Não há mais atuação do Estado, que encontra-se desmantelado, desorientado. Virou território internacional, um cemitério internacional. Terra destruída, devoluta de 50 mil a 100 mil almas. Cenário inimaginável para nós, no conforto de nossos sofares aquecidos ou refrigerados.
Nobilíssimos cidadãos de todo o mundo afluem para socorrer aos miseráveis que sequer sonhavam conhecer um dia. Além dos 5 mil soldados enviados pelo governo brasileiro e os 1300 já baseados naquele país, os voluntários de ONG como o Viva Rio ou a Pastoral da Criança, já são de muitas nacionalidades os voluntários que se apresentam. Principalmente as equipes especializadas em resgate de mortos e feridos em catástrofes.
Mas a parte negra da humanidade sempre cerca. Dos marginais haitianos que cercaram o quartel brasileiro, minutos depois do terremoto na tentativa de saquear armas e alimentos, nessa ordem, aos governantes de países ao redor do globo que usam essa ou qualquer desgraça para se promoverem como benfeitores e salvadores da humanidade, é grande o número de urubus em volta dos cadáveres.
Lamentável, por exemplo, a postura do ministro da Relações exteriores, Celso Amorim, em sua primeira entrevista coletiva, aproveitando-se da oportunidade em que anunciaria os socorros enviados pelo Brasil, para fazer propaganda do governo e comparar nossa ajuda com a de outros países, como a Jordânia, como se fôssemos melhores do que quem doa menos que nós. Lamentável.
Reprovável, embora inteligível, as ações dos saqueadores locais que viram as costas para feridos e mortos ao redor para priorizarem a coleta, legal ou violenta, de alimentos, dinheiro e qualquer objeto de mínimo valor que seja. Poderiam ser apenas crimes famélicos, perdoáveis por justificarem-se por terem como objetivo saciarem a fome ou preservarem a vida dos miseráveis, mas nem todos são assim. Há um grande número de bandidos contumazes que saqueiam para auferirem lucro mais adiante.
Condenável a postura de imbecis como o cônsul haitiano em São Paulo, Gerge Samuel Antoine, que numa demonstração de insensibilidade, discriminação social, religiosa e “racial” (numa alusão minha à cor da pele, uma vez que não acredito em raças além da raça humana) fala mal de seu próprio povo e ainda comemora a oportunidade que a desgraça de um país lhe deu de “ficar conhecido”. Nojento este vídeo:
Tentando não parecer cínico, vejo, porém, nessa catástrofe a grande oportunidade de se construir um país melhor do que o que restou desde o fim da colonização francesa que terminou caindo na ditadura hereditária dos Doc, Papa Doc e Baby Doc. A conseqüente guerra civil ao fim da ditadura, gangs ideológicas em busca do butim da ditadura.
Até o momento as doações internacionais, por volta de US$ 350 milhões, supera um terço do PIB do país. Se bem aproveitado, esse montante será essencial para a reconstrução ou a construção de um novo país. Mesmo que Organismos internacionais, como a OEA, nem tenham mostrado a cara para ajudar.
A participação das tropas e especialistas brasileiros é essencial nesse momento. Além de contar com o respeito da população, conquistado a duras penas, pode ser o centro das determinações das tropas estrangeiras e dos especialistas das diversas áreas que afluírem a Port-au-Prince. Infelizmente, o governo brasileiro fará proselitismo político com a dor alheia, como já demonstrou o Amorim, mas, no final das contas, será um efeito colateral menor diante da catástrofe e de sua conseqüente minoração e da premente reconstrução do país.
2 comentários:
Marcos, o Haiti, Suriname e outras republiquetas lá da Africa foram "descolonizadas" e deixadas ao deus dará, apresentando índices inaceitáveis de pobreza e desenvolvimento humano e econômico.
A tragédia no Haiti era mais ou menos previsível, uma vez que mistura uma falha geológica séria com falta completa de infraestrutura, governo, segurança, tudo enfim! A ajuda humanitária dos países mais desenvolvidos é urgente mas o principal é, o que vai ser desse país amanhã ? Como tornar viável uma nação arrasada, sem lideranças políticas, sem educação, segurança e o principal, esperança ?
Está aí uma chance de provar que podemos ser solidários e não apenas politiqueiros de meia tijela.
O tempo dirá.
Marcos, vou colar aqui o mesmo comentário que fiz no blogue da Camille (Camélia de Pedra):
Se a catástrofe era prevista, já que existem estudos sobre a possibilidade de terremotos na área, haveria de ter, uma prevenção por parte dos países ricos, sabendo que lá não existiam recursos para a hora da sinalização do epicentro - considerando sobre isto, concluo que houve um holocausto, uma fuga da responsabilidade e agora chegam com tapaburacos $$$$$. E os que já morreram? E os que ficaram e padecem da dor de perderem entes queridos e o sofrimento para reconstruir tudo? Nem que uma máquina varresse os escombros e desse prédios novos, a dor não seria substituída! Mas o Brasil, tá fazendo um trabalho bonito lá e 'não é de agora', não é?
Continuando... estes saqueadores são o retrato do país. Nenhum outro país queria entrar ali devido a essa alto grau de marginalidade, não somente pela luta pela sobrevivência mas instigados pelos corruptos! O Haiti nada oferece de riqueza para que os olhos de países ricos possam repousar ali e se fazerem de bons samaritanos. Enfim, pobreza sempre gerou pobreza, assim como o contrário, também procede.
O consul se retratou http://migre.me/gJcX
Marcos, quero te agradecer pela interação durante o ano e dizer que nao estou sendo desatenciosa! Estou ainda em férias e anteriormente o trabalho estava me escravizando. Enfim, entrarei no eixo no próximo ano! Sim, os planos é para o outro ano! :D
Bom fim de semana!! Beijus,
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