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sexta-feira, outubro 14, 2005

Tá doendo? Pare de respirar.




Sexta-Feira


O cara chega cedo ao trabalho, como a cada dia, bem humorado como sempre procura estar. Bem sabe que a vida não é um oceano de delícias, mas sabe também que cabe a ela não amargar mais o amargor natural. E faz a sua parte. Amanhece sempre disposto a ter um bom dia e contribuir para que as pessoas com quem convive também o tenham.

Por exigência da profissão o cara convive com doutores e bacharéis, pessoas cultas e bem informadas o que permite discussões quase sempre inteligentes, embasadas, civilizadas, às vezes acaloradas, paixonadas, mas sempre bem fundamentadas de parte a parte.

Semana entra, semana sai e a cada dia ele cumpre sua rotina na maior boa vontade. Ele se diz da importânciado seu trabalho, da contribuição que está dando para o aprimoramento de outras pessoas e da sociedade, por conseguinte. Pensa que tem contas a pagar e que chegou a um padrão de vida bem melhor do que o que seus pais tinham. Gosta da profissão, dos colegas, do local de trabalho, dos clientes. Tem, portanto, todos os argumentos emocionais e práticos para ir trabalhar feliz naquela sexta-feira, como em todos os demais dias.

Pouco importa se a meteorologia promete temporal, se os bancos estão em greve, se a mulher amada não o ama, se a gasolina aumentou de preço, se a filha está com sarampo, se o vizinho ouve música gospel até as duas da madrugada, se o cachorro do outro vizinho não parou de latir a noite inteira, se seu time será rebaixado para a terceira divisão, se o sapato está apertado, se não sobrou grana nem pra cervejinha da happy-hour... A vida segue e o otimismo e o bom humor são imprescindíveis.

Precisava, porém, aquele imbecil usar uma argumentação tão idiota, não ouvir suas respostas e ainda insistir e insistir num monólogo filhodaputa tentando deixá-lo em situação ridicularizante diante de todos os mais e ainda sair fazendo fofoquinhas pelos corredores com o propósito de prejudicá-lo também profissionalmente?

Sexta-feira desgraçada e sem nem um puto no bolso para afogar as mágoas no boteco da esquina.

Receita para morrer do coração.

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