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terça-feira, setembro 07, 2010

Empresa Brasil

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A analogia, de tão óbvia, não deve ser original, mas não consigo encontrar outra, então, vai ela mesma: O país é uma grande empresa de sociedade anônima e cada brasileiro é um acionista. Alguns têm mais ações, outros têm menos. Na hora de escolher o CEO, o gerente, o capitão dessa empresa, os acionistas majoritários o fazem. Não de maneira direta, mas comprando os votos dos minoritários, seja com promessa de promoção, seja de maneira mais grosseira, oferecendo dinheiro.

Os acionistas majoritários estão nos cargos de chefia dos diversos departamentos dessa empresa; nos bancos, que é a tesouraria, nos portos, estradas e aeroportos, que são as vias de transporte das mercadorias produzidas, vendidas ou compradas pela empresa; nos rádios, jornais, sites e televisões, que são o fluxo de informação entre os diversos departamentos para que as determinações dos acionistas cheguem à presidência e vice-versa; estão nas câmaras de vereadores, nas assembléias legislativas e distritais, na Câmara dos Deputados e no Senado, as diversas instâncias decisórias do conselho deliberativo da empresa; e estão no Legislativo, nas alçadas municipais, estaduais e federais (aqui vale o plural, já que existem as diversas áreas judiciais federais), que compõe o conselho fiscal da empresa.

Os pequenos acionistas, aqueles que têm o voto individual de peso igual ao de cada grande acionista, está pelos corredores, pelas vielas, não ligam para o que ocorre nos escritórios, apenas espera que a empresa enriqueça, mesmo que um ou outro meta a mão no caixa e tire uma cota maior do que a devida pela divisão do bolo, apoderando-se da quantia que seria de muitos iguais a si. Não lê os boletins informativos diários que a gerência imprime, não participa das reuniões dos conselhos deliberativos e fiscais, dando aos presentes o poder de decidir em seu nome. Se alijam, voluntariamente, da parte que lhes cabe nas decisões do rumo da empresa. Colocam-se sob a mesa do banquete e satisfazem-se desde que algumas migalhas caiam em seus pratos.

O presidente, pelo contrato assinado por todos os acionistas, sejam grandes ou pequenos, juntamente com o corpo diretório, por si escolhido por comungarem das mesmas idéias, pelo menos teoricamente, têm a obrigação de zelar pelo bom andamento da empresa, não esquecendo-se que a empresa é de todos, sejam os que o elegeram na sessão ordinária quadrienal, seja pelos que preferiam outro gerente. O presidente deve esquecer-se de suas paixões pessoais, de suas convicções e aspirações, para praticar aquilo que seja melhor para o todo, para o progresso da empresa. Deve zelar para que um ou outro sócio desonesto meta a mão na parte do bolo que seria de outro ou outros acionistas desatentos que se deixam furtar, seja por ignorância, seja por comodismo, seja por ter-se deixado enganar promessas mirabolantes.

O presidente tem a obrigação de dirigir a empresa pensando no bem estar geral, sem privilegiar seu vizinho, seu compadre, o amiguinho de infância em detrimento daquele sujeito que mora do outro lado da rua e lhe dá língua quando ele passa.

Para que seja assim, o presidente deve ser escolhido entre todos os acionistas, como sendo o mais equilibrado, mais competente para gerenciar, o que seja líder e não apenas chefe. O acionista a ser escolhido para tornar-se CEO deve zelar pela honestidade.

Nossa empresa-Brasil não anda bem das pernas (o número de falências decretadas em agosto aumentou 19% e os acionistas não sabem) como dizem os números oficiais (o número de salário-desemprego aumentou em 2010 porque os ditos novos trabalhos são apenas ocupações temporárias) e os pequenos acionistas, o povaréu pouco instruído, que se satisfaz com propagandas, sorrisos, esmolas e tapinhas nas costas, se deixa enganar pelo gerente-presidente safardana e sua camarilha policialesca, que mente, engana e sorri bonito.

A empresa-Brasil só não vai à bancarrota porque tem solo fértil, braços fortes e homens que produzem e levam o rebutalho humano e político nas costas. Se dependêssemos apenas das más intenções e incompetência de nosso gerente e seus asseclas, já teríamos fechado as portas.

©Marcos Pontes

4 comentários:

Adao Braga disse...

Ficou bem explicado Marcos. Você pode não conhecer um outro exemplo, para fazer a comparação, no entanto, esta comparação feita está ótima.

Valeu cada letra que li!

Bernadette S. Holvery disse...

Marcos, você fez um retrato do Brasil e dos brasileiros em uma página. É uma pena que a maioria dos brasileiros não possa ler o que você escreveu e ficar fervendo de indignação como eu estou agora. Os governos se sucedem e uma coisa todos sabem: povo ignorante é fácil de levar. Parabéns pela clareza.
Bernadete

Rafael Kafka disse...

Esse país tem um potencial tão imenso que nem os cães conseguem impedir!

TonMoura disse...

Infelizmente, mano vélho, o Brasil não é uma empresa, do contrário seria uma das maiores potências do mundo. Criou-se o tal do estado de direito e temos lei pra tudo, não necessariamente pra justiça. Se o país fosse uma empresa, fosse dirida como empresa, mas como uma empresa dessas que sabe que a qualidade de vida dos funcionários implica diretamente na qualidade dos produtos e serviços, o que leva à satisfação e fidelização de clientes e consequente lucro, nós não teríamos legisladores julgando, nem executores legislando e nem judiciário interferindo. Teríamos um conselho diretor, um conselho auditor, um conselho fiscal, um conselho jurídico, um conselho administrativo e um conselho social. O ruim é que ia aparecer um Lula montando sindicato e coagindo os funcionários a se filiarem a ele.