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domingo, julho 11, 2010

Como se constroem ditaduras

yuriBezmenov

 

Jovem ainda, lá pelos meus vinte e um, vinte e dois anos, eu percebi que as muitas correntes de esquerda juntavam-se para formar um só partido, eu já imaginava a briga de foice no escuro entre essas correntes depois que o tal partido assumisse o poder. Não eram deduções científicas, apenas empíricas.

Já conhecia a fúria e o ódio intrínsecos nas personalidades dos quadros dessa esquerda. Aqueles com mais de trinta e cinco devem lembrar-se de como Lula, por exemplo, era um sujeito raivoso, que jamais sorria diante das câmeras, que tinha sempre palavras de ira contra seus opositores. Lula era a cópia miniaturizada de João Pedro Stédile, outro que prega a raiva contra os desafetos e não o diálogo e o entendimento para promover mudanças.

É sobejamente conhecida a influência de Duda Mendonça na escultura da nova personalidade de Lula, a mesma tática que o PT usa hoje para moldar Dilma à imagem e semelhança do marqueteiro baiano. O próprio Mendonça tem dupla personalidade, mas a transformação ocorrida em sua imagem pública foi justamente o inverso da ocorrida com seu fantoche.

Enquanto Lula passou do irascível ao “paz e amor”, Duda, tido como boa gente, bem humorado, cultivador de hábitos caros e prazeres que iam do simples trivial ao sofisticado europeu, primeiro mostra sua faceta de torturador de animais, naquele episódio da rinha de galos, mais tarde comprova-se sua participação sub-reptícia no mensalão e os vinte milhões que recebeu “por fora” na primeira campanha que capitaneou e que levou Lula para dentro da faixa presidencial.

O que eu, jovem semi-ignorante em política, mas que já observava com cuidado as nuances nem sempre harmônicas entre si da personalidade humana, não tivera a malícia de perceber, mesmo com a existência da União Soviética e seus países satélites e as distantes filiais, como Cuba e Albânia, foi a ciência praticada, a manipulação das massas nem sempre por ações manifestas e espetaculosas, como guerrilhas, ataques armados, atentados a lugares públicos e coisas que tais.

Eis que minha mulher descobriu uma série de vídeos com entrevista-depoimento de Yuri Besmenov, ex-agente da KGB, a polícia política da União Soviética, que mais que agente do governo era a maior mantenedora do poder pelo Partido Comunista daquele semi-globo comunista com tentáculos espalhando-se pelos cinco continentes, algumas incursões com sucesso imediato, outras apenas cavucando a terra para semear a semente vermelha na esperança de eternização do poder.

Besmenov, atuante na KGB de 1963 a 1970, ano em que desertou e refugiou-se no Canadá e Estados Unidos, revela, numa segunda série de vídeos todo o poder de convencimento, de compra de consciências, de corrupção de políticos e intelectuais, de manipulação da imprensa, da lavagem cerebral coletiva da juventude, enfim, o caráter científico de toda a sede raivosa, irada, mas nem um pouco cega, dos comunistas, que continuam agindo e seguindo a cartilha dos agentes soviéticos por todo o mundo.

Impossível não assistir à série de vídeos e não fazer um paralelo, identificar o dedo soviético nas ações do PT e, de quebra, de toda essa teia vermelha que cobre a América Latina e mídia internacional. Identificamos sem muita dificuldade, o tom róseo que se apoderou da ONU, OEA, igreja, ONGs, imprensa, exércitos e o entretenimento, desde as sitcom de Hollywood às novelas brasileiras por meio das ações politicamente corretas, às falácias ambientalistas de aquecimento global e distribuição de renda, algo que o poder soviético jamais fez e que os líderes latinoameicanos repetem. Em nome da distribuição de renda, extinção da pobreza, da distribuição equitativa dos lucros de produção e comercialização, Chávez, Lula, Morales, Corrêa, Lugo, Dilma, Zé Dirceu, Greenhalgh, Franklin Martins, Berzoini, Stédile e todas as demais lideranças comuno-socialistas fazem fortunas, enriquecem seus comparsas, premiam o ego dos intelectuais, compram empresários gulosos por dinheiro e poder que não querem perder seu status quo e enganam as massas despreparadas para pensar a longo prazo e defenderem-se desse pseudo-socialismo e suas consequências danosas a com risco de eternização.

Os gays costumam brincar que o mundo é gay, que sua cor são as do arco-íris e eu, assim como Bezmenov e minha mulher, tememos que ele seja mesmo vermelho, com seus matizes, do mais tênue rosa ao rubro da raiva, da intolerância e da sede de poder e grana que acomete seus líderes.

A fagocitose, nos ensina Besmenov, entre as esquerdas é inevitável e previsível. Não é à toa, portanto, que do PT nasceram PSTU e PSOL, as mesmas correntes que formaram o PT e que, engolidas pela majoritária que abriga os venais que hoje comandam o país, disputam a parte maior do butim que a velha e maltratada viúva tem a oferecer.

Sugiro que tirem um dia, esqueçam os problemas cotidianos por algumas horas e assistam cada um dos vídeos abaixo, temos muito a aprender com Yuri Bezmenov:

Vídeo 1, de uma série de 9. Depois desse, continue assistindo aos demais.

Vídeo 2, o primeiro de uma série de 20.

 

©Marcos Pontes

terça-feira, julho 06, 2010

bolsa mentira

bolsa_familia_charge

O Ery Roberto me manda, via Twitter a seguinte notícia do web jornal O Paraense:

Cenas de terrorismo eleitoral explícitas...
Agência lotérica da Caixa Econômica Federal (CEF) no município de Juruti, oeste do Pará, hoje, 05 de julho, às 11:30 horas.
Uma senhora, aparentando ter pouco mais de 50, foi receber o auxílio Bolsa-Família de seus dois filhos.
Travou-se, então, o seguinte diálogo com o (..) gerente da agência da CEF:
Gerente: - Olhe, aproveite bem esses últimos meses de Bolsa-Família...
Cliente: - Como assim?
Gerente: - A partir de janeiro do ano que vem a gente não sabe se a Bolsa-Família vai continuar...
Cliente: - Quem quer acabar com a nossa bolsa, meu senhor?
Gerente: - O José Serra, minha senhora. Por isso fale para todo mundo na sua casa votar na Dilma, a candidata do Lula.
A conversa foi gravada.
Imagine o impacto nacional de um terrorismo eleitoral como esse se todos os funcionários da Caixa Econômica Federal espalhados por esse Brasil afora reproduzirem a mesma conversa perante 12 milhões de famílias beneficiadas com a Bolsa-famÍlia?
Tadinho do Serra!

Não posso atestar a veracidade da nota, já que a dita gravação não foi mostrada e nem os nomes dos personagens foram listados, mas não duvido em nada do fato.

O próprio diretório do PT espalhou a notícia de que Serra acabaria com a Bolsa Família, notícia negada veementemente por Serra, embora o estrago já estivesse feito. A negativa do tucano serviu apenas para amenizar os danos e para munir seus eleitores e os partidários a argumentarem em seu nome quando a mentira fosse repetida por um adversário ou por um incauto cidadão.

Já é por demais sabido que foram os tucanos, durante a administração de Fernando Henrique Cardoso, quem instituiu as ditas bolsas sociais: Bolsa Escola, Bolsa Gás e sabe-se lá quantas outras. Coube ao governo Lula unificá-las, medida que contou com a aprovação e elogios, embora tímidos, dos tucanos. Lembra-se disso, caro leitor? Mas não precisa lembrar, basta uma pesquisadazinha via Google. Não seria, portanto, sequer lógico que o tucano Serra, o mais comemorado ministro de FHC, se opusesse agora, às vésperas de uma eleição polarizada, à continuidade do programa. Muito pelo contrário, Serra prometeu ampliar o Bolsa Família. É capaz até de virar Bolsa Família, Vizinhos, Agregados e Puxadinho.

A bem da verdade, eu continuo achando essa Bolsa Qualquer Coisa uma afronta à condição do brasileiro de estudar, trabalhar, produzir, ser digno de sustentar a si e à sua família com seu suor. Há alguns anos comparei esse tal programa social com a letra da música Vozes da Seca, de Luiz Gonzaga e Zé Dantas, no seu trecho “Mas doutô uma esmola a um homem qui é são
ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão”. Há uma peculiaridade, porém, que diferencia completamente a letra da realidade da Bolsa Família e seus agraciados.

Os versos anteriores a esse acima citados dizem “Seu doutô os nordestino têm muita gratidão pelo auxílio dos sulista nessa seca do sertão”. O pobre sertanejo agradecia aos irmãos do Sul que enviaram ajuda aos nordestinos flagelados pela seca, mas preferia que ele próprio e “metade do Brasil”, como diz outro trecho da letra, pudessem produzir seu alimento, desde que houvesse vontade política dos “home pur nóis iscuido para as rédia du pudê”.

Lula, antes de assumir a presidência, tinha razão ao condenar a Bolsa Família, uma esmola que compra votos, como ele definia o programa naquele já famoso vídeo facilmente encontrado no You Tube, infelizmente, como é regra nesse país, após eleito o discurso mudou. E hoje os cabos eleitorais da sua candidata usam dessa esmola perpetuada como maneira de encurralar o eleitor que não lê jornal – boa parte dos que vivem dessa espórtula sequer sabe ler – e prefere acreditar no dotô do banco do que no dotô candidato.

Já o dito economiário, assim como milhares de outros iguais, muito provavelmente é leniente funcionário público que tem medo de que outra mentira vermelha torne-se realidade: a privatização dos bancos oficiais, principalmente CEF e Banco do Brasil, o que o obrigaria a ser célere, competente, pontual e trabalhador, algo que boa parte dessa gente sequer sabe o que significa.

©Marcos Pontes

segunda-feira, julho 05, 2010

Estamos fazendo direito?

mont

 

Celebridades, celebridades-nescafé e políticos prendem-se na máxima – sabe-se lá quem criou essa – que não existe propaganda ruim, a forma mais moderna do “falem bem ou mal, mas falem de mim”, do José Roberto, lá nos tempos da Jovem Guarda.

Calma, não lembrei do José Roberto, apenas lembrei vagamente da música e fui pesquisar no Google, o pai dos burros do século 21.

Voltando à propaganda.

Pois bem, com as redes sociais e mais computadores ligados à internet do que rádios a pilha nas casas brasileiras, e em época eleitoral, propaganda de candidatos é capim. Eu mesmo tenho cerca de 900 “seguidores” (acho isso uma coisinha mesmo pedante, como se o tuiteiro fosse um messias que arregimenta “ovelhas” atrás de seu cajado. No bom sentido), dos quais uns 50% são serristas e/ou anti-lulistas, portanto, anti-petistas e anti-dilmistas. Ficamos nós os dias e as noites inteiros elogiando Serra, enaltecendo o PSDB, aclamando os avanços político-sociais-econômicos dos anos de FHC à frente dessa bagaça, ao mesmo tempo não poupamos energia para enumerar, menosprezar, divulgar, denunciar e sacanear com as ratadas do idolozinho sapudo de barba e seus fiéis seguidores, mormente seu poste de peruca, plástica e ortodontista.

Tá, não vou ficar perdendo meu tempo falando da aparência física da Dilma, acho isso contraproducente, preconceituosamente gratuito e sem sentido, uma vez que Serra também não é nenhum modelo de beleza. Feio mesmo é currículo dela que fica ainda mais feio se comparado com o dele. Mas para isso também os petistas inventaram maquiagem e plástica, como fizeram com o doutorado dela e o do Mercadante. Historiazinha mais que batida que não vale a pena repetir.

A propaganda do Serra e a contra propaganda da Dilma que eu e meus 50% de seguidores, além dos seguidores de cada um desses seguidores, fazemos no Twitter só têm a função de contarmos uma ou outra novidade que alguém deixou de conhecer anteriormente e fortalecermos nossas convicções. Se não ideológicas, pelo menos de voto.

Confesso que não tenho em Serra meu candidato ideal, ele apenas está um pouco mais à direita da Dilma e vem de uma linhagem mais nobre de políticos, a dos competentes, que demonstram real interesse nas melhorias sociais e econômicas do todo da população, ao contrário do que demonstrou esse governo petista que, por sete anos e meio, governou apenas para satisfazer os interesses financeiros e ideológico de seus pares.

Muito mais que tucano ou serrista, sou anti-petista, anti-lulista e anti-dilmista.

O que tem me deixado encafifado é se essa troca de informações, divulgações dos bons propósitos serristas e das bobagens criminosas de Dilma e amiguinhos terão algum peso na futura eleição. Nós, os opositores, que a turma de lá chama de golpistas, usamos da mesma argumentação que usamos entre nossos iguais do lado de fora da porta? Argumentamos com o motorista de taxi, com a amiguinha do cabeleireiro, com o amigo de copo, com os colegas de trabalho? Identificamos à nossa volta os indecisos ou os esquerdistas não convictos e tentamos trazê-los para o “lado claro” da força?

Desperdiçamos nosso potencial de propagandistas ou estamos investindo nossa saliva, tempo e poder de argumentação com quem precisa mais de nossa argumentação?

©Marcos Pontes

domingo, julho 04, 2010

Quem é o índio?

indiodacosta

 

Começando pelos dados gerais. É carioca, tem 4º anos, bacharel em Direito, cumpriu um mandato de vereador pelo PFL, hoje DEM, de 2000 a 2004, foi “prefeitinho” do Parque do Flamengo durante a administração de César Maia (que o adotou e protege), foi secretário municipal da cidade do Rio, também sob a batuta de Maia concomitantemente, em parte, com o mandato de vereador (entre 2001 e 2006).Foi, ainda, membro do Conselho Municipal de Desenvolvimento do Rio de Janeiro e Administrador Regional de Copacabana e Leme. O rapaz, portanto, tem uma boa experiência de administração, tem, porém, uma pequena nuance que me levava a desrespitar Carlos Minc como ministro do Meio Ambiente: uma vida de Zona Sul carioca.

Nada contra a Zona Sul carioca, muito pelo contrário. Se eu morasse no Rio, era ali que procuraria uma casa ou apartamento, mas, pegando o Minc como exemplo, a visão dos problemas daquela região são apenas a sombra da média dos problemas nacionais. Se Minc teve problemas, e muitos, com os produtores rurais, com os amazônidas de um modo geral, fossem extrativistas ou industriais, justamente por desconhecer as grandes causas nacionais, ainda não se pode ter a garantia de que Índio da Costa, cuja notoriedade Brasil a dentro deu-se por sua relatoria do Projeto Ficha Limpa, tenha conhecimento dos problemas nacionais.

A Zona Sul carioca do asfalto, tem ruas pavimentadas e esgotamento sanitário; no Norte e Nordeste o percentual de cidades que contam com esses serviços é mínimo. Na Zona Sula carioca dengue, tuberculose e hanseníase, por exemplo, apresentam índices suíços, ao contrário do que se encontra na Baixada Fluminense ou interior do Mato Grosso. Não há falta de moradias na Zona Sul do Rio, ao contrário, já há falta de espaço para tantas residências, as casas e casarões vão sendo empurradas para baixo da terra, como infraestrutura para os espigões; no país inteiro há, segundo estimativas do próprio governo federam, carência de 12 milhões de residências. Numa busca rápida, encontrei 12 hospitais na Zona Sul carioca; em zonas de aglomerados populacionais, como, por exemplo, esse Extremo Sul baiano em que vivo, um hospital público atende a cinco, seis municípios, cada um com média de 80 mil habitantes. Ou seja, um hospital para 400 mil habitantes. Em régios mais distantes do Centro-Sul essa carência de atendimento médico-hospitalar é ainda mais grave.

Não vem ao caso, pelo menos no momento em que é premente o desmantelamento da máquina petista que assola e pilha o país, se o Índio é cria dos Maia, se foi absolvido nas investigações de envolvimento em superfaturamento de merenda escolar, se é jovem demais ou se jamais afastou-se do eixo Rio-Brasília, mas se, como imediato substituto do presidente da República, seja por viagem ou por afastamento permanente, conhece o país a que pode presidir.

Achar que vice é apenas um cargo decorativo é erro grave. Do final da ditadura aos dias atuais, tivemos quatro presidentes eleitos: Tancredo, Collor, FHC e Lula. Dos quatro, dois cederam a vaga a seus vices. Tancredo morreu e colocou o Sarney, totalmente despreparado para o cago, fazendo um mandato de remendos, principalmente na economia, quase nos levando à bancarrota irremediável. Collor não soube afagar os bolsos e os egos de seus parlamentares e foi defenestrado, deixando a cadeira para indeciso Itamar, que teve a sorte de contar com o ministro FHC, o homem que colocou o país nos eixos, reformou e estabilizou a economia, não sem sangrar, a ponto de polarizar o país entre os que o amam e os que odeiam. Vice não é carguinho de pouca monta, é coisa muito séria e deve ser ocupada por gente capaz, algo que sei que Temer não é, além de pouco honesto. Resta saber se o jovem Antonio Pedro de Siqueira Índio da Costa seria um bom nome.

Não quero esperar para descobrir depois das eleições, é necessário saber agora para não chorar depois.

©Marcos Pontes

 

Resposta ao Alarico Trombeta: Sr. Alarico, espero que seja esse seu nome, ser democrata não significa que eu vá aceitar qualquer comentário, principalmente quando tais comentários são apócrifos e/ou partem direto para a agressão. É muito cômodo atirar pedra escudando-se na covardia da multidão e do anonimato.

Por anos os comentários deste blog foram abertos, sem qualquer moderação, até que cansei da agressão gratuita.

A propósito, o senhor poderia fazer a mesma reclamação em blogs como os do Nassif, do PHA, dos de apoio  Dilma, etc. Pela sua lógica, devo deduzir, portanto, que o senhor não considera os que apoiam a candidata do governo democratas. Se bem que isso eu nunca os considerei mesmo.

sexta-feira, julho 02, 2010

A turma do já perdeu

sai-urucubaca

 

Já que, do presidente aos jornalistas, do dono da mercearia da esquina aos comentaristas, virou mania comparar futebol com política e vice-versa, vou cometer a mesma asneira e começo por pequena análise empírica do comportamento das torcidas.

O brasileiro sofre de um mal que Nelson Rodrigues apelidou de “síndrome de vira lata”, da qual o PT se apropriou (aliás, o PT se apropria de qualquer coisa que ache bonitinho, é um cleptomaníaco de idéias) em que sempre se coloca como o coitadinho pra quem as coisas não vão dar certo, aquele contra quem todo o universo conspira contra, a eterna vítima da incompetência alheia.

No futebol, por exemplo, sempre a metade da torcida acha que não vai dar certo, vamos levar uma goleada, os adversários são muito mais bem preparados que nós. Escrevo essas linhas duas horas antes do Brasil e Holanda e vejo no Twitter, blogs e até no bar do Paraíba, aqui na esquina, um número considerável dos brasileiros xingando a burrice do Dunga, como se já tivéssemos levado histórica goleada. Talvez esse comportamento seja produto hereditário de 510 anos de catástrofes políticas.

De Dom João I aos dias de hoje, poucos foram os governos que pensaram no bem coletivo antes de seu próprio sucesso nos negócios, na egolatria, na sucessão eleitoral. Isso deve ter criado no brasileiro, incluo a mim nesse rol, a preparação do espírito para a desgraça iminente. Tão acostumados a ter pela frente projetos mal elaborados, promessas descumpridas, políticas públicas desastrosas, de antemão preparamos o espírito para o pior.

Tem uma piada, não lembro se do Carlos Eduardo Novaes, do Chico Anísio ou do João Ubaldo Ribeiro, que diz que a primeira coisa que Pedro Álvares Cabral falou ao chegar à costa brasileira, foi “não vai dar certo”.

O PSDB demorou uma eternidade a lançar o nome de um candidato a vice de José Serra. Novela maior e mais enervante foi a de quatro anos atrás, ocasião em que não se decidia sobre o titular da chapa. Parece que o tucanato está se aprimorando. A batalha pelo candidato a presidente não foi tão demorada. O ego do Aécio cedeu sem grandes esforços ao do Serra. Talvez em 2014 o partido demore muito para decidir se lança candidato ou não, apenas para manter a prática de protelar.

Os eleitores comportam-se como torcedores. O juiz que tem a mãe xingada não é mais o cidadão de preto no centro do gramado, mas o cidadão de preto nos tribunais eleitorais. O eleitor-torcedor vê nos juízes eleitorais, muitas vezes com aparente razão além da paixão, um empecilho ao sucesso do seu candidato. O juiz eleitoral só beneficia o adversário, numa marcação rígida ao preferido do eleitor e quando, por ventura, o adversário é multado ou cassado, o eleitor alega que não havia outra medida a ser tomada, a falta foi flagrante e violenta.

Os bandeirinhas que recebem impropérios e sacos de mijo ou bagaço de laranja no lombo são a imprensa, os blogs adversários, os sites que tentam mostrar uma imagem de independentes. Se o blogueiro é independente, logo é um agente adversário disfarçado. Se fala bem do meu candidato é porque o candidato é bom mesmo, não há como falar mal; se fala bem do adversário, é um vendido, um venal.

Claro que existem os venais, os vendidos, os absurdamente compensadores pelo dinheiro ganho à guisa de patrocínio, mas que na verdade é pagamento pela opinião favorável, pela agressão mentirosa ao adversário, é a manifestação assalariada da propaganda fantasiada de análise. A coisa é tão flagrante que os autores desses blogs mantidos com dinheiro de estatais, como a Petrobrás, campeão absoluta na compra de opiniões favoráveis ao governo, sequer tentam escamotear sua torcida. Chegam ao acinte expor, xingar e agredir qualquer leitor-comentarista que discorde de algo postado.

O eleitor-torcedor, aquele que se prepara para o cataclismo antes mesmo do tempo nublar, atua até mesmo contra seu candidato, igualzinho ao torcedor da seleção que prevê a goleada da Holanda daqui a duas horas.

O torcedor tucano ou tucanista, por exemplo, fazia listas de possíveis vices, torcia descaradamente pelo candidato de sua região, virando-se de costa para o restante do Brasil, analisava os currículos com olhar de expert e decidia quem era o melhor para assessorar Serra. Eu mesmo listei 23 nomes no post anterior a este. Aí, sabe-se lá de onde ou com qual intenção, o Serra nos aparece com o nome do deputado Índio da Costa. Para uns, a salvação da lavoura, para muitos um “quediabeisso?” coletivo.

Serra foi encontrar o Índio no mesmo local onde lula foi buscar a Dilma: na sala de espera do partido. Em algum cantinho escondido da política.

A mim não faz diferença, no final das contas. Se Serra é muito melhor preparado para administrar o país, como admitiu o próprio Ciro Gomes, cabo eleitoral em busca de ministério na curriola petista, o Índio pode ser bem melhor vice e, portanto, potencial presidente na ausência do titular, do que o historicamente venal Michel Temer.

Os adeptos do urucubaquismo de penugem tucana já decretaram que a escolha do Índio é a certificação da derrota tucana, mesmo antes de começa oficialmente a campanha eleitoral, mas isso não vai mudar seu voto-torcida.

E o resultado da escolha já traz frutos saborosos. A Datafolha acaba de declarar empate nas intenções de voto.

©Marcos Pontes