A capoeira, segunda dança brasileira mais conhecida mudo a fora, nem sempre teve o glamour com que conta hoje. Ao redor do mundo, principalmente na Europa, a capoeira brasileira prolifera com a exportação de “mestres”, alguns sem o reconhecimento dos mestres de verdade, que montam suas escolas na Holanda, Dinamarca, Fraca, Espanha, além de EUA, Japão e Canadá. A luta-dança é conhecida e admirada pela sua plasticidade.
Já é por demais conhecida a história da capoeira no Brasil. Veio com os escravos, era dançado nas senzalas como um balé para esconder dos capitães-do-mato e dos senhores seu caráter marcial, depois da abolição foi proibida e perseguida pela polícia e tudo o mais. A clandestinidade, criou mitos, ídolos e heróis, como Mestre Pastinha e Mestre Bimba, os dois maiores expoentes.
Característica associada aos capoeiristas desde sempre, é a malandragem, o jogo de corpo, a ginga. Não era à toa a perseguição por parte da polícia. Os “capoeiras” não se valiam só dos pés, cabeça e mãos para se imporem e ganharem as lutas, usavam também de armas brancas (navalha praticamente fazia parte do uniforme), de cassetetes e de comparsas. Romanticamente o capoeirista é desenhado como o bom malandro que se vestia de branco, cor do santo, e encarava sozinho dez inimigos, colocando todos no chão. Mas a verdade é um pouco diferente. Os capoeiristas gostavam de grupo, de gangue.
Estamos falando, lógico, do período pós-escravatura até os anos 60 do século passado, quando a capoeira começou a ser aceita nos salões da classe média, conseqüência da baianização da música popular brasileira, obra de Os Ticoãs, Vinícius de Moraes, Dorival Caymmi e de “baianos” de outros estados, como João do Vale, Luiz Gonzaga e muitos outros. A malandragem, porém, mantinha-se associada à figura do atleta-dançarino.
Aliás, o próprio disfarce de uma luta como sendo uma dança é o maior exemplo da malandragem que envolve a capoeira.
A tal malandragem, traço fixo na personalidade nacional brasileira, deixou, há tempos, de ser uma qualidade para tomar um caráter pejorativo. Desassociando a malandragem esportiva da capoeira da malandragem cotidiana dos espertalhões que atravessam o sinal vermelho, furam a fila do banco, vendem terrenos que não são seus, compram e não paga... A malandragem já não é mais coisa de quem precisava enganar pra sobreviver e melhorar de vida, tornou-se a quintessência da vagabundagem de caráter.
O fato do presidente dizer-se um capoeirista, nos leva a associá-lo à idéia de quem tem jogo de cintura, algo que ele mostrou que tem, já que saiu da esquerda assustadora que ameaçava FEBRABAN e FIESP e tornou seu maior aliado; à combatividade, algo que não podemos negar, uma vez que esteve em todas as campanhas para a presidência desde o fim do regime militar, insistiu até eleger-se; e à malandragem.
Aí eu preciso de outro parágrafo.
A boa malandragem, aquela da sobrevivência, ele nuca teve. Quando era sindicalista, não se sujeitava à negociação, prática controversa, mas legal, que levou figura como Tancredo Neves à imortalidade. Não transgredia, independentemente de concordar ou não com suas idéias e ideais, é inevitável a admiração pela sua postura firme na defesa do que pensava. Seu PT não admitia coligar-se fosse com que partido fosse, precisava manter puras suas características esquerdistas. Isso mudou. Duda Mendonça mudou isso. Não foi a idade e a sabedoria que ela traz, a experiência, o reconhecimento dos próprios erros, foi o marketing político e seu marqueteiro contratado a seu peso em dólares.
Das características histórias e lúdicas do capoeirista, a Lula só restou a malandragem ruim dos que levavam a navalha escondida nas dobras dos dedos para atacar a jugular do adversário no susto, a surpresa; a vagabundagem de quem se fia na pantinha de malandros que o acompanha para atacar em bando, por todos os lados, covardemente; a malandragem da dissimulação para mostrar a boa cara enquanto cutuca o adversário com “tostão” na coxa ou dedo nos olhos.
Embora pudesse ser ofensivo aos capoeiristas que mostraram-se indiferentes com a comparação, dessa vez Lula acertou ao dizer-se um capoeirista, embora encampe em sua personalidade apenas o lado desoneste, mordaz e traiçoeiro dos capoeiristas punguistas de antanho.
©Marcos Pontes
2 comentários:
Lula capoeirista ? Só se for piada! Ele nunca teve jogo de cintura para nada, basta conversar com seus antigos colegas de sindicato. Aliás, costuma bater duro e deixar os aliados para trás, em caso de desastre.
"...paranauê..paranauê, paraná..."
o "Pai Tiburcio" é tudo o que ele quiser ser...Ele é "o cara" !!!...né ?
Nos meados dos 80, virou moda a Capoeira, lembra ?...em Sampa tinha uma escolinha em cada esquina...Muitos amigos aderiram, mais por modismo, claro...
Eu fazia Karatê...continuei...não migrei...nada contra a Capoeira, claro, acho o máximo, aliás...mas...acho que não tenho tanta ginga...nem a malandragem necessária...
Talvez 1º, precise virar presidente, como o Pai Tiburcio virou, né ?...rs
abs
(manda beijo pra Bia !)
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