Agora mesmo escrevi
um folheto interessante
quem lê a primeira página
achará muito importante
a conversa dum matuto
vendendo fumo ambulante
Ele tinha mais ou menos
trinta anos de idade
morava no interior
sem haver prosperidade
fez um bocado de fumo
se dirigiu pra cidade
Quando chegou na cidade
começou a oferecer:
- O fumo é ispiciá
eu tenho ele pa vendê
é preto, cheroso e forte
Mió ninguém pode tê.
E fazendo a propaganda
gritava de rua a fora:
- O fumo vinha imbruiado
Mai seimbruei agora
prara num mim dá trabai
ando com ele de fora
Passando numa porta,
foi
por uma velha chamado
pra comprar cem réis de fumo
e tendo se demorado
disse: num faço tostão
que o fumo tá alevantado
A mulher olhou e disse:
que fumo feio danado!
Ele disse: sinhá dona,
é do só que tem levado
a cpa de fopra é seca
mai o miolo é melado
Num há pessoa no mundo
que ache esse fumo fraco
quem quizé vê u'a coisa
torre e pise ele num saco
se ele é bom de cachimbo
inté mió no tabaco
O meu fumo de prircipe
numtem essa furtidão
mai condo chega no mei
é bom sem cumparação
no fim tem um paladá
qua casa admiração
Inté pra se fendê fumo
tomem precisa de sorte
esse meu é de premêra
só num tem bunito corte
porém tem outra vantage
é preto, cheroso e forte
Todos prestavam atenção
tudo quanto ele dizia
antes de andar com fumo
nas condições que vivia
logo ai pôs-se a contar
todos bens que possuia
- Eu herdei uns pé de coco
que foi meu pai que prantô
no momento que morreu
tudo pra mim deixô
inté o tempo presente
ainda num safrejô
Vendo rumo aperreado
mais tarde tenho descanso
condo os coqueiro botá
de alegre eu canto e danço
o fumo já levantô
ur coco tão com balanço
Vinha u'a mulher vendendo
retalho de pano e renda
ele disse: sinhá dona,
minha muié me ricumenda
se eu lhe visse comprasse
uns metro dessa fazenda
De renda já tenho a conta
pruque já tá cumprado
pra infeitá a camisa
eu trago já decorado
é quarta e meia de taio
e dois meto de babado
Diz a mulher: tenho aqui
dos pano que você quer
se não quiser comprar muito
compre o tanto que quiser
mas eu sei a quantidade
que leva sua mulher
leva três metro e meio
que u'a vez ela comprou
foi u'a conta tão certa
que nem passou nem faltou
agora tem u'a coisa
a fazenda levantou
Quando a mulher se calou
dizele: isso me afronta
eu agrado os meus freguês
porám a senhora espanta
seu pano já levantô
só meu fumo não levanta
Pegou no fumo e saiu
e nem comprou a fazenda
em casa disse à mulher:
não comprei tua incomenda
os pano tá muito arto
é bom que você cumprenda
A mulher perguntou: Zele,
vendeu o fumo pagão?
Ele disse: tinha um pedaço
impurrei no Damião
com tanta facilidade
que causou adimiração
O resto tá lá dentro
você mele e trate dele
pruque eu quero tirá
todos pijuiso nele
levo o fumo pu Rucu
e nos povo meto ele
Voltou ele foi à loja
pra uma calça comprar
pôs-se a bater no balcão
Disse à dona: há de chegar
daí uns dez minutos
veio a mulher despaichar
Ele avistou umas calças
lá no arame trepada
e perguntou: quanto é
aquela ali pendurada?
Disse a mulher: seis mil réis
não posso baixar mais nada
Disse o matuto: dou quatro
se quisé pode imbruiá
A mulher disse: freguês,
o senhor num quer comprar
lhe faço ciinco e quinhentos
por menos não posso dar
tem muita, o senhor escolha
à sua satisfação
tento tem naquele armário
como em cima do balcão
- Achei mió a trepada
cá na minha opinião
A mulher disse: freguês,
que cunversa é essa à toa?
ele aí respondeu logo:
disculpe, minha patroa,
só fiz dizê à sinhora
que achei a trepada boa
E a senhora avie logo
que num posso ter demora
se quisé fazê o meno
pode mim dizê agora
que dou quatro pur a trepada
se não quisé vou mimbora
Disse a mulher: pegue lá
não quero fazê questão.
Ele pagou o dinheiro
e na mesma ocasião
retirou-se e foi embora
levando a calça na mão.
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Do Simião
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