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quarta-feira, maio 07, 2008

O sujo e o maltrapilho

Tem um monte de gente, não só na blogosfera, mas nos jornais, revistas e tevês, reclamando da exploração exagera da mídia no caso da criança assassinada em São Paulo, que a desgraça deveria ser noticiada, mas não explorada e blá-blá-blá. Cá pra nós, tudo bobgaem.
Só se vende aquilo que tem público pra comprar e só sae compra o que se está à venda.
O brasileiro, desinformado por opção, aumentou em 53% a assistência aos telejornais no primeiro mês depois do crime. Ninguém queria saber da queda do dólar, da pseudo crise dos alimentos, da doação de terras de Roraima pelo governo federal para ser formar uma nação indenpendete dentro do Brasil, da briga entre os países ricos e pobres em cima dos biocombustíveis, da roubalheira persistente do governos federal e de seus asseclas... Nada disso. Neguinho estava na esperança de que um desocupado qualquer tivesse filmado a menina caindo e seu pai e madrasta esfregando as mãos de satisfação.
A mídia explora a desgraça alheia porque o cidadão gosta de ver a desgraça alheia, simples assim. Agora, por que o público gosta de ver a desgraça alheia? Os psicólogos que respondam a essa pergunta. Aliás, psicólogo tem respota para tudo, os físicos é que ainda não se interessaram em perguntar aos filhotes de Freud porque os buracos negros atraem tudo para seu núcleo. Se o fizessem, o mistério já teria sido resolvido.
Não me lembro quem, um dia fez uma comparação: se numa esquina estivesse tocando a Orquestra Sinfônica Brasileira e na esquina seguinte tivesse ocorrido um acidente de carros, com certeza haveria público maior na segunda.
No período da desgraça paulista, eu, sempre telespectador assíduo de telejornais, zapeava de canal em canal e todos falavam do assassinato. A Globo, com sua linha de jornalismo asséptica, pelo menos na aparência, foi a que menos explorou o caso. Mas, como no Brasil só existem dois culpados para qualquer coisa ruim que acontecer, Lula e a Globo, os rebeldes com ou sem causa só falam da empresa dos Marinho, como se ela tivesse contratado os atores para o infanticídio. Tudo bem que ela também adora a miséria alheia, desde a morte de presidente eleito até a unha quebrada de uma patricinha qualquer, mas não foi a única nem a mais empenhada em divulgar os detalhes sórdidos e técnicos do infanticídio. Em tempo, Lula é mesmo responsável por uma boa parte das desgraças nacionais.
Aí vem um outro tanto de paladinos da justiça, dos pobres, orpimidos e crianças exploradas comparar o assassinato da pequena paulistana com os tantos outros de crianças país a dentro. Um caso não exclui e nem soma aos demais. Se a polícia mostrou mais empenho em resolver o caso da garotinha é justamente porque a mídia e o público, irmãos siameses, estavam em sua jugular. Não fosse isso, muito provavelmente caso teria o mesmo tratamento dos demais infanticídios nacionais.
A imprensa noticiou, o leitor ou espectador exigiu mais, a imprensa descobriu um daqueles filões efêmeros como as fêmeas-melancias e as decisões de campeonato de futebol e se empenhou em dar ao público o que ele queria. Daí surgem os vigilantes sociais e batem na mídia, na verdade não por causa da exposição ininterrupta de um crime absurdo, mas por não ter sido convidados para a farra. Bater na imprensa num momento desses é fazer exatamete o que a imprensa faz com os muito prováveis assassinos, ou seja, arrecadar público e apoio.
Estou defendendo a imprensa? Não, apenas colocando no mesmo paneiro imprensa, público sedento de sangue alheio e os críticos de um e de outro. Podem me jogar nessa sacola de lixo, não vou me excluir. Até o momento não havia falado no caso, não gosto muito de modas, mas o saquinho estourou.

segunda-feira, maio 05, 2008

 

Hoje estou no Canto dos Contos com um conto feito em parceria com o David. Cá pra nós, achei o conto engraçado. Espero que passem por lá e dêem uma lida.

 

Hoje estou no Canto dos Contos com um conto feito em parceria com o David. Cá pra nós, achei o conto engraçado. Espero que passem por lá e dêem uma lida.

domingo, maio 04, 2008

clayton

  • O TCU recomendou ao Itamaraty que faça suas contas em euros nos países onde essa seja a moeda forte. Como já falei aqui há alguns montes está em andamento essa mudança de paradigma, a tendência é que a iniciativa privada, aos pouquinhos, também começe a migrar de moeda, não só no Brasil. E pensar que há cinco anos muita gente duvidava do sucesso da unificação européia...

 

  • O Senado aprovou cinco medidas para agilizar as ações na Justiça: 1. preferência para processos criminais contra servidores; 2. a unificação das audiências em apenas uma; 3. suspensão do prazo de prescrição de ações nos tribunais superiores contra réus com foro privilegiado (acabar com o foro privilegiado, eles não querem, claro); 4. eliminado o recurso de protesto por novo júri, quando a condenação de acusado por homicídio ultrapassa 20 anos de pena (a que eu mais gostei. De que adianta condenar se o cara não será condenado e continuará em liberdade?); 5. a absolvição sumária nos casos de comprovada inocência do acusado (isso seria ótimo se não houvesse corrupção no Judiciário. Mas poderá ser útil para o cidadão comum no caso de, por exemplo, homicídio em legítima defesa).

 

  • Ok, o Brasil foi promovido a "grau de investimento", muito bom, embora boa parte dos "investimentos" que o Brasil recebe são dinheiro especulativo e volátil; se está bom para se investir no Brasil, por outro lado, está cada vez mais difícil para um classe média viver aqui.

 

  • O STF recebeu o inquérito em que o deputado federal Paulinho da Força é acusado de receber parte da grana desviada do BNDES para financiar obras fantasmas. Os sindicalistas brasileiros não sabem e não querem e não gostam de trabalhar, mas estão ficando especialistas em roubar. Corja!

 

  • Como eu já disse por aqui, a África está louca pra produzir alimentos ou combustíveis, só está faltando os países ricos investirem lá. Pois bem, Gana declarou que vai produzir etanol de cana, exatamente como eu previ. E, tenham certeza, não vai ficar só nisso, outros países africanos entrarão na dança. Ou os europeus param de subsidiar a produção de álcool de grãos ou ficarão não competitivos nesse campo e ainda comprometerão seriamnte sua produção de alimentos. Seja por álcool, seja por alimento, eles vão ter que se render a uma dependência do terceiro mundo. O globo está virando de ponta cabeça.

sexta-feira, maio 02, 2008

O Matuto Vendendo Fumo

cordel

Agora mesmo escrevi

um folheto interessante

quem lê a primeira página

achará muito importante

a conversa dum matuto

vendendo fumo ambulante

 

Ele tinha mais ou menos

trinta anos de idade

morava no interior

sem haver prosperidade

fez um bocado de fumo

se dirigiu pra cidade

 

Quando chegou na cidade

começou a oferecer:

- O fumo é ispiciá

eu tenho ele pa vendê

é preto, cheroso e forte

Mió ninguém pode tê.

 

E fazendo a propaganda

gritava de rua a fora:

- O fumo vinha imbruiado

Mai seimbruei agora

prara num mim dá trabai

ando com ele de fora

 

Passando numa porta,

foi

por uma velha chamado

pra comprar cem réis de fumo

e tendo se demorado

disse: num faço tostão

que o fumo tá alevantado

 

A mulher olhou e disse:

que fumo feio danado!

Ele disse: sinhá dona,

é do só que tem levado

a cpa de fopra é seca

mai o miolo é melado

 

Num há pessoa no mundo

que ache esse fumo fraco

quem quizé vê u'a coisa

torre e pise ele num saco

se ele é bom de cachimbo

inté mió no tabaco

 

O meu fumo de prircipe

numtem essa furtidão

mai condo chega no mei

é bom sem cumparação

no fim tem um paladá

qua casa admiração

 

Inté pra se fendê fumo

tomem precisa de sorte

esse meu é de premêra

só num tem bunito corte

porém tem outra vantage

é preto, cheroso e forte

 

Todos prestavam atenção

tudo quanto ele dizia

antes de andar com fumo

nas condições que vivia

logo ai pôs-se a contar

todos bens que possuia

 

- Eu herdei uns pé de coco

que foi meu pai que prantô

no momento que morreu

tudo pra mim deixô

inté o tempo presente

ainda num safrejô

 

Vendo rumo aperreado

mais tarde tenho descanso

condo os coqueiro botá

de alegre eu canto e danço

o fumo já levantô

ur coco tão com balanço

 

Vinha u'a mulher vendendo

retalho de pano e renda

ele disse: sinhá dona,

minha muié me ricumenda

se eu lhe visse comprasse

uns metro dessa fazenda

 

De renda já tenho a conta

pruque já tá cumprado

pra infeitá a camisa

eu trago já decorado

é quarta e meia de taio

e dois meto de babado

 

Diz a mulher: tenho aqui

dos pano que você quer

se não quiser comprar muito

compre o tanto que quiser

mas eu sei a quantidade

que leva sua mulher

 

leva três metro e meio

que u'a vez ela comprou

foi u'a conta tão certa

que nem passou nem faltou

agora tem u'a coisa

a fazenda levantou

 

Quando a mulher se calou

dizele: isso me afronta

eu agrado os meus freguês

porám a senhora espanta

seu pano já levantô

só meu fumo não levanta

 

Pegou no fumo e saiu

e nem comprou a fazenda

em casa disse à mulher:

não comprei tua incomenda

os pano tá muito arto

é bom que você cumprenda

 

A mulher perguntou: Zele,

vendeu o fumo pagão?

Ele disse: tinha um pedaço

impurrei no Damião

com tanta facilidade

que causou adimiração

 

O resto tá lá dentro

você mele e trate dele

pruque eu quero tirá

todos pijuiso nele

levo o fumo pu Rucu

e nos povo meto ele

 

Voltou ele foi à loja

pra uma calça comprar

pôs-se a bater no balcão

Disse à dona: há de chegar

daí uns dez minutos

veio a mulher despaichar

 

Ele avistou umas calças

lá no arame trepada

e perguntou: quanto é

aquela ali pendurada?

Disse a mulher: seis mil réis

não posso baixar mais nada

 

Disse o matuto: dou quatro

se quisé pode imbruiá

A mulher disse: freguês,

o senhor num quer comprar

lhe faço ciinco e quinhentos

por menos não posso dar

 

tem muita, o senhor escolha

à sua satisfação

tento tem naquele armário

como em cima do balcão

- Achei mió a trepada

cá na minha opinião

 

A mulher disse: freguês,

que cunversa é essa à toa?

ele aí respondeu logo:

disculpe, minha patroa,

só fiz dizê à sinhora

que achei a trepada boa

 

E a senhora avie logo

que num posso ter demora

se quisé fazê o meno

pode mim dizê agora

que dou quatro pur a trepada

se não quisé vou mimbora

 

Disse a mulher: pegue lá

não quero fazê questão.

Ele pagou o dinheiro

e na mesma ocasião

retirou-se e foi embora

levando a calça na mão.

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Do Simião