A Andréa convovou e estou aqui. A idéia da postagem coletiva é mostrar o Brasil que a gente conhece para os demais blogueiros. A data da postagem será amanhã, mas como terei um dia cheio, resolvo dar uma adiantadinha. Quem quiser participar, é só participar.
Quando eu tinha 10 anos minha família foi transferida para Maceió. Eu ainda não conhecia nada de Brasil, muito menos dos brasileiros, por isso me espantava por meus novos coleguinhas não conhecerem nada além de seu bairro, mas eu estava em Alagoas. Pense nas pessoas que você conhece que são de outros estados se não o seu. Pensou? Quantos alagoanos estão entre eles? Asseguro que são pouquísimos. Embora seja o estado com maior densidade demográfica, é formada por um povo que viaja pouco, ao contrário de seus vizinhos nordestinos.
Nessa época eu já conhecia três estados.
Estava vindo de Rondônia, o que me fez ouvir muita gozação por conta do meu sotaque. De minha parte, não estranhei muito o sotaque deles, uma vez que sou filho de cearenses. Para quem é de outros brasis, o sotaque de todo nordestino é parecido, lêdo engano. Existem nuances próprias, além de substantivos que o vizinho não conhece.
Me encantei com o palavreado cantado e "oitcho", "oxente" e "muitcho", novos para mim. Lá conheci o sururu, prato típico do lugar, marisco retirado das cordas da Lagoa Mundaú.
Foram três anos na cidade. De lá, fui para Manaus. Meu pai havia sido transferido para Porto Velho e eu, junto com um irmão, ficamos estudando no Amazonas.
Outros costumes, novo sotaque, mais chiado, como o pernambucano, o "tu" ao invés do "você" dos alagoanos, frutas que não conhecia, peixes, feições indígenas, passeio de barcos, rios que não permitem ver a margem oposta... E esse indelével encontro das águas dos rios Solimões e Negro. Algo que não se pode esquecer jamais.
Nessa época, recebi uma carta da Cristina, coleguinha alagoana, perguntando se era verdade que em Manaus existiam casas de madeira e onças pelas ruas. Sim, existem muitas casas de madeira, assim como em Alagoas existem casas de pau-a-pique. E é verdade que encontrei uma onça na rua. Mas era a CIGS, mascote de um quartel do Exército. Essa carta me mostrou, pela segunda vez, que o brasileiro não conhece o Brasil.
Esses tempos de Norte me deixaram marcas profundas e gostosas. Foram muitos lugares (Guajará-Mirim, Manaus, Porto Velho, Belém, Rio Branco, Macapá, Tabatinga, São Gabriel da Cachoeira, Humaitá...), sabores (açaí, tacacá, uxi, pupunha, castanha, peixes e mais peixes, taperebá, maniçoba - meu prato predileto até hoje-, muçuã,...) e tantas pessoas que levo aqui dentro, num baú inviolável. Dessas não direi os nomes para não cometer a injustiça de esquecer alguém, o que seria inevitável, já que são tantas.
Vieram outros Brasis. Centro-Oeste, Sudeste e o Nordeste do Sul, tão diferente do Nordeste mais conhecido.
Vieram outros sabores, ouras paisagens, muitas outras pessoas, outros costumes... Outros países dentro de um só.
Aprendi que sou de onde estou. A primeira coisa que procuro fazer quando em terra nova, é comer o prato tipico do lugar. Vi miséria e vi riquezas; vi honestos e vi bandidos; vi partos e vi mortes; tive amigos e desafetos; vi festas e vi velórios. Vi um país magnífico com todas as dores e sorrisos de um povo grande e quero ver muito mais. A viagem ainda não acabou.
Um comentário:
"Aprendi que sou de onde estou. A primeira coisa que procuro fazer quando em terra nova, é comer o prato tipico do lugar. Vi miséria e vi riquezas; vi honestos e vi bandidos; vi partos e vi mortes; tive amigos e desafetos; vi festas e vi velórios. Vi um país magnífico com todas as dores e sorrisos de um povo grande e quero ver muito mais. A viagem ainda não acabou."
lindíssimo !
(e depois diz que já não é mais poeta...tsc...tsc...tsc...rsrs)
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