“Todos pela Educação”, “Escola para todos”, “Educação solidária”... São muitos os programas oficiais e “projetos” privados em busca de uma educação pública de qualidade, pelo menos pró-forma.
Um parênteses: “projetos”, no parágrafo anterior, está entre aspas por conta de minha desconfiança com projetos e ONG. Primeiro porque projeto significa algo futuro, plano de algo a ser executado; projeto, portanto, palavra tão em voga, é a consubstanciação da máxima do autor austríaco “o Brasil é o país do futuro”. Num país em que o presente vive pedindo socorro, o futuro só pode ser incerto. E em relação às ONG, a desconfiança dá-se por conta das enormes falcatruas, noticiadas á mancheia, envolvendo esses “institutos”, “fundações” e que tais. Há mais ONG roubando o erário do que bandidos nas ruas cariocas. Fecho parênteses.
A divulgação dos resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), avaliação anual da educação mundo a fora, realizado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) volta a colocar a educação em primeiro plano. Para os governistas e emprenhados pelas orelhas, o discurso ufanista de que estamos no caminho certo e o país melhorou; para opositores e profissionais da área da oposição ou isentos, há muita vitrine e pouco conteúdo.
Cláudio Moura Castro, um dos mais renomados especialistas em educação nacional deu uma no cravo e outra na ferradura em sua última análise sobre o Pisa. Percebe que em se tratando de meios materiais, deveras a escola pública melhorou. Não falta mais papel, carteiras, instalações físicas adequadas, alimentação escolar, piso nacional de salário dos professores etc, tudo graças ao Fundo Nacional da educação. Nisso ele está mais ou menos certo.
Recursos financeiros há, deixaram de faltar, mas sua fiscalização ainda é precária. Dinheiro para ônibus escolares zero quilômetro tornam-se aluguel de ônibus caindo aos pedaços; em salas de 50 alunos, superlotação comum em cursos noturnos, contam com 40 carteiras; alimentação escolar que deveria contar com cardápio montado por nutricionistas, via de regra são criados pelo menor preço e não pela melhor qualidade. Dos males o menor, uma vez que em regiões mais pobres a alimentação escolar é o melhor ou único atrativo para manter o aluno da escola.
A alimentação escolar e a Bolsa Família ajudaram a manter as crianças mais tempo na escola, o que torna mais alvissareira a melhoria dos índices internacionais. O tempo de escola é um dos critérios na avaliação da OCDE e este, sem dúvida, tem melhorado desde o governo de FHC, é poça em que foi criado o FNDE e a Bolsa Escola, o que há, então, de ruim? A qualidade.
A nova Lei de Diretrizes e Base da Educação, em vigor desde 1997, obrigava a qualificação dos professores, com terceiro grau, até 2007. Aos trupicões esse item da LDB foi cumprido. Municípios fizeram convênios com universidades públicas, fundações e faculdades particulares, presenciais ou a distância. A finada Licenciatura curta ressuscitou como medida emergencial e alguns professores foram “capacitados” em dois anos, a toque de caixa. Os menos exigentes dirão que melhor isso do que nada. Eu até concordaria se esse pouco não fosse quase nada. Não foram aplicados em grande escala, nessas capacitações, programas de qualificação de fato.
Educação, lógico, é investimento a longo prazo, o início foi dado, mas para gestores que não analisam o futuro, principalmente de tema tão complexo que a maioria não domina, mas tão somente seu próprio futuro eleitoral, nega-se a investir a totalidade do que a lei reza que deve ser investido.
Educação continua sendo mote de campanhas eleitorais e pouco de realizações de fato.
São muitos os descalabros, desmandos e desvios, mas isso é assunto para outro texto. A qualidade dos livros didáticos é duvidosa.
Há falta de planos de carreira; há o advento da malfadada formação continuada, mais um meio de manter o aluno em sala de aula e melhorar os índices internacionais; há a excessiva intromissão de pais leigos na regência de salas e gerenciamento das escolas; há a intromissão dos prefeitos no destino das verbas do PDDE e do PDE, verbas que são depositadas direto nas contas bancárias de cada escola e administradas diretamente pelos diretores e conselheiros; há a escolha de livros didáticos “mais fáceis”, que permitem que professores mal preparados consigam dar suas aulas sem maiores dores de cabeça. São muitas as contra-marés empurrando o barco de um desejado desenvolvimento rumo às condições antigas.
Todo o recurso financeiro direcionado para a melhoria da educação não compra a consciência e nem muda o mau preparo intelectual de muitos professores e gestores da educação. Muito ainda há a ser feito para que a decantada melhoria se dê mais do que apenas melhoria dos índices.
©Marcos Pontes
9 comentários:
O Brasil não é um país do "agora" é ainda um país do futuro...Tudo aqui é fachada e projeto...Presidente de fachada, cheio de blá blá blá mas nenhuma ação! Educação é um caos...cheio de teorias, mas na prática, uma vergonha!
Mas qual político está interessado nisso? Não se engane não! Assim como está, está bom demais pra eles. Essa cambada de sanguessugas....
Bjussss
O Brasil é um país do futuro até hoje, rs. Eu ouço isto desde criança. Só se for Futuro do Pretérito.
Não há melhora de conteúdo na educação, pode ter havido piora, isto sim. Mas se nem de um Presidente deste país se exige uma escolaridade decente?!
O Brasil não investe de fato na educação porque não interessa aos poderosos, grande minoria.
Bom texto.
Cada vez mais a escola se mostra dispensável. são raríssimos os professores em quem eu confiaria para orin=entar um filho meu.
O que vejo é uma massa confusa de gente sem preparo técnico, sem cultura, sem moral...sem valores. Qdo tudo isso é perdido, que escola pode prestar? De que educação se fala? Um pouco de senso de proporções não faz mal.
É bem mais fácil ser o eterno "país do futuro", pois isso desagrega o compromisso com o presente, que continua sendo aquém de qualquer expectativa.
Não me parece interessante a nenhum governante uma educação de qualidade, que ensine o estudante a pensar e raciocinar por conta própria...desta feita, os professores, eles próprios são mal formados e preparados, criando um círculo vicioso de "emburrecimento" a longo ou médio prazo.
O Brasil é um país de soluções imediatistas e de pouco efeito, apenas efeitos eleitoreiros...
Mas quem se habilita a levantar uma bandeira pra que isso mude?? Apenas reclamar, por a boca no trombone como fazemos diariamente nos blogs e redes sociais, pode ser um caminho, mas não é ainda a solução, infelizmente...
Parabéns pelo texto, sempre bem focado e embasado. Abraços!
Na minha opinião, o grande problema da Educação brasileira, é que ela sempre foi tratada como um problema (meta, programa, projeto, iniciativa, chame como quiser) de governo, quando deveria ser um assunto de Estado.
Sendo assim, cada um ministro, secretário, sábio de araque ou palpiteiro de plantão, diz o que acha e bem entende, baseado no que leu anteontem nos jornais e revistas genéricas, que deve ser assim ou assado; frito ou ensopado.
Concordo integralmente que Educação continua sendo mote de campanhas eleitorais e pouco de realizações de fato. Mas houve melhoras nos últimos 15-20 anos, sem dúvida. Contudo, é como dizer que de um para dois o aumento é 100%, mas ainda é preciso chegar a dez. Portanto, falta muito, muito chão pra ficar apenas regular.
No pós-guerra de 39-45, países menos ricos do que somos hoje, e quase sem riquezas naturais, fizeram, cada um ao seu modo, pactos pela Educação. A coisa durou uns 30 anos. O resultado: os chamados Tigres Asiáticos da década de 70. Veja os números daqueles povos. Simples, não é? E Pindorama, que pacto fez? Matando um leão por dia, achamos que vamos conseguir. Não sei.
Os Estados Unidos não estão melhores, ainda que tenham um sistema mais igualitário, com algumas heranças institucionais importantes, ainda estão mais ou menos. Países da Europa Central progrediram nesse assunto numa velocidade espantosa. E Pindorama?
Já na segunda década do século 21, ainda praticamos metodologia educacional do século 19, adaptada a uma tecnologia do 20, achando que estamos "na ponta". Triste.
De qualquer forma, há bons indícios que a coisa vai andar. Pelo menos, na minha cidade (Rio de Janeiro) há um "pacto" que, no meu ponto-de-vista, está no caminho certo.
A conferir.
A educação está péssima.Não começou agora mas em 1961 com a primeira LDBE.Foram facilitando , demais, a vida do aluno e tirando a autoridade do professor.Acabaram comm a carreira de diretor e, com isso, c/ sua autoridade tb pq ele faz tudo( como os políticos)para ser eleito.Pelo tempo q isso acontece, vc já percebe que "fechamos a roda"- como se diz na roça com relação ao boi- cria,ecria e engorda.Os maus alunos de 61 para cá, hoje são professores nas universidades.Consequência?O que vemos e que está difícil de consertar.O diploma, q antes suávamos para possuir, hoje está bem retratado na sua ilustração- dá em árvore e na beira da estrada.Sou uma sem esperança, com relação à educação.Abs. @opcao_zili ( como não tenho conta no google vou colocar anônimo.)
Em virtude de todos esses problemas listados no artigo e nos comentários, devemos constatar que a escola pública vem sendo destinada àqueles que não podem pagar. Estão se tornando há muito tempo um depósito de pobres. A classe média busca soluções próprias colocando seus filhos em escolas particulares. A camada pobre, estrategicamente manipulada, dificilmente exigirá mudanças. São raríssimos os exemplos dessa camada social que entenda o contexto em que está inserido.
Enquanto a classe média continuar a buscar essa solução, deixando as escolas públicas apenas para o pobre, teremos um governo com a faca e o queijo na mão. Ou seja, um governo que recebe os impostos e não precisa investir realmente na educação, porque aqueles que poderiam brigar preferiram sair.
Como sempre, uma ótima abordagem. Lembrando que a situação só piora com a ideologização reinante nas escolas do país...
Minha frase sobre educação é que estamos vivendo uma época em que existem muito mais pessoas formadas em nível superior com conhecimento médio da antiga oitava série do ensino médio, quiçá, quarta série do tempo de minha mãe!
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