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segunda-feira, outubro 10, 2005

"Devagar é que não se vai longe"
Chico Buarque



Calos N'Alma


A vida caleja, tira o fio da lâmina, torna pétreo o miocárdio.

Como ver poesia e lirismo no cinza de vidas repetitivas? Não adianta citar Bilac ou Drummond, a vida não perdoou nem a eles. Se bem que a vida é um substantivo abstrato. Qual o superlativo de abstrato? Pois é, a vida é esse superlativo aí.

Sonhos isso, sonhos aquilo, querer é poder e dá-lhes Lair Ribeiro hemorróidas a dentro e o substantivo mais que abstrato não perdoará o Lair Ribeiro.

A vida não é romântica, embora caibam romances na vida. Romances esses criados para acabar antes que ela acabe. Nada pode ficar para além da vida. Se ficar é porque foi transferido para outra vida.

O que duas vidas vivem juntas passa a ser metade quando uma acaba e vai se esvaindo aos poucos no dia a dia da outra. E morre antes da segunda vida.

A vida é filme de ficção com enredo ruim e péssimos atores e a culpa é do diretor ausente. Há quem afirme que ele está descansando desde o sétimo dia de filmagem e deixou cada um dos participantes dessa produção B fazer o que bem quiser, daí a péssima qualidade do produto.

Nessa película confusa cada personagem é mocinho e bandido, herói e vilão. Isso causa uma confusão tremenda na cabeça do espectador, mas sempre aparece um sabichão que convence aos bobalhões que entendeu toda a trama e pode traduzí-la em troca de alguns dinheiros. E os bobalhões pagam e se deixam convencer.

A vida, superlativo mais que abstrato de um substantivo abstrato, não poupará Paulos Coelhos e nem os bobalhões. Ela dá as cartas.

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