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segunda-feira, outubro 17, 2005

- Alô. Eu queria falar com o senhor Marcos.
- É ele.
- Gostaria de saber do preço do aluguel de um caminhão trunco.
- 150 reais de diária ou 5 reais por quilômetro rodado.
- Tá muito caro!
- Então compre um carrinho de mão.
- Seu grosso, mal educado, filho da... tu... tu... tu...
Eu acho que ele queria falar com meu amigo Marcos Pinheiro.



Seu Xexéo e Seu Maninho


Seu Xexéo era o típico coronel de cidade interiorana nordestina, exemplar de déspota ainda existente em boa parte do país, embora hoje não se use tanto mais o reio, a peixeira e a carabina para se fazer curral eleitoral. Cargos públicos e propinas têm-se mostrado mais eficazes.

Maninho, funcionário do cartório, compadre e apadrinhado de seu Xexéo, mataria e morreria pelo amigo-chefe-líder. Nunca matou e nem morreu porque não foi necessário. O coronel tinha gente mais preparada, cabras de couro grosso, para fazerem os serviços de encomenda e quanto a morrer pelo coronel, só morria quem não lhe desse obediência.

Certo dia Maninho procurou Xexéo, cara triste, olheiras profundas e escuras, maltrapilho.

- Que cara é essa, seu Maninho? Perdeu dinheiro na rinha?
- Ô, cumpade, é a Dolores...
- A cumade tá doente? Algum problema séro?
- Doente é que ela num tá, meu coroné. Meu problema é que ela tem saúde demais.
- Oxente, cumpade, as fornicação tá seno tanta assim pra deixá ocê nesse estado de penúria?
- Antes sêsse, antes sêsse...
- Num tô intendendo nada. Qual é o problema de muita saúde da cumade Dolores, intão?
- A muié deu de me batê, coroné. Toda noite, sem mais nem menos, ela pega a taca e me lambe o couro inté eu pedí arrêgo. Mesmo quando eu tô durmino ela me bate. Num tô agüentano mais...
- Larga dessa muié, cumpadi!
- Posso não, coroné. Eu amo aquela mardita.

Tomaram um gole de pinga enquanto seu Xexéo matutava. Homem prático, resolvedor de problemas e amigo dos amigos tinha que arrumar um adjutório para o amigo maltratado.

- Seu Maninho, acho que posso ajudar o sinhô. Só preciso que me dê carta branca.
- Oxente! Tá dada, coroné! Faça o que o sinhô quisé. Vô lhe sê grato mais uma vez pra vida toda.

Depois da despedida, seu Xexéo mandou chamar o delegado, seu Isidoro, cabra frouxo que nunca teve competência para fazer nada direito, mas que ganhara o cargo depois de negociações entre seu pai, atual prefeito, e seu Xexéo, o todo-poderoso do lugar.

Obedecendo as ordens do coronel o delegado foi à casa de dona Dolores acompanhado de dois meganhas. Deram voz de prisão à mulher e a arrastaram até a delegacia.

Deram uma peia de palmatória na esposa de seu Maninho, sova daquelas de esfolar o couro das mãos e depois a mandaram embora sem dizer nada.

No dia seguinte o marido procurou o compadre para queixar-se do que o delegado fizera com sua Dolores.

- Eu sei de tudo, cumpade. Fui eu que mandei.
- Mas, coroné, a muié tá que num consegue nem penteá os cabêlo.
- Põe as mão dela na salmora que em dois dias tá tudo bem. Se preocupe não.
- Mas por que o sinhô mandô sovarem minha Dolores, coroné?
- Ela vai pensá duas vêiz antes de batê no sinhô de novo, cumpade.

Salomônica decisão. Seu Maninho e dona Dolores comemoram bodas de ouro nessa semana e vivem cercados de filhos e netos em seu sítio em São Mateus.

Os nomes não são esses, mas a história é verdadeira.

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