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terça-feira, janeiro 31, 2006

"Para bom bebedor meia garrafa basta."




Tem texto meu na Gueixa hoje.


Pássaros brasileiros


História de Passarinho


Oi, eu sou a Thaisinha. A tia mandou nós escrevermos uma redação sobre a ecologia, nessa volta às aulas, aí eu resolvi falar de passarinhos.

O passarinho é um pássaro pequenininho.

O pássaro é um bicho de penas, como um cocar de índios.

O cocar tem penas, mas não voa.

Tem pássaro que também não voa, como a ema.

A ema é o primo pobre do avestruz. O avestruz é da Austrália, que é um país rico, por isso o avestruz é rico, até as penas do avestruz são caras. A ema é brasileira, por isso ela é pobre. Ninguém compra penas de emas. Além disso ema é uma palavra feminina, enquanto avestruz é masculina. No mundo todo os homens ganham mais dinheiro que as mulheres, talvez esse seja outro motivo da erma ser mais pobre que o avestruz.

Todo o mundo conhece o avestruz, mas nem os meninos brasileiros conhecem a ema, a não ser os meninos que conhecem o Palácio do Alvorada, onde mora o presidente do Brasil. Tem um monte de emas pelo gramado do Palácio do Alvorada.

Os passarinhos são bonitinhos. Tão bonitinhos que os ricos dos países ricos, como os países da Europa, gostam de comprar passarinhos.

Na Europa as pessoas ricas adoram o canto e as cores dos passarinhos brasileiros. Aí, uns homens maus do Brasil caçam um monte de passarinhos do Brasil para venderem para os ricos europeus.

Os homens ricos da Europa que compram os passarinhos brasileiros nunca são presos, mas os homens maus do Brasil que vendem os passarinhos brasileiros para os homens ricos da Europa, quando são descobertos pela polícia, são presos.

Mas eu conheço um policial brasileiro que tem um monte de passarinhos presos em gaiolas no sítio dele.

É ruim os homens ricos da Europa não serem presos, mas é bom os homens maus do Brasil serem presos. Quando os homens maus do Brasil são presos, eles ficam em gaiolas cheias de grades, como os passarinhos que eles prendem.

Seria bom também que os homens maus que derrubam árvores de madeira-de-lei do Brasil e mandam elas ilegalmente para homens ricos da Europa fossem serrados por moto-serras como as árvores que eles serram com moto-serras.

segunda-feira, janeiro 30, 2006

"Política é a arte de arrancar dinheiro aos ricos e votos aos pobres, com o pretexto de protegê-los uns dos outros."


Calor da porra!

Haja...


Se existe um santo padroeiro das modernidades e do bem-estar, esse cara está de greve por aqui.

Primeiro vem um caminhãozão e arrebenta o fio do meu telefone, o que me deixa 72 horas incomunicável, mesmo após a promessa de reparo de ATÉ 48 horas, firmado pela Telemar.

O lado bom é que tive bastante tempo para colocar em dia a papelada para o primeiro dias de trabalho depois da volta das férias. O lado ruim nõa é preciso comentar para um viciado em net, mesmo estando esse viciado meu sem paciência para a coisa. Só que não fica só a internet sem poder ser acessada. Como ligar para os amigos e para a família ou para alguém mais com quem se deseje? Celular tá caro, mas foi o jeito.

Tudo bem, telefone não é lá o mais urgente e necessário nesses dias de calor dantesco. Por outro lado, não foi a única coisa que me deixou na mão. O ventilador queimou. Nem pensar em conserto! Primeiro que é quase tão caro quanto um aparelho novo; segundo, o reparo levaria alguns dias para ser feito e sabe-se lá quantos outros para que o aparelho fosse entregue e só em pensar em dormir nessa fornalha já me faz suar. Não há mais nada o que se ponderar. Vai-se à loja e compra-se um novo, que deverá durar, pelo menos, até o próximo verão. Lá se foi uma graninha que não estava no orçamento.

Banho! Solução barata e imediata. Seria se o chuveiro estivesse funcionando. Segundo o bombeiro hidráulico (o mesmo seu Alício que já vos apresentei meses atrás) "entrou ar no encanamento". E não adianta fazer respiração boca-a-cano que o maldito ar não sai. Tudo bem, seu Alício, enfie essa bomba aí e retire e esse que o lugar dele é do lado de fora do cano. Mas antes de encontrar seus Alício, foram dois dias tomando banho de canequinho. Sem querer e sem prazer tive que voltar aos meus seias anos de idade, quando morava num lugar que tinha canos, mas faltava água neles, mesmo sendo a cidade banhada por um dos rios mais caudalosos do país.

De repente percebo um descongelamento estranho na geladeira. Apenas a parte inferior direita do congelador estava degelando. Desligo a geladeira da tomada e religo. Adivinhem... Não aconteceu nada, muito menos o que eu esperava que acontecesse: o motor funcionasse. O trambolho não funcionou. Lá ia mais outra grana evaporando no calorão.

No momento em que escrevo isso comemorando a volta à vida da linha telefônica, estou aguardanado o técnico que vai tentar ressuscitar meu refrigerador.

Se aqui a temperatura ambiente e a da minha cabeça aumentam, no banco o termômetro já beira o vermelho.

Por favor, alguém aí que tenha amizade com os santos, faz minha média com ele, por favor.

sexta-feira, janeiro 27, 2006

"Promessa é dúvida. Mas promissória é dívida."




Em pleno século 21, estou sem telefone há 24 horas porque um caminhão arrancou os fios... É mole ou quer molho?



Xilogravura e macaxeira, duas culturas
Macaxeira


Ói, dotô, pode comprá a macaxêra que é de premêra. O sin'ô num vai incontrá u'a macaxêra amarela mansa tão boa como essa nem aqui nem em Imperatriz. Essa macaxêra cuzidin'a com mantêga da terra e café preto num tem mió. O sin'ô come isso de mãiãzin'a e pega sustança pro dia todo. É essa macaxêra que me dêxa com sustança pa labutá na roça o dia todo, dotô, num preciso daquelas píulas de vitamina que o povo da cidade tá tumano que nem água pa pudê trabaiá e fazê ginásca. Ginásca pa mim e pa min'a muié é cabo de inxada, seu moço, e vitamina é macaxêra e jirimum que nóis mêmo prantamo na rocin'a que Deus dá. E a farin'a, afinal de conta nóis têmo um pôco de sangue índio tomém e índio num véve sem farin'a. E sabe de onde vem a farin'a, dotô? Dessa mêma macaxêra. Mai a macaxêra é que nem bamburrá no garimpo intrás de ôro. Demora muitcho até pudê cuiê. É una ano intêro de rega e cuidado com as largata pa pudê tê a raiz pa cumê. Purisso que carece fazê a farin'a, é p jitcho de tê macaxêra o ano todo. Mai mêmo sem tê macaxêra pa cumê, ainda ansim ela dá de cumê pa nóis. Sabe como, prefessô? As fôia! Num sabia, não? Apois num é? Nóis pega as fôia, um poquin'o de cada pranta pa mó de num matá ela, nóis pisa as fôia no pilão e cunzin'a sete dia e sete noite no calvão. Sabe pa quê? Pa cortá o veneno das fôia. O sin'ô sabia que o veneno das fôia da macaxêra mata inté boi? Apois nóis mata veneno cuziano as fôia. Adispois nóis tempera elas e põe uns pedaço de carne drento e cunzin'a mais inté a carne ficá mói. Sabe como é o nome disso, prefessô? Maniçoba, que nóis aprendeu com um povo lá do Pará. É bom dimais cumê cum farin'a. Intão, dotô, vai levá a macaxêra?

quarta-feira, janeiro 25, 2006

"Bebê é como um cachorrinho que você ensina a falar"

(Scrubs)




Tem texto meu no blog da Gueixa. O tema: relações familiares. Passa lá.


Não dá pra deixar barato


Gafe II


Desde que o Edvaldo me apresentou a Kátia, fiquei encantado por ela. Linda, inteligente, independente, trabalhadora... Mas não via nenhuma chance de ter qualquer coisa com a garota. Com todas essas qualidades e mais alguma impublicáveis, havia um canavial de machos sedentos a cercando com ofertas e insinuações. Nada coompetitivo como sou, me resignei a ficar de espectador.

Numa festa, porém, ela surpreendeu a mim e a toda aquela macharada. Me escolheu entre todos os demais me fazendo sentir-me um verdadaeiro Tom Cruise. A partir dali foram dois anos de namoro maravilhoso.

Aprendi, ainda guri, com o Vinícius de Moraes que quem tem "mulher pra mostrar ou pra exibir" é um babaca, mas não posso negar que ficava orgulhoso quando via todo mundo torcer o pescoço para nos ver passar.

Certo dia, levando-a para casa, passamos em frente a um bar onde estavam alguns desocupados, entre eles o Costinha (que não é nome próprio, mas apelido. Imaginem o tipo), um sujeito conhecido, mas de quem nunca gostara muito pelo seu pouco e defeituoso caráter.

Enquanto passávamos ouvi o comentário do calhorda para um de seus companheiros de copo:

- Como é que pode? Um mulherão desses com um sujeito feio como o Marcos...

Não sei se a Kátia ouviu e fiz de conta que eu também não ouvira. Deixei-a em casa, arrumei uma desculpa qualquer para ir embora e fui para o dito bar.

- Cícero, uma cerveja pra cada mesa por minha conta.

Os desocupados não entenderam nada, mas fizeram a festa.

Quando estavam todos servidos, propus um brinde:

- Às mulheres maravilhosas, aos feios sortudos que elas escolhem e aos babacas invejosos!

Paguei a conta e fui embora imaginando o quanto não deveriam estar me bombardeando pelas costas, mas satisfeito.

terça-feira, janeiro 24, 2006

O álcool é capaz de grandes metamorfoses. Ele faz você ir para a cama com a Malu Mader e acordar com a Marlene Matos.


Mico


Gafe I


Eu namorava com a Eliene, muito amiga da Lívia. Combinamos de nos encontrar para o happy-hour da sexta-feiranuma bazinho próximo à casa dessa amiga. Quando já estava saindo para o encontro, recebi um telefonema dela dizendo que estava na casa da Lívia num daqueles intermináveis bate-papos femininos e que me encontraria no bar.

Tudo certinho, fui ao bar e lá encontrei o Zé Carlos e o Mauro, velhos e bons amigos, que me convidaram para sentar com eles a uma mesa na calçada.

Um chopp para cada um e coversa vai, conversa vem, quando o Zé Carlos muda de assunto abruptamente:

- Ó Prali! Que mulher gostosa!

Eu e o Mauro nos viramos para ver quem era o alvo daquela baba toda. Na esquina, parada, olhando para o bar, estava a Eliene.

E o Zé Carlos continuou:

- É uma delícia! Hummm, tá olhando pra cá. Deve estar procurando alguém.

Eliene me viu e veio vindo, linda atravessando a rua.

- Tá vindo pra cá. Oba!, o Zé carlos se empolgando.

Chegando à mesa Eliene me deu um beijo com o indefectível "oi, amor".

Como se nada tivesse acontecido, na maior cara de pau, apresentei meus amigos.

- Esse é o Mauro e esse o Zé Carlos, que estava afim de te conhecer.

O Zé, crioulo quarentão, estava amarelo, sem saber onde colocar as mãos ou a cara desconcertada.

- Prazer. A senhora não que uma cadeira? Deseja beber alguma coisa? A senhora não quer um tira-gosto?

Eu e o Mauro caímos na gargalhada para aumentar o constrangimento do amigo e sob o olhar de quem não estava entendendo nada da Eliene.

segunda-feira, janeiro 23, 2006

Os psiquiatras dizem que: uma em cada quatro pessoas tem alguma deficiência mental... Fique de olho em três dos seus amigos. Se eles parecerem normais, o retardado é você!!


Confesse!


BBB BBB BBB BBB BBB e BBB


Me lembro de uma discussão que ocorria em relação a'Os Trapalhões quando eu era moleque. O programa passava aos domingos, antes d'O Fantástico. Os intelectualóides classe-média, espécime abundante na fauna urbana brasileira, falavam mal do programa, achavam o humor do quarteto sem profundidade, repetitivo, pichavam seus telespectadores de debilóides alienados e mais um tanto de adjetivos pouco elogiosos. Os Trapalhões, porém, eram um dos maiores índices de audiência da tv naquele tempo. Todos os jargões criados pelos humoristas eram repetidos nas escolas, nostrabalhos, nas conversas de botequim e até em outros programas.

O mesmo fenômeno se repete com os Big Brothers. Pouca gente admite queassiste, mesmo aqueles que negam sentar em frente à tv para assistirem àquele zoológico urbano, não conseguem deixar de dar pitacos sobre os concorrentes, seus vícios, suas manias e suas qualidades mais deletérias. Falar bem das qualidades alheias não é muito da cultura do nosso povo, a não ser que sejam unanimidades ditadas pela mídia, como Ayrton Sena, por exemplo.

Como um observador auto-didata do comportamento humano, curioso com a ação e reação das pessoas diantes das mais diversas situações cotidianas, a maneira diversa que aquelas de idades e origens diferentes se comportam defronte a um mesmo problema, os trejeitos faciais e corporais que dizem mais que as palavras quando cada um tem que encarar decisões a serem tomadas emergencialmente ou quando se tem alguma solução a decidir, confesso que, quase todos os dias, assisto ao programa.

Populacho? Alienação? Síndrome de "dona Candinha"? Que sejam, ou talvez nada disso. Não ouso expor minhas observações, principalmente por serem empíricas, emoções deixadas à parte, simpatias descartadas não pelas pessoas, mais, inegavelmente, por certas posturas. Queiram ou não, é diversão. Barata e rasa, mas diversão por ser real, mesmo comseus artificialismos e manipulações, mais profunda que as telenovelas calhordas, caducas e repetitivas como as músicas de Roberto Carlos das últimas duas décadas.

sexta-feira, janeiro 20, 2006

Quem trabalha muito, erra muito. Quem trabalha pouco, erra
pouco. Quem não trabalha não erra. E quem não erra... é promovido.


Que vontade de não fazer nada...


Preguiça mental


Sabe aquele dia em que os neurônios entram em greve? Pois é, estou assim hoje. Para não dizer que não falei de letras, vou contar com o Extreme Tracking para postar hoje.

Cada vez que vou ver o que traz os curiosos a esse blog dou boas risadas. Não sei se os sites de buscae lesam os usuários são desregulados ou os usuários é que são meio miolo-mole, levando-se em conta das buscas feitas.

Ó pa isso:

- Simpatia para sexta-feira 13 - E olha que a última foi de lua cheia, ainda por cima. Vá a um bar de vampiros e consiga uma companhia simpática. Depois da conquista você vai dar o sangue para não se livrar mais, garanto.

- Diagnóstico e tratamento do Mal de Alzeheimer - Quando eu souber, estarei aliviado. Um pitada de humor negro: O avô pergunta: Netinho, como é o nome daquele alemão que está fudendo com a tua avó? E o neto: Alzeheimer, vô!

- Abaxaqui -Falei do abaixaqui no texto em que um vendedor ambulante gritava pelas ruas de Belém: Abaixaqui, abricu e xeira! Ele vandia abacaxi, abricó e macaxeira.

- Biografia de Gauss - Passa aqui em casa que te empresto um livro.

- Flávia Passos Marcos Pontes - Marcos Pontes sou eu, se quiser apresentar a Flávia Passos, estou à disposição.

- Simpatia para mau hálito - Procure um dentista, mas isso não é nada simpático e ainda custa uma boa grana.

- Simpatia para os seios - Hein? Eles já não são suficientemente simpáticos?

- 2B - Isso, pra mim, é tipo de grafite de lápis.

- Significado de taruíra - O que isso significa, a morfologia eu não conheço, mas é a mesma coisa que osga, briba, bíblia, lagartixa, jacaré de parede... Eita bichinho que tem nome!

- Simpatia para a pela - Pinta um palhacinho nas bochechas, fica bem simpático.

- Simpatia para perder barriga - Páre de tomar chopp e procure uma academia, preguiçoso.

- Simpatia para verruga - Coloque-a na ponta do nariz de uma velha bem feia e com buço enorme, vista-a de preto e coloque-a num conto infantil.

- Garoto de programa - Paga quanto?

- Quem é o prefeito de Belo Horizonte? - Fernando Pimentel.

- Catolé do Rocha - Eu até poderia escrever um tantão de coisas aqui sobre essa simpática e quente cidade paraibana, vizinha de Brejo da Cruz, cantada por Chico, mas é melhor você procurar no site do IBGE.

- Sexo adolescentes chinesas - Tenha uma filha, tarado, depois quero ver se vai ficar caçando adolescentes.

Pronto, ninguém pode dizer que não atualizei hoje. Quanto ao post de amanhã...

quinta-feira, janeiro 19, 2006

Era uma dançarina tão ruim que não dançava A Morte do Cisne, mas, sim, O Assassinato da Galinha


Iate Clube do Natal


Desaprendendo a Andar


Dagoberto, funcionário do Iate Clube de Natal, passava o dia limpando por dentro e por fora aqueles barcos milionários em troca de alguns vinténs. Sonhava em cruzar os mares pilotando o seu próprio iate, tendo a bem amada Lucinda ao seu lado, abraçadinhos na ponte de comando vendo o pôr-do sol como nas propagandas de uísque.

Sua conta bancária, sempre no vermelho, o trazia, desanimado, à realidade.

A loteria estava acumulada haviam oito semanas, vários milhões à disposição de um sortudo. Embora nunca jogasse, o endividado Dagoberto foi à igreja e prometeu a São Judas Tadeu que se ganhasse sozinho aquela fortuna compraria seu iate e daria cinco voltas ao mundo sem pisar em terra firme.

O santo deve ter pensado "essa eu pago pra ver" e deu a sorte grande ao lavador de barcos alheios.

Não demorou cinco minutos para Dagoberto convencer Lucinda a ir com ele na aventura, afinal um homem com muito dinheiro não pede, manda.

A bordo do seu próprio barco, uma lancha de duas cabines e 30 pés, lá se foram oceanos a dentro. Para não quebrar a promessa a mulher descia nos portos para contratar os serviços de recolhimento de dejetos e comprar mantimentos. Sete meses depois da partida completavam a primeira das cinco voltas. A aventura chamou a atenção da imprensa que foi a bordo do "São Judas Herói" para entrevistar o agora capitão Dagoberto em sua primeira parada em Natal.

Grandes empresas resolveram divulgar seus nomes por meio do intrépido navegante e lotearam os anos restantes da viagem. Uma rede de hotéis, uma indústria de combustíveis, outra de material esportivo e uma empresa de telefonia via satélite revezavam-se no financiamento. Cada uma pagaria as despesas por um ano. Dagoberto, além de não precisar mais gastar seu próprio dinheiro, ainda ganharia uma bolada a mais.

No final do segundo ano, Lucinda chegou apresentando a barriguinha de três meses de gravidez.

Quando completou-se a terceira volta à capital potiguar, as televisões mostraram o pequeno Dagoberto Tadeu no colo do pai orgulhoso, barbudo e queimado de sol.

No final do quarta volta ao mundo, nosso herói foi convidado a batizar uma corveta da Marinha de Guerra. De dentro do escaler, sem pisar em seu solo natal, estourou o champanhe e foi ovacionado pelos marujos embarcados.

Já conhecendo os segredos do mar, a última viagem já não mostrava dificuldade nenhuma de navegação. Havia somente a ansiedade de se pagar a promessa feita ao santo.

Por quase cinco anos Dagoberto viveu em seu barco sem conhecer os portos, as ilhas, os arrecifes ou qualquer piso sem o balanço das ondas. Por todo esse tempo honrou o que prometera e ficava feliz em poder honrar o que prometera, coisa que sempre fazia, desde criança, ensinado pelo pai.

Ao chegar a Natal, estavam no porto a banda marcial da Marinha, almirantes, governador, prefeito, o arcebispo, repórteres de todos os lugares e de todas as imprensas, os editores do Guiness Book, milhares de estudantes balançando bandeirinhas do Brasil e do Rio Grande do Norte, os patrocinadores e mais uma multidão de curiosos. A cidade parara para receber a família aventureira com chuva de papel picado e serpentina ao som do Cisne Branco. Uma festa como há muito não se via.

O trapiche por onde passaria depois de descer do escaler estava limpo e decorado com flores e fitas verdes e amarelas. A multidão gritava seu nome e aplaudia.

Quando pisou na esteira de madeira, de mãos dadas com o filhinho que aprendera a andar a bordo da embarcação, sentiu a falta das marolas. Desacostumados a andar em piso firme e sem balanço, ao tentarem dar o primeiro passo sentiram vertigem, seus corpos tombaram para o lado em busca do equilíbrio e Dagoberto e Dagoberto Tadeu despencaram no mar.

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Todo mundo tem cliente. Só traficante e analista de sistemas é
que tem usuário
.



"Eu sou funcionário, ela é dançarina"


Eles se conheceram na universidade. Ele cursava admnistração e ela turismo, ambos na Universidade Federal do Paraná. Como acontece milhares de vezes a cada dia, mas cada envolvido pensa que só acontece com ele, os dois se apaixonaram e o namoro continuou após a graduação. Estavam determinados a se amarem para todo o sempre.

Com a ajuda das famílias, compraram uma casa no bairro das Mercês, relativamente perto do Centro de Curitiba e com tudo o que é necessário nas mediações.

Com o pé no mercado de trabalho, saíram à cata de uma colocação.

Ele conseguiu um emprego no departamento de microfilmagens de um grande banco. O horário era dos mais desagradáveis. Começava às oito da noite e trabalhava até as duas da madrugada.

Ela gerenciava uma agência de turismo a duas quadras do banco em que ele trabalha, só que em horário comercial.

Quando ele saia de casa, ela acabara de chegar. Quando ele voltava, ela estava dormindo. Os únicos dias que passavam inteiros juntos eram domingos e feriados, mesmo assim os feriados por vezes eram sacrificados porque a agência de turismo costuma ter uma procura maior nos feriados.

Com todos esses desencontros não perdiam tempo com brigas. Os domingos eram prenhes de carinhos, afagos e conversas agradáveis.

Assim vivem felizes e em harmonia há sete anos.

terça-feira, janeiro 17, 2006

Perder tempo na vida é perda de tempo!




Tem texto meu hoje lá na Gueixa. O tema: Homofobia.



Propaganda vende até almas.


"Nossos comerciais, por favor!"


Marizelda era filha única de um oficial da Marinha, o que lhe dava o direito a uma pensão vitalícia após a morte do pai, caso ela não se casasse. E isso aconteceu.

Portadora de uma timidez excessiva, a menina Marizelda só saía de casa para a escola. Não ia a parque, piquenique, igreja, praia, baile ou qualquer outro programinha típico das garotas de então.

Era o auge do rádio no Brasil. A garota pediu ao pai e ele lhe deu de presente de aniversário um rádio, um verdadeiro móvel de madeira e válvulas, os conhecidos rabos-quentes. O aparelho estava sempre ligado, tornou-se o amigo que Marizelda não tinha.

Seu amigo de fios e pilhas lhe cantava nas vozes de Noel Rosa, Marlene, Noite Ilustrada, dava-lhe notícias do Brasil e do mundo e, seu maior deleite, a fazia sonhar com as novelas.

Com o tempo passou a achar as tramas sempre iguais e foi-se encantando com os comerciais. Imaginava as cores, gostos e cheiros do mundo que não via, por meio dos reclames. A curiosidade foi aumentando e a voz agradável num protuguês perfeito foi virando mania.

Pedia à mãe sabonetes Eucalol e água de cheiro Leite de Rosas. Mesmo adolescente, rendeu-se ao bê-a-bá-bê-é-bé-bê-i-Biotônico Fontoura, os paninhos para seus dias de incômodo foram substituídos pelo Modess. Ajudando a mãe na cozinha, exigiu panelas de pressão Rochedo e louça Nadir Figueiredo.

Veio a Bossa Nova e, paralelamente, a televisão. No rádio ouvia a novidade e o almirante se viu obrigado a comprar um aparelho Colorado RQ. Não era a maravilha que esperava. Ficava no ar apenas poucas horas por dia e não tinha tantos reclames, mesmo assim a fascinava por poder ver as maravilhas da vida moderna e não somente ouvir falar delas.

Fez o pai trocar o velho Aero Willis por um Gordini, passou a rejeitar o leite in natura que seu Fidélis entregava de porta em porta, agora só leite em pó Mococa, as buchas vegetais para lavar louça cederam lugar para o mil e uma utilidades Bom-Bril, que vinha numa linda caixinha de papelão vermalha. Até mesmo a Colorado RQ foi substituída por uma Telefunken. Os comerciais pautavam sua vida.

Os pais morreram e Marizelda, vovendo com a polpuda pensão herdada, usava o telefone para fazer suas compras. Ariosvaldo, filho da velha empregada, dona Jordélia, que acompanhava a família havia anos, levava suas cartas para as empresas das quais desejava informaç~es sobre seus produtos, ia à banca comprar O Cruzeiro, ia ao banco pagar as contas e retirar os talões de cheque ou descontar algum.

A moda era a Jovem Guarda. Jerry Adriani, Roberto CArlos, Wanderléia e toda a turma invadiam sua casa em seus discos de vinil que rodavam na eletrola Radiolux quando a tv estava fora do ar.

Vieram os 70, os 80, a velha Telefunken foi substituída por uma Toshiba com garantia até a próxima Copa, as panelas Rochedo deram lugar às Tramontina, os sapatos Vulcabrás 752 e as botas 7 Léguas nunca foram usaados, assim como as Botinhas da Xuxa, mas ainda ocupavam a sapateira juntos aos tênis Bamba e as chuteiras Topper.

Passou a alimentar-se de Nissim Miojo e Cup Noodles, na sobremesa aaaaaaabra booooooooca, é Royal, pudins Royal, ou lazanhas pre cozidas Sadia, preparadas no forno de microondas Brastempe, que fazia par com uma geladeira duplex, que substituíra a já idosa Gelomatic. A churrasqueira George Foreman, adquirida junto com AB Shaper, nunca fora usada, mas aera tão bonita e versátil...

A cada semana trocava os xampus e as escovas de dentes por mais modernos e bonitos, assim como o dentifrício, que ja´fora Kolinos, Colgate, Signal, Close-Up... Procurava a ideal para retirar o amarelado dos dentes deixado pelo Hollywood, ao sucesso!, que depois se tornara uma raro prazer, Carlton.

Aos setenta descobriu que o primeiro sutiã a gente nunca esquece. Os antiquados calefons se aposentaram e, em seu lugar, agora só usava Valisère.

Quando morreu, dormindo sobre seu colchão Ortobom forrado com lençóis Teka, foi um trabalhão para os bombeiros retirarem o cadáver do meio de tanta tralha, boa parte ainda dentro das caixas. Há cinco anos técnicos do Museu da Propaganda fazem um inventário dos achados arqueológicos.

segunda-feira, janeiro 16, 2006

Ladrão que rouba ladrão vive no Distrito Federal.



Sodade


Amanheci com uma saudade esquisita das manhãs, melhor dizendo, das manhãs de segundas-feiras na casa da mãe, da quietude daquelas manhãs.

Acordei sentindo o gosto e o cheiro daquelas manhãs, ouvindo seus ruídos.

Todos os garotos da casa e das casas vizinhas estavam na escola, menos eu, que estudava à tarde. Minha mãe cuidava das coisas da casa e contava com minha ajuda para regar o jardim e varrer a casa. No quintal a mangueira enorme recebia a visita dos passarinhos famintos que eu escutava aencantado enquanto punha milho para as galinhas, o resto era silêncio.

Não passavam carros na rua dos fundos da vila, o que dava uma sensação gostosa de solidão, mas não uma solidão solitária, uma deliciosa solidão assistida.

O cheiro bom da terra molhada, a gostosura da brisa matinal, o som dos discos de Vicente Celestino do meu pai ou dos discos de rock dos irmãos mais velhos.

De que parte do passado veio essa sensação melancolicamente deliciosa? Será que da chuva lá fora? Será o silêncio inesperado da rua sob minha janela? será do canto solitário do sabiá na galha do pau-brasil aqui em frente? Será de tudo isso ou apenas um lembrete para telefonar pra minha mãe?

sexta-feira, janeiro 13, 2006

"Os serumanos são racionais pois são os homensapiens, que pensam."
(Retirado de uma comunidade do Orkut)



Mantenham a sintonia. Vem por aí mais uma novidade. Àqueles que gostam dos meus textos ou lêem por amizade ou por falta de coisa melhor pra fazer, breve estreará um site em que terei uma coluna semanal. Assim que a coisa se concretizar os comunicarei. Tô adorando a idéia.


Curumins na piroga


Desafio da Grande Água


Na liberdade da infância interiorana, Iraquitã e Belson eram donos do domingo. Acostumados com a mata e seus animais não temiam os perigos.

No pequeno distrito de Parintins, onde moravam, eram donos e pagés, como cada curumim ou cunhataí tinham sua própria aldeia.

De manhã cedinho pegaram a piroga que não iria à pesca dos adultos e se aventuraram, anzóis e zagaias a bordo, para o grande rio, o Mamuriú. Já se achavam homens em seus dez anos. Os igarapés já não lhes guardavam mistérios, mas os segredos do pará ainda eram segredos para eles. As ondas altas naturais e as marolas dos rastros das catraias e gaiolas ainda não conheciam.

Ambos temeram de receio, não sabiam o que era medo, ao chegarem ao meio do rio e perceberem que a água que entrava rápido, exigia grande esforço e velocidade nos braços para ser retirada, mas não passariam por fracos e nada disseram de sua caruara um para o outro.

A terceira vaga encheu a canoa e suas providências não foram suficientes para evitar o naufrágio.

- Nada, Belson! Nada!

O instinto os guiava, antes que as palavras combinassem, em direção à praia de onde partiram, mas não conheciam os segredos da correnteza. Mais de três quilômetros da margem, as águas os levando rumo ao mar que não conheciam senão do Atlas Escolar milhares de outros quilômetros adiante, e teimavam em voltar ao ponto de partida.

Por quarenta minutos nadavam lado a lado, mas o mar doce os separou numa braçada de Iara.

Iraquitã desviava dostroncos que vinham boiando sabe-se lá de onde, tentava avisar o amigo, mas a voz não saia; tentava avistá-lo, mas as paredes de água que se alternavam não permitia. Agora, admitia, estava com medo, medo de nunca mais ver Belson, nome dado em gratidão ao missionário estadunidense que ajudara sua mãe no parto. As lágrimas de Iraquitã aumentavam o volume do rio.

Precisava chegar à margem, à vila e avisar os adultos para procurarem o amigo, mesmo que isso lhe custasse uma surra de cipó.

As forças vieram do fundo d'alma. Remava seu corpo desengonçado com toda a potência restante nos seus braços finos. Imaginava seus pésserem as nadadeiras da cauda do tambaqui.

Muito tempo se passou até que alcançasse as tiriricas da beira-rio. Não havia tempo para descansar, mas todo o corpo exigia. Tentou levantar-se, mas as pernas recusaram-se. Tentou rastejar, mas os braços se negaram. Nas tentativas frustradas de ir em frente desnaiou deitado sobre aquelas folhas que parecem navalhas quando mulhadas.

Sonhava com o amigo perdidos nas águas que amava, as águas que lhe davam o peixe e as brincadeiras. Não havia mais nada a fazer senão entregar-se à inconsciência, por mais que tentasse lutar contra.

Acordou com a mão suave lhe arrumando os cabelos pretos e lisos. Suas pálpebras pesavam mais que um cacho de pupunha, mesmo assim conseguiu abri-los e viu a noite à sua volta. As dezenas de vaga-lumes aproximavam-se e viravam lamparinas. A mão que o afagava e o colo que o abrigava eram de dona Jussara, Mãe de Belson.

Olhando os olhos negros de Jussara, mais escuros por falta de estrelas no céu negro, chorou e pediu desculpas. Os aldeões se aproximavam. Uma lamparina se destacou das demais e se aproximou rápido, à velocidade de uma carreira de menino.

Belson entregou a lamparina para a mãe e abraçou o amigo que achava morto.

quinta-feira, janeiro 12, 2006

Demorei a traduzir isso:

'Mais vale uma mão enxada duque uma enxada na mão'

Olhares II

Voltando aos olhares femininos, eles realmente me fascinam e, provavelmente, aos demais machos da espécie. Como a Mônica comentou ontem, as mulheres conseguem dizer tudo com o olhar, inclusive mentiras.

Elas podem dizer que amam, odeiam, desprezam, querem bem, estão curiosas ou simplesmente entediadas. Uma mulher que sabe usar seu olhar é uma arma poderosíssima.

De uns seis meses para cá tenho feito muitas amizades on-line, principalmente por meio desse blog. A maioria das conversas tem sido apenas por textos, algumas por áudio e o mínimo por câmera. Uma dessas amizades já me cativara desde o começo, mas bastou conversarmos via cam e olhar seus olhos olhando direto pra mim para ter a certeza que essa amizade é franca e eterna.

Já é folclórico o não feminino. Dizem que quando a mulher diz não quer dizer talvez, quando diz talvez quer dizer sim e quando diz sim está te perguntando "por que ainda não fez?". É claro que há exagero nisso, mas quem receber um não, talvez ou sim feminino vai saber exatamente o que ela quis dizer se a estiver olhando nos olhos.

Talvez por saber do poder dessa aarma, mesmo que intuitivamente, o homem tenha medo de encará-las. Depois de prisioneiros, muito difícil escapar.

quarta-feira, janeiro 11, 2006

Copulavam tão ruidosamente que os gatos da vizinhança reclamavam.


Meu olho esquerdo


Olhares


Observando casais sentados em bares e restaurantes, depois trazendo a experiência para mim mesmo, notei algumas coisinhas que talvez os especialistas em comportamento humano possam explicar.

O casal está ali numa conversa qualquer, de repente alguém, de passagem ou numa mesa próxima, cumprimenta o homem. Quase sempre ele percebe o cumprimento imediatamente e o retribui. Quando isso ocorre, raramente sua acompanhante dirige o olhar para quem foi o aceno. Quando acontece o oposto, o cumprimento é para a mulher, invariavelmente seu consorte olha quem cumprimentou sua parceira.

Como se explica isso?

As mulheres têm visão panorâmica maior que o homem, por isso não precisa virar a cabeça para identificar quem cumprimentou seu acompanhante?

Os homens, como a maioria dos machos animais mamíferos, vêem no macho que se aproxima de sua companheira como um rival em potencial e, caso o terceiro amigo seja uma mulher, sua condição de macho do terreiro avalia a possibilidade de mais uma conquista?

As mulheres são menos curiosas que os homens?

Os homens são menos seguros que as mulheres?

As mulheres são mais focadas naquilo que fazem e abstraem qualquer coisa alheia à sua principal atenção, a conversa que desenvolvem?

As mulheres têm a obrigação cultural de demonstrarem que são difíceis e os homens, ao contrário, têm que mostrar que estão sempre disponíveis e vigilantes?

Essas questões todas podem ser negadas quando a conversa não está nada interessante para uma das partes. Nesse caso a mulher não só olha como faz questão de levantar-se e ir cumprimentar o amigo.

É impressionante, muito mais do que esses devaneios, a maneira como as mulheres olham muito mais intensa e constatemente nos olhos do interlocutor do que os homens. Elas olham fixo nos olhos, acompanham os olhos dos parceiros com os seus, enquanto nós, pobres machos dissimulados, estamos sempre procurando algo interessante que nos prenda a atenção ao nosso redor.

terça-feira, janeiro 10, 2006

O décimo terceiro salário tem como função evitar que nos afoguemos nas taxas de janeiro.




Muito obrigado, Mago, pela homenagem. Me pegou de surpresa e me encheu de orgulho.


São João del Rei


Dona Ventana


Celifônio já começava a imaginar que aquela velha da janela não era uma velha na janela, uma estátua, talvez um retrato em tamanho natural ou uma pintura na janela e a própria janela não existia.

Ao sair de manhã para o trabalho, lá estava a velha na janela do primeiro andar do prédio do outro lado da rua. Ao meio-dia voltava para almoçar e a velha o observava abrir a porta de casa.

Feita a refeição, assistia a algum noticiário na televisão e voltava para o expediente da tarde. De soslaio via a velha acompanhá-lo com o olhar. Às seis da tarde, todos os dias, desde a esquina já sabia que os olhos da velha observavam-no se aproximar.

Não importava a hora, noite ou dia, dia útil ou feriado, se chovia ou o sol queimava, bastava olhar para o alto do outro lado da rua, lá estava a velha e seu vestido vermelho, debruçada na janela, observando o movimento dos carros, das outras pessoas e os seus.

Por alguns meses se incomodou, depois se rendeu à idéia de que a velha só olhava, nada de mais fazia para atrapalhar sua vida. Acordou disposto a ter uma convivência pacífica e amigável com a velha que não sorria, não respondia aos seus cumprimentos, apenas girava o pescoço acompanhando os movimentos da rua.

Ao sair para o batente a cumprimentou com um sorriso e um "bom dia" e recebeu apenas um olhar estóico de volta. Tudo bem, ela não queria amizade, ela não teria.

Houve uma onda de assaltos às casas do bairro, mas naquele quarteirão ninguém fora roubado. Celifônio acreditou que a vigilância da velha da janela inibira os gatunos e por isso passou a dedicar-lhe simpatia e até gratidão, mesmo não tendo certeza de ter sido ela a polícia que a polícia não era.

Numa madrugada de verão faltou energia. Sem condicionadores de ar ou ventiladores para aplacar o calor úmido, toda a vizinhança resolveu arriscar e dormir com as janelas abertas. Ao abrir a sua, Celifônio não surpreendeu-se em ver a velha na janela.

Já íntimo daquela imobilidade vigilante, Celifônio contava sua história para os amigos e se referia à velha da janela como Dona Ventana, por falta de um nome verdadeiro, e todos se divertiam achando tratar-se de mais uma brincadeira criada pelo alegre Celifônio.

Três anos e meio depois do primeiro contato, ao chegar em casa no início da noite, Celifônio não viu a velha da janela, agora fechada. Um frio percorreu-lhe a espinha, algo muito errardo acontecera. Sentou-se na calçada e, por horas, ficou observando as réstias de lz amarela que vazavam pelas venezianas da janela fechada qté que, vencido pelo cansaço e pela necessidade de acordar cedo na manhã seguinte, retirou-se para sua intimidade enclausurada.

Por anos acreditou que Dona Ventana estava morta.

O tempo passou, Celifônio conheceu Adalúcia, casaram-se, tiveram Celícia e Adafônio e a família feliz progredia morando em frente à janela fechada.

No Natal do décimo aniversário de casamento viajaram para São João del Rei. Passeando pelas ruas de pedra da cidade histórica, Celifônio observava as fachadas coloridas e centenárias doscasarões quando a reviu, debruçada sobre a grade de ferro, vestindo um vestido vermelho de papoula. Sentiu o gosto do passado sobre a língua e um frio já conhecido percorrendo a espinha.

segunda-feira, janeiro 09, 2006

O que é bom, dura.




Tem texto meu sobre o namoro entre pessoas com grande diferença de idades no blog da Gueixa. Passem lá, se lhes interessar.


Mulher esperando no campo
Moda... Bah!


É compreensível a influência sofrida por todos pelas pressões da moda, da mídia. As duas andam juntas, abraçadinhas como duas melhores amigas adolescentes. Mas quando se pára para questionar - não repudiar simplesmente, que fique claro - alguns conceitos podem ruir.

Saltos altos. A maioria das mulheres, principalmente as mais jovens, adoram saltos altos. Ver o mundo de cima, mudarem a forma de andar, passinhos obrigatoriamente mais curtos, fazem lembrar as antigas chinesas que tinham os pés amarrados para que mantivessem os passos de passarinho, uma tortura que levou séculos para ser abolida e tão repudiada pelo Ocidente.

E estão cada vez mais altos, verdadeiras pernas de pau. Substituem notavelmente a melancia pendurada no pescoço. Os saltos altíssimos servem para dizer "me olhem! Estou aqui, acima de vocês!".

São sexies, atraentes, mas não são sensuais, me desculpem as adeptas.

Tailleurs e terninhos, aqueles longos cavados no decote e nas laterais. Cada um merecia um parágrafo, mas juntos fica mais rápido. Os primeiros são o paralelo feminino para os inexplicáveiz paletós, exemplares ridículos que o Ocidente impôs à esfera dos negócios e governos mundo a fora. Ponto para os hindus e africanos que preferem seus trajes regionais levez, bonitos e coloridos. Os terninhos, muito usados nos anos 80, estão meio por baixo agora. Foram uma maneira que as mulheres de negócios encontraram para se imporem como machos ferozes. Dão uma imagem de poder, superioridade. Ambos atraem, chamam a atenção, mas são tão sexies e sensuais quanto uma geladeira verde.

Os longos, ah!, os longos são o supra-sumo da feminilidade. São as roupas que dizem "tenho corpo, sou gostosa, te devoro e cuspo as sementes fora". Sexies, indubitavelmente, mas muito pouco sensuais. É o sexo em forma de roupa, sexo em tecidos.

Sensual, sensual a valer, é a mulher com um vestidinho com estampas florais, leve e esvoaçante, chinelinho de tirinhas, bem baixos, quase pé no chão, pouca maquiagem e um sorriso branco. Irreristível!

sábado, janeiro 07, 2006

Xuxa não pensa, logo, não existe.


Voa, voa longe!
Voa, voa longe


Pelos vãos da grade benca da janela, observa os assanhaços e sabiás que passam, a jato, pelos galhos do pau-brasil.

O sol e abrisa vespertina mimam seu pequeno universo.

As folhinhas miúdas que se soltam das galhas invadem o quarto de onde não tem vontade de sair. Seu mundo se resume à sua vista.

Bem sabe que a vida não espera e corre além da porta, mas a dele estagna dentro do peito. Nada mais importa, tudo são cores desbotadas, menos a morenice da pele dela tatuada na memória, o escuro dos seus olhos marcado em sua retina.

Se os passarinhos parecem felizes em sua algazarra, vôos e saltinhos em frente à sua janela, a falta de poesia em sua alma não vê beleza nisso. Despeito gerado pela tristeza?

Dos passarinhos só queria as asas e a capacidade de voar. Ir longe, atravessar a distância entre ele e o coração dela. Romper os ventos para encontrá-la em outra janela, a do quarto de onde ela vê a rua.

sexta-feira, janeiro 06, 2006

Um aluno de 13 anos conversando com outro:
- Deixa de ser burroo!! O cara do ramones morreu de cancêr na próspora
!

(Retirada de uma comunidade do Orkut)


Que viagem!
Viagem de Férias

Férias são boas e necessárias. Eu ia escrever legais e necessárias, mas a palavra legal teria duplo sentido e ambos corretamente aplicáveis na oração. Legal como dentro da lei; lógico a lei prevê as férias, é obrigação do empregador e direito do empregado. Legal, gíria, uma coisa boa. Pois é, férias é uma coisa boa, é legal.

Me veio a dúvida. Legal ainda pode ser considerada gíria? Nos anos 60 era gíria, palavra nova incorporada à linguagem coloquial. Gíria, porém, é uma expressão da moda, tem prazo de validade, então legal não é mais gíria. Ou é? Que me respondam os estudiosos.

Se legal mudou de sentido numa língua que já tem palavras sobrando ao ponto de algumas poderem ser consideradas palavras mortas, uma expressão foi completamente alterada em seu sentido por causa de um humorista.

Antes do Renato Aragão, pronunciar "pra variar" significava fazer diferente. Amor, você não vai de carro para o trabalho?", "pra varias, eu vou andando". Lógico, esse emprego ainda é válido e correto, mas virou sinônimo de "a mesma coisa. "Joãozinho, atrasado de novo?", "pra variar...", ouseja, Joãozinho é contumaz em seus atrasos. Aliás, as novas gerações só conhecem a expressão para esse uso. Teste um adolescente e tire a prova.

Bom, como eu ia dizendo, férias são legais, pra varia. Que viagem!

quinta-feira, janeiro 05, 2006

"Êxodo foi um buraco por onde os judeus fugiram do Egito."
(Tirado de uma Comunidade do Orkut)



Feromônios


Gatos


- Que barulho é esse?, perguntei ao telefone.
- Os gatos estão se acasalamento, respondeu, tímida e encabulada.

Às duas da manhã essa conversa com uma mulher como aquela, desperta a imaginação. Zoofilia à parte, acasalamento é a palavra-chave.

Os gatos já nasceram pobres, porém já nasceram livres e basta o cheiro dos deromônios para serem aceitos. Antes da cópula, um carnaval de gritos que atravessa quarteirões, a corte que parece briga, correrias por becos e telhados, arranhões e patadas para, enfim, após tanta negociação, chegarem ao que desejam. Com tudo isso, pobres gatos. O essencial não existe, o amor.

É coito apenas, perpetuação da espécie.

Do lado de cá da linha faço minha corte, não há cheiro perceptível de feromônios para meu olfato humano, mas eles estão no ar; não há desejo de perpetuação da espécie, mas o desejo da carne; não existem patadas e arranhões físicos, mas psicológicos. O que os gatos não têm, pobres gatos livres, eu tenho em profusão, o amor.

Do outro extremo da ligação ouço o suspiro, sinto o desejo, sei a reciprocidade dos sentimentos. Os gatos também têm algo que me faz falta: a liberdade. A promiscuidade felina faz falta ao bicho-homem quando o desejo irrompe.

Inveja dos gatos.

terça-feira, janeiro 03, 2006

"O Plano Real piorou a equitação distributiva rendal" (aluno do 1º ano de Direito/2002 do Integrado de Campo Mourão).

Creio q o rapaz quis dizer q é tão difícil a distribuição de renda neste país, que só indo a cavalo...
(Retirado de uma comunidade do Orkut)



Hoje tem texto meu lá na Gueixa.



Intimidade


Cenas de intimidade de onde menos esperamos chegam a ser engraçadas, embora, na maioria das vezes, são chateadoras, incômodas e irritantes.

No açougue do supermercado sou atendido pelo prestativo Gumercindo.

- O que vai hoje?

- Pega duas bistecas pra mim?

- Claro!

Ele pegou uma das peças, levanta e diz:

- Olha só como ela está grande.

- Ótimo.

- Vão duas mesmo?

- É.

- Qual é, Marcão? - eu não imaginava que ele lembrava neu nome - Você vai levar dois meses pra comer isso.

O que ele tinha a ver com isso?

- Não esquenta. No dia em que eu praparar essa carne chamo alguém pra comer comigo.

- Ih!, rapá, mulher não é muito chegada a carne de porco, não.

Da bisteca partimos para meus relacionamentos pessoais.

Enquanto pesava, sua boca não parava quieta:

- Como é que você vai preparar essa beleza?

- Não sei. Talvez no forno, em vinhas d'alho.

- Coloca umas batas pra assar junto. Fica uma delícia.

- Valeu pela dica.

Isso foi legal. Compro a carne, sou bem atendido e ainda ganho uma receita.

- Prontinho. O que mais?

- Basta, já tenho carne para dois meses - não podia deixar passar a oportunidade - Obrigado. Até mais.

- Falou, Marcão.

Quando já ia saindo...

- Quando estiver pronto me chama que eu levo o vinho. Não tem como não abrir um sorriso.

segunda-feira, janeiro 02, 2006

Trouxe fogos de Copacabana só para você!!!

Copacabana 2005/2006


Sim... sou eu!
Invadindo o espaço de uma das pessoas que fez o meu ano de 2005 ser um pouco mais feliz.
Marcos é alguém assim... assim... sabe?
É isso, sim!
Que nos deixa sem palavras para definir. É sincero, carinhoso, amigo, protetor, especial, único... grande é a minha adimiração, carinho e respeito por ele.
Alguém que aprendi a gostar incondicionalmente. Mesmo com seu jeitão de esculacho, a simpatia que ele tem, o carisma que lhe acompanha é algo que nos faz querê-lo sempre por perto. Bem perto por assim dizer.
(...)
Pensava que não iria vir aqui retribuir aquela pérola que deixaste para mim?
Enganou-se... espero somente que tenha sido à altura. Até hoje eu babo com ela!
Me sinto privilegiada de ter te conhecido mais de perto e a fundo, mesmo com essa vida de distâncias e voltas.
Dentre tantas coisas que me ensinaste (tens esse dom) foi de que amizades são incondicionais, independente de estado civil. Por isso e por tudo mais estarei sempre aqui, para o que preciso for. Sabes certinho como me encontrar!
(...)
Nesse ano de 2006 lhe desejo tudo em dobro do que me desejaste!
Ótimo ano!
Você merece...
Beijocas de quem nunca irá esquecê-lo...

Lelinha