De antemão já alerto que esse é um dos mais difíceis textos que já escrevi para este blog. O assunto em si já é por demais espinhoso e revoltante, acrescente-se a isso os fatos ocorridos, os que ainda ocorrem e os que correm o risco de virem a ocorrer são tantos e tão assustadores que é difícil escrever a respeito sem cair na armadilha da comparação entre o atual regime ditatorial chavista e outros mais notórios num passado recente, como, por exemplo, a era stalinista ou o reich de Hitler.
O processo ditatorial venezuelano vem instalando-se aos pouquinhos no que o Reinaldo Azevedo chamou de “golpe em câmera lenta”. Após perder o plebiscito que permitiria que se elegesse indefinidamente, Chávez partiu para práticas menos incisivas e continuou a mascarar sua tática com camuflagem democrática, contudo, fortalecendo as bases de sua ditadura como medidas que dificilmente poderão ser removidas por um improvável governo opositor.
O homem coopta jovens jornalistas e militares ou ameaça e prende empresários e opositores. Criou a milícia bolivariana, nos moldes dos comunistas após a revolução bolchevique, dando e cobrando de cada cidadão o dever de entregar os vizinhos que se opusessem ao novo regime. O mesmo fizeram outros regimes totalitários ao redor do mundo e da história, da Espanha franquista à Alemanha nazista, de Pol Pot a Papa Doc. Insuflando concidadãos contra concidadãos, conterrâneos contra conterrâneos, enaltecendo o ego dos que estão do seu lado e vilanizando quem quer que pronuncie palavra contra si ou seu governo, Chávez instaura um regime policialesco seriíssimo, amedrontador.
Com a economia do país caindo pelas tabelas, El Loco cria cortinas de fumaça desde a crítica ao biocombustível brasileiro (coincidentemente (?), depois da crítica de Chávez, Lula deixou da falar no assunto, esqueceu a promessa de que o Brasil sustentaria o mundo com combustível renovável) à carestia dos supermercados locais. Da exploração de petróleo estadunidense às bolsas de valores venezuelanas. Privatizou supermercados, incitou a população a vigiar os preços numa reedição castellana, ou bolivariana, do Plano Sarney, aquele mesmo que elevou a inflação a 50% ao mês, lembram? Arrepia só em citar.
Paralelamente aos programas econômicos talhados a facão mais para enganar os cidadãos do que para obter resultados eficazes contra o desabastecimento, a carestia e à inflação – ou seja, a bancarrota total -, as ações policialescas foram se fortalecendo. As milícias armadas bolivarianas, são uma garantia de sustentação caso os militares resolvam retomar sua lucidez e destituir o reizinho maluco de seu trono milionário.
Aliás, aí está outra contradição da esquerda sul-americana. Todos, sem medo de errar reafirmo, TODOS os líderes esquerdistas do continente são milionários. De Lugo a Lula, de Morales a Chávez, inclusive seus conselheiros e assessores mais próximos, todos têm fortunas consideráveis. Em nome do combate às desigualdades sociais, do combate à fome e à miséria, eles amealham milhões e os pobretões seus eleitores ficam com sorrisos de admiração em sua bocas banguelas porque agora compram dois quilos de arroz por mês quando antes só compravam um. Na Venezuela a coisa é ainda pior, já que o desabastecimento de gêneros de primeiras necessidades tornou-se ameaça constante.
O número de presos políticos vem aumentando constantemente e as fraudes policiais para justificar essas prisões são as mais absurdas. Como quem vem sustentando Cuba, que perdeu 20% de seu já diminuto PIB no furacão de 2008, é a Venezuela a relação entre os dois governos é siamesa e Castro, seja Fidel o su hermanito Raul, já mete o dedo nas prisões venezuelanas.
O caso mais recente e que não tem repercutido internacionalmente como deveria, foi o encarceramento de Peña Esclusa, empresário e ex-candidato à presidência e diretor das ONG UnoAmérica e Fuerza Solidária, preso em sua casa, diante de suas filhas menores, pela gestapo chavista, acusado de manter relações com o salvadorenho Franciscos Chávez Abarca, também preso em Caracas há duas semanas e imediatamente deportado para Havana, onde é acusado de terrorismo a bomba, em ações de 1999.
A mulher de Peña, Indira, nega veementemente, que houvesse qualquer explosivo em sua casa, principalmente no guarda roupa de suas filhas menores, mas ninguém parece se importar.
Por conta da deposição de Zelaya, em Honduras, ou do apoio de Lula ao armamentismo nuclear do Irã, o barulho internacional foi muito maior do que a prisão, ao que tudo indica, arbitrária de Esclusa. Nada se encontra nos sites da Anistia Internacional, da OEA, Human Rights Watch ou da ONU. A imprensa brasileira deu apenas pequenas notas reproduzindo o press release da Agência Bolivariana de Informação, a polícia secreta do Chávez. O governo brasileiro, como era de se esperar, cala-se. O mesmo governo que abominava essas práticas violentas de policiamento contra brasileiros há alguns poucos anos.
O mundo cega-se propositadamente e sabe-se lá por quais propósitos às sérias agressões aos direitos dos humanos direitos que se opõem ao ditador slow motion. Os Estados Unidos, autodesignado xerife do mundo, da liberdade e da democracia, emudece.
O caso de Peña Esclusa é apenas o último, mas são muitos os prisioneiros políticos na Venezuela, um número não determinado pelo governo que, aliás, dá caráter de crimes policiais ao caso de cada opositor preso.
Até o momento sequer foi revelado em que local Esclusa encontra-se preso. Não há outras manifestações oficiais e parece que nada de anormal acontece aos olhos e ouvidos do mundo.
Como dizia o próprio Esclusa em vídeos que foram devidamente retirados da internet, a ditadura bolivariana venezuelana é apenas pequena parte de um projeto latinoamericano. Ao nos calarmos, permitimos que essa ditadura introduza ainda mais seus tentáculos no Brasil, em câmera lenta, como vem demonstrando há sete anos ser a intenção.
As várias tentativas do governo Lula em calar a imprensa e opositores ainda não se firmou por conta de vozes de gente atenta que abre o berreiro a cada ação do gênero, mas se depender do cidadão comum, o estrago já estaria feito. Fiquemos alertas e gritemos contra a violência estatal chavista antes que tenhamos que engolir o mesmo veneno dlmista.
©Marcos Pontes