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quarta-feira, outubro 26, 2005

Há quem beba para se achar mais interessante. Eu bebo para achar os outros mais interessantes.



Sabe sobre o que vai ser o novo plesbiscito? No site do Pedro eu conto.


Já foi conferir as últimas sobre o livro da Paulinha? Eu já e estou ansioso.


Minha Mãe É Muito Macho


Uma das mais remotas memórias que tenho é dos meus três ou quatro anos de idade junto com meus então seis irmãos, sentados no chão em volta de uma tigela de ágata, almoçando. Minha mãe amassava feijão, misturava com arroz e farinha e fazia bolinhos apertando a maçaroca nas mãos, era o capitão.

Durante anos essa lembrança me parecia algo lúdico até que a ficha caiu e eu vi que na realidade era pobreza. O joguinho de nos fazer comer capitão com rapadura era para não nos deixar perceber que na casa não havia pratos e talheres para todos, mesa para as refeições e nem variedade de comida. Era arroz, feijão com toucinho, farinha e rapadura apenas.

E assim foi durante toda a vida. As dificuldades financeiras não chegavam até os filhos. Os atritos entre o casal não nos atingiam. Todos os sacrifícios pelos quais passaram foram chorados entre os dois, a nós cabiam as brincadeiras e os estudos.

Por muito tempo estranhei a falta de carinho entre eles e nós. Não havia beijo de boa noite, nem um feliz aniversário ou feliz Natal, não havia parabéns pelo dez em matemática nem um abraço pela medalha de ouro. Hoje compreendo que nos privando dessas manifestações de afeto evitavam que cobrássemos os presentes. Não havia como dar presentes. Sempre havia um aniversariante, são onze filhos, afinal. E eles sempre apareciam com uma nota dez em matemática já que eram muito bons na escola. Um ou outro sempre ganhava um torneio, um concurso literário, mais tarde os concursos de emprego, os vestibulares e nunca houve abraço, beijo e parabéns. A vida os endureceu.

O primeiro beijo que dei em minha mãe foi aos 21 anos sem que ela esperasse e em meu pai, alguns anos depois.

Se "seu" Chico sempre foi o provedor infalível e esforçado, cabia à minha mãe a educação, as cobranças, as surras... E quando algo não saia como o desejado e um filho atrapalhava os planos, era ela quem ouvia as reprimendas.

Aos cinco anos sofri um acidente muito grave e fiquei três dias em estado de coma. Por anos meu pai culpou dona Luci por negligência sem que eu soubesse.

Ela foi e é muito macho. Fez de cada filho um adulto responsável, honesto, competente no que faz e trabalhador. Se não conseguimos ser os melhores é por falta de nossas próprias capacidades ou por contigências, mas o melhor que uma mãe poderia ter feito por todos ela fez e a gratidão nunca será suficientemente grande.

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