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sexta-feira, janeiro 13, 2006

"Os serumanos são racionais pois são os homensapiens, que pensam."
(Retirado de uma comunidade do Orkut)



Mantenham a sintonia. Vem por aí mais uma novidade. Àqueles que gostam dos meus textos ou lêem por amizade ou por falta de coisa melhor pra fazer, breve estreará um site em que terei uma coluna semanal. Assim que a coisa se concretizar os comunicarei. Tô adorando a idéia.


Curumins na piroga


Desafio da Grande Água


Na liberdade da infância interiorana, Iraquitã e Belson eram donos do domingo. Acostumados com a mata e seus animais não temiam os perigos.

No pequeno distrito de Parintins, onde moravam, eram donos e pagés, como cada curumim ou cunhataí tinham sua própria aldeia.

De manhã cedinho pegaram a piroga que não iria à pesca dos adultos e se aventuraram, anzóis e zagaias a bordo, para o grande rio, o Mamuriú. Já se achavam homens em seus dez anos. Os igarapés já não lhes guardavam mistérios, mas os segredos do pará ainda eram segredos para eles. As ondas altas naturais e as marolas dos rastros das catraias e gaiolas ainda não conheciam.

Ambos temeram de receio, não sabiam o que era medo, ao chegarem ao meio do rio e perceberem que a água que entrava rápido, exigia grande esforço e velocidade nos braços para ser retirada, mas não passariam por fracos e nada disseram de sua caruara um para o outro.

A terceira vaga encheu a canoa e suas providências não foram suficientes para evitar o naufrágio.

- Nada, Belson! Nada!

O instinto os guiava, antes que as palavras combinassem, em direção à praia de onde partiram, mas não conheciam os segredos da correnteza. Mais de três quilômetros da margem, as águas os levando rumo ao mar que não conheciam senão do Atlas Escolar milhares de outros quilômetros adiante, e teimavam em voltar ao ponto de partida.

Por quarenta minutos nadavam lado a lado, mas o mar doce os separou numa braçada de Iara.

Iraquitã desviava dostroncos que vinham boiando sabe-se lá de onde, tentava avisar o amigo, mas a voz não saia; tentava avistá-lo, mas as paredes de água que se alternavam não permitia. Agora, admitia, estava com medo, medo de nunca mais ver Belson, nome dado em gratidão ao missionário estadunidense que ajudara sua mãe no parto. As lágrimas de Iraquitã aumentavam o volume do rio.

Precisava chegar à margem, à vila e avisar os adultos para procurarem o amigo, mesmo que isso lhe custasse uma surra de cipó.

As forças vieram do fundo d'alma. Remava seu corpo desengonçado com toda a potência restante nos seus braços finos. Imaginava seus pésserem as nadadeiras da cauda do tambaqui.

Muito tempo se passou até que alcançasse as tiriricas da beira-rio. Não havia tempo para descansar, mas todo o corpo exigia. Tentou levantar-se, mas as pernas recusaram-se. Tentou rastejar, mas os braços se negaram. Nas tentativas frustradas de ir em frente desnaiou deitado sobre aquelas folhas que parecem navalhas quando mulhadas.

Sonhava com o amigo perdidos nas águas que amava, as águas que lhe davam o peixe e as brincadeiras. Não havia mais nada a fazer senão entregar-se à inconsciência, por mais que tentasse lutar contra.

Acordou com a mão suave lhe arrumando os cabelos pretos e lisos. Suas pálpebras pesavam mais que um cacho de pupunha, mesmo assim conseguiu abri-los e viu a noite à sua volta. As dezenas de vaga-lumes aproximavam-se e viravam lamparinas. A mão que o afagava e o colo que o abrigava eram de dona Jussara, Mãe de Belson.

Olhando os olhos negros de Jussara, mais escuros por falta de estrelas no céu negro, chorou e pediu desculpas. Os aldeões se aproximavam. Uma lamparina se destacou das demais e se aproximou rápido, à velocidade de uma carreira de menino.

Belson entregou a lamparina para a mãe e abraçou o amigo que achava morto.

quinta-feira, janeiro 12, 2006

Demorei a traduzir isso:

'Mais vale uma mão enxada duque uma enxada na mão'

Olhares II

Voltando aos olhares femininos, eles realmente me fascinam e, provavelmente, aos demais machos da espécie. Como a Mônica comentou ontem, as mulheres conseguem dizer tudo com o olhar, inclusive mentiras.

Elas podem dizer que amam, odeiam, desprezam, querem bem, estão curiosas ou simplesmente entediadas. Uma mulher que sabe usar seu olhar é uma arma poderosíssima.

De uns seis meses para cá tenho feito muitas amizades on-line, principalmente por meio desse blog. A maioria das conversas tem sido apenas por textos, algumas por áudio e o mínimo por câmera. Uma dessas amizades já me cativara desde o começo, mas bastou conversarmos via cam e olhar seus olhos olhando direto pra mim para ter a certeza que essa amizade é franca e eterna.

Já é folclórico o não feminino. Dizem que quando a mulher diz não quer dizer talvez, quando diz talvez quer dizer sim e quando diz sim está te perguntando "por que ainda não fez?". É claro que há exagero nisso, mas quem receber um não, talvez ou sim feminino vai saber exatamente o que ela quis dizer se a estiver olhando nos olhos.

Talvez por saber do poder dessa aarma, mesmo que intuitivamente, o homem tenha medo de encará-las. Depois de prisioneiros, muito difícil escapar.

quarta-feira, janeiro 11, 2006

Copulavam tão ruidosamente que os gatos da vizinhança reclamavam.


Meu olho esquerdo


Olhares


Observando casais sentados em bares e restaurantes, depois trazendo a experiência para mim mesmo, notei algumas coisinhas que talvez os especialistas em comportamento humano possam explicar.

O casal está ali numa conversa qualquer, de repente alguém, de passagem ou numa mesa próxima, cumprimenta o homem. Quase sempre ele percebe o cumprimento imediatamente e o retribui. Quando isso ocorre, raramente sua acompanhante dirige o olhar para quem foi o aceno. Quando acontece o oposto, o cumprimento é para a mulher, invariavelmente seu consorte olha quem cumprimentou sua parceira.

Como se explica isso?

As mulheres têm visão panorâmica maior que o homem, por isso não precisa virar a cabeça para identificar quem cumprimentou seu acompanhante?

Os homens, como a maioria dos machos animais mamíferos, vêem no macho que se aproxima de sua companheira como um rival em potencial e, caso o terceiro amigo seja uma mulher, sua condição de macho do terreiro avalia a possibilidade de mais uma conquista?

As mulheres são menos curiosas que os homens?

Os homens são menos seguros que as mulheres?

As mulheres são mais focadas naquilo que fazem e abstraem qualquer coisa alheia à sua principal atenção, a conversa que desenvolvem?

As mulheres têm a obrigação cultural de demonstrarem que são difíceis e os homens, ao contrário, têm que mostrar que estão sempre disponíveis e vigilantes?

Essas questões todas podem ser negadas quando a conversa não está nada interessante para uma das partes. Nesse caso a mulher não só olha como faz questão de levantar-se e ir cumprimentar o amigo.

É impressionante, muito mais do que esses devaneios, a maneira como as mulheres olham muito mais intensa e constatemente nos olhos do interlocutor do que os homens. Elas olham fixo nos olhos, acompanham os olhos dos parceiros com os seus, enquanto nós, pobres machos dissimulados, estamos sempre procurando algo interessante que nos prenda a atenção ao nosso redor.

terça-feira, janeiro 10, 2006

O décimo terceiro salário tem como função evitar que nos afoguemos nas taxas de janeiro.




Muito obrigado, Mago, pela homenagem. Me pegou de surpresa e me encheu de orgulho.


São João del Rei


Dona Ventana


Celifônio já começava a imaginar que aquela velha da janela não era uma velha na janela, uma estátua, talvez um retrato em tamanho natural ou uma pintura na janela e a própria janela não existia.

Ao sair de manhã para o trabalho, lá estava a velha na janela do primeiro andar do prédio do outro lado da rua. Ao meio-dia voltava para almoçar e a velha o observava abrir a porta de casa.

Feita a refeição, assistia a algum noticiário na televisão e voltava para o expediente da tarde. De soslaio via a velha acompanhá-lo com o olhar. Às seis da tarde, todos os dias, desde a esquina já sabia que os olhos da velha observavam-no se aproximar.

Não importava a hora, noite ou dia, dia útil ou feriado, se chovia ou o sol queimava, bastava olhar para o alto do outro lado da rua, lá estava a velha e seu vestido vermelho, debruçada na janela, observando o movimento dos carros, das outras pessoas e os seus.

Por alguns meses se incomodou, depois se rendeu à idéia de que a velha só olhava, nada de mais fazia para atrapalhar sua vida. Acordou disposto a ter uma convivência pacífica e amigável com a velha que não sorria, não respondia aos seus cumprimentos, apenas girava o pescoço acompanhando os movimentos da rua.

Ao sair para o batente a cumprimentou com um sorriso e um "bom dia" e recebeu apenas um olhar estóico de volta. Tudo bem, ela não queria amizade, ela não teria.

Houve uma onda de assaltos às casas do bairro, mas naquele quarteirão ninguém fora roubado. Celifônio acreditou que a vigilância da velha da janela inibira os gatunos e por isso passou a dedicar-lhe simpatia e até gratidão, mesmo não tendo certeza de ter sido ela a polícia que a polícia não era.

Numa madrugada de verão faltou energia. Sem condicionadores de ar ou ventiladores para aplacar o calor úmido, toda a vizinhança resolveu arriscar e dormir com as janelas abertas. Ao abrir a sua, Celifônio não surpreendeu-se em ver a velha na janela.

Já íntimo daquela imobilidade vigilante, Celifônio contava sua história para os amigos e se referia à velha da janela como Dona Ventana, por falta de um nome verdadeiro, e todos se divertiam achando tratar-se de mais uma brincadeira criada pelo alegre Celifônio.

Três anos e meio depois do primeiro contato, ao chegar em casa no início da noite, Celifônio não viu a velha da janela, agora fechada. Um frio percorreu-lhe a espinha, algo muito errardo acontecera. Sentou-se na calçada e, por horas, ficou observando as réstias de lz amarela que vazavam pelas venezianas da janela fechada qté que, vencido pelo cansaço e pela necessidade de acordar cedo na manhã seguinte, retirou-se para sua intimidade enclausurada.

Por anos acreditou que Dona Ventana estava morta.

O tempo passou, Celifônio conheceu Adalúcia, casaram-se, tiveram Celícia e Adafônio e a família feliz progredia morando em frente à janela fechada.

No Natal do décimo aniversário de casamento viajaram para São João del Rei. Passeando pelas ruas de pedra da cidade histórica, Celifônio observava as fachadas coloridas e centenárias doscasarões quando a reviu, debruçada sobre a grade de ferro, vestindo um vestido vermelho de papoula. Sentiu o gosto do passado sobre a língua e um frio já conhecido percorrendo a espinha.

segunda-feira, janeiro 09, 2006

O que é bom, dura.




Tem texto meu sobre o namoro entre pessoas com grande diferença de idades no blog da Gueixa. Passem lá, se lhes interessar.


Mulher esperando no campo
Moda... Bah!


É compreensível a influência sofrida por todos pelas pressões da moda, da mídia. As duas andam juntas, abraçadinhas como duas melhores amigas adolescentes. Mas quando se pára para questionar - não repudiar simplesmente, que fique claro - alguns conceitos podem ruir.

Saltos altos. A maioria das mulheres, principalmente as mais jovens, adoram saltos altos. Ver o mundo de cima, mudarem a forma de andar, passinhos obrigatoriamente mais curtos, fazem lembrar as antigas chinesas que tinham os pés amarrados para que mantivessem os passos de passarinho, uma tortura que levou séculos para ser abolida e tão repudiada pelo Ocidente.

E estão cada vez mais altos, verdadeiras pernas de pau. Substituem notavelmente a melancia pendurada no pescoço. Os saltos altíssimos servem para dizer "me olhem! Estou aqui, acima de vocês!".

São sexies, atraentes, mas não são sensuais, me desculpem as adeptas.

Tailleurs e terninhos, aqueles longos cavados no decote e nas laterais. Cada um merecia um parágrafo, mas juntos fica mais rápido. Os primeiros são o paralelo feminino para os inexplicáveiz paletós, exemplares ridículos que o Ocidente impôs à esfera dos negócios e governos mundo a fora. Ponto para os hindus e africanos que preferem seus trajes regionais levez, bonitos e coloridos. Os terninhos, muito usados nos anos 80, estão meio por baixo agora. Foram uma maneira que as mulheres de negócios encontraram para se imporem como machos ferozes. Dão uma imagem de poder, superioridade. Ambos atraem, chamam a atenção, mas são tão sexies e sensuais quanto uma geladeira verde.

Os longos, ah!, os longos são o supra-sumo da feminilidade. São as roupas que dizem "tenho corpo, sou gostosa, te devoro e cuspo as sementes fora". Sexies, indubitavelmente, mas muito pouco sensuais. É o sexo em forma de roupa, sexo em tecidos.

Sensual, sensual a valer, é a mulher com um vestidinho com estampas florais, leve e esvoaçante, chinelinho de tirinhas, bem baixos, quase pé no chão, pouca maquiagem e um sorriso branco. Irreristível!