"Os serumanos são racionais pois são os homensapiens, que pensam."
(Retirado de uma comunidade do Orkut)
(Retirado de uma comunidade do Orkut)
Mantenham a sintonia. Vem por aí mais uma novidade. Àqueles que gostam dos meus textos ou lêem por amizade ou por falta de coisa melhor pra fazer, breve estreará um site em que terei uma coluna semanal. Assim que a coisa se concretizar os comunicarei. Tô adorando a idéia.
Desafio da Grande Água
Na liberdade da infância interiorana, Iraquitã e Belson eram donos do domingo. Acostumados com a mata e seus animais não temiam os perigos.
No pequeno distrito de Parintins, onde moravam, eram donos e pagés, como cada curumim ou cunhataí tinham sua própria aldeia.
De manhã cedinho pegaram a piroga que não iria à pesca dos adultos e se aventuraram, anzóis e zagaias a bordo, para o grande rio, o Mamuriú. Já se achavam homens em seus dez anos. Os igarapés já não lhes guardavam mistérios, mas os segredos do pará ainda eram segredos para eles. As ondas altas naturais e as marolas dos rastros das catraias e gaiolas ainda não conheciam.
Ambos temeram de receio, não sabiam o que era medo, ao chegarem ao meio do rio e perceberem que a água que entrava rápido, exigia grande esforço e velocidade nos braços para ser retirada, mas não passariam por fracos e nada disseram de sua caruara um para o outro.
A terceira vaga encheu a canoa e suas providências não foram suficientes para evitar o naufrágio.
- Nada, Belson! Nada!
O instinto os guiava, antes que as palavras combinassem, em direção à praia de onde partiram, mas não conheciam os segredos da correnteza. Mais de três quilômetros da margem, as águas os levando rumo ao mar que não conheciam senão do Atlas Escolar milhares de outros quilômetros adiante, e teimavam em voltar ao ponto de partida.
Por quarenta minutos nadavam lado a lado, mas o mar doce os separou numa braçada de Iara.
Iraquitã desviava dostroncos que vinham boiando sabe-se lá de onde, tentava avisar o amigo, mas a voz não saia; tentava avistá-lo, mas as paredes de água que se alternavam não permitia. Agora, admitia, estava com medo, medo de nunca mais ver Belson, nome dado em gratidão ao missionário estadunidense que ajudara sua mãe no parto. As lágrimas de Iraquitã aumentavam o volume do rio.
Precisava chegar à margem, à vila e avisar os adultos para procurarem o amigo, mesmo que isso lhe custasse uma surra de cipó.
As forças vieram do fundo d'alma. Remava seu corpo desengonçado com toda a potência restante nos seus braços finos. Imaginava seus pésserem as nadadeiras da cauda do tambaqui.
Muito tempo se passou até que alcançasse as tiriricas da beira-rio. Não havia tempo para descansar, mas todo o corpo exigia. Tentou levantar-se, mas as pernas recusaram-se. Tentou rastejar, mas os braços se negaram. Nas tentativas frustradas de ir em frente desnaiou deitado sobre aquelas folhas que parecem navalhas quando mulhadas.
Sonhava com o amigo perdidos nas águas que amava, as águas que lhe davam o peixe e as brincadeiras. Não havia mais nada a fazer senão entregar-se à inconsciência, por mais que tentasse lutar contra.
Acordou com a mão suave lhe arrumando os cabelos pretos e lisos. Suas pálpebras pesavam mais que um cacho de pupunha, mesmo assim conseguiu abri-los e viu a noite à sua volta. As dezenas de vaga-lumes aproximavam-se e viravam lamparinas. A mão que o afagava e o colo que o abrigava eram de dona Jussara, Mãe de Belson.
Olhando os olhos negros de Jussara, mais escuros por falta de estrelas no céu negro, chorou e pediu desculpas. Os aldeões se aproximavam. Uma lamparina se destacou das demais e se aproximou rápido, à velocidade de uma carreira de menino.
Belson entregou a lamparina para a mãe e abraçou o amigo que achava morto.
No pequeno distrito de Parintins, onde moravam, eram donos e pagés, como cada curumim ou cunhataí tinham sua própria aldeia.
De manhã cedinho pegaram a piroga que não iria à pesca dos adultos e se aventuraram, anzóis e zagaias a bordo, para o grande rio, o Mamuriú. Já se achavam homens em seus dez anos. Os igarapés já não lhes guardavam mistérios, mas os segredos do pará ainda eram segredos para eles. As ondas altas naturais e as marolas dos rastros das catraias e gaiolas ainda não conheciam.
Ambos temeram de receio, não sabiam o que era medo, ao chegarem ao meio do rio e perceberem que a água que entrava rápido, exigia grande esforço e velocidade nos braços para ser retirada, mas não passariam por fracos e nada disseram de sua caruara um para o outro.
A terceira vaga encheu a canoa e suas providências não foram suficientes para evitar o naufrágio.
- Nada, Belson! Nada!
O instinto os guiava, antes que as palavras combinassem, em direção à praia de onde partiram, mas não conheciam os segredos da correnteza. Mais de três quilômetros da margem, as águas os levando rumo ao mar que não conheciam senão do Atlas Escolar milhares de outros quilômetros adiante, e teimavam em voltar ao ponto de partida.
Por quarenta minutos nadavam lado a lado, mas o mar doce os separou numa braçada de Iara.
Iraquitã desviava dostroncos que vinham boiando sabe-se lá de onde, tentava avisar o amigo, mas a voz não saia; tentava avistá-lo, mas as paredes de água que se alternavam não permitia. Agora, admitia, estava com medo, medo de nunca mais ver Belson, nome dado em gratidão ao missionário estadunidense que ajudara sua mãe no parto. As lágrimas de Iraquitã aumentavam o volume do rio.
Precisava chegar à margem, à vila e avisar os adultos para procurarem o amigo, mesmo que isso lhe custasse uma surra de cipó.
As forças vieram do fundo d'alma. Remava seu corpo desengonçado com toda a potência restante nos seus braços finos. Imaginava seus pésserem as nadadeiras da cauda do tambaqui.
Muito tempo se passou até que alcançasse as tiriricas da beira-rio. Não havia tempo para descansar, mas todo o corpo exigia. Tentou levantar-se, mas as pernas recusaram-se. Tentou rastejar, mas os braços se negaram. Nas tentativas frustradas de ir em frente desnaiou deitado sobre aquelas folhas que parecem navalhas quando mulhadas.
Sonhava com o amigo perdidos nas águas que amava, as águas que lhe davam o peixe e as brincadeiras. Não havia mais nada a fazer senão entregar-se à inconsciência, por mais que tentasse lutar contra.
Acordou com a mão suave lhe arrumando os cabelos pretos e lisos. Suas pálpebras pesavam mais que um cacho de pupunha, mesmo assim conseguiu abri-los e viu a noite à sua volta. As dezenas de vaga-lumes aproximavam-se e viravam lamparinas. A mão que o afagava e o colo que o abrigava eram de dona Jussara, Mãe de Belson.
Olhando os olhos negros de Jussara, mais escuros por falta de estrelas no céu negro, chorou e pediu desculpas. Os aldeões se aproximavam. Uma lamparina se destacou das demais e se aproximou rápido, à velocidade de uma carreira de menino.
Belson entregou a lamparina para a mãe e abraçou o amigo que achava morto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário