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quarta-feira, abril 13, 2011

Negação da experiência e falta de autoridade

pai e filho

 

Raras são as vezes que posto por aqui texto de outrem, para fazer isso tenho que gostar muito do escrito. E é isso que acontece com esse texto da @BeatrizMMoura.

Compactuo com sua análise, por mais dura que possa ser aos comandantes (professores, pais, bispos, delegados…) e não poderia deixar de divulgá-lo.

Não por mim, mas pela autora, peço que comentem, concordando ou não. Ela merece esse feed-back. Vamos ao que interessa:

 

Apocalipse de São João:  ”Porque tu és morno; nem és quente, nem és frio, começar-te-ei a vomitar de minha boca”

Não há qualquer dúvida que enfrentamos há anos uma crise de autoridade.

Qualquer pessoa lúcida percebe que a juventude não reconhece mais a autoridade, seja ela qual for.

E como poderiam os jovens reconhecerem a autoridade nesses adultos (que eles chamam de véi)? Ora, são pais cujo ideal máximo é serem iguais aos filhos.

Toda e qualquer autoridade mãe, pai, professor, bispo, pastor, delegado, presidente da República....etc. foi relegada ao lugar de adultos acuados.

A questão é perceber que a autoridade não é simplesmente saber quem manda.

A autoridade não deve ser a do poderoso, novo rico sem tradição, que fianancia o carrão no banco e não paga a prestação, nem do carro , nem a mensalidade do colégio, porque “precisa” levar os filhos pra Disney, nem daquele que dá carteirada. A autoridade deve ser do sábio.

E quem quer saber alguma coisa, hoje?

Quando a gente reduz o campo da experiência – do pai lavrador, operário, professor, médico ou a da mãe dona de casa, costureira, enfermeira, advogada, que levou anos para se formar - a gente supervaloriza o poder e retira qualquer aura do saber prático – saber cozinhar, plantar, etc - do campo de legitimidade ética.

A questão é, no horizonte dessa nossa sociedade do politicamente correto ainda somos capazes de produzir sábios?

Sem a mediação de uma tradição que possa provocar, instigar a que o jovem pense, o que acontece? Esse jovem vive em permanente desamparo.

A noção de autoridade explode e aí fica só a figura do irmão, do colega, do amigão.... jamais a do pai.

O resultado disso é um conjunto de adultos patéticos, isto é, de pessoas maduras que não reconhecem o valor da experiência vivida que tiveram (porque, às vezes, simplesmente não viveram, eram sonâmbulos que sobreviviam ao stress enquanto adquiriam bens de consumo) e têm como único objeto parecer jovens a partir de procedimentos cirúrgicos que apontam para o corpo como trampolim para o mergulho no caos.

Esse caos onde o amor é um sentimento cor-de-rosa, meigo, nesse clima de novela nostálgica de paz e amor, bicho, pós maio de 68.

O amor, caros pais e mães, só é verdadeiro se vier acompanhado por um profundo ódio por tudo aquilo que ameaça o ser amado.

A mãe que ama verdadeiramente seu filho drogado odeia a droga ao ponto de não admitir que a droga entre em sua casa nem escondida no corpo envenenado desse filho.

Na era do amor covarde, específico do politicamente correto, o amor é um xarope, um tatibitate meloso que não separa o certo do errado e, desse modo, não é luta, nem é aliança pela vida.

O amor verdadeiro não é cego, senhores pais, ele é foco que ilumina o perigo que ronda o filho.

Amar é ter autoridade conquistada pelo sacrifício durante a vida que proporcionou aprender e conquistar o saber

Amar seu filho, não bajular pra ser curtido. Amar seu filho é mostrar-lhe o erro, ser firme e mostrar que não desiste de colocá-lo no caminho certo. Amar é querer ser admirado e não parecer um “véi manero”.

 

©Beatriz Mecozzi Moura

10 comentários:

Nadiavida disse...

Belíssimo texto... Lágrimas correm dos meus olhos... Não, não sou melodramática.... Meu pai lavrador, humilde, generoso, honesto... Minha mãe professora desde sempre... Começou a dar aulas mto menina, depois que saiu do colégio interno. Ensinou uma geração embaixo de uma mangueira. Todos dizem que ela era amorosa e divertida, mas brava e usava uma palmatória como ninguém... na verdade, ela saiu da fazenda e foi pra cidade do interior de Mato Grosso pq os filhos tinham que estudar. Pai ficou na fazenda. Mãe dava aulas dia todo e estudava a noite. Rígida, brava. Lembro com doçura, saudade e alegria as inúmeras "surras" que ganhei (Que bom tê-las ganho). Qdo íamos na casa de alguém ela nos alimentava e dizia: "Mesmo que oferecerem qualquer coisa,não aceitem", rezava um terço nas nossas cabecinhas..rss E a gente respeitava, mesmo qdo desejávamos aquele "pé de jabuticabas"... Ela só olhava... Pronto... Assunto encerrado.

Sempre tive bons exemplos. Mesmo com uma colaboradora em casa, todos tinham uma "missão": limpar fogão, arrumar a mesa, guardar a louça.

Hoje pais não podem mais corrigir e muitos não querem... Eu não, dava birra na rua, dava umas palmadas e tudo se resolvia... detalhe: pra sempre... Detesto crianças metidas a gente grande, entronas, abusadas. Corto mesmo... Sou uma mãe amorosa, sempre criei meus filhos sozinha. Mas pequei, errei, achando que estava correta...

Tô com problemas com um filho com drogas... Onde errei? Não sei a resposta.. Converso desde sempre sobre o assunto... Será que dei mais liberdade pq é o único filho homem entre 4 meninas? Desde 2010 minha vida não foi a mesma, sofro, me desdobro em amor, em cuidado... Quantas vezes pensei em jogar a toalha? Mas meu amor é muito maior que tudo, não vou desistir do meu filho. Ñão posso, não devo...Não quero!!!!

Mas não sou uma mãe permissiva e que faz gostos mirabolantes, mostro o valor do meu suor...

Desculpe pelo desabafo, mas o texto me fez refletir sobre tantas coisas, atitudes, me fez sentir saudades....

PRIMOROSO!!!! Parabéns querido amigo por compartilhar. brilhante!!!! abraços.

angecaol disse...

Querida Nadiavida, por melhores pais que tentemos ser, nem sempre vamos conseguir colocá-los na trilha de imediato. Cada ser tem sua própria personalidade, apesar de sermos uma única essência. Por isso, cada um interpreta a sua maneira a educação que recebe, podendo rebelar-se contra essa ou aceitá-la, como você fez.

Cada pai e mãe que abraça o papel com afinco deve pensar nos seus filhos como uma pequena árvore, que depende inicialmente de uma proteção, mas que inevitavelmente irá se fortalecer, inclusive com as geadas e ventanias.

Um abraço com carinho. Seja forte e se lembre que cada um escolhe seu caminho na vida e que por mais que nos esforcemos, eles seguirão pelo caminho que escolheram e finalmente voltarão.

angecaol disse...

Excelente texto. Nossos jovens estão cada vez mais órfãos, com a terceirização da educação, esvai-se o conceito de autoridade dando lugar a uma submissão e mendicância pelo perdão dos filhos.
Perdão por ter que trabalhar como um louco para sustentá-los.
Perdão por estar cansado demais.
Perdão por não poder acompanhar a voracidade da sociedade de consumo.
Enfim...

Anônimo disse...

boa tarde venho parabénizar pelo blog muito bom estou seguindo já venha seguir o meu blog agradeço.http://jefersonaraujosouza.blogspot.com/ blogueiros todos juntos twitter @jeffersonaarauj

Fernando Eagle de Sousa disse...

Falou e disse, tudo! E mais um pouco.

Fernando Eagle de Sousa disse...

Falou e disse...Tudo! E mais um pouco.

Joe_Brazuca disse...

Pai é pai, amigo é amigo, colega é colega e assim por diante...

Podemos ser pais-amigos, mas NUNCA amigos-pais !

Costumo dizer que, é fundamental dizer-se "sim" quando tem que dize-lo e "não", do mesmo modo.
Dizer "não" com ternura, tudo bem, mas com firmeza e SEM afago.E dizer "sim", mostrando os possíveis resultados deste sim, e imputar AUTOMATICAMENTE a responsabilidade advinda.

Contudo, tenho a impressão, já que voce atrelou os temas, que o problema da drogas INDEPENDE de uma educação ter sido auferida com mais ou menos rigidez, menos ou mais afeto, maior ou menor diligência e liberdade, porque a droga TEM VIDA PRÓPRIA, e é nefasta de toda forma e jeito, ataca a todos, não distingue sexo, cor, raça, idade, ideal, ideário, crença, política etc e tal...

Quantos e quantos casos e historias tenebrosas, ja ouvimos, presenciamos, e VIVEMOS, com amigos, parentes, comuns etc ?...

Quantos filhos bem criados, em lares equilibrados,boas escolas, com pais atentos, mais ou menos "firmes" no "leitmotif" educacional e presencial, que sucumbiram acachapadamente ao vício, e se transformaram, transmutaram em zumbís sem rumo ?

A droga ULTRAPASSA os ditâmes, sejam eles quais forem, de que linha ou cor forem, pois ela tem o poder da devassidão infernal que destroi pessoas, famílias, comunidades e sociedades inteiras !

Exagero ?...Fiquemos 20 minutos nas cracolândias dos países subdesenvolvidos ( como o nosso, por ex...), ou nos "bunkers" protegidos "pela lei", nos países ditos desenvolvidos, e observemos o o que acontece aos usuários, à continuidade de suas seqüelas sub-humanas...

Excelente o texto, Bea e Marcos

um beijo pros dois !

Joe

Zinha_09 disse...

Excelente texto!E atualíssimo!

Fico perplexa ao observar os pais e mães da era moderna...

Parece que os pais têm medo dos filhos! Mas por que isso? Não dá para compreender...

Se vc é pai/ou mãe, que se desdobra,que trabalha pelos filhos,que luta com eles e por eles,por que o medo?

Lembro-me que meu marido sempre dizia aos amigos que tinham filhos e queriam ser "moderninhos":
"Eu não sou "chapa" do meus filhos! Primeiro eu SOU O PAI! Porque amigos,eles têm às pencas na rua e na escola. PAI, sou só eu;eu tenho que ser o guia,o farol!

E creio que deu certo,pois apesar das dificuldades,eles se desenvolvem bem, com firmeza e parece que,no rumo certo.

Mas,como nada é certeza nesta vida,vamos ver como será o resto da nossa caminhada...
Que Deus nos ilumine e dê forças!

Jessica Carmo disse...

Eu sou filha, hj tenho 30 anos, mas já fui muito ruim, não nunca usei drogas, a não ser as lícitas, mas desde sempre fui tratada como a menos, todos falavam, eu obedecia, pai, mãe, irmãos. Caminhei durante muito tempo entre mundo adversos, filha de um casal de baianos pobres, a nona, mesmo assim, qdo minha mãe não estava ali, estavam minhas irmãs, que me ensinaram a falar como uma mulher, mostraram a importância dos limites, do castigo, do pare pra pensar, do não toleramos mais, não tem receita para educar, mas teho percebido em muitos pais que é isso que eles não querem ter. O filho com 12 anos já vai sozinho com mais 5 amiguinhos ao shopping porque eles não são mais crianças precisam se descobrir como individuos e se deparam com um mundo predador, que oferece desde o cigarro e a batidinha, a oportunidade que eles não teem, dentro de casa de fingirem ser adultos, o pai pensa que educa, e talvez até o faça, mas adolescentes desconhecem o ermo liberdade, porque quando algo dá errado alguém vai la e limpa a sujeira dele visando protegê-lo. Num momento em que os valores são tão pouco utilizados, educar é a maior prova de amor. Em qualquer lugar que houver amor, respeito, direitos e deveres, havera pessoas que se importam, pra brigar por aqueles que amam. Educar é dolorido pra quem ama, orque isso nunca vem desacompanhado de fortes ofensas e rotestos violentos, mas passa, os anos comprovam isto, crescemos, e de repente percebemos o valor de cada discussão acalorada, de cada proibição, de cada imposição de horário a ser cumprido, o senso de responsabilidade, qto as drogas, foi o medo da dependência que me fez sempre dizer não. e a plena consciência que sempre ficou clara de que se vc usa droga vc nunca será o bom, será sempre um párea, condenado a própria destruição. Acesso a leitura desde menina, a conversas claras me fizeram ser quem sou, o amor da família e a fé em Deus, diretrizes que pautaram a minha vida, e tem pautado até hj a andar pelo certo, não importa em qts pedaços seja feita uma família, valores amor, educação transformam mundo. belo texto, descreve coisas que eu sempre acreditei!

Sergio Nogueira disse...

Excelente texto, parabéns à autora, contudo não devemos deixar de acrescentar que Amor, também é estabelecer limites, atitude que ora está longe de ser aplicada.