiciário.

O governo tornou-se popular calcado na mentira, na esmola social, no que difere diametralmente dos três governos anteriores aqui citados. A tão decantada geração de empregos, com mais de 12 milhões de vagas preenchidas nesses oito anos e meio também é fruto de manipulação de números, um outro tema que sozinho merece um enorme texto, mas, apenas para argumentar, vagas temporárias e serviço militar passaram a ser considerados empregos nas contabilidades petistas.

O atual governo mantém a mentira. A ministra chefe da Casa Civil tornou-se celebridade no Senado justamente por saber expressar números mágicos ao defender o governo em seus discursos, função muito bem desempenhada pelo seu marido e por Henrique Meireles na administração anterior.

Se GV, JK e FHC olhavam para além da montanha, os petistas olham somente até a próxima urna, isso se, em seu autoritarismo disfarçado, não resolverem acabar com as urnas.

 

©Marcos Pontes

quinta-feira, julho 07, 2011

Brasil, um país proibitivo

corrupção
Dois são os principais motivos de pagarmos impostos suecos e recebermos em troca serviços bolivianos: a total inépcia de nossos administradores e a corrupção.
No segundo governo de FHC, quando pensávamos como Tiririca, “pior do que está não pode ficar”, a Anistia Internacional divulgou um relatório em que concluía que a corrupção é endêmica e generalizada no Brasil. Ficamos todos ofendidíssimos. O Ministro da Casa Civil reclamando dos critérios das pesquisas, o presidente falando em desconhecimento da realidade nacional e a oposição, inclusive a petista, reclamando da visão imperialista daquele organismo. Passados dez anos, ficamos com a impressão de que a A.I. vira apenas a ponta do iceberg.
Já no primeiro ano do governo ex-impronunciável, a roubalheira dos companheiros começou a pipocar, fosse nas centrais sindicais, fosse nos ministérios e até mesmo nas campanhas do próprio PT, que aprimorou as táticas de Paulo César Farias, mas não ao ponto de esconder as pontas da meada dos desvios de verba, de moral, de ética e de conduta.
Dos juízes de primeira instância ao presidente do Supremo tribunal Federal, dos secretários de pequenos municípios aos ministros, dos vereadores mais insignificantes aos senadores mais proeminentes, em todos os setores da vida pública a roubalheira está presente. Escândalos são revelados, outros, pela desimportância política de seus atores são apenas ventilados nas mesas de botecos, dia após dia. O cidadão pode, antes de desejar bom dia à esposa, perguntar qual é o flagrante do dia.
Uma década após o relatório da Anistia Internacional, outros relatórios foram publicados, o último de que tive conhecimento estima que 62 bilhões de reais são furtados a cada ano dos cofres públicos, dinheiro mais que suficiente para zerar o déficit de moradias de todo o país, calculado em 13 milhões de residências, ou de sanear e ampliar os hospitais públicos, ou de cobrir o rombo da previdência social. Dinheiro maior que os orçamentos anuais de Maranhão e Piauí juntos. Melhor dizendo, mais que quatro vezes a soma desses dois orçamentos. É dinheiro que nem ladrão acaba, a não ser que seja petista.
Pior, todos eles, os administradores dos três poderes da República, sabem onde estão os ralos, mas poucos, ou quase nenhum, deles faz qualquer coisa para impedir a sangria. Ou se vendem aos esquemões ou calam-se esperando as migalhas que cairão em seus colos em troca do silêncio. E quando a imprensa, os detetives sem poder, retiram o tapete mostrando o lixo encoberto, políticos de todos os matizes e corporações fingem-se de indignados, uns pedem investigações profundas enquanto outros fazem esforços fenomenais para blindar os partidários envolvidos. Na outra ponta da corda, o Judiciário finge que processa e deixa caducar os prazos ou, descaradamente, absolvem os acusados “por falta de provas”. Financiando a corda resta a indignação muda dos contribuintes palhaços e financiadores da farra.
E aí ouvimos discursos de corte de gastos. Mas como cortar o que já não existem em quantia suficiente, como na Educação, na Saúde e na infraestrutura? Por conta da safadeza dos que nos roubam, ficam 200 milhões de pessoas sem os serviços essenciais, sem a assistência médica já paga, sem rodovias seguras, sem segurança pública, entregues às orações ou simplesmente fadados à morte desassistida.
O pouco que resta para ser usado no que a população precisa para viver com dignidade, é mal empregado. Um exemplo recente da incompetência de nossos legisladores é a proposta da senadora baiana Lídice da Mata, petista, PSB, esquece-se ser representante de um estado corroído pela má administração socialista, preocupa-se mais em trocar o nome do aeroporto da capital do que propor soluções para a crise financeira mal disfarçada por que passa a Bahia, a ponto de perder a fábrica da Azaléia, instalada em Itapetinga, para a China, como aconteceu com a Grendene gaúcha. Com seis meses de mandato, este foi o único projeto apresentado pela senadora. E assim agem seus pares, mais preocupados com o corporativismo partidário e com as picuinhas políticas paroquianas do que com as grandes questões de seus estados e nacionais, por conseguinte.
Adaptaram o ditado popular “uma mão lava a outra” para “uma mão suja emporcalha a outra”. E assim o custo Brasil, alimentado pelos impostos escorchantes e pela corrupção endêmica e generalizada, torna nosso país proibitivo, atraente apenas para especuladores internacionais que fazem fortunas com nossos juros estratosféricos, mas com o dedo pronto para apertarem o “delete”, retirando seus dólares de mentirinha ao menor sinal de perigo de viés em seus lucros. E a bolha incha...

©Marcos Pontes

sábado, julho 02, 2011

Itamar: morre uma era, sobrevivem os ratos

Itamar

“Folheando” as páginas do Senado percebi que restam uns três ou quatro que sabem exatamente o que é ser senador, quais suas atribuições legais e seus compromissos constitucionais. A maioria está para negociar e alguns apenas eram suplentes sem votos que assumiram por este ou aquele motivo. De todos, apenas um é dos tempos em que a proporção era inversa, quando a quase totalidade tinha compromissos com a legalidade, mesmo que em período de exceção, Pedro Simon.

Como não gosto da política atual, solitária e boquirrota de Simon, todos podem não gostar de um ou outro ou de todos, mas foi-se o tempo em que havia Paulo Brossard, Jarbas Passarinho, Saturnino Braga, Marcelo Alencar, Marco Maciel, Teotônio Vilela, Franco Montoro, Gustavo Capanema, Mauro Benevides, Ney Braga, Nelson Carneiro, Virgílio Távora e tantos outros, inclusive o duplamente imortal Sarney, que deixou a legislação de lado para dedicar-se a negócios, tanto que raramente assume a cadeira de presidente durante as seções da casa.

Itamar foi o último de uma dinastia. Afastou-se dos cargos eletivos por um tempo na geladeira das embaixadas, longe das loas e críticas, amordaçado por um cargo em que não tinha voz ativa nos jornalísticos diários.

Sérgio Cabral vai à televisão e diz que Itamar “era um político antiquados, com hábitos arraigados, mas com quem sempre havia um bom diálogo”, logo em seguida elogia seu bom caráter e sua honestidade. Fiquei aqui matutando com meus botões... Hábitos antiquados e arraigados são os mesmos bom caráter e honestidade, uma vez que Cabral colocou tudo na mesma frase? Provavelmente, sim. Me dou a liberdade de reescrever a frase do governador fluminense: “Itamar era um velho ultrapassado que colocava o bom caráter e a honestidade como valores, coisa que não temos o hábito de fazer hoje em dia”.

Logo em seguida vejo o mais novo imortal da ABL, Merval Pereira, entre gaguejos, típico de quem procura as palavras certas para não se trair, cometer o mesmo ato falho de Cabral: “Itamar era... hã... um político exótico... há... quer dizer... tinha jeito próprio de fazer política... hããã... honesto...”. Como é que é, seu imortal? Honestidade é exotismo?

Esses são os novos valores da república, unindo as vozes de Cabral e Merval, a dupla sertaneja: ser ético, bom caráter e honesto é exótico, antiquado e ultrapassado. Tudo a ver com a nova república vermelha.

Morre uma era, a dos bichos exóticos, aqueles com personalidade e não mimetismo. Extinguem-se os animais éticos e que tinham como a palavra de honra seu bastião. Desaparecem os bichos estranhos que mantém suas posições até serem convencidos do contrário com argumentos e não com cargos e/ou dinheiro. Na floresta senatorial, os mais fortes, confirmando a comprovação darwiniana, sobreviveram, entre eles, Sarney e Simon, as duas vozes respeitadas, um pela força da taca, outro pela senilidade, que com sua flauta mágica conduzem os ratos em seu rastro.

 

©Marcos Pontes

sexta-feira, julho 01, 2011

Multidão de sós

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Quando eu já era ninguém – é, sou ninguém desde menino – a professora Suzana, numa aula de Educação Moral e Cívica ensinou que o ser humano é um animal gregário. Por questões freudianas que não cabem aqui, me senti excluído, não me sentia parte de qualquer grupo, nem mesmo dos alunos daquela classe.

Mais tarde, já fazendo parte de um pequeno grupo de teatro, Cláudio Barradas, meu tutor intelectual, ensinou que somos estatutários. Se estamos andando pelas ruas, somos pedestres; se estamos num ônibus, somos passageiros; se estamos no palco, somos atores.. Estamos sempre seguindo alguma regra grupal. Percebi ali que a professora Susana estava certa.

Meu pai ensinou a seguir regras e leis e sempre zelei pelos estatutos que tinha que cumprir, uma vez que os aceitava tacitamente ao me agrupar a uns iguais de vez em quando.

Aí aprendi empiricamente que participar de um grupo, categoria ou classe não faz de nós iguais. As características comuns apenas ajudam a expor as individualidades. Vidinha cheia de contradições, vielas e becos, armadilhas e caminhos pavimentados.

Crises existenciais à parte, observo a necessidade dos humanos bichos gregários de sentirem-se incluídos. Essa necessidade também é percebida pelos criadores das redes sociais modernosas. Não há mais tertúlias literárias, grupos de estudos ou festinhas regadas a bebidinhas feitas a facão nas pias desarrumadas de adolescentes, a reuniões dão-se à distância. O brasileiro, sujeito aparentemente mais sociável do planeta, adora essas reuniões internéticas. Não é à toa que Orkut, Twitter, MSN, Facebook e a já tão procurada Google+ fazem tanto sucesso por aqui, ao que parece, mais do que em qualquer outro país.

E lá estou eu, enturmado, embora papeie pouco, reconheço. Leio os meus pares, particularizo uma conversa ou outra e envio mais do que respondo ou recebo mensagens e venho tentando aprimorar minhas análises empíricas sobre as personalidades de meus interlocutores. Até anônimos tenho aceito em minhas relações cibernéticas ferindo meus princípios de rejeitar quem não se expõe. E esses têm substantivo próprio, não são mais anônimos”, viraram “fakes”.

Fakes, anônimos ou declarados, quase todos utilizam-se das redes sociais para se enturmarem, trocarem idéias, relacionarem-se com os que têm os mesmos gostos, ou vontades, ou aspirações políticas, prazeres musicais ou estilos de vida ou de moda. Mesmo agrupados, brasileiros gostam do contato físico e marcam seus encontros orkutianos, tuiteiros ou facebookianos. A internet tornou-se ponto de encontro que terminam tornando-se físicos.

Há uma necessidade enorme de comunicar-se. Todos têm algo a dizer, mesmo que seus ditos sejam interessantes apenas para alguns.

Encontros em botecos e pizzarias ampliaram-se e surgem as “marchas”, a moda do momento.

Marcha de maconheiros, marcha de gays, marcha de opositores e de situacionistas, marcha disso e daquilo, e tome marcha!

Movimentos são criados e desaparecem na mesma velocidade.

Politicamente, há um descontentamento de milhões que não engolem nosso atual governo. Batemos panelas on-line, mas não fazemos nossa marcha. Fazemos tuitaço, mas não panelaço. Somos barulhentos no conforto da cadeira em frente ao computador, cada um gritando por teclas, boca fechada; fazendo passeata em bytes e reclamamos uns dos outros porque não saímos às ruas. Os outros não vão protestar em frente aos palácios, os outros não vão afrontar as autoridades nas Câmaras, Assembléias e Senado, os outros são passivos e pacíficos demais, os outros não se mexem... Nesse nosso inconformismo reclamamos dos que recebem bolsas sociais, mas eles não diferem muito de nós que também ficamos esperando que os outros façam o que gostaríamos que fosse feito, apenas não recebemos esmolas oficiais, pelo contrário, as repudiamos.

Nesse momento há convocações para marchas de protestos contra os descalabros praticados por nossos políticos situacionistas e a conivência de nossos políticos oposicionistas, mas quantos de nós irão às ruas na dota e hora marcada para nos agregarmos de verdade?

Nos orgulhamos, nos parabenizamos por termos ajudado a forjar a Lei dos Fichas Limpas, mas parece que não aprendemos de verdade que podemos muito se o agregamento for de fato e não apenas por 140 caracteres que a velocidade, o vazio e a distância dissolvem no ar.

 

Tema sugerido pelos amigos @MegLon e @arykara. Grato.

 

©Marcos Pontes