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domingo, abril 03, 2011

O Efeito Alencar

FORMIGAS-traicao-corrupcao-e-medidas-de-saude-publica-no-formigueiro[1]

Dos pontos de vista legal, moral e ético, para que pagamos taxas e impostos? Para que o Estado nos sirva naquilo que nós, cidadãos comuns não temos condições de realizarmos sozinhos, em alguns casos até por proibição legal, como, por exemplo, em atendimento à saúde. Auto-medicação ou prescrição de remédios para terceiros é, além de ilegal, colocar em risco a saúde dos atendidos.

Se os pais resolvem educar seus filhos em casa por discordarem da educação pública, seja pelo currículo, pela má qualidade dos profissionais ou pela postura político-ideológica dos professores que tentam imputar aos educandos suas idéias, tem de recorrer à Justiça, sempre lerda e pouco eficaz nas causas populares, do contrário seu filho é declarado analfabeto pelo sistema legal.

Se o trabalhador precisa deslocar-se diariamente a distâncias inaceitáveis para serem feitas a pé ou bicicleta e precisa contar com o sistema público de transporte, algo praticamente inexistente, uma vez que as empresas que praticam esse serviço são privadas e contam apenas com a autorização das prefeituras, governos estaduais ou federal, o faz em ônibus, trens e barcas superlotadas, depauperadas, mau conduzidas (via de regra) e caras.

Saúde, educação e transporte são exemplos de serviços para os quais nossos deveriam ser dirigidos e realizados pelo poder público constituído, determinação feita pela esquecida e desrespeitada Constituição Federal. E é aí que o conceito de democracia que prega que todos são iguais perante a lei deixa de ser observado.

Quem pode, paga por plano privado de saúde. Mas isso não o isenta de continuar pagando a parcela de impostos que deveria ser dirigido ao sistema público de saúde; quem pode matricula seus filhos em escolas particulares, mesmo assim continua pagando impostos que deveriam ser direcionados ao sistema público de educação; se o poder aquisitivo é maior do que a média, o cidadão prefere comprar seu carro, mesmo que isso implique em novos impostos, como o seguro obrigatório, IPVA e impostos embutidos nos combustíveis, ainda que a parte de seus impostos que deveria ser direcionada ao sistema público de transporte desapareça no meio do caminho e continue a ser cobrado.

Enquanto se gastam bilhões na construção e reforma de estádios para a Copa do Mundo, que depois serão cedidos a clubes privados, que deveriam ser empresas, portanto responsáveis por sua própria sobrevivência, discute-se o déficit de moradias país a dentro. Com os dois bilhões de reais direcionados apenas ao Maracanã, quantas casas populares poderiam ser construídas e dadas, a fundo perdido, a brasileiros sem teto? Mas não, prefere-se criar o mentiroso Minha Casa, Minha Vida, burocrático e cheio de exigências, que não cumprirá, mesmo que fosse realizado 100% (algo longe de ocorrer), com 20% da carência de moradias. Seria o mínimo a se esperar de um governo socialista, que passará 20 anos, somando-se os oito de FHC com os oito de Lula e mais quatro garantidos de Dilma.

José Alencar, o ex-presidente recentemente falecido, um homem milionário, bancou quanto de seus 14 anos de tratamento contra câncer? Esses números não são revelados, mas não é maledicência alguma imaginar que os últimos oito anos foram bancados pelo erário. Nesses quatorze anos, quantos cidadãos comuns morreram do mesmo tipo de câncer se terem sequer o mínimo de cuidados que Alencar teve por estarem entregues às moscas, aos maus médicos, aos maus administradores e aos equipamentos sucateados os hospitais públicos?

Nada contra Alencar ter recebido um tratamento de primeira linha, o mesmo que todo pagador de impostos deveria receber, o protesto fica por não termos, pobres mortais, a mesma atenção que teve a autoridade que poderia, pelo poder de sua fortuna, bancar do próprio bolso tais cuidados. Mas, por pagar seus impostos, Alencar não deveria mesmo bancar seu tratamento. Ele já o fez por antecipação. Todos os outros pacientes de câncer Brasil a dentro, milhares a cada ano, também já o pagaram, mas por que não têm o mesmo tratamento?

Na escola aprendemos que a índia tem um sistema de castas injusto, que relega a alguns a condição de superioridade enquanto outros não devem sequer ser cumprimentados nas ruas. Sentimos a dureza injusta desse regime. Mas não é assim no Brasil também?

Lula, quando presidente, ao defender o imortal Sarney pelos seus desmandos, exigiu que fosse dado tratamento especial ao ex-presidente por ele não ser um cidadão comum. O homem que gabava-se de ser “do povo”, um trabalhador (mesmo que não trabalhasse há mais de 20 anos), num dos seus muitos discursos contraditórios, elevou Sarney à condição de supercidadão, acima do bem, do mal, de mim e de você.

Outros semi-deuses atuantes no país são os pongados nas administrações que não fiscalizam as aplicações dos recursos, passam a mão na cabeça dos médicos, professores e amiguinhos que administram órgãos públicos, homens e mulheres intocáveis pelos seus patrões, os cidadãos que pagam seus salários, luxos e roubos. E a fiscalização não existe ou é ineficaz por crime proposital. Se a Receita Federal consegue fiscalizar cada um dos 190 milhões de brasileiros, por que o ministério da Saúde não consegue fiscalizar seus 320 mil médicos, ou seja, 0,16% do total de fiscalizados pela RF? Por ser conivente com os roubos, desvios e demais crimes no meio do caminho.

©Marcos Pontes

13 comentários:

Ajuricaba disse...

Grande texto meu amigo. Por coincidência, usei essa mesma ilustração num artigo que publiquei na Tribo dos Manaós sexta feira, sobre um discurso improvável da oposição.

Ricardo M. P. Frota disse...

Eu, inclusive discordo até de q a saúde, educação e transporte deva ser função do Estado. Pra mim, a função do estado deveria ser a segurança jurídica e militar (exército e polícias estaduais e militar). Tb em infraestrutura, qdo a iniciativa privada n tiver interesse ou condições de fazer, ou quando a exploração tenha características monopolistas (neste caso caberia alguma regulação), ou em caso de socorros em crises que atentem contra a segurança social (crise que afeta a confiança nas instituições) ou em desastre natural!
Saúde e educação podem ser servidos pelo estado, mas acredito q isenções fiscais estimulariam o mercado nessas áreas aumentando a competição, criando empregos, e ofertando melhores serviços e mais baratos!
Pra mim, a sociedade teria melhores serviços se, ao invés do Estado oferecer estes gratuitamente, aumentasse a oferta de empregos! Com emprego o cidadão poderá consumir bens e serviços (dentre eles: saúde e educação) tendo mais dignidade!

Anônimo disse...

Boa tarde. Perfeito o seu artigo, meu amigo.Irretocável. Parabéns! Opcao_zili

Beatriz disse...

Privatização da saúde. redução de impostos. redução do tamanho do estado. público? apenas segurança.

Maria Amora disse...

Infelizmente, esse é o país da mentira de da hipocrisia onde o governo faz o que bem entende.
Ví algumas propagandas na TV, mostrando a beleza dos postos de saúde no Rio, limpos, profissionais atentos, criancinhas sorridentes...
O tratamento de J Alencar foi O grande exemplo das disparidades que vivemos. Não o considero melhor que ninguém mas nosso sistema oculto de castas o coloca entre os privilegiados.
Pior é que sabemos que as fortunas construídas pelos nossos Ricos, vem na grande maioria das vezes do bolso da "casta inferior".
È tudo uma grande vergonha.

Anônimo disse...

Vejo no seu texto a preocupação com a chamada "sub-otimização".

O sistema em que vivemos deveria ter por objetivo dar oportunidades às pessoas de terem suas necessidades atendidas e suas aspirações, realizadas.

O que de fato ocorre é que apenas alguns tem acesso a essas oportunidades e realizações. Pior: a quem já tem acesso a elas, mais ainda se dá.

Para os demais, as migalhas -- se tanto.

Não é à toa que o Brasil é uma democracia mais formal que de verdade, uma democracia de "baixa intensidade", distante das promessas que carrega consigo.

Mais do que o tamanho do Estado, o que é preciso discutir é o seu sentido.

Adao Braga disse...

Esta semana, aqui em Irecê faleceu um senhor. Que tendo Câncer, foi mandado para casa, por que segundo os médicos em SSA, disse que era para ele morrer em casa.
O fato curioso é que este senhor, sem auxilio médico ainda viveu 12 anos.
Não somos iguais, nem perante a lei, nem perante as autoridades, nem na rua, nem na igreja.

Mujahdin Cucaracha disse...

Texto perfeito, como é de costume. Me permito lembrar, ainda a respeito da "igualdade dos cidadãos" a extrema capacidade da Receita Federal na fiscalização de 190 milhões de cidadãos e, em contraste, na fragilidade dessa mesma fiscalização quanto ao enriquecimento rápido de certas figuras nacionais. É difícil entender como o crescimento patrimonial de algumas pessoas, cujas fontes de recursos em determinados espaços de tempo são nitidamente muito aquém da riqueza amealhada, passam despercebidas pelo "Leão". A única explicação pode ser a velha desculpa esgrimida por um notório vigarista (um dos 'anões do orçamento' - velha estória que já caiu no esquecimento do público) pego 'com a boca na botija': "Deus tem me ajudado muito!"

Sergio Nogueira disse...

Perfeito, Marco
Nada a acrescentar neste texto completo de razão.
Só me resta parabenizá-lo pela clareza da exposição.

Marisa Cruz disse...

Carto amigo Marco

Sempre perfeito em suas colocações e a cada dia acredito que, após as Diretas Já e a Constituinte creditamos a todos os componentes do poder público a figura de deuses que nos livraram da Ditadura e demos poderes estratosféricos aos 3 Poderes deste País nos tornando marionetes de seus objetivos nada lícitos.
A Gde Mídia servindo ao Poder nos entulhando de notícias e imagens sobre a Saúde Brasileira apenas para impor o CPMF novamente e se não conseguirem aprová-la serão absolvidos da responsabilidade sobre a mesma ter saído da UTI e chegado na porta do necrotério pela falta do imposto.
Todo o debate sobre bolsonaro e preta gil na imprensa e redes tb como isca para aprovar o PNDH3.
Para que a Oposição tenha força só
os 44 milhões Unidos, Juntos e Misturados como Pressão Popular para remar contra as Mazelas, Imoralidades que teimam perpetuar no País.

Marisa Cruz

Leo Fernandes disse...

Minha nossa quanta verdade!
É por existir pessoas com pensamentos como o seu que esse mundo vale a pena, e a luta e sempre gloriosa mesmo que o resultado seja um trabalho de formiga!

Leo Fernandes disse...

Minha nossa quanta verdade, é por existir pessoas com pensamentos como o seu que esse mundo vale a pena, e a luta e sempre gloriosa mesmo que o resultado seja um trabalho de formiga!

Leo Fernandes disse...

Minha nossa quanta verdade, é por existir pessoas com pensamentos como o seu que esse mundo vale a pena, e a luta e sempre gloriosa mesmo que o resultado seja um trabalho de formiga!