Quem tem como principal assunto a política nacional, é de se esperar que uma retrospectiva do ano que ora finda seja um tremendo apanhado de coisas ruins e vergonhosas. Corro o risco de parecer uma viúva portuguesa, daquelas que andam de preto pro resto da vida e reclamam de tudo, maldizem até a comida cotidiana. Por outro lado, pra alívio dos poucos que me lerão e pra minha própria auto-estima, não procurarei nos jornais os fatos que marcaram o ano. Vamos viver em perspectiva e deixar um pouco de lado as agruras passadas.
As batatadas que o Beócio-mor comete cada vez que abre a boca em público (fico imaginando que absurdos ele não deve cometer em reuniões particulares regadas a alguma bebida alcóolica) me envergonharam e irritaram dezenas de vezes em 2009, mesmo devendo eu estar acostumado, afinal de contas, já são sete anos ouvindo-o “bostejar” pelas páginas da mídia.
A empáfia do PT que tomou o país, suas instituições, seus cargos públicos de assalto, literalmente, tornou-se mais feroz. Dominaram tudo o que há de público e forçam as portas das empresas privadas, como aconteceu recentemente com a imprensa, em sua segunda tentativa de controlar o que deve ser ou não divulgado, por quem e de que modo, mesmo sendo atitude frontalmente contrária às diretrizes da Constituição Federal, que prega a proibição de qualquer tipo de censura. Aliás, o próprio PT e seu constituinte mais famoso, hoje presidente da República, foram defensores ferrenhos dessa liberdade de expressão e opinião. A diferença é que era oposição e tinha como meta perturbar o governo, fosse ele qual fosse, mesmo tendo que repetir todas as práticas desses mesmos governos, algumas de forma aprimorada, como a corrupção de todos os tipos, uma vez que descobriu que esta jamais é punida.
Aliás, para não dizer que a corrupção não foi punida, um ou outro exemplo pode ser citado, como o afastamento de Agaciel Maia da presidência de fato do Senado. Claro que num país sério ele seria preso, demitido do serviço público e condenado a devolver cada centavo que desviou. Mas isso em um país sério.
Agaciel foi apenas um “cala boca”, como a Justiça faz de vez em quando. Pega-se um bandido pra Cristo, de preferência um bandido de segundo ou terceiro escalão e faz de conta para a nação que puniu um safado. E a patuléia fica maravilhada vendo um bandido passar maus bocados. A mesma patuléia que na primeira oportunidade mostra seu coração bom, sua memória falha e seu caráter duvidoso devolvendo todas as benesses ao bandido afastado, como pôde ser excelente exemplo a reeleição de Arruda ao governo do Distrito Federal.
Perdoado no crime de quebra de sigilo do painel de votação, Arruda recebeu o tapinha nas costas de seu eleitorado imbecilizado por cinco séculos de lavagem cerebral com esmolas, e voltou ao trono, seguro de que poderia cometer crimes mais graves, sairia ileso da mesma forma. Provavelmente ele tinha razão em pensar assim, afinal de contas, até o momento não sofreu qualquer punição ou reprimenda, apenas a vergonha de aparecer em todas as mídias como um safado corruptor e corruptível. Mas vergonha para esse tipo de canalha só dura alguns minutos. Recompoem-se rapidamente e e reaparecem diante das câmeras alegando perseguição política e manobra dos opositores. E a patuléia se compadece e perdoa de novo. E a Justiça acredita em suas palavras, nada investiga e os deixa impunes. Assim tem sido e assim será por mais 509 anos, pelo menos.
Morreram ídolos, renascerão outros incapazes de apagar as imagens fortes dos que se foram. É uma falácia dizer que brasileiro não tem memória. O que nós temos é memória seletiva e memória coletiva fragmentada. Lembramos de nossos ídolos, mas não sabemos fazer memoriais como fazem os ianques e os russos. A mesma televisão que vive pregando a falta de memória dos brasileiros, não ajuda, nos enfiando olhos, ouvidos e goela abaixo as celebridades nescafé que ficam prontas com um pouquinho de água quente, esfriam rápido e ficam intragáveis em pouco tempo. A mídia não mostra o que o povo gosta, ela ajuda a formar o gosto popular ao gosto de seus programadores, que têm demonstrado ter péssimo gosto.
Novelas, músicas e cinema, por exemplo, renovam-se para baixo. Os mesmos folhetins são escritos há 5 décadas e a patuléia continua fazendo deles “campeões de audiência” numa demonstração de gosto cultural imbecilizante. A sensação do ano, por exemplo, em termos de cinema, embora ainda nem tenha entrado no circuito, foi O Filho do Brasil, uma elegia à vida do Beócio, como se só ele tenha passado dificuldades de viver e sobreviver nesses país de castas, e o único a ter vencido as agruras para tornar-se um homem bem sucedido. O The Times descobriu até a mensagem subliminar de trecho da música tema do Filme Super-Homem na trilha sonora do filme sobre o Beócio. Ou Super Man é um beócio, ou o Beócio é um super-homem. Justiça seja feita, foi o único que conseguiu fazer fortuna e comprar um duplex em São Bernardo sem bater ponto num trabalho por mais de vinte anos. Mas lógico que essa parte de sua biografia não é mostrada no filme, não se explica a origem dessa fortuna ou da de seus filhos.
Continuamos a pagar a conta. E nossos vizinhos latinoamericanos não pagam contas menores. Venezuelanos têm que aguentar um louco megalomaníaco na presidência; os bolivianos suportam um cocaleiro mais despreparado que nosso torneiro mecânico, uma maria-vai-com-as-outras que segue a moda de seus vizinhos um pouquinhos mais inteligentes (ou menos burros, como preferirem); no Equador uma besta populista com práticas ditatoriais ao estilo maoísta, sem o carisma e inteligência de Mao, cala qualquer oposição no chicote, escondidinho do mundo por trás da grande cordilheira; Paraguai e Uruguai entregam suas presidências a vermelhinhos com passado duvidoso e futuro igual ao passado de outros presidentes… Pelo menos levamos uma lição de Honduras que não dobrou-se aos arroubos intervencionistas dos mandatários sulamericanos. Deixaram bem claro que quem manda em seu nariz são eles próprios, que não aceitam pitaco. E Brasil e Venezuela, com o rabinho entre as pernas, abandonaram Zelaya chupando dedo, prisioneiro na casa que lhe foi dada como asilo. Sem ter para onde ir, Zelaya queda-se calado, impotente e exilado em seu próprio país. Burro, ainda não percebeu que está encarcerado, justamente o que ele não queria. Pior, no exílio ele estava livre, em casa ele está preso, e quem o colocou nessa situação, agora lhe vira as costas.
Mas estamos vivos. Espero que todos saudáveis, com uma fonte de renda garantida, cercado por pessoas amadas e que os amem, com voz e coragem para elevá-la. Se 2010 não promete ser melhor do que os anos anterirores em se tratando de política, se as eleições prometem reeleger quase toda a canalha que hoje detém os cargos, pelo menos continuamos vivos e terminaremos 2010 ainda vivos, bem vivos. Se as leis não serão renovadas aumentando a pena para bandidos, diminuindo a quantidades de recursos a que eles têm direito e reduzindo os benefícios que lhes cabem, pelo menos os homens e mulheres de bem, honestos e trabalhadores, terminarão 2010 vivos e saudáveis. Se teremos o mesmo governo que nada sabe, nada ouve, nada vê e fala besteiras pelos gorgomilos, os homens e mulheres sensatos, de senso crítico, filtro para informações e boas intenções continuarão vivos, saudáveis e alertas.
Que as agruras, desmandos e roubos de nossos mandatários tenham fim, embora eu duvide; que as esmolas sociais deixem de existir e sejam trocadas por educação de qualidade, saúde pública de qualidade, transporte, moradia e, principalmente, emprego de verdade; que a violência das ruas tenha fim e possamos voltar a colocar as cadeiras nas calçadas no final de tarde e colocar o cotidiano em dia sem medo de balas; que nossas crianças possam crescer sem o medo de viver que nós aprendemos a ter em nome da auto-preservação; que consigamos acertar uma vezinha só, só uma, e escolhamos governantes e legisladores comprometidos com a causa pública, os males comuns e façam desse país uma verdadeira e única nação e não esse fragmento de país em que existem os amigos do governante e os que comerão as migalhas. Que 2010 seja de fato um ANO NOVO e não a repetição, o moto contínuo, dos anos anteriores em que o culto à personalidade dos líderes fez-se mais importante que o crescimento real e equilibrado do bem comum.
Seja você, parco leitor, agente transformador, vigilante e fiscalizador dessa mudança. Feliz 2010!
©Marcos Pontes
3 comentários:
Gostei da retroperspectiva;)
Uma marcha à ré de olho no horizonte.
que seus votos se cumpram porque são meus também.
Você esqueceu de citar nesse rol de "aguentam" a paciência que americanos precisarão pra suportar as pataquadas do Barak e toda a propaganda. Mal começou e o casal à la Kenedy estava na Oprah dia destes exibindo sua pieguice . além do mais com o relaxamento das medidas de segurança contra os delirantes terroristas muçulmanos é toda a civilização ocidental que corre perigo. hoje um grupo de agentes da cia foi assassinado por homem bomba (urgh! Nojo) lá pros lado do caos e deserto.
Meu querido Marcos!
Adorei a retrospectiva!!
Como cidadâ, me sinto como no "Mito de Sisifo onde ele era condenado a empurrar incessantemente uma pedra até o topo de um monte apenas para vê-la rolar até embaixo novamente! Mas como Sísifo sei que quando a pedra rola monte abaixo, nós devemos ir atrás dela e tentar mais uma vez!!
FELIZ 2010 beijos para você e sua familia!
Caro Marcos, o PoPa não é um bom leitor de textos longos, mas este teu está um primor. Um olhar atrevido e indignado com o que aconteceu neste ano que passou, mas com um pouco de fé no que vem por aí.
2010 SERÁ um bom ano. Será o ano que o povo brasileiro tirará o pt do governo. O PoPa vai votar em gente nova, que ainda não roubou nada. Pode dar certo...
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