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sexta-feira, maio 02, 2008

O Matuto Vendendo Fumo

cordel

Agora mesmo escrevi

um folheto interessante

quem lê a primeira página

achará muito importante

a conversa dum matuto

vendendo fumo ambulante

 

Ele tinha mais ou menos

trinta anos de idade

morava no interior

sem haver prosperidade

fez um bocado de fumo

se dirigiu pra cidade

 

Quando chegou na cidade

começou a oferecer:

- O fumo é ispiciá

eu tenho ele pa vendê

é preto, cheroso e forte

Mió ninguém pode tê.

 

E fazendo a propaganda

gritava de rua a fora:

- O fumo vinha imbruiado

Mai seimbruei agora

prara num mim dá trabai

ando com ele de fora

 

Passando numa porta,

foi

por uma velha chamado

pra comprar cem réis de fumo

e tendo se demorado

disse: num faço tostão

que o fumo tá alevantado

 

A mulher olhou e disse:

que fumo feio danado!

Ele disse: sinhá dona,

é do só que tem levado

a cpa de fopra é seca

mai o miolo é melado

 

Num há pessoa no mundo

que ache esse fumo fraco

quem quizé vê u'a coisa

torre e pise ele num saco

se ele é bom de cachimbo

inté mió no tabaco

 

O meu fumo de prircipe

numtem essa furtidão

mai condo chega no mei

é bom sem cumparação

no fim tem um paladá

qua casa admiração

 

Inté pra se fendê fumo

tomem precisa de sorte

esse meu é de premêra

só num tem bunito corte

porém tem outra vantage

é preto, cheroso e forte

 

Todos prestavam atenção

tudo quanto ele dizia

antes de andar com fumo

nas condições que vivia

logo ai pôs-se a contar

todos bens que possuia

 

- Eu herdei uns pé de coco

que foi meu pai que prantô

no momento que morreu

tudo pra mim deixô

inté o tempo presente

ainda num safrejô

 

Vendo rumo aperreado

mais tarde tenho descanso

condo os coqueiro botá

de alegre eu canto e danço

o fumo já levantô

ur coco tão com balanço

 

Vinha u'a mulher vendendo

retalho de pano e renda

ele disse: sinhá dona,

minha muié me ricumenda

se eu lhe visse comprasse

uns metro dessa fazenda

 

De renda já tenho a conta

pruque já tá cumprado

pra infeitá a camisa

eu trago já decorado

é quarta e meia de taio

e dois meto de babado

 

Diz a mulher: tenho aqui

dos pano que você quer

se não quiser comprar muito

compre o tanto que quiser

mas eu sei a quantidade

que leva sua mulher

 

leva três metro e meio

que u'a vez ela comprou

foi u'a conta tão certa

que nem passou nem faltou

agora tem u'a coisa

a fazenda levantou

 

Quando a mulher se calou

dizele: isso me afronta

eu agrado os meus freguês

porám a senhora espanta

seu pano já levantô

só meu fumo não levanta

 

Pegou no fumo e saiu

e nem comprou a fazenda

em casa disse à mulher:

não comprei tua incomenda

os pano tá muito arto

é bom que você cumprenda

 

A mulher perguntou: Zele,

vendeu o fumo pagão?

Ele disse: tinha um pedaço

impurrei no Damião

com tanta facilidade

que causou adimiração

 

O resto tá lá dentro

você mele e trate dele

pruque eu quero tirá

todos pijuiso nele

levo o fumo pu Rucu

e nos povo meto ele

 

Voltou ele foi à loja

pra uma calça comprar

pôs-se a bater no balcão

Disse à dona: há de chegar

daí uns dez minutos

veio a mulher despaichar

 

Ele avistou umas calças

lá no arame trepada

e perguntou: quanto é

aquela ali pendurada?

Disse a mulher: seis mil réis

não posso baixar mais nada

 

Disse o matuto: dou quatro

se quisé pode imbruiá

A mulher disse: freguês,

o senhor num quer comprar

lhe faço ciinco e quinhentos

por menos não posso dar

 

tem muita, o senhor escolha

à sua satisfação

tento tem naquele armário

como em cima do balcão

- Achei mió a trepada

cá na minha opinião

 

A mulher disse: freguês,

que cunversa é essa à toa?

ele aí respondeu logo:

disculpe, minha patroa,

só fiz dizê à sinhora

que achei a trepada boa

 

E a senhora avie logo

que num posso ter demora

se quisé fazê o meno

pode mim dizê agora

que dou quatro pur a trepada

se não quisé vou mimbora

 

Disse a mulher: pegue lá

não quero fazê questão.

Ele pagou o dinheiro

e na mesma ocasião

retirou-se e foi embora

levando a calça na mão.

________

Do Simião

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