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terça-feira, junho 14, 2011

Dilma e Lula, um final à vista

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Politicamente sou apenas meio burro, de vez em quando aprendo alguma coisa, mesmo que empiricamente. Entre as poucas coisas que aprendi foi que, quanto mais próximo do cume da pirâmide eleitoral o sujeito se encontra, menos fala espontaneamente, torna-se porta voz de seus financiadores de campanha, dos seus assessores mais poderosos, dos cardeais do seu partido e, mais enfiado na moita do que calango tímido, do seu marqueteiro.

A Dilma, a bola da vez em quem devo descarregar minha espingarda de sal, daquelas que não matam, e nem prego isso, mas ardem um bocado quando atingem a bunda, desde o início de seu mandato vem contrariando alguns discursos repetitivos de seu ancestral, o ex-graçasaDeus-presidente. Se não, vejamos: Não ficou com o megalômano Celso Amorim no Itamaraty, mesmo sob constante insistência de Lula, preferiu um ministro também sonhador vermelho, mas mais low-profile; depois de uma campanha em que o ex lançou o mote das privatizações tucanas como um malefício para o país, ela partiu para a privatização dos aeroportos – pelo menos a parte externa do negócio -, algo que nem o mais liberal dos tucanos havia desejado publicamente; mais recentemente, mesmo todo mundo sabendo que houve p dedo mindinho da mão direita de Lula na demissão de Palocci, ela, através de seus luas pardas, como Vaccarezza, Suplicy e a Globo News, fez questão de espalhar que ela havia decidido sozinha a troca da chefia da Casa Civil e que agora tomava de vez as rédeas do governo. É mentirinha, mas com auxílio da imprensa canina a mentirinha colou.

Dou-me a ousadia de discordar das análises de Reinaldo Azevedo, grande mestre da análise política crítica e oposicionista, ídolo de nove em cada grupo de oito opositores, segundo minhas pesquisas à guisa de Vox Populi. Prefiro ficar com o Nivaldo Cordeiro, com algumas discordâncias, que vê mais claramente o distanciamento entre a atual e o ex, propositadamente. Nivaldo vê Dilma distanciando-se, mas sem força de encarar Lula em sua volta em 2014, candidatura esta já lançada por idiotas (desculpem a grosseria, mas não encontro outro adjetivo mais propício), como Ciro Gomes, o eterno candidato a coisa nenhuma e continua ganhando nada. Nivaldo não vê qualquer petista capaz de fazer sombra a Lula e vencê-lo, já eu prefiro ficar com um pé atrás e de olho nas manobras do marqueteiro João da Couves que vem orientando Dilma e seu staff. Nivaldo parece esquecer que ninguém acreditava que ela se elegesse, nem mesmo ele cria, e até duvidava que o próprio Lula cresse. Chamaram-na de “poste” – eu também quase chamei -, louvaram sua incompetência administrativa, suas mentiras contumazes, sua inexperiência eleitoral... E deu no que deu.

Uma outra coisa que aprendi é que o dono do cheque jamais perde uma eleição, a não ser que tenha pisado em muitos calos que poderiam ser amigos antes da eleição. Este pecado Dilma pode cometer, e espero que cometa, mas ela tem o cheque agora, dinheiro que pagamos durante cinco meses de trabalho, para ela comprar votos, amigos, base parlamentar, cabos eleitorais famosos como apresentadoras de televisão, pobres famintos – que ela e seu ex insistem em dizer que acabaram, mas continua fazendo campanha para acabá-los – e celebridades, sejam as mais duradouras, como Bono Aproveitador Vox, sejam as nescafé, que são efêmeras e já vem prontas da fábrica. O que lhe falta é o que o marqueteiro vem orientando-a a fazer: distanciar-se da sombra de Lula, de preferência contrariando-o de vez em quando e ela não tem perdido a oportunidade.

Aproveitando-se dos 80 anos de FHC ela escreveu a carta-homenagem onde afirma, do alto de seu troninho de presidente, coisas que Lula sempre negou admitir, sequer para amigos em boteco (se bem que está longe o tempo em que ele freqüentava botecos menos chiques que os Fasano da vida). São trechos da dita carta:

“O acadêmico inovador, o político habilidoso, o ministro-arquiteto de um plano duradouro de saída da hiperinflação e o presidente que contribuiu decisivamente para a consolidação da estabilidade econômica.”(...)”O espírito do jovem que lutou pelos seus ideais, que perduram até os dias de hoje"(...)"Esse espírito, no homem público, traduziu-se na crença do diálogo como força motriz da política e foi essencial para a consolidação da democracia brasileira em seus oito anos de mandato"(...)"Não escondo que nos últimos anos tivemos e mantemos opiniões diferentes, mas, justamente por isso, maior é minha admiração por sua abertura ao confronto franco e respeitoso de ideias. Querido presidente (grifo meu), meus parabéns e um afetuoso abraço.

Se é bom ou ruim, nem preciso dizer, quem me conhece sabe que tenho asco ao PT e qualquer coisa que venha dele, mas para mim é bem claro que ela, com apenas seis meses de mandato, está sempre dando uma afastadinha em Lula. Ele e o João das Couves devem pensar “já foi construída do nada uma vez, quem sabe não dá outra zebra e puxa o tapete do coronel?”. E só por ela poder passar-lhe a rasteira, e espero que sem reeleger-se, porque aí seria demais para meu fígado, já é uma boa coisa.

 

©Marcos Pontes

quinta-feira, junho 09, 2011

Um assassino mora ao lado

Battisti

Como era de se esperar, lá vem retaliação por conta da decisão de Lula em dar “asilo político” ao terrorista julgado e condenado a prisão perpétua em seu país, o italiano Cesare Battisti.

Os advogados da Itália anunciaram que recorrerão ao tribunal Internacional de Haia solicitando a anulação do veredito do Supremo Tribunal Federal, que, resumidamente, segundo o entendimento deste leigo, sustenta que o presidente da República é autônomo na decisão de abrigar o estrangeiro que pedir asilo político e que a Itália, em nome de nossa autonomia, não pode endereçar recurso à nossa primeira corte.

Primeiro, Battisti não foi julgado por crime político, mas por assassinato. Por mais que as motivações tenham sido políticas, e ao que parece não o foram – li as decisões da corte italiana e o processo refere-se a vingança e crime por razões financeiras, como as causas dos quatro assassinatos – o assassinato não pode ser impune. Segundo, em nome de nossa autonomia ferimos gravemente a autonomia da Itália, país democrático que, com advogado, promotor, jurados, testemunhas e transparência, julgou e condenou o assassino. Se foi à sua revelia foi porque o réu encontrava-se foragido. Nossa legislação não permite o julgamento à revelia, mas a italiana, sim. E quem somos nós para condenarmos essa peculiaridade se nosso direito é uma imitação do direito romano?

Político, ao que tudo parece, foi o julgamento no Brasil, não o italiano. Nossos juízes, em sua maioria indicados para a suprema corte pelo presidente petista, com a mentalidade esquerdista libertou o bandido.

Os casos são bem diferentes, mas impossível não fazer o paralelo entre os casos Battisti e Cacciola. O bandido brasileiro refugiou-se na Itália por ter dupla cidadania e por esse mesmo motivo não foi repatriado, como solicitaram nossas autoridades. Me lembro da fúria dos governistas, da oposição de então, capitaneada pelo PT, e da imprensa. Como a Itália ousava dar guarida a um bandido julgado e condenado no Brasil? Todos nós furiosos com a negativa de mandar de volta aquele a quem condenáramos. Este caso é diferente. Battisti é italiano, não tem qualquer vínculo ancestral com o Brasil e só correu para cá porque sempre fomos acoitadores de bandidos. Ronald Biggs, Joseph Mengele, Strossner, e sabe-se lá quantos outros bandidos judeus, árabes e nazistas se esconderam e se escondem em nossas matas, fazendas e selvas de pedra?

Não bastasse nossas fronteiras estarem sempre abertas para os bandidos amigos, contamos também com um supremo tribunal conivente com criminosos vermelhos, como se precisássemos de mais assassinos do que os tupiniquins que já temos.

Além de recorrer a Haia, que dizem os especialistas não terá sucesso devido à bendita autonomia brasileira, a Itália já disse que não estamos preparados para sermos uma potência e já tem movimentos populares pedindo o boicote à Copa do Mundo a ser promovida porcamente pelo Brasil.

Nessa queda de braço, se a Comunidade Europeia tomar as dores de um dos seus mais importantes componente, quem perderá? Se a Itália resolver fazer pente fino e deportar os turistas brasileiros como faz a Espanha com muita constância, quem perderá? Se a Itália resolver boicotar, além da Copa, os produtos brasileiros, quem perderá? Se a França, tão amiguinha dos nossos comunistas milionários, for pressionada pela Itália e tomar suas dores, quem perderá?

Já perdemos muito maculando nossa imagem ao recebermos de asas abertas Battisti, deixando sinal verde para que outros “criminosos políticos” europeus procurem os mesmos privilégios por aqui.

Se o presidente dos EUA ainda fosse Bush filho, provavelmente seríamos incluídos no Eixo do Mal, por sorte é um socialista quem comanda a maior potência da Terra.

 

©Marcos Pontes

quarta-feira, junho 08, 2011

Os bastidores da demissão de Palocci

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A desfaçatez é assustadoramente enojante. Quem acompanha a política mais pelas entrelinhas das notícias do que pelas manchetes já sabia que a queda de Palocci era inevitável, o nó estava em como fazer isso maculando o mínimo possível a imagem já não muito alva da presidente e de seu governo além do que já se previa. E aí é que abriu-se o balcão de negócios.
A imprensa, cheia de especialistas, fontes nos palácios e analistas renomados, se limita a reproduzir as informações oficiais. Raros são aqueles que contam, embora por alto, o que rolava nos corredores, linhas telefônicas e cantinhos escuros dos gabinetes dos envolvidos direta ou indiretamente na crise. Enganar as massas é missão dos políticos, ajudar nessa missão é papel investido pela imprensa conivente e covarde.
Insustentável, ocupante da segunda cadeira mais importante e desejada dessa República, Palocci tornou-se alvo dos oposicionistas oficiais, oposicionistas entre aliados e a opinião pública – a que se informa, pelo menos. Entre os aliados pró-forma o desejo não era descobrir seus mal feitos, as fontes de sua riqueza meteórica, mas o cargo de primeiro-ministro, também conhecido como ministro chefe da Casa Civil.
Dilma precisava substituí-lo por alguém de sua confiança e pouco sujo publicamente; Lula queria continuar mandando, exercendo seu terceiro mandato, por isso alguém do seu quartel general do que do da Dilma; Temer tinha o desejo, mais do que esperança, de emplacar um espião da sala ao lado (na verdade, acima) da da presidente; por fora corriam Força Sindical, PDT, free lancers, financiadores da campanha, lobistas e mais uma infinidade de gente que tenha ou deseje ter negócios com o governo federal.
Lula e Dilma marcaram uma reunião secreta entre si, em Brasília, que deveria ocorrer no domingo, mas a notícia vazou. Ficaram, então, pendurados ao telefone, cada um ouvindo suas luas pardas; Entre propostas, contra propostas e sugestões e imposições, tentavam chegar a uma definição de agrado mútuo e que, de quebra, não amassasse o acordo que o PT/governo tem com seu principal aliado, o PMDB.
Não se sabe de quem foi a idéia de colocar a Procuradoria Geral da República no circuito. Provavelmente de Lula, generalzinho que conhece bem os caminhos e descaminhos, que tem o procurador na algibeira do colete. Talvez o próprio Palocci, que de bobo não tem nada, e participou ativamente de toda a armação. Ele sabia que sairia, apenas queria sair sem quebrar pratos.
Na véspera do anúncio da demissão, na segunda-feira, sai o comunicado que a PGR não investigaria o ministro e sua suspeitíssima riqueza instantânea. A senha estava dada. Com a garantia de que não ficaria na ponta da faca do governo, poderia sair como se fosse vontade sua. Chama-se Vaccarezza e combina-se o discurso a ser repetido por todos, inclusive pela futura ministra, também já definida, consultada e aceitada. Palocci teria demitido-se para defender-se de acusações de cunho político. Aliás, bandido político nunca é perseguido por crime, mas por inveja da oposição.
E por que a Gleisi?
Não são poucos os motivos: 1. Ela conhece todo mundo no Congresso, onde trabalhou como assessora parlamentar; 2. É petista desde 89; 3. Trabalhou na coordenação política das campanhas de Lula e de Dilma; 3. Seu suplente no Senado é peemedebista, o que seria um agrado para o partido aliado; 4. Não tem podres revelados na imprensa; 5. Já foi assessora de Zeca do PT, quando este governava o Mato Grosso do Sul; 6. Já foi diretora de Itaipu, quando o ministro era o Silas Rondeau, que entrou em desgraça por receber R$ 100 mil de propina da Gautama, porém a titica não espirrou nela; 7. Por ser mulher, o que engrossaria o coro de sexismo que o governo assumiu desde a campanha; 8. É casada com Paulo Bernardo, hoje ministro da comunicações e cãozinho fiel do Lula, assim como ela, e carreirista profissional, assim como ela; 9. Tem toda a confiança de Lula e não conta com desconfiança explícita de Dilma. Outras razões devem existir, mas essas já me satisfazem para entender.
Quanto a Palocci? Bom, este saiu ganhando. Não vai ser investigado, não será sabatinado pelos colegas deputados, voltará à sua consultoria ainda contando com informações cocheira e deverá multiplicar sua fortuna vinte vezes nos próximos quatro anos. Logo, logo poderá estar tão rico quanto Lula ou Zé Dirceu.
O Brasil ganhou com sua saída? Não necessariamente. Põe-se um pano quente no escândalo, a imprensa muda de foco, a nova ministra agradará à imprensa canina e todos faremos de conta que tudo voltou à normalidade, como se a política nesse país e, principalmente no PT, algum dia foi norma.

©Marcos Pontes

segunda-feira, junho 06, 2011

O ministro 20 vezes, 20 saídas

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Que há algo de podre no Reino da Dilmamarca, tanto ou mais quanto havia no Reino de Lulamarca, não é novidade a não ser para os apaniguados que negam mesmo quando pegos com as mãos atoladas na botija e seus cúmplices alienados, dignitários das ditas bolsas sociais e sem nem mesmo a cartilha de aritmética capenga ou livros antididáticos que assassinam a concordância verbo-nominal, muito menos jornais e revistas, mesmo as minimamente informativas e que assistem a um ou outro telejornal e dizem-se bem informados.

O país mal parado por conta de um ministro do tipo palocciano, desculpe, palaciano de quatro costados que, pela segunda vez no mesmo cargo, pela segunda vez se encalacra. Na primeira por ter questionado cinqüenta mil reais que um caseiro de salário mínimo tinha em sua conta. Para desacreditar a testemunha, o caseiro, que afirmara o então ministro de estar em constantes reuniões na “mansão do lobby”, Palocci não se fez de rogado. Mandou ordem para o presidente da Caixa Econômica Federal para que este lhe enviasse o extrato da caderneta de poupança do pobre caseiro.

O Beócio, desculpe-me, presidente Lula até que se esforçou em fazer pouco caso do crime cometido pelo seu braço direito, mas não deu pra segurar. O demitiu, mas o manteve sob suas asas, prestigiado no partido, aquele mesmo partidinho que fez de conta que expulsou o tesoureiro mensalista, Delúbio, para, esfriadas as águas que o escaldaram, o readmitir com honras, pompas e circunstâncias. Deixaram Palocci mergulhado um pouquinho para logo em seguida o alçarem à deputadaria federal. Lá estava o amigo do Beócio, desculpem-me de novo, é o vício, o amigo do presidente nas esferas oficiais do poder.

Paralelamente às condições de deputado, assumia a carreira empresarial de lobista, consultor e palestrante, e coordenador político da campanha da candidata do Be..., ops!, presidente. O PT, Lula e os cardeais petistas mostravam, como mostraram quando do afastamento do antecessor de Palocci, o também lobistas, consultor econômico e palestrante José Dirceu, que seus quadros enlameados só são assim vistos pelos golpistas. Aliás, aqui cabe um parênteses: o PT é o único partido que não tem oposição, mas golpistas. Todos os que fazem alguma crítica às medidas governamentais merecem esse título, desde o cachaceiro do boteco da esquina até os mais renomados veículos de comunicação de massa, todos golpistas.

A cadeira de chefe da Casa Civil é maldita? Não, não existem maldições e Brasília é uma cidade muito nova para ter castelos assombrados. A maldição paira sobre a cabeça dos ocupantes desse cargo nos últimos oito anos e meio. José Dirceu, Palocci, Erenice e Palocci de novo. Até deu um refresco para a própria Dilma, aquela mais grossa do que papel de enrolar prego, como a define Cláudio Humberto. Dilma foi mantida na cadeira, a despeito de suas trapalhadas e mentiras, como o doutorado falsificado, o passado terrorista com especialização em explosivos bancado pelo feudo castrista caribenho, as traições aos companheiros de luta armada e ao marido-amélia que a endeusa ainda hoje, cicatriz de chifre à mostra na testa enrugada.

Ao ler nos jornais que a OAB, a mais populista-elitista entidade de classe nacional, os partidos de oposição e alguns da base assalariada, desculpem-me de novo, quis dizer base aliada do governo e, pasmem, até a Força Sindical, traduzida por Força Pelega de Associação de Sindicatos Venais, pedem a saída do ministro, fora o populacho, no qual me incluo, e a presidente fazendo de conta que não o conhece, deixando a pendenga se espalhar por semanas sem tomar uma atitude, me ponho a crer que Lula é mais macho que Dilma, embora as aparências não demonstrem.

Conhecendo a esquerda como conheço, ainda mais de braços dados com partidecos de meia tigela, como o PMDB do vice, o temerário Temer, imagino a pressão que Dilma sofre. Não para demitir Palocci. Uma coisa são as câmeras e microfones, utilizados para demonstrarem coesão entre os amiguinhos do cetro, outra bem diferente são as conversas e gritarias de bastidores.

Aliás, o temerário Temer e o próprio Palocci andaram batendo boca, quando o ministro exigiu que Temer obrigasse seus miquinhos amestrados, os deputados peemedebistas, a votarem contra o relatório de Aldo Rebelo sobre o Código Florestal, ou demitiria todos os ministros do partido de Temer. Quando que Temer, um highlander da política nacional, pendurado em qualquer palanque vencedor, deixar-se-ia dobrar por um sujeito que deixa o rabo à mostra cada vez que se mete numa falcatrua?

Temer deve não só pedir a cabeça de Palocci todas as manhãs em suas orações e todas as tardes em seus telefonemas para Dilma, como também aspirar poder indicar um homem seu para o lugar. Mataria muitos coelhos com uma porrada só: empregaria um amigo, teria um espião na antessala da presidente, ganharia reforço de cabos eleitorais na carona do ministro emplacado, aumentaria em alguns metros o balcão de negócios que é o governo federal e a Congresso... Enfim, presidiria mais do que Lula está presidindo.

Sabendo disso, o próprio Lula não perdeu a vigilância. Lembrem-se, leitores, que nos últimos dias de mandato ele falou que levaria a faixa residencial para casa. Levou. Não fisicamente, não de fato, mas de direito, em se tratando de assuntos políticos, a presidência ainda é dele. Na área econômica e estrutural nacional, não. Ele não comandava essas áreas nem quando era rei posto, por incompetência, inaptidão e desinteresse. Apenas reproduzia em seus discursos improvisados e desconexos os que os assessores e os presidentes de fato (Dulci, Dirceu, Berzoini, Greenhalgh, Ünger e alguns outros poucos sabidos por todos) lhe assopraram a respeito do que estavam fazendo com o país.

Quem Lula quer emplacar? A cada dia os jornais apresentam mais nomes: Gilberto Carvalho, Paulo Renato, Miriam Belchior, Padilha... e o próprio Palocci, claro. Como disse, sua podridão de caráter não assusta petistas, apenas enojam a oposição golpista.

Quem parece não ter qualquer candidato para o lugar é Dilma. A presidente não gosta de Palocci, mas teve que o engolir na cota de Lula, junto com Padilha, Paulo Renato, Lobão (num conluio entre Lula e Sarney) a Miriam Belchior e mais uns dois ou três. A saída dele seria um alívio para ela, mas ela não emplacaria um nome seu sem a aquiescência de Lula que, sabido, cantado e decantado, não abre mão de seu coronelismo.

Além de Temer e Lula, muito mais gente, com menos força e expressão, também tenta colar um nome nessa cadeira, mas nesse saco de gatos que é o governo, muito mais incompreensível e desarticulado do que o anterior, tudo é possível, inclusive nada. As fichas estão na mesa, mas as apostas ainda não se encerraram. A única certeza é que Palocci cai. Ou não.

Nem mesmo escândalos o governo/PT conseguiu produzir para fazer cortina de fumaça para esconder esse escândalo que para o país, o governo e o Congresso, sinal de que a substituição ou manutenção de Palocci é o que deveras interessa no momento. O resto é apenas cenário.

 

©Marcos Pontes

domingo, junho 05, 2011

O Analfabetismo Gera Pobreza II

analfabetismo

Este texto foi originalmente publicado em 18 de abril de 2008, mas, devido aos últimos relatos das batatadas cometidas pelo ministro da educação e seu staff de incompetentes, senti a necessidade de republicá-lo.

Que Educação é a base do desenvolvimento do cidadão e, por conseguinte, de toda a sociedade em que ele está incluído é discurso conhecido até mesmo pelo mais imbecil dos imbecis, inclusive pelo mais notório dos imbecis, o ex-presidente semianalfabeto, mas daí a ser combatido eficazmente e não apenas de cima dos palanques eleitorais e eleitoreiros – e esses dois conceitos têm ficado cada vez mais próximos já quase havendo uma fusão deles – é uma realidade utópica, tão ou mais do que a concretização desses socialismo defendido pelos gestores federais.

Não basta criar um piso salarial para os professores, construir escolas e não aparelhá-las corretamente, dar alimentação escolar de boa qualidade se não for cobrada a contrapartida dos regentes de sala e a qualificação adequada dos administradores escolares, a começar pelo próprio ministro da educação e seus assessores. Não adianta pagar bem – se bem que está longe o dia em que a média dos professores ganhe bem – aos professores se eles continuam mal preparados, pouco motivados e totalmente descompromissados com a qualidade, o que é mais do que a média dos componentes da categoria. Aumentar salário sem cobrar a qualidade de volta é premiar a incompetência. Se bem que premiar a incompetência como forma de comprar votos dos mesmos incompetentes é a práxis imutável de governos da esquerda.

Não bastassem os fiascos no ENEM, ENADE e concursos públicos e o deplorável kit gay, aparecessem agora os escândalos dos livros didáticos. A aceitação de material didático cheio de erros faz-nos pensar que o lobby das editoras, provavelmente pegando comissões aos técnicos responsáveis pela aprovação desse material, está acima da preocupação em melhorar o ensino do país, mesmo que isso continue a nos empurrar para o fim da lista das avaliações internacionais sobre a qualidade do ensino.

Vamos ao texto:

 

O Analfabetismo Gera Pobreza

Mais do que eternizar a pobreza, o analfabetismo gera a dita cuja. Ela impede a promoção social de famílias inteiras e, dependendo da região, de toda uma comunidade.

O Nordeste tem o dobro de analfabetismo por grupo de mil cidadãos do que a média nacional. Isso explica, em parte, porque é uma região tão pobre.

No governo de FHC fez-se uma campanha monstruosa para se colocar 90% das crianças nas escolas, mas se isso fosse conquistado, seria em boa parte por conta de fatores outros que não a qualidade do ensino. Alimentação escolar, bolsa-escola e uma campanha maciça na mídia seriam alguns desses fatores.

A qualificação dos profissionais de educação é secundário, ou terciário. Fica atrás, inclusive, das campanhas políticas em que a educação é sempre um carro-chefe.

Brasil a dentro é comum vermos professores com quarta, quinta série, ensinando em salas multisseriadas, escolas caindo aos pedaços, salários aviltantes, condições sanitárias e de iluminação criminosas, transporte escolar sofrível e algumas localidades sequer com ele.

A Lei Darcy Ribeiro tinha a boa intenção de fazer uma reforma profunda nesse quadro com a criação de fundos para a educação básica, exigência de graduação dos professores, o estabelecimento de um piso salarial e mais um monte de coisas novas, infelizmente muitos prefeitos maquiam as estatísticas e não adaptam seus municípios à nova realidade. Fora aqueles que maquiam a contabilidade, pouco se importando se isso dá cadeia ou não. A impunidade ainda impera e as leis punitivas não avançaram junto com as leis educacionais. Alguém aí conhece algum gestor que continue preso por ter roubado dinheiro da alimentação escolar, do transporte ou da construção e reforma de escolas? Ou algum que tenha devolvido o dinheiro desviado? Se sim, por favor, me diga quem e onde.

Essa quantificação que serve para fazer bonito nas estatísticas internacionais gerou e gera a ampliação do analfabetismo funcional, tão nocivo quanto o analfabetismo elementar. O sujeito mal, mal, aprende a escrever o próprio nome e a ler uma placa de trânsito e é dado como alfabetizado pelos órgãos oficiais, mas não consegue redigir um texto com o mínimo de complexidade ou entender uma notícia lida em um jornal. Lendo, ele apenas deduz o que o texto quer dizer, dentro de seu universo pequeno de conhecimentos.

As escolas formais não ajudam a superar essa deficiência. Nelas as disciplinas são tratadas como estanques, uma nada tem a ver com a outra. Assim, uma criança não consegue traduzir o enunciado de uma questão de ciências ou um problema simples de aritmética. Os professores dessas disciplinas, assim como das demais, não conseguem perceber que a dificuldade do aluno não está exatamente na matemática ou na geografia, mas na leitura, interpretação e elaboração de textos.

Já recebi alunos na oitava série ou mesmo no ensino médio que não conseguem traduzir um texto de duas linhas. Aí fica a pergunta, como é que chegaram a essas séries? Também por conta dos programas de aceleração de aprendizagem ou das cobranças de diretorias de escolas que não querem ficar mal diante de suas secretarias de educação ou atendem à pressão para que as estatísticas estaduais. E isso acontece em todas as unidades da federação. Fatos assim já me ocorreram com estudantes de vários estados que se mudam para cá. Até para preservá-los, não cabe aqui dar maiores detalhes.

Aí o jovem sai da escola com seu canudinho, mas não consegue um bom emprego, sente-se enganado já que ouviu, desde criança, que a educação é imprescindível para uma boa colocação no mercado. Muitas vezes ele não tem noção de que o engano que sofreu foi na escola.

As estatísticas já mostram que empregos sobram no Brasil, nas mais diversas áreas, falta gente capacitada para a admissão. E os governos fazem de conta que não é deles o problema, viram as costas e esperam que os empregadores sanem a questão. Ou talvez, mais que bem intencionados, sejam incompetentes para resolvê-lo com o dinheiro de impostos que recebem justamente para fazerem cumprir a Constituição que prega o direito à educação de qualidade para todos os cidadãos.

Gosto de contar para meus alunos o caso de um garoto, filho de analfabetos roceiros, que apareceu na minha escola pedindo uma bolsa, queria porque queria ser piloto da FAB. A muito custo o convencemos a retroagir uma série, sua base de conhecimentos era arenosa, não conseguiria sustentar o castelo que ele queria erguer. Aos poucos esse garoto foi ficando uma “fera”. No primeiro ano do Ensino Médio, começou a defender uns trocados dando aulas particulares para colegas do terceiro ano. Mas ainda não estava preparado para a FAB. Foi uma outra trabalheira dissuadi-lo da idéia. Nos acusava de não confiarmos em seu potencial.

Concluído o ensino médio, teimou e fez o concurso para a Força Aérea. Não conseguiu a aprovação, em compensação passou no vestibular em engenharia em três universidades federais. Em dezembro último, depois de ter feito um curso, a convite, numa universidade em Paris, devido ao seu desempenho na UFES, graduou-se em engenharia mecânica.

Esse é um exemplo que pode ser seguido. O mérito maior, lógico, é dele que se esforçou, comeu livros, passou perrengue, sacrificou as noites enquanto os colegas estavam em festas, mas uma escola que sabe acompanhar as deficiências individuais, que tem um compromisso com o futuro dos seus jovens e preocupação com o aprimoramento da sociedade como um todo, ajuda bastante. E isso está em falta. Mais fácil estabelecer cotas para aqueles que vêm de escolas menos preparadas do que prepará-las.

 

©Marcos Pontes