ACM havia renunciado ao seu cergo de senador para não correr o risco de ser cassado, o que lhe traria prejuízos enormes. Primeiro a imagem de um senador cassado por tantos senadores tão ou mais devedores do que ele; como já não era mais um jovem, ficar oito anos sem poder candidatar-se seria sua morte política; a Bahia, que ele comandava com mão de ferro, mesmo à distância direta do Palácio de Ondina, corria o risco de ficar ainda mais longe dos seus dedos, como veio a acontecer mais tarde, para seu desgosto, com a eleição do sindicalista bêbado e irresponsável Jaques Wagner.
Afastado temporariamente do poder, ACM era procurado por todos os veículos de informação para uma entrevista, mas ele se reclusara por trás dos muros da TV Bahia, propriedade de sua família (diretamente não é seu, porque ele não era bobo para terr qualquer negócio em seu nome, pertence tudo, oficialmente, a laranjas). Mas sabia que deveria falar em público, de preferência num programa de credibilidade, com um entrevistador sério e num horário nobre. O escolhido, Boris Casoy, que tinha um programa de entrevistas na Rede Record, nos domingos à noite e era líder de audiência no segmento.
Assim como milhões de brasileiros, ei também me coloquei diante da televisão pra ouvir as explicações do cacique baiano, temporariamente sem o cocar de cacique nacional.
No primeiro bloco do programa, Casoy foi duro nas perguntas, insistia quando ACM tentava desconversar e sonegar alguma resposta; mexeu em questões nada agradáveis ao ex-senador. Fiquei impressionado com a coragem com que ele enfrentava um homem que mantinha mais de 90% dos prefeitos baianos sob sua asa, muitos deles apenas pelo temor. ACM era vingativo e não perdia a chance de espinafrar seus adversários.
Lembro bem de um episódio contado na Veja, nesse mesmo período, numa reportagem em que a revista tentava levantar o perfil de ACM. Conta-se que na Costa do Sauípe, sempre cercado por dezenas de baba-ovos, ACM entrou na água do mar e aquele séquito de homens sem o mínimo senso de ridículo e ombridade o seguiram. uma vez dentro d’água, ninguém sairia antes do “velho” (seria esse um tratamento carinhoso, caso alguém tivesse coragem de chamá-lo assim na sua frente. Em toda a Bahia ele era conhecido simplesmente como “o velho” ou “cabeça branca”, mas duvido que alguém alguma vez tivesse usado esses epítetos diretamente com ele).
Pois bem, dentro do mar, ACM contava piadas, mostrava sua empáfia, ouvia pedidos, dava ordens, e aquele pelotão dentro d’água com ele. A tarde ia embora, já tinha neguinho com os lábios roxos, outros tiritando de frio, mas ninguém ousava virar as costas ao seu dono, como faziam os súditos aos senhores feudais na Idade Média. Mesmo sofrendo, a cambada só saía do mar depois que ACM saísse.
Casoy, muito provavelmente, sabia dessas características autoritárias e inibidoras do baiano, mas não se fez de rogado, o encarou e o desafiou repetidas vezes.
Nessa época havia um comercial sobre turismo na Bahia que só era apresentado nas emissoras da Rede Globo, cadeia da qual a Tv Bahia, da família Magalhães, era afiliada. Embora circulasse em todo o país, só passava nas emissoras da Globo.
Estranhei que no intervalo entre o primeiro e o segundo blocos da entrevista, a dita propaganda circulou na Record. Confesso que fiquei surpreso e até comentei, na mesma noite, por telefone, com um amigo com quem sempre discutia política e as questões nacionais.
Na volta dos comerciais, Boris Casoy voltou outro. Não desafiava mais, não afrontava, parecia um cãozinho amestrado diante da tigela de ração servida pelo dono. Para exemplificar a situação, posso citar o trecho em que Boris Casoy perguntou a ACM como ele se manteria agora que não tinha mais os vencimentos de senador. No maior cinismo que eu poderia esperar de um político, ACM disse que era um homem pobre e que viveria de sua aposentadoria de pouco mais de quinhentos reais que tinha direito como ex-professor da universidade Federal da Bahia, onde, oficialmente, atuara como professor da Escola de Medicina, embora só tenha atuado um ano na função, mas essa é outra história.
Associei a apresentação do comercial do governo da Bahia com a mudança de postura de Boris Casoy. Posso estar completamente enganado, embora nãoa credite em certas coincidências. Ficou em mim a impressão de que Casoy ou cedera a alguma ameaça da direção da emissora ou vendera-se a ACM em troca de uma comissão no contrato de veiculação do comercial. Ali ele perdeu meu respeito, jamais o vi com o respeito que ele tenta demonstrar trasmitir.
Esse vídeo que agora mostra seu lado socialmente preconceituoso, deselegante e irresponsável não me surpreende como a muitos.
©Marcos Pontes
4 comentários:
Acabamos de assistir "Walker" !
O poder pode ser esse lixo.
E o lado podre da imprensa acaba sendo o mais baixo na escala do trabalho.
A vida dele deve ser uma m....
Marcão :Eu não vi este programa na época mas um amigo me contou tudo ,do começo ao fim ,e fiquei indignado.Este foi o último dia em que dei alguma atenção a Boris Casoy
Abraços
Caro Marcos. Me surpreende ainda encontrar alguns brasileiros que acreditam na imprensa. Me surpreende ainda ver que muitos falam das instituições públicas e privadas como algo sério ai no Brasil. A hipocrisia é tanta que tudo, embora tenha experiência para não sentir isso, me surpreenda sempre.
O Boris Casoy é uma vergonha....Este cara nunca me enganou!!!Acho que cabe à sociedade repudiar este cara abominável, boicotando seus programas. A TV brasileira tem muitos jornais de gente menos asquerosa do que ele! Basta de Boris Casoy! Por um jornalismo mais digno, verdadeiro e HUMANO!
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