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domingo, janeiro 24, 2010

A guerra do Guerra

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Tudo começou com a declaração impensada de Sérgio Guerra afirmando que o PSDB acabaria com o PAC, que este não passa de propaganda eleitoreira do governante-mor em prol da candidatura de sua pupila, que se transforma à sua imagem e semelhança feminina, ou o mais perto disso que consegue chegar.

Todo o mundo já percebeu que o PAC é uma propaganda gigantesca, uma mistura entre a mentira que se repete até virar verdade, máxima eternizada com a política de Göebels para o III Reich, e o Brasil Grande criado pelos militares pós-golpe de 64, pegando carona nos 50 anos em 5, do Kubitscheck. Até mesmo os jornais ingleses, que vivem paparicando Lula, já começam a listar as propagandas políticas extemporâneas da dupla Lula/Dilma. Até a Velhinha de Taubaté, se fosse viva e de carne e osso, perceberia, desde o Fome Zero até o filme fracassado do Fábio Barreto, o que mais esse governo tem feito, é propaganda. Quando não são apenas divulgação do tamanho do ego presidencial, necessária para que os verdadeiros presidentes do país trabalhem na sombra do ego inflado de Lula, são propagandas de programas furados (Fome Zero, Primeiro Emprego, Minha Casa Minha Vida, Espetáculo do Crescimento, Bolsa Escola (que não melhora a educação e nem diminui a evasão escolar) e tantos e tantos mais), para fazer cortina de fumaça para que o eleitor menos informado, característica da maioria dos eleitores de Lula não consiga ver a nudez dessa administração calamitosa, incompetente, irresponsável e mentirosa.

Guerra errou. Não por mostrar a mentira que tem sido o PAC, como menos de 10% das obras propostas, executadas. Mas por alegar que o PSDB acabaria com essa farsa. Tem certas coisas que político não deve falar nem no leito de morte ao ouvido da pessoa amada, uma delas é dizer que irá desfazer o que seu adversário pode até não ter feito, mas que o populacho acredita ser a salvação da pátria.

Isso parece ser falta de escrúpulos, mas não o é. Não dizer que vai acabar não obriga o sucessor a manter. O problema é que depois que fala, o eleitor espera que seja cumprido e o adversário anota em seu caderninho para cobrar mais tarde. Depois de falado, Guerra autorizou a turma petista e seus aliados a cobrarem o fim do PAC se os tucanos ganharem a presidência. Guerra colocou, portanto, uma possível administração de José Serra entre a cruz e a espada.

Imaginemos Serra vencedor da eleição. Se ele acabar com o PAC (parece contraditório acabar com o que não existe, mas, queiramos ou não, vivemos num mundo virtual, onde a propaganda tem mais peso que a realidade), o PT e sua gang poderão fazer o maior estardalhaço, e farão, cobrando do governo a destruição de um dos maiores e promissores programas sociais jamais imaginados no Brasil; se Serra não acabar com o PAC, PT e asseclas alardearão a falta de compromisso com a verdade, com os compromissos assumidos e blá-blá-blá. E qual a saída? Mudar de papo.

Serra terá que fazer de conta que o dito não o foi e conversar sobre outras coisas, inventar outras promessas e atacar com força aquilo que não deu certo – e o que não deu certo nesse governo dá pra encher cadernos e cadernos.

Depois da declaração de Guerra, a guerra ficou franca. Lula, com discurso fácil, embora vazio, xinga daqui, fala palavrão de lá e promete jogo limpo, de alta classe. Impossível crer, afinal, o que menos Lula sabe é o que é alta classe. Hospedar-se em hotéis 5 estrelas (ao invés de nos palácios que são as embaixadas brasileiras na Europa), andar de avião-hotel para cima e para baixo, jantar no Palácio de Bukingham ou andar nos tapetes vermelhos da Casa Branca não são demonstrações de que ele tem classe. Isso ele não tem. Nem classe, nem traquejo, nem educação e nem respeito aos miseráveis a quem diz que vai “tirar da merda” enquanto gasta absurdos em despesas secretas com seus cartões corporativos, com direito a cartões-dependência para seus filhos.

Que o Guerra aprenda: Pior do que malhar o malfadado PAC seria prometer o fim das bolsas-esmolas. Que ele não caia na besteira de prometer isso.

 

 

©Marcos Pontes

quinta-feira, janeiro 21, 2010

Dilma mente e eu já sabia

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A política eleitoral brasileira tem uma característica nada agradável: a constante campanha. Basta um vencedor assumir seu cargo, que logo começa a campanha para a próxima eleição de quatro anos no futuro, ou oito, no caso dos senadores.

Enquanto vemos o presidente Obama convocar seus dois antecessores, um do mesmo partido e outro a quem fez dura oposição, para formarem uma frente de combate às mazelas provocadas pelo terremoto do Haiti, e ver atendidos seus pedidos, numa demonstração de civilidade e compromisso de homens públicos com a melhoria da qualidade de vida de seus concidadãos e dos seus vizinhos globais, por aqui costumamos ver a mesquinharia, o egocentrismo e o vale-tudo para perpertuar-se no poder, mesmo que por vias indiretas, como é o investimento de Lula nesse momento.

Ao verem naufragar os planos de petistas e lulistas, hoje quase opositores, de lhe darem um terceiro mandato imediato, o presidente investiu na ilustre desconhecida das massas, sua ex-ministra de Minas e Energia e atual ministra chefe da Casa Civil. Precisava fazer de tudo para emplacá-la no incosciente popular e no consciente coletivo de seus potenciais eleitores. Tem suado um bocado.

Os meios usados nem sempre são lícitos, pelo contrário. Começa-se entortando a legislação eleitoral e vedando os olhos dos juízes das istancias superiores. Para piorar, conta com uma oposição medrosa, excessivamente cautelosa, que não é agressiva na mesma proporção com que a campanha extemporânea do PT agride o país acintosamente, nos enfiando, goela, olhos e ouvidos, à força, a imagem e a pré-fabricada por mentiras e marqueteiros biografia da ex-terrorista.

Começo a desconfiar, aliás, que terrorista é como pedófilo, não existe “ex”. Uma vez terrorista, sempre terrorista. Ela nos aterroriza com sua agressividade, com suas mentiras, com a faísca revanchista e vingativa que emite no olhar furioso. Até sua simpatia, seus constatntes choros em palanque e inaugurações, são emntirosos.

Os eleitores da oposição, principalmente dos tucanos, acham um erro estratégio a lentidão do lançamento oficial de sua campanha. Eu sempre achei a estratégia correta. Num país em que o palanque é mais importante e constante que a autoridade que os cargos determinam, lançar a candidatura com muita antecedência, além de ser ilegal (coisa que a dupla Dilma/Lula fez sem constrangimento moral ou legal) expõe o candidato a toda sorte de ataques, verdadeiros ou fictícios. Esperando o tempo certo, Serra previne-se de ataques mais virulentos e inescrupulosos. Aliás, PT e Lula já demonstraram que seus escrúpulos perderam-se na campanha de 1989. Por outro lado, Dilma deixou à mostra suas mentiras constantes, sua transformação marqueteira.

Além das mentiras citadas, enfim, por Sérgio Guerra, na nota lançada no último dia 20, outras são mais sutis e com efeito mais profundo no inconsciente coletivo. Sabendo que ao falar errado e besteiras aos montes Lula atingiu o eleitorado menos letrado que espera por um Messias com sua mesma biografia do miserável, Dilma passou a imitá-lo, provavelmente orientada por algum marqueteiro rasteiro. Ela, que mentiu sobre seus diplomas de pós-graduação, passou a falar errado, assassinar a gramática e deslizar nas concordâncias, e a usar de analogias comparáveis às metáforas futebolísticas de seu chefe. É a eterna campanha eleitoral em seu curso imoral.

Que a oposição não fique batendo no peito orgulhosa depois da nota de Serra, muito há para ser feito para desmascarar a Terrorista, não se pode dormir no ponto. Lançada o primeiro contragolpe, que seja dada continuidade à altura. PT/Lula/Dilma não terão escrúpulos, por isso não será crime atacá-los À altura.

 

©Marcos Pontes

segunda-feira, janeiro 18, 2010

O Capoeira

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A capoeira, segunda dança brasileira mais conhecida mudo a fora, nem sempre teve o glamour com que conta hoje. Ao redor do mundo, principalmente na Europa, a capoeira brasileira prolifera com a exportação de “mestres”, alguns sem o reconhecimento dos mestres de verdade, que montam suas escolas na Holanda, Dinamarca, Fraca, Espanha, além de EUA, Japão e Canadá. A luta-dança é conhecida e admirada pela sua plasticidade.

Já é por demais conhecida a história da capoeira no Brasil. Veio com os escravos, era dançado nas senzalas como um balé para esconder dos capitães-do-mato e dos senhores seu caráter marcial, depois da abolição foi proibida e perseguida pela polícia e tudo o mais. A clandestinidade, criou mitos, ídolos e heróis, como Mestre Pastinha e Mestre Bimba, os dois maiores expoentes.

Característica associada aos capoeiristas desde sempre, é a malandragem, o jogo de corpo, a ginga. Não era à toa a perseguição por parte da polícia. Os “capoeiras” não se valiam só dos pés, cabeça e mãos para se imporem e ganharem as lutas, usavam também de armas brancas (navalha praticamente fazia parte do uniforme), de cassetetes e de comparsas. Romanticamente o capoeirista é desenhado como o bom malandro que se vestia de branco, cor do santo, e encarava sozinho dez inimigos, colocando todos no chão. Mas a verdade é um pouco diferente. Os capoeiristas gostavam de grupo, de gangue.

Estamos falando, lógico, do período pós-escravatura até os anos 60 do século passado, quando a capoeira começou a ser aceita nos salões da classe média, conseqüência da baianização da música popular brasileira, obra de Os Ticoãs, Vinícius de Moraes, Dorival Caymmi e de “baianos” de outros estados, como João do Vale, Luiz Gonzaga e muitos outros. A malandragem, porém, mantinha-se associada à figura do atleta-dançarino.

Aliás, o próprio disfarce de uma luta como sendo uma dança é o maior exemplo da malandragem que envolve a capoeira.

A tal malandragem, traço fixo na personalidade nacional brasileira, deixou, há tempos, de ser uma qualidade para tomar um caráter pejorativo. Desassociando a malandragem esportiva da capoeira da malandragem cotidiana dos espertalhões que atravessam o sinal vermelho, furam a fila do banco, vendem terrenos que não são seus, compram e não paga... A malandragem já não é mais coisa de quem precisava enganar pra sobreviver e melhorar de vida, tornou-se a quintessência da vagabundagem de caráter.

O fato do presidente dizer-se um capoeirista, nos leva a associá-lo à idéia de quem tem jogo de cintura, algo que ele mostrou que tem, já que saiu da esquerda assustadora que ameaçava FEBRABAN e FIESP e tornou seu maior aliado; à combatividade, algo que não podemos negar, uma vez que esteve em todas as campanhas para a presidência desde o fim do regime militar, insistiu até eleger-se; e à malandragem.

Aí eu preciso de outro parágrafo.

A boa malandragem, aquela da sobrevivência, ele nuca teve. Quando era sindicalista, não se sujeitava à negociação, prática controversa, mas legal, que levou figura como Tancredo Neves à imortalidade. Não transgredia, independentemente de concordar ou não com suas idéias e ideais, é inevitável a admiração pela sua postura firme na defesa do que pensava. Seu PT não admitia coligar-se fosse com que partido fosse, precisava manter puras suas características esquerdistas. Isso mudou. Duda Mendonça mudou isso. Não foi a idade e a sabedoria que ela traz, a experiência, o reconhecimento dos próprios erros, foi o marketing político e seu marqueteiro contratado a seu peso em dólares.

Das características histórias e lúdicas do capoeirista, a Lula só restou a malandragem ruim dos que levavam a navalha escondida nas dobras dos dedos para atacar a jugular do adversário no susto, a surpresa; a vagabundagem de quem se fia na pantinha de malandros que o acompanha para atacar em bando, por todos os lados, covardemente; a malandragem da dissimulação para mostrar a boa cara enquanto cutuca o adversário com “tostão” na coxa ou dedo nos olhos.

Embora pudesse ser ofensivo aos capoeiristas que mostraram-se indiferentes com a comparação, dessa vez Lula acertou ao dizer-se um capoeirista, embora encampe em sua personalidade apenas o lado desoneste, mordaz e traiçoeiro dos capoeiristas punguistas de antanho.

©Marcos Pontes

sexta-feira, janeiro 15, 2010

Haiti

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Não há mais atuação do Estado, que encontra-se desmantelado, desorientado. Virou território internacional, um cemitério internacional. Terra destruída, devoluta de 50 mil a 100 mil almas. Cenário inimaginável para nós, no conforto de nossos sofares aquecidos ou refrigerados.
Nobilíssimos cidadãos de todo o mundo afluem para socorrer aos miseráveis que sequer sonhavam conhecer um dia. Além dos 5 mil soldados enviados pelo governo brasileiro e os 1300 já baseados naquele país, os voluntários de ONG como o Viva Rio ou a Pastoral da Criança, já são de muitas nacionalidades os voluntários que se apresentam. Principalmente as equipes especializadas em resgate de mortos e feridos em catástrofes.
Mas a parte negra da humanidade sempre cerca. Dos marginais haitianos que cercaram o quartel brasileiro, minutos depois do terremoto na tentativa de saquear armas e alimentos, nessa ordem, aos governantes de países ao redor do globo que usam essa ou qualquer desgraça para se promoverem como benfeitores e salvadores da humanidade, é grande o número de urubus em volta dos cadáveres.
Lamentável, por exemplo, a postura do ministro da Relações exteriores, Celso Amorim, em sua primeira entrevista coletiva, aproveitando-se da oportunidade em que anunciaria os socorros enviados pelo Brasil, para fazer propaganda do governo e comparar nossa ajuda com a de outros países, como a Jordânia, como se fôssemos melhores do que quem doa menos que nós. Lamentável.
Reprovável, embora inteligível, as ações dos saqueadores locais que viram as costas para feridos e mortos ao redor para priorizarem a coleta, legal ou violenta, de alimentos, dinheiro e qualquer objeto de mínimo valor que seja. Poderiam ser apenas crimes famélicos, perdoáveis por justificarem-se por terem como objetivo saciarem a fome ou preservarem a vida dos miseráveis, mas nem todos são assim. Há um grande número de bandidos contumazes que saqueiam para auferirem lucro mais adiante.
Condenável a postura de imbecis como o cônsul haitiano em São Paulo, Gerge Samuel Antoine, que numa demonstração de insensibilidade, discriminação social, religiosa e “racial” (numa alusão minha à cor da pele, uma vez que não acredito em raças além da raça humana) fala mal de seu próprio povo e ainda comemora a oportunidade que a desgraça de um país lhe deu de “ficar conhecido”. Nojento este vídeo:



Tentando não parecer cínico, vejo, porém, nessa catástrofe a grande oportunidade de se construir um país melhor do que o que restou desde o fim da colonização francesa que terminou caindo na ditadura hereditária dos Doc, Papa Doc e Baby Doc. A conseqüente guerra civil ao fim da ditadura, gangs ideológicas em busca do butim da ditadura.
Até o momento as doações internacionais, por volta de US$ 350 milhões, supera um terço do PIB do país. Se bem aproveitado, esse montante será essencial para a reconstrução ou a construção de um novo país. Mesmo que Organismos internacionais, como a OEA, nem tenham mostrado a cara para ajudar.
A participação das tropas e especialistas brasileiros é essencial nesse momento. Além de contar com o respeito da população, conquistado a duras penas, pode ser o centro das determinações das tropas estrangeiras e dos especialistas das diversas áreas que afluírem a Port-au-Prince. Infelizmente, o governo brasileiro fará proselitismo político com a dor alheia, como já demonstrou o Amorim, mas, no final das contas, será um efeito colateral menor diante da catástrofe e de sua conseqüente minoração e da premente reconstrução do país.

©Marcos Pontes

domingo, janeiro 10, 2010

Revanchismo por decreto

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Não é difícil perceber que países com governo ditatorial, como forma sub-reptícia de conquistar a simpatia do mesmo povo que prende em caixas de fósforos de opções e liberdades, costumam colocar em seu nome termos que incluem esse povo, como, por exemplo a República Popular da China ou República Democrática Alemã, que era justamente a metade alemã sob o jugo soviético.

Não é à toa, portanto, que o Item I do Parágrafo 2° do Decreto N° 7.037 ou Eixo Orientador do dito cujo: Interação democrática entre Estado e sociedade civil.

Onde está a interação democrática se o tal decreto foi costurado nos escurinhos dos gabinetes do subchefe de assuntos jurídicos da Presidência da República e da ministra da Casa Civil? Se houve a tal “ampla discussão com a sociedade”, como diz o mui mal intencionado Vanuchi, ela se deu em foros da esquerda, sem a ampla participação popular e sem que em seus programas tenha ficado explicitado que das discussões românticas, utópicas e revanchistas sairiam os artigos, parágrafos e alíneas de uma constituição feita por meia dúzia para subjugar duzentos milhões.

Ao utilizarem os termos “democrático” e/ou popular, os ditadores sabem que seu autoritarismo não se coaduna com o modus vivendi de cidadãos do século 20, quando esse expediente entrou em moda, e nem do século 21, em que a Venezuela de Chávez sofre um paulatino golpe de estado, sistematicamente copiado e aprimorado por seus vizinhos.

Aproveitando-se da vaidade do presidente, seus assessores e conselheiros mais inteligentes vêm fazendo do Brasil seu quintal. Não são poucas as vezes, nesses sete anos de governo, que o presidente diz desconhecer medidas tomadas pelo seu governo. Do mensalão até este decreto, a desculpa da ignorância apareceu muito mais vezes do que poderia ser considerado razoável, em se tratando do mandatário que é comandado pelos a quem deveria comandar.

José Dirceu, Greenhalgh, Marco Aurélio Garcia, Dilma – cada vez mais – e o Göebels poderoso e vingativo, redivivo na figura despótica de Franklin Martins, são algumas das luas pardas que agem como titeireiros do boneco Lula. Manobram com sua ladainha escorregadia o gosto pelas câmeras e pelos jornais que inflam o ego do presidente e o fazem assinar o que bem desejam. A ignorância, a burrice política e histórica de Lula o deixam à mercê de seus manobristas, como reféns das vontades dessa tropa, ficamos nós, cidadãos desunidos.

Com a pecha de democracia representativa, também defendida no tal decreto, usa-se de uma redundância para dar forma às más intenções autocráticas. A democracia, definida como regime “do povo, para o povo e pelo povo” é, per si, representativa, óbvio. Os eleitos o são para nos representar. Não há democracia representativa, ou ela é democracia ou não. O sendo, já é representativa. Mas o enriquecimento lingüístico da expressão é uma outra mania desses legisladores do Executivo para incluírem “o povo” em decisões das quais ele foi excluído.

Entre os muitos absurdos que prega o decreto, um que vem chamando muito a atenção, é a terceira ou quarta tentativa desse governo de calar a imprensa que não lhe agrada. Já na primeira semana depois da posse, criou-se, pela imprensa amiga do Palácio do planalto, a terminologia PIG, Partido da Imprensa Golpista, para incluir qualquer veículo ou jornalista que se opusesse ao todo ou em parte às decisões do governante-mor ou de sua curriola. Até simples blogueiros passaram a ser incluídos nesse PIG pela imprensa amiga-remunerada, pelos partidários idiotas úteis, pelo próprio presidente ou pela turma que ouve o galo cantar, mas não sabe onde, como definia os Maria-vai-com-as-outras o grande Stanislaw Ponte Preta.

As tentativas anteriores frustradas, não foram suficientes para acalmarem a fúria de Dima, Martins, Dirceu e o próprio Lula, em calar que ousasse levantar a voz contra a ditadura que se estabelece paulatina e vagarosamente. Pois o tal decreto prevê o fechamento de jornais e revistas e a cassação das concessões de exploração de canais de rádio e televisão quando determinado veículo transmitir programa ou notícia que contrarie a vontade do poder central, fantasiado de “interesse público”. Lembra a marcha da Tradição, Família e Propriedade que apoiou profundamente o golpe de 64 e que foi muito criticada por essa mesma esquerda que a repete.

Por mais que negue o revanchismo - e falar a gente fala o que quiser, se há verdade nas palavras, é outra história – ele está explícito no documento e dá-se justamente por ter Lula provado da aprovação popular. A população começa a confundir - depois de muito esforço do ministério e da imprensa amiga - PT, Lula e governo. Tendo Lula 80% de aprovação popular, misturaram os três no mesmo caldeirão e utilizam-se dessa confusão popular para aplicarem seu socialismo. Se Brizola já falava no socialismo marrom, referindo-se ao socialismo que queria criar aos moldes brasileiros, a equipe inteligente, porém mal intencionada, traçou sua linha programática.

Num país em que até assassinato prescreve, pelo Código de Processo Penal em vigência, como justificar que a esquerda raivosa tente prescrever a Lei da Anistia e ressuscitar atos ilegais por parte dos governos de então, mais antigos que a própria Lei que os anistiou? Pior, por que só determina a investigação de crimes praticados pelos agentes do governo e não pelos praticados pela própria esquerda? Essa, aliás, tem sido uma característica muito forte no governo petista: a discriminação, o separatismo, a cisão entre classes, cidadãos e ideologias. Já jogaram pretos contra brancos; índios contra citadinos; pobres contra ricos... E assim tem-se mostrado nas sublinhas do decreto, criando discriminações contra seus opositores e os situacionistas. Um governo eleito para presidir para todos os brasileiros, teima em separar a população entre brasileiros e golpistas. Dá-nos um golpe atrás de outro e se fantasia de vítima.

Haviam várias esquerdas no período de exceção e hoje ela se divide em três: a que está contra o revanchismo, portanto vista como traidora pela situação; a completamente ignorante que vai para o lado que a maré bater, repetindo palavras de ordem e os discursos dos mandatários; e a que elabora o golpe à sociedade, capitaneada por Vanuchi e Dilma.

Não existe revolução essencialmente popular. Ela não ocorreu na Rússia de 1917, nem na China de Mao, nem em Cuba em 1959 e nem na marcha dos caras pintadas contra Collor em 1992. Todas as revoluções foram orquestradas por pequenos poderosos que ansiavam pelo grande poder. Aqui se desenha uma revolução socialista sob a batuta dos socialistas maquiavélicos, inteligentes, raivosos e vingativos. Usa-se a massa de manobra popular, alienada e ignorante e os donos do capital que sustentam qualquer governo, independentemente de ideologia, desde que mantenha o lucro (ironia os socialistas usarem os mais capitalistas para imporem sua revolução) para massacrar qualquer opinião contrária. Não se assustem se, depois de estabelecida essa república sindicalista ditatorial, voltarmos a falar de política a portas fechadas com medo dos alcaguetes e da polícia política que se formará (aliás, ela já existe desde que o PT é PT, apenas não foram lhes dadas as braçadeiras negras que lhe dão poder de prender, bater, cassar e matar a oposição).

O plano vem em forma de um decreto, ferramenta ditatorial tão combatida por todas as esquerdas quando eram oposição e os generais o utilizavam para comandar o país.

Os governistas lançaram o balão de ensaio de uma constituinte há alguns meses. Muito provavelmente esse projetão já estivesse montado e pronto para ser apresentado aos parlamentares como esboço da nova Constituição Federal. Como a idéia de uma Assembléia Nacional Constituinte foi, de pronto, rechaçada por boa parte da imprensa e pela parte da população que pensa e, por isso mesmo, viu desenhado o golpe que se armava, a camarilha parda que se esconde sob a saia da ministra-candidata resolveu fazer sua própria constituinte e conseqüente constituição, socialista, irada e revanchista.

 

 

©Marcos Pontes

 

P.S.: Esse texto será enviado por e-mail a todos os senadores.

P.S. 2: Quem se interessar em ler o Decreto na íntegra, o endereço é este.