Turquia e Brasil se regozijam – pelo menos seus governos – de terem convencido o Déspota, Mahmoud Ahmadinejad, a aceitar a proposta da ONU de trocarem seu urânio enriquecido em país que permita a transação. Parece tudo muito bonitinho e seria se:
a. O presidentes Lula e o primeiro ministro Recep Tayyip Erdogan, não propalassem aos quatro ventos que o plano é deles, quando, na verdade, apenas trocaram o local da troca. A ONU havia proposto França ou Alemanha;
b. O Irã não continuasse disposto, e o fará, a enriquecer urânio a 20%, embora o medo ocidental é que o país já domine tecnologia para enriquecer a uma porcentagem maior, a ponto de poder tornar-se combustível de uma bomba;
c. Não houvesse por trás da “boa ação” turca um dedinho de Moscou, que, no dia seguinte à divulgação do acordo Irã-Brasil-Turquia, anunciou que havia acordado com a Turquia a construção da primeira usina nuclear em território turco;
d. Nós, pobres e invisíveis mortais soubéssemos exatamente o que foi discutido e firmado nesse acordo. O fato de Estados Unidos e Israel não sentirem firmeza no aperto de mãos entra Ahmadinejad, Erdogan e Lula não significa que eles não estejam do lado certo da força. Era de se esperar que ambos se opusessem ou ficassem com a pulga atrás da orelha em se tratando de acordo entre seu arquiinimigo (no caso dos EUA, ex-aliado), o Irã, e um que acha que tudo que é contrário aos interesses ianques é bom para o mundo, o Brasil, mas o fato é que só saberíamos o que realmente ocorre nos bastidores e na cabeça do Déspota iraniano se aparecer um telepata que soubesse árabe.
e. O Irã não fosse famoso por descumprir acordos internacionais. Aliás, Ahmadinejad nem esperou secar a tinta das assinaturas no acordo para revelar que Irã continuará o enriquecimento de urânio a 20%.
Não vou ser o urubu a torcer que o acordo seja inócuo, que a tensão nuclear continue no Oriente Médio e, de quebra, no resto do mundo, já que Rússia coloca-se de um lado da briga e os Estados Unidos no lado oposto, enquanto a China faz de conta que apenas assiste (algo difícil de acreditar. As negociações e espionagens por baixo dos panos são muito mais ricas e severas do que as estampadas nos jornais). Embora as questões étnicas naquela região remontem da dissolução da prole de Salomão e as guerras entre as 12 Tribos de Judá, as questões modernas relativas à abundância de petróleo e escassez de água na região alimentam o surgimento de uma nova guerra fria, dessa vez com os antigos personagem “apenas” manipulando os títeres, nos quais o brasil se coloca de intruso e arrotando a grande participação como protagonista desse teatro.
Gostaria muito que a paz nascesse no Oriente Médio e persistisse pelo menos o mesmo tempo em que ocorrem as guerras, mas é difícil de acreditar nisso, levando-se em conta os personagens em cena.
Se o Amorim e o lula estiverem certos, darei o braço a torcer e esperar que eles, em mais um esforço internacional, salvem as vidas dos prisioneiros políticos da Venezuela e Cuba, países governados por ditadores travestidos de democratas muito amiguinhos do ocupante atual do Palácio da Alvorada e cercanias.
©Marcos Pontes