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quinta-feira, janeiro 27, 2011

A Bandeira não é pessoal

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O Brasil é o país do “primeiro”. Volta e meia vemos cartazes, faixas, convites e propagandas da “primeira semana disso”, “primeira mostra daquilo”, “primeiro seminário daquilo outro”, “primeiro congresso de tal coisa”... Poucas são as realizações que chegam a segunda ou mais edições. Essa prática demonstra a falta de continuidade, o descompromisso com o planejamento a longo prazo.

Agora que novos governos assumem em estados e na União, muitos dos projetos anteriores, mesmo alguns que estavam dando certo, são jogados na lixeira numa demonstração explícita que os novos governantes não conhecem os projetos dos anteriores e que, no eterno afã de marcar suas administrações com os traços do personalismo, criam novos projetos – se bem que essa palavra “projeto” também já foi violentada e seu sentido está completamente deturpado – que terão vida curta, sendo prontamente substituídos pelo sucessor.

Não bastasse essa prática nociva às tradições benéficas e ao erário, a onde vermelha, que prega a mudança e a revolução a qualquer oportunidade, vem também destruindo tudo o que há de estabelecido, como se o mundo todo esteja errado desde antes do poder cair em suas mãos.

Casamento, por exemplo, instituição aceita há milênios como a associação de adultos de sexos diferentes, passa a ter outra conotação, mais “moderna”, “revolucionária”. Não bastasse o reconhecimento das relações intrassexo, os “progressistas” têm que negar as relações anteriores. Não é raro ouvirmos alguém dizer que casamento é coisa ultrapassada ao mesmo tempo em que defende o casamento homossexual. Ou seja, o que já havia é velho e ultrapassado, enquanto que o novo é que é bonito.

Dias desses recebi em minha casa um casal, ele holandês e ela brasileira, que negam a igreja católica como coisa ultrapassada, velha, rabugenta e retrógrada, mas defendem os wicca, os cultos afro e o santo daime como a solução religiosa para o mundo. Independentemente de achar que essas vertentes estejam corretas, sejam deveras a salvação das almas, algo em que não creio, não há a necessidade de destruir o que já existe há séculos. Aliás, tal necessidade não há para pessoas com um mínimo de análise e conhecimento histórico, mas em nome do “moderno”, é assim que agem e pensam os miquinhos amestrados e lobotomizados pela maré vermelha que assola o planeta.

Celso Amorim, o mais bem acabado símbolo dessa mudança irracional, empregou nos dois mandatos do presidente anterior, a política externa de “o que é bom para os Estados Unidos, é ruim para nós”. Não havia propósito econômico, político, ideológico nesse rumo que ele traçou a partir do Itamaraty, apenas o propósito de destruir o que já estava estabelecido, uma maneira de concretizar um projeto a longo prazo de fazer ruir o império ianque para estabelecer, lá em seus sonhos magalômanos, um império com a corte em Brasília, tendo um sapo barbudo como imperador.

A resolução da presidente em acabar com a obrigatoriedade de se hastear a bandeira de comandante em frente ao Palácio do Planalto, ao Palácio da Alvorada e à Granja do Torto quando ela estiver presente, é mais uma pequena demonstração de que os propósitos escusos espreitam e se encorpam em pequenos atos.

Quartéise navios de guerra, por exemplo, têm a bandeira do comando hasteada sempre que o comandante esteja presente. É uma forma do público saber que o chefe está trabalhando e, teoricamente, à disposição do público, que é quem paga seus salários e por quem ele, o chefe, teoricamente, trabalha. Até o Palácio de Buckingham hasteia a bandeira de comando quando a rainha está presente.

Mudar esta norma internacionalmente conhecida, reconhecida e aceita é mais uma maneira de destruir instituições antigas sem propósito aparente, mas, com a mais absoluta certeza, com propósitos inconfessáveis e escusos que a observação vai nos revelar em muito pouco tempo.

 

©Marcos Pontes

domingo, janeiro 23, 2011

Fomos vendidos

oposição

Na época da ditadura, mesmo com colegas cassados ou seqüestrados, “desaparecidos, presos, intimados e torturados, alguns valorosos congressistas não se calavam. Mesmo alguns da situação abriam o verbo e protestavam publicamente contra um ou outro ato do executivo.

Retornado à democracia, o país abriu também as comportas para o surgimento de muitos partidos, desde o PT, que eram um aglomerado de siglas de grupos de oposição, seja armada ou democrática, até os até então banidos PCB e PCdoB. Na carona, cumprindo a exigência legal de número mínimo de filiados, vieram dezenas de siglas hoje chamadas de aluguel, alguns já finados, cumprida seu objetivo de fazer negócio vendendo apoio e fazendo fortuna para seus dirigentes, como o PP e o PRN, apenas para citar dois exemplos.

Se havia uma urgência de se fazer oposição aberta, legalizada e democrática, a nova democracia encheu-se de partidos, hoje consigo contar 23, depois de muitos coligarem-se, alguns fecharem suas portas e outros surgirem. A quase totalidade diz-se de esquerda ou centro esquerda, o que leva o cidadão sem malícia perguntar por que tantos se falam a mesma coisa?

Tornou-se, efeito colateral da ditadura, quase uma ofensa dizer-se de direita ou conservador, como se esta posição política caracteriza-se um câncer social. O PDS, partido de sustentação da ditadura, tornou-se PFL, hoje DEM, mudando de nome numa tentativa de afastar-se de seu passado direitista. E o afastou. Poucos de seus quadros, sendo Jair Bolsonaro seu maior expoente, diz-se claramente um conservador, por isso mesmo recebendo a pecha de louco, “reacionário” (o xingamento predileto das esquerdas e dos analfabetos políticos), “capistalista” (outro xingamento vazio, que por mim seria tomado apenas como uma identificação honrosa).

Por outro lado, cada esquerdista declarado e os que vão na maré dita “progressista”, embora defendam práticas russas de 1917, ou chinesas da época de Mao Tsé-Tung ou, ainda pior, castristas, acha-se no direito de abocanhar sua parte privada do Estado, principalmente do erário. Dizem-se injustiçados por terem sido desconsiderados como força política legal pelos generais e metem a mão legalizadamente, mas imoralmente, retirando suas pensões, indenizações e outras vantagens pecuniárias. Se pregam a igualdade social, diferenciam-se pelos privilégios recebidos, numa clara demonstração da contradição que eles carregam intrinsecamente.

E lá vem o governo centro-esquerda de FHC, depois o falso socialismo, que eu apelido de socialismo para os muitos e capitalismo voraz para os seus, de Lula e a corja vermelha que se enterrou sob o chão, como as cigarras, que ao primeiro sinal de verão põem a cabeça para fora e cantam alto sua melodia Internacional Socialista sem a preocupação de perturbar a vizinhança.

No medo de declarar-se direitista, capitalista e conservador, os politicanalhas embarcam no barco vermelho, deixando o país sem oposição.

FHC poupou Lula da cassação quando estourou o desmando do mensalão, toda a pseudo-oposição fez de conta que acreditou na desculpa cínica do presiente que afirmou que nada sabia do desvio de dinheiro público para comprar apoio para o seu governo no Congreso Nacional e o canavial de demais partidos manteve-se calado, acoitando o roubo e a corrupção, talvez em troca de cargos, vantagens, promessas e, quiçá, o mesmo mensalão que continuou em voga, embora mais velado.

O barro podre que faz os políticos da situação filiados ao PT, aos partidos companheiros ou apenas a sindicatos, é o mesmo que dá vida aos políticos de oposição que fazem de conta que são contra o governo e suas falcatruas em discursos para os jornais e nenhuma ação concreta no parlamento.

Não pode haver democracia ou equilíbrio de forças num país sem oposição, situação em que o Brasil se encontra há, pelo menos, 26 anos. Esse monocódio discurso de que somos vítimas nos deixa com a sensação de que a eternização da esquerda nos rumos do país já deu-se, deixando os muitos cidadãos comuns de direita sem representatividade e sentido-se traídos por aqueles que foram eleitos para se oporem a esse estado de desorganização e privatização das riquezas do Estado.

 

©Marcos Pontes

segunda-feira, janeiro 17, 2011

Este ano será igual àquele que passou

corrupcao PT Cartaz

Colocar em ordem cronológica requeriria um exercício de pesquisa a que não estou disposto a me entregar, prefiro contar com brain storm da memória, para isso não é preciso pensar muito para quem tentava manter-se minimamente informado sobre a política nacional nos últimos 8 anos. Me refiro, obviamente, aos inúmeros escândalos surgidos, seja por desonestidade, seja por pura e clara incompetência, no decorrer do governo que se findou, pelo menos pró forma, em 31 de dezembro de 2010.

O primeiro escândalo, sabido e decorado, foi o mensalão, espalhado no ventilador pelo boquirroto bandido que saiu do episódio com aura de bom mocinho, Roberto Jefferson, sujeito já maculado em sua moral ao encabeçar a tropa de choque que defendeu Collor até o penúltimo segundo durante o processo de impeachment do outro boquirroto.

Depois de emagrecer duzentos quilos, ficando com a cara de seu irmão mais magro, o populacho esqueceu-se de quem ele era. A propósito, ligando o mensalão do Jefferson com as denúncias contra Collor, deflagradas pelo irmão que não teve acesso ao bolo, Pedro, em ambos Jefferson teve participação ativa. Passiva e venal. Em ambos saiu arranhado, mas de pé, como os bandidos que saem ilesos ao toparem a delação premiada.

Voltando aos escândalos.

O mensalão, ao ser levantado seu tapete, mostrou a podridão nos Correios. Poxa!, justamente os Correios, a empresa pública que mais contava com a confiança popular havia décadas? Pois é, a administração corrupta da República Sindicalista começou destruindo uma entidade forte.

No rastro dos desmandos desvendados, mas não julgados, aí é querer muito, vieram os sanguessugas, roubando grana da saúde pública, pouco se importando com os usuários do sistema que não contam com hospitais decentes, esperam por meses por exames que podem salvar suas vidas, ou morrem nas filas de espera; os negócios escusos do tal, desculpem o palavrão, Lulinha, que fez fortuna mediando negociatas com a Telemar. A competência a toda prova o fez sair do emprego de limpador de bosta de elefantes a multimilionário e latifundiário, em episódios explícitos de tráfico de influência; na Ciência e Tecnologia, depois da promessa do então presidente de destinar 4% do PIB para essa área, o que se viu foi a transferência de suas verbas para outras áreas, pior, nem sempre aplicadas com transparência. À Ciência e Tecnologia sobraram menos de 1%; a dinheirama destinada, sem licitação ou processo legal, para os tais “movimentos sociais”, inclusive com parecer do inútil Tribuna de Contas da União e redundando num balcão de negócios chamado Comissão Parlamentar de Inquérito das Organizações Não Governamentais, popularmente conhecido como CPI das ONGs. Um dos principais beneficiados é o MST, organização dedicada ao terrorismo rural que nem tem matrícula legal, portanto, sem CGC, o que o impediria de receber verbas oficiais. E daí? Leis, para petistas, foram feitas para serem ignoradas; a dinheirama que Duda Mendonça confessou ter transferido para a Suíça por vias sub-reptícias e recebidos pela primeira campanha do PT e sem recibos. Mesmo diante da confissão, ele continua impune, seu candidato continuou governando, o partido não foi admoestado e nós, contribuintes, tivemos que chorar de raiva caladinhos sob nossos cobertores; o assassinato do prefeito incômodo ao seu partido e seus então companheiros. Caso jamais explicado, mesmo com tantas denúncias claras e não apuradas pelas polícias ou pela justiça; as muitas amizades com ditadores que o presidente abraçou a conselho de seu Richilieu de baixa moralidade, Celso Amorim. Mugabe, Khadafi, Chávez, Morales, Ahmadinejad... São tantos os mandatários de viés ditatorial, alguns, como os latinoamericanos, travestidos de democratas por conta de suas eleições manipuladas, que caíram na boca do povo informado e nas graças do presidente desinformado, que ficamos mal vistos, embora com disfarce, por parte de nossos antigos parceiros do Hemisfério Norte. Não bastasse isso, no apagar das luzes de seu governo, o terrorista Battisti recebeu o aval para continuar em nossas terras, terras de bandidos; no rastro do Amorim, havia o revanchista maoísta gramsciano Tarso Genro, que o povo gaúcho premiou com a governadoria, negando a crença nacional que os gaúchos são bons em política.

Muitos outros escândalos poderiam ser enumerados, mas nada de novo seria dito. Por que, então, resolvi falar desses? Porque percebi que NENHUMA área sob a tutela do Estado saiu incólume da corrupção, dos escândalos e da função de cabide de empregos para os sindicalistas e petistas desempregados. Até a educação pública, que de tão ruim e sucateada parecia não ter como ser mais maculada, caiu no descrédito total com o roubo de provas do ENEM em 2009 e os erros dos gabaritos de 2010, mesmo tendo, o MEC, um ano inteiro para preparar-se para as provas. No finalzinho do mandato, as falhas do ENADE, que nem deram manchetes, tão calejados estamos com a burrice petista.

Pois 2011 parece que vai seguir no mesmo ritmo. Os estudantes não conseguem se inscrever no SiSU e revela-se um esquema de roubos de mais de 500 milhões de reais na Funasa. Para nosso desgosto, no ano previsto para o julgamento do mensalão, tudo indica que ninguém será punido, fazendo desse ano igualzinho aos anos que passaram.

 

©Marcos Pontes

domingo, janeiro 16, 2011

Solidão Palaciana

alvorada

Alguém já disse que o poder é solitário, sem querer minimizar a solidão de quem o exerce, assim como, bem lá no fundo, a de quem está em posição de destaque político, artístico ou esportivo, filosoficamente diria eu que viver é solitário.

O tuiteiro amigo @kubipinheiro08 sugeriu que eu escrevesse sobre a solidão que a presidente encarará no Palácio do Jaburu. Imagino que o caro amigo estivesse se referindo ao Palácio da Alvorada, uma vez que o Jaburu é residência oficial do vice presidente e neste, muito provavelmente, a presidente não será bem vinda nos próximos quatro anos; enquanto que o Palácio da Alvorada é a residência oficial do(a) presidente. A bem da verdade, crieo que o vice também não será persona gratíssima na residente da presidente. Bom, talvez o @kubipinheiro08 tenha referido-se ao Palácio do Jaburu qurendo referir-se à jaburu que ocupará o Palácio da Alvorada, mas aí seria muita maldade nossa, dele e minha.

Os dois tornaram-se uma chapa mais por imposições políticas do que por afinidade de idéias.

Lula havia construído a vice às custas da propaganda farta e de seus vontades impostas, precisava solidificar o nome dela às custas dos companheiros políticos. Nessas horas, os amigos mais propícios para apoiá-lo nessa tarefa eram justamente os desafetos de um passado não muito longínquo, o PMDB. O mesmo PMDB chamado de pelego, pelo finado e esquecido Lula dos anos 80, do Sarney, chamado de ladrão pelo mesmo Lula, juntamente com sua famiglia e partidários. O temerário Temer foi apenas o nome escolhido pelos cardeais venais do PMDB, não houve qualquer interferência da candidata situacionista na escolha desse nome.

Melhor dizendo, talvez a candidata, Poe exclusão, deva ter escolhido o nome que lhe daria, teoricamente, menos dor de cabeça no caso de uma vitória. Mas, brasileiros leitores de jornais e revistas, quantas vezes vimos a dupla mandatária se reunir, fazer declarações conjuntas, defenderem publicamente o mesmo programa governamental ou assumir qualquer compromisso com a nação? Eu não lembro de nenhuma.

A solidão que a presidente encarará no Palácio da Alvorada será minimizada pelas visitas das altas horas, que não aparecem nos jornais, seja porque a imprensa dorme, seja por “pedidos” – e eu não quis dizer chantagem ou compra de silêncio. Amigos, ou amigas, principalmente, a visitarão diante do silêncio das manchetes e até acho isso normal. Pelas suas convidadas especiais para as solenidades da posse e para o primeiro baile do seu império, percebe-se que suas influências perseveram por todos esses anos e é natural que sejam constantes em seus momentos íntimos. Já a solidão que a acompanhará no Palácio do Planalto é mais preocupante.

A Casa Civil, encabeçada pelo ex-ministro e deputado eleito de moral maculada por atitudes nada éticas, amorais e ilegais, pode ser tomada como o parachoque da presidente, é o crivo do que e de quem deve chegar a ela ou não. Contudo, com o corporativismo petista e seu projeto de poder bem maior que seu projeto de governo, muitos dos que chegarão ao gabinete do terceiro andar ocupado pela presidente levarão propostas de lobbies, negociatas. Não devem ser poucos os companheiros a fim de favores presidenciais que acessarão o gabinete sem a intimidade pessoal, apenas por indicações dos líderes partidários, gente nada confiável que a própria presidente, calejada no trato com esse tipo de gente, da qual ela também já foi uma cabeça, sabe que não pode dar-lhes confiança demais, confessar seus dissabores, discutir seus planos ou dar esperanças. É a pior das solidões, do tipo em que se dá no meio da multidão.

No Palácio da Alvorada um exército de 75 serviçais será mais confiável que a centena de visitas diárias ao Palácio do Planalto. Na Alvorada as amigas terão entrada franqueada sempre que a moradora as convidar, enquanto que no Planalto as visitas serão amigas de outros amigos, gente de segunda, terceira ou totalmente desqualificada categoria.

 

©Marcos Pontes

sexta-feira, janeiro 14, 2011

Tricolor ou trifacetada?

Dilma 1

Dilma 2

Três momentos da presidente no Rio, ontem: 1. Seu desfile por uma rua,entre as centenas destruídas, o ar sério, ladeada pelo governador, dezenove seguranças e da Presidência, policiais, papagaios de pirata, jornalistas... Uma multidão; 2. A chegada alegre ao campo do Fluminense, sorriso largo, foto posada com a camisa do clube, acenos para a insignificante patuléia das arquibancadas ao lado do governador, 19 seguranças, policiais, jornalistas, como se estivesse chegando de um chá com as amigas onde haviam discutido banalidades cotidianas; 3. Novamente a máscara séria de pessoa preocupada durante a entrevista coletiva, o esforço para tirar do aliado Cabral a culpa por qualquer falta de ação que resultaram em mais de 500 mortes, as promessas de reconstruir os Rio e aquela fanfarronice típica de qualquer dirigente desse país.

13-01-2011; Rio de Janeiro; O governador Sérgio Cabral, a presidente Dilma Rousseff em coletiva após sobrevoarem as áreas atingidas pelas fortes chuvas na região serrana do estado; Foto : Marino Azevedo 

Aliás, seu antecessor havia prometido reconstruir Santa Catarina, mas, um ano depois da tragédia das enchentes, ainda existem famílias morando em abrigos temporários que já tendem a tornarem-se permanentes.

O mesmo presidente prometeu reconstruir as áreas destruídas nas enxurradas de Alagoas, mas, ao que tudo indica, a ajuda de roupas e comidas arrecadadas por entidades civis foi mais significativa do que a ajuda oficial do governo federal. Nada foi reconstruído, as verbas ainda não chegaram ao destino e a miséria continua no seu rumo à perpetuação.

Quantos morreram há um ano no desmoronamento do Morro do Bumba, em Niterói? Quantos foram retirados, receberam moradia decente em locais seguros? Qual é o montante, por família, para o tal aluguel social ou ajuda aluguel ou sei lá que nome tem? Um miserê que não permite que se alugue um imóvel decente.

Em poucas horas a presidente mostrou suas três caras, de consternação, de satisfação com o puxassaquismo e de técnica estóica. Essa técnica estóica mostrou-se também boa companheira ao isentar o estado e município das responsabilidades numa clara egolatria, uma vez que a Constituição Federal alega que o uso do solo urbano é atribuição dos municípios. Ao tomar para o governo federal a responsabilidade, mostra, além do desconhecimento das leis, algo que seu antecessor mostrou dominar como um craque de quatro patas, que anseia pela aura de heroína nacional.

Do governador fluminense nada falo. Como diria no populesco, não vale a pena gastar vela com defunto ruim. Esse senhor nada mais é do que um populista de palácio. Cada vez que brinda seus concidadãos com sua presença, tirando férias das férias parisienses permanentes, é para falar bobagens, assumir uma empostação de voz típica de vendedores de Bíblia; falar o que o populacho gostaria de ouvir; vomitar razões que sua própria razão desconhece com soluções para todos os problemas de seu estado, sem nada resolver. Ano após ano as desgraças de verão se repetem; durante todo o ano o flagelo do tráfico de drogas se fortalece; emprega toxicômanos contumazes, como Carlos Minc, enquanto defende a legalização das drogas. Nada acrescenta à qualificação dos políticos nacionais.

A presidente, porém, que já demonstrou não ser tão fantoche do seu mentor político e antecessor, mostra ter alguns mesmos defeitos de personalidade dele, a empáfia, a destreza da desfaçatez, mudando de pele, cara e discurso de acordo com a platéia para quem fala.

©Marcos Pontes