“Integrar para não entregar”, Marechal Cândido Rondon
“Dividir para conquistar”, técnica utilizada pelo exército romano, lá pelo século IV a.C.
Os dois lemas acima, do militar brasileiro em defesa da Amazônia e da integridade nacional, e dos estrategistas romanos, parecem lições contraditórias, mas são aditivas se colocadas no contexto desejado.
Rondon forjou seu lema numa época em que a comunicação entre as regiões brasileiras eram praticamente inexistentes. Fincando postes de telégrafos, abrindo caminhos pelas matas e mapeando rios, criava condições para que o governo federal conseguisse ocupar, fiscalizar e unir o país. Ainda no Brasil Colônia, em 1759, acabou-se com o sistema de capitanias hereditárias, que eram apenas 16, num território desse tamanhão e que, por isso mesmo, tornavam o país, rico em recursos naturais, inviável economicamente, além da roubalheira, lógico, nosso primeiro artigo importado da corte portuguesa.
Além dos estados, já praticamente todos definidos no final do século XIX, surgiram quatro Territórios Federais, Rondônia,Roraima, Amapá e Fernando de Noronha, três dos quas, já durante o último regime militar, tornaram-se estados, não mais dependendo da administração federal, mas contando com seus próprios governos locais.
Poucos anos antes, com a transferência da capital federal para o Planalto Central, fundiu-se o ex-Distrito Federal, então Estado da Guanabara, com o Estado do Rio de Janeiro, dando-se à cidade do Rio a condição de sua capital, por contar com melhor infraestrutura do que Niterói. Os cidadãos da Guanabara chiaram, mas não passou de um murmurinho, afinal de contas, em plena ditadura, haviam coisas mais importantes contra o que protestar, além do medo.
No caminho inverso, em 1977, dividiu-se o estado do Mato Grosso, dando origem ao Mato Grosso do Sul. Como efeito, os fazendeiros do Sul, principalmente Paraná e Rio Grande do Sul, continuando o êxodo originado com a construção da malfadada Transamazônica, levando-os a Roraima, Rondônia, norte de Goiás e sul do Pará.
Sua herança de agricultores, fruto do colonialismo alemão e italiano, levou à diversificação de culturas, mais tarde à industrialização, ao profissionalismo e à mecanização e conseqüente enriquecimento de áreas onde se vivia do extrativismo vegetal, da agricultura incipiente, do contrabando de animais silvestres, abate indiscriminado de jacarés e desmatamento ilegal. Criou-se uma nova fronteira para o agronegócio, levando-nos a fazer frente às exportações de China e Estados unidos, algo impensável até poucos anos atrás.
A receita repetiu-se com a cisão de Goiás, onze anos depois, criando-se o estado de Tocantins. Na metade superior do velho estado onde quase nada havia, fez-se Palmas da terra vermelha, como se fizera Brasília. Por duas décadas foi a cidade que mais cresceu no Brasil. Mais uma vez expandiram-se as fronteiras agrícolas, chegando ao oeste baiano, no qual destaca-se Barreiras, cidade de maior crescimento econômico em toda a Bahia, mesmo com a indústria de celulose instalando duas das maiores plantas do mundo no sul do estado.
Mato grosso e Goiás, assim como suas crias, Mato Grosso do Sul e Tocantins, “explodiram”, sem trazer prejuízos significativos Às suas matrizes, seus cidadãos tiveram aumento médio em suas rendas, as cidades mais longínquas puderam ter mais e melhores serviços, embora ainda longe do ideal, mas superiores ao nada que tinham.
Com território contínuo equivalente ao dos Estados Unidos, temos pouco mais da metade do número de estados do país norte americano e quando fala-se em dividir os existentes há uma chiadeira enorme, principalmente dos cidadãos das capitais que, via de regra, não conhecem os interiores e caem na balela simplista dos políticos estabelecidos.
Voltarei a falar, no próximo post, sobre as divisões do Pará, Bahia e Minas Gerais, tentando rebater os argumentos daqueles que pregam contra essas divisões, mas ainda acreditando que pode-se dividir para conquistar e, mesmo com mais pedaços, seria mais fácil integrar o território nacional.
©Marcos Pontes
8 comentários:
Parabéns meu amigo, tua postagem é muito interessante! Você embasa seu texto sobre algo extremamente concreto: a história. Fica difícil contrariar qualquer tese, quando a história aponta correção nos rumos tomados outrora. Como mencionei tenho um artigo a respeito da divisão do belíssimo Estado do Pará, tenho uma posição contrária a divisão, mas seus fundamentos gerais aqui são excelentes! Forte abraço!
Aguardarei a complementação de sua idéia para tê-la eum sua totalidade. Comentarei ao final.
Não concordo que o crescimento agrícola das regiões mencionadas decorreu da divisão destes Estados. Antes, foi um movimento que ocorreria com ou sem a divisão. Terras férteis e baratas era o que os colonos buscavam. E, ainda, com todos os entraves ambientais q existem hoje para a expansão agrícola, quem garante que não teremos divisão da pobreza ao contrário de mais riqueza
De qualque forma, dou-lhe os parabéns por trazer este tema ao debate.
Caro amigo
Bato e rebato na mesma tecla. De que adianta "redividir a submissão" ?
O argumento de levar-se desenvolvimento à regiões hoje abandonadas é muito forte, considerado o gigantismo de algumas unidades da Federação.
Mas a pergunta é: Se estados e municípos brasileiros, hoje em dia, vivem de chapéu na mão implorando por recursos, que por direito lhes pertence, não seria melhor primeiro "organizar a zona", através da repactuação federativa com direitos e arrecadação assegurados ?
Oi, meu caro Marcos.
Admiro sempre a coerência de suas idéias e sua clareza na linha de raciocínio. Não domino bem o assunto, portanto, assim como o cacique, vou esperar a continuação, a complementação do post para ter um apanhado geral e assim poder fazer um comentário.
Mas cumprimento-o pela idéia e pela coragem de levantar um assunto que, de longe, é tabu.
Um abração.
Prezado Amigo, o tema é controverso e de interesse nacional, sendo portanto uma iniciativa digna de aplausos, traze-lo ao debate. Como ainda não concluistes os argumentos favoraveis a divisão dos estados agora em analise, quero apenas ponderar que a desconfiança da população de modo geral quando se trata da criação de novos estados e municipios está ancorada basicamente na desconfiança que temos com nossa classe politica, ja que novos estados e municipios, vao demandar, novas assembleias legislativas, novas camaras municipais, novas estatais, novas sedes de governo, enfim, o de sempre, mais cabides de emprego e novas oportunidades de roubalheiras sem fim.
Vou esperar a conclusão do seu artigo mas, MT deve, até hoje a divisão do estado. Não se pagou tudo o que ficou, mesmo com o "boom"do estado. Esperarei.
Amigo, vou aguardar a outra parte de suas conclusões para só depois tecer meus comentários.
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