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segunda-feira, abril 07, 2008

amancio

  • Sei que está fora de époc, mas não poderia deixar passar a brincadeira que a BBC, sisuda e respeitada, fez no 1º de abril.

 

  • O sectarismo político imbeciliza. Os sectário nega o óbvio, defende seus ídolos, cupinchas, partidários e cúmplices como se fossem eles os mais corretos dos seres humanos. Mas isso é passageiro. Grandes impérios ruiram no decorrer da história. Já o sectarismo religioso, esse me assusta. O partido que defendem é eterno e nada palpável, permite infinitas interpretações e mensagens ao gosto do fiel. O mesmo Deus pode ser misecordioso e amável para uns, como cheio de ódio e vingativo para outros. O perigo torna-se maior quando o defensor de teses fundamentalistas é um sujeito inteligente, bem apessoado e bem articulado. É o caso desse sujeito. Se movimenta nos porões e ofende a todos os que não pensam como ele.

 

  • Durante a Olimpíada (no singular, senhores jornalistas!) do México, em 1968, atletas negros estadunidenses tiveram suas medalhas cassadas pelo Comitê Olimpíco Internacional por terem levantado o pulso fechadono pódium, demonstrando sua simpatia ao movimento político Panteras Negras. O mundo caiu de pau, dividido entre a discriminação do COI e a politização do esporte pelos atletas. Na Olimpíada de Munique, em 1972, terroristas árabes invadiram o alojamento dos atletas israelenses e foram mortos, juntamente com alguns atletas, numa mal sucedida ação da polícia alemã. O mundo inteiro caiu de pau nos árabes e lamentou a intersecção política no esporte. A União Soviética boicotou a Olimpíada de Los Angeles, emplena Guerra Fria e os Estados Unidos boicotaram a Olimpíada de Moscou, um em resposta ao outro. Os jornais do mundo inteiro, em ambas ocasiões, condenaram a interferência das políticas de estado se metendo nos "ideais olímpicos". Em 2008 os protestos giram ao redor do mundo contra a Olimpíada de Pequim por conta da política chinesa no Tibete e a imprensa noticia, mas não condena. Engraçado como esses tempos politicamente corretos se tornaram chatos.

sábado, abril 05, 2008

Apolinário e Berenice

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Apolinário Neto era o que o avô Apolinário chamava de um pândego. Aliás, isso herdara do velho, junto com o nome.

O avô se divertia contando as peças que aprontara quando rapagote, entre elas, a preferida do neto, estava a entrada em um baile de debutantes montado em pêlo num pangaré fedorento. Logo depois fora expulso, é verdade, mas no dia seguinte se comentava mais de sua presepada do que do vestido francês da filha do prefeito.

O pequeno Apolinário ia encontrar-se com os amigos vestindo um velho pijama de listras brancas e azuis desbotadas, aposentado por seu pais, um robe de chambre e pantufas rosas, peludinhas e com duas orelhinhas de coelho.

Filho de família rica, ganhara uma picape no último Natal. Nas noites de verão era normal vê-lo chegar à praça em seu carro, a carroceria forrada com uma lona azul, cheia de água e fazer dela uma piscina. Os trajes combinavam: um maiô do tipo usado pelos banhistas do final do século dezenove: pernas até os joelhos, sem mangas e listrado de preto e branco.

Sua saída às ruas era diversão garantida para a pequena Conceição do Mato Dentro.

Rapaz de muito boa índole, mas sem juízo, diziam os professores. Um pecador inofensivo, dizia o pároco. Um desmiolado, afirmava o pai. Um amor de menino, derretia-se a mãe. Um pândego, afirmava o avô entre gargalhadas.

Naquele mês de maio, a família estava recebendo a visita de parentes que mudaram-se para o estrangeiro. Lá fora não fizeram fortuna, mas conseguiram uma condição confortável e alguma poupança. Programavam uma viagem a Guarapari, sentir o gostinho do mar brasileiro, distante há mais de dez anos. Convite feito e aceito por Apolinário Neto. Para mineiro, ver o mar é acontecimento, não ficaria de fora.

Ônibus alugado para levar toda a família, hotel reservado e lá se iam, farnel pronto, malas arrumadas. Apolinário levava sob o banco um pacote misterioso. Ao ser perguntado do que se tratava, apenas respondia “Berenice” e mais detalhes não dava. Que era “alguma” todos já sabiam, só não desconfiavam qual.

Viajaram por toda a madrugada, depois do converseiro, Guilvan, pai do nosso doidivanas, mandou que todos dormissem. De manhã, quando chegassem, deixariam os trens no hotel e iriam direto para a Praia do Morro, sem perda de tempo.

Assim foi feito. A mineirada toda paramentada para pegar sol, em seus maiôs démodé, desceu do ônibus correndo, areia para todos os lados, o mergulho tímido, um gole de água para comprovar que continuava salgada... Tia Véstia, sempre zelosa, de olho em tudo e todos, sentiu a falta de Apolinário:

- Cadê o Netinho? Cadê o Netinho?

- Deve estar dormindo no ônibus, respondeu alguém.

Preocupada como as tias velhas, Tia Véstia já se dirigia para o ônibus quando a porta se abre e sai Apolinário com o velho maiô listrado e de braços dados com uma boneca inflável inflada, presente que se dera na última viagem a Belo Horizonte.

Todos parados, boquiabertos, olhando o desfile altivo do moleque rumo à água, como um cavalheiro orgulhoso por sua dama impecável. A estupefação durou apenas alguns segundos. Logo estavam a gargalhar, menos Guilvan, envergonhado mais uma vez pelas tiradas do filho.

Não adiantou apelar, ameaçar, resmungar. Apolinário não abriu mão da companhia impávida de Berenice. Restaurante, hotel, lanchonete, passeio pelo calçadão, onde fossem, lá estava o inusitado casal.

Na manhã seguinte iriam passear de barco, escuna alugada pela família. “Menos mal”, pensou Guilvan, “pelo menos só nós vamos ter que encarar essa vergonha”.

O dia amanhecera nublado a água mais fria do que normalmente é em Guarapari. Ninguém arriscaria um mergulho.

Anejo e Jamira enjoando, Tia Celsa colocando os bofes pra fora, Gambira e Cenésia namorandinho abraçados na proa, Tio Clério distribuindo o lanche... E Apolinário sentado na popa, braços dados com Berenice, apreciando a vista.

Na altura de Areia Preta, o alarme: o barco estava fazendo água. A calafetação antiga se desfizera e o madeirame cedera. O porão estava alagado, as máquinas pararam. O comandante tentando colocar ordem e evitar o pânico. Coletes para todos, mulheres e crianças primeiro! A maré estava baixa e o calado é pequeno, não haveria grandes riscos, sem falar que todos estavam acostumados a nadar na Cachoeira, lá em Conceição do Mato Dentro, o problema era a temperatura da água naquele meio de outono.

O barco afundava rápido, a família toda abraçada, tremendo de frio, mergulhada até o pescoço, formando um enorme círculo, à espera do socorro que o capitão pedira pelo rádio. Surge de entre as borbulhas Apolinário sentado na barriga de Berenice, só as canelas dentro d’água.

- Tá frio aí, moçada? A Berenice ta quentinha... E gargalhava.

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A Thayse tem como objetivo tornar-se escritora, mas andava brigando com a inspiração; O David tem vontade de escrever contos, mas tem um medo bobo, já que escreve poemas tão bem. Para provocá-los, sgurei que escrevessem sobre o tema: um sujeito que sobrevive a um naufrágio graças a uma boneca inflável. Fiquei com inveja do que eles escreveram e resolvi entrar na brincadeira.

quinta-feira, abril 03, 2008

No Ônibus

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Naquele dia Ariosto levantara mais cedo que o habitual na esperança de ser o primeiro da primeira fila que encararia. Não dera certo, às cinco e meia da manhã era o vigésimo quinto em frente à agência da Previdência.

No resto do dia a coisa se repetiu: banco, a repartição, o cartório, de volta à repartição porque faltara uma certidão, novo banco, um lanche rápido em pé, escorado no balcão da birosca que só funcionava porque a “saúde pública” não funciona. Pisões nos pés, ambos, algumas vezes em cada um, orações e mantras pedindo paciência, dois ônibus, três vãs, um moto-táxi, subir ladeira, descer escadas... Muita provação para um simples pagador de impostos.

Agora, cinco e meia da tarde, subia no ônibus, cansado, os pés latejando dentro do sapato que parecia ter diminuído dois números, suado, pensando no chuveiro e na massagem da nega Zia. Lá no fundo, perto da porta de saída, um molecote com uma tremenda espinha na face esquerda e um livro aberto, a maior cara de cdf, o único em pé, além dele. Ainda bem que a hora do rush ainda não começara. Os quarenta e cinco minutos até sua casa não demoraria mais que as duas horas na fila do banco.

Passeando os olhos pelo interior do ônibus, percebeu que uma velhinha sem ninguém ao seu lado. Uma cadeira vazia! Sorte! No balanço do ônibus, a pasta cheia de papéis o impedindo de pegar no ferro com as duas mãos, foi dançando até a cadeira sem gente. No assento, um pacote, do tamanho de um pacote de açúcar, coberto por um papel pardo.

Olhou para a cara da velha na esperança de que ela recolhesse o embrulho lhe cedendo o lugar. A velha olhou para ele, apertou ainda mais a bolsa contra o peito, cara de nenhum amigo. Pensou em pedir gentilmente que ela liberasse o lugar, mas mudou de idéia. Suas experiências com velhinhas em ônibus não foram nada agradáveis e, naquele cansaço, estava sem qualquer disposição para um embate.

Da última vez, há duas semanas, ofereceu seu lugar para uma senhora, uns cinqüenta anos, e fora recebido com impropérios: “Safado! Sou uma mulher casada! Vá se meter com suas raparigas!”. Ainda lembra dos olhares de desaprovação que o obrigaram a descer na parada seguinte, vinte quadras antes do seu destino.

De uma outra vez, ofereceu-se para segurar a sacolinha de plástico que uma senhora carregava junto com sua bolsa. Ele estava em pé como ela, apenas desejava ser gentil e poupá-la de carregar aquele peso incômodo. Em troca recebeu um grito que assustou a todos e gerou uma corrente de ódio: “Ladrão! Quer levar minhas compras! Motorista, chame a polícia!”. Mais uma tremenda vergonha pública e a necessidade de andar quarteirões sem fim, nenhum passe para pegar outra condução.

Melhor ficar quieto, estava cansado demais para andar até em casa. Vai que aquela velha mal encarada tinha um pouquinho de compaixão, educação, piedade, fosse lá o que fosse, e lhe permitisse a sentada.

O ônibus seguia sua trilha e as coisas não mudavam. Ele olhava a velha, a velha olhava pela janela e o pacote lá, nem te ligo para os dois.

Já se iam vinte minutos de viagem, ele trocando a perna de apoio de tempo em tempo para poupar as batatas que já doíam, quando a velha levanta-se e dá o sinal de parada. Ele dá um passo para trás lhe permitindo a passagem, a velha passa e o pacote fica.

- Minha senhora, a senhora esqueceu esse pacote.

- Não é meu, não, moço. Alguém esqueceu aí.

quarta-feira, abril 02, 2008

Trabalho infantil

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Muito tem-se falado ultimamente sobre o trabalho infantil e mais uma vertente dessa questão tem sido levantada: o trabalho infantil doméstico.

Colocar crianças para  fazer trabalhos pesados como quebrar pedras, carregar peso, tarefas com produtos químicos, derrubar mata e fazer carvão, quebrar coco... São coisas moralmente reprováveis e danosas à saúde dos pequenos. Isso acontece nas classes mais pobres em que a ajuda dessa mão de obra, mesmo que seja para levar R$ 1,00 para a farinha é uma das poucas alternativas para se evitar a fome da família. Falta aí a mão do Estado e as orientações dos serviços sociais, sejam públicos ou privados. É fácil condenar essas práticas e isso deve ser feito, lógico.

Crianças que trabalham fora não tem tempo, disposição ou orientação para freqüentarem a escola e, muitas vezes nos rincões mais afastados, nem escola tem por perto.

Já o trabalho em casa, guardadas as precauções contra acidentes e o "peso" das tarefas, pode ser bastante saudável.

Não vejo pecado, dolo ou ilegalidade exigir, desde cedo, que a criança arrume seus brinquedos, prepare seu material escolar. Conforme for crescendo, outras tarefas devem ser-lhes dadas, como arrumar a cama, ajudar a retirar a louça da mesa, lavar seu próprio prato ou a cueca/calcinha, ir à padaria da esquina comprar leite... Ah, mas isso não é trabalho, diriam alguns, no que discordo. É uma missão que deve ser valorizada pelos pais tanto quanto devem ser valorizadas as tarefas de casa passadas pelo professor.

De cedo a criança aprende que essas coisas não são feitas com varinha de condão; que se ele não fizer, outro fará e se ninguém fizer a família fica desassistida.

Pais excessivamente zelosos tentam manter seus filhos longe dessas funções mundanas, contratam empregada para fazerem tudo para seu principezinho/princezinha e despreparam os filhos para a vida real.

Conheci um cidadão que tinha uma professora dentro de casa para fazer os trabalhos escolares do filho. Foi o cúmulo da irresponsabilidade paterna. A esse garoto restou uma faculdadezinha de ponta de rua, com vestibular feito por telefone. Pior, vai tornar-se médico. Jamais eu me clinicaria com ele. Fico imaginando o doutor, no meio da consulta, ligar para um colega ou professor ou o próprio pai, médico, para saber que diagnóstico deve ser dado, que exames devem ser cobrados ou que remédio deve ser ministrado.

Por experiência própria posso afirmar que varrer casa, lavar banheiro, lavar as próprias roupas, ajudar na cozinha, capinar jardim, fazer compras na feira, espanar teias de aranha, alimentar os bichinhos de estimação, retirar o lixo e coisas que tais, não deixa trauma, não faz a criança sentir-se explorada e ainda é um grande aprendizado que jamais se esquece, que ajuda na formação do caráter e ainda ajuda os pequenos a valorizarem seres humanos comuns e trabalhadores com quem se deparará vida afora.

terça-feira, abril 01, 2008

Humanices

Se o símio a si se assemelha

E o avaro vadio amealha

A riqueza que o risco compensa

Mais humana a malta não pensa.

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Só pr fazer uma propagandinha do Pseudo-Poemas, onde escrevo com o David, a Saramar, a Letícia e a Van. Lá sou o aprendiz.