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quinta-feira, janeiro 31, 2008

ChargeMarta

Imagine a situação.

Seu filhino bateu numa criança na escola. A criança que apanhou tem alguma "necessidade especial" (ainda não sei se gosto desses eufemismos politicamente corretos) como paraplegia, cegueira, síndrome de Down... Não interessa qual. A direção da escola chama você para conversar com a mãe da outra criança. No meio do papo a outra mãe diz que seu filho talvez mereça alguma atenção extra como a visita a um psicopedagogo, seu filho tem demonstrado muita agressividade. Você, no afã de defender seu filho, afinal de contas você é uma coruja e não pode permitir que seu filho seja desancado por uma desconhecida, devolve na lata: "pelo menos ele não é um aleijado!"

Além de você estar sendo mais agressiva que seu filho foi, está deixando claro de onde vem a agressividade de sua cria. Os pais são o exemplo primeiro que as crianças copiam, se você é do tipo que não argumenta, parte logo pra porrada, natural que seu filho também seja assim.

Foi mais ou menos isso que Marta Suplicy fez ontem em Madrid.

Questionada pelos jornalistas sobre a violência no Brasil, se esse não seria um mtivo forte para afastar turistas daqui, ela devolveu, na lata: "pelo menos nós não temos terrorismo". Putz! Santa diplomacia, Batman!

A Espanha ainda não conseguiu recompor-se emocionalmente das bombas nos trens que deixaram 191 mortos em 2004, o país ainda chora seus mortos e anda meio neurótica com a possibilidade de novos atentados, aí vem uma anta loira do outro lado do Atlântico falar uma baboseira dessas.

Se o que o PCC fez em São Paulo, as milícias e os traficantes fazem no Rio, os policiais corruptos fazem em todo o  país, o MST fazem no campo não pode ser considerado terrorismo, então estamos no paraíso.

O brasileiro está constatemente aterrorizado, e aterrorizar é o principal objetivo dos teroristas. Por meio do terror imposto à população civil eles esperam conseguir o que querem do estado. temos terrorismo, sim. Eo que é pior, não só um grupo de terroristas como a Al Qaeda, ou o Talebã, ou Eta, IRA, Sendero luminoso, Farc ou seja lá que bosta for, temos dezenas de grupos e células terroristas espalhadas pelas cinco regiões do Brasil, agindo independentemente ou em conjunto.

Muito mais acertado, seria a ministra mentir e dizer que a violência é grande, preocupante, mas os governos estão fazendo todo o possível para diminuir o problema, está bem aparelhada e treinada, seus homens estão bem remunerados e outras cascatas.

Após as palavras de Marta, fez-se um silêncio sepulcral pelos presentes na sala, mas parece que ela, a única, não percebeu e continuou falando. Disse que os europeus poderiam construir monumentos, museus e parques, mas o Brasil tem a vantagem de ter paisagens naturais incomparáveis e era isso que os europeus veriam por aqui.

Idiota! A Europa, além de paisagens deslumbrantes e manifestações culturais belíssimas, a própria Espanha está cheia delas seja na Andaluzia ou no país Basco ou mesmo na Plaza de Mayo em Madrid, a comparação é o pior meio de se conquistar visitantes para o Brasil. Fazendo uma nva analogia, é como alguém chegar na sua casa, elogiar seu tapete persa e completar dizendo que o que ela tem em casa é mais bonito. Isso, ao invés de servir como convitepara visitá-la, talvez ajude a criar uma antipatia incorrigível pela figura.

As batatadas de ontem de Marta Suplicy comprovam mais uma vez que esse governo é composto de pesoas erradas nos lugares errados. É isso que dá colocar políticos inábeis em postos que deveriam ser ocupados por técnicos.

quarta-feira, janeiro 30, 2008

lane

  • Muitos foram os blogs que comentaram os excessos da ministra com o cartão de crédito corporativo. Via de regra os blogueiros indignavam-se. O que me chamou a atenção foram os comentários do tipo "eu também quero um cartão desses" ou "Lula bem poderia pagar minhas contas também" e coisinhas assim. Confesso que me indigno com esse tipo de comentário. Podem até dizer que é brincadeirinha, que usando o humor (negro) para mostrarem sua discordância. Para mim, desculpem-me a franqueza, estão confessando um desejo com ares de chacota. Pesquisas já mostraram que a maioria dos brasileiros também se locupletaria com o dinheiro público se estivesse num cargo público, por isso, vejo nessas brincadeirinhas de mau gosto um desejo contido. uma pena...

 

  • O que os parlamentares foram fazer no Pólo Sul? Ajudar os cientistas a estudarem como sobrevivem os ratos urbanos no frio antárctico? A pesquisa poderia ser prolongada e eles ficarem por lá uns 20, 30 anos. tudo em prol da ciência.

 

  • Todo mundo tomou conhecimento dos números do Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros  2008, da Rede de Informação Tecnológica Latino Americana (Ritla), agora é a hora das desculpas esfarrapadas dor órgãos oficiais, algumas desacreditando os métodos aplicados na pesquisa, outras revertendo o ônus das causas, talvez algumas até culpem os pesquisadores pela mortandade crescente. O governo da Bahia, petista, sindicalista e mais perdido que azeitona em prato de cego, tem suas explicações e justificativas mais toscas. O governador Jaques Wagner, em entrevista ao jornal A Tarde, ao responde à pergunta "e quanto ao déficit de policiais que há no Estado?", saiu-se com essa: "É bom deixar claro para as pessoas que a população aumenta e, infelizmente, a violência tem aumentado no país inteiro". pela lógica desse sindicalista que nunca trabalhou, o aumento da violência é culpa do aumento da população, ou seja, a culpa não é do estado que não tem política eficiente e planejada para a segurança pública, mas dos pais e mães que teimam em gerar crianças.

O estudo da Ritla mostra 25 municípios bainos entre os 556 mais violentos, tendo Porto Seguro no topo da lista baiana e 16º no país. A presidente da OAB da cidade, Ilma Ramos Santos, diz que "o aumento da criminalidade se deve à deficiência do efetivo das polícias militar e civil e ao surgimento de loteamentos clandestinos no município". Ou seja, ela vê, como a maioria do desconhecedores do problema, eu, inclusive, que a violência pode ser controlada pela força. Minha ignorância talvez seja menor que a da doutora. Sou duzentos por cento a favor de um policiamento ostensivo e, portanto, preventivo, assim como de uma polícia investigativa eficiente e aparelhada, mas enquanto o estado não tiver política eficaz voltado para a educação e capacitação de mão de obra, além de programas eficazes de geração de trabalho e renda, a polícia apenas poderá punir isso quando e se alcançar os criminosos.

A "doutora" Ilma, ainda por cima, contesta a 16ª colocação de Porto Seguro no rancking. Ela diz que não foi levado em consideração o aumento sazonal da população por ser a cidade um pólo turístico, um dos mais visitados do país. Ora, "doutora", a população aumenta em apenas dois ou três meses por ano, esse é umponto; outro ponto, a maioria dos violentados na cidade não são turistas, mas nativos; terceiro ponto, nativos ou turistas, quem sofreu a violência sofreu no município,portanto é nas estatísticas dele que elas devem aparecer. Para completar o festival de babaquices da advogada, ela ainda termina com uma opinião totalmente subjetiva e empírica: "sou natural de Porto Seguro e ainda considero aqui um município tranqüilo em relação à segurança". Mania idiota que autoridades têm de tentar encobrir o sol com peneira ao invés de assumirem de cara o problema e cobrar das autoridades medidas concretas e eficazes para saná-lo. Desse jeito, jamais teremos questões sérias resolvidas.

terça-feira, janeiro 29, 2008

Triste

favela_pipas

Não sei se sou um purista ou apenas um saudosista em se tratando de costumes ou sei lá se sou outra coisa que não sei a definição, o fato é que não sou muito simpático à idéia de aldeia global que se concretiza a cada dia.

No final de semana passada, atendendo a um convite de um amigo, fui a uma fazenda num lugarejo chamado Monte Alegre. Para se ter uma idéia do tamanho do lugar, Monte Alegre é um distrito do menor município do Extremo Sul da Bahia. Saindo da BR-101, percorremos 30 quilômetros até Guaratinga, de lá seguimos por estrada de terra por mais uma hora até chegarmos perto da fronteira com Minas.

Em Monte Alegre aconteceria a festa do padroeiro com festa na rua. Durante o dia ficaríamos na fazenda comendo churrasco, pescando, andando a cavalo, esses programas bucólicos que os ratos da cidade não encontram todo dia.

Estava tudo muito bom, e foi bom até o final. A decepção ficou por conta dos costumes das pessoas do lugar.

Quando vou para um lugar bucólico assim, gosto de encontrar aquelas pessoas simples, conversando em seu dialeto, vestindo-se como só ali se veste, comendo o que é costume se comer. O que encontrei ali, em nada me lembra esse bucolismo que esperava encontrar.

No meio da rua, sobre um palco, tocava uma banda até boazinha. Lógico que não esperava ouvir moda de viola, mas também não queria escutar funk ou rock com guitarras distorcidas. Primeiro choque.

As barraquinhas de vendiam hot dog, uísque e churrasquinho de gato. Onde estavam o bolo de aipim, o milho cozido, a pamonha? Não se encontra mais o sabor da roça nem na roça.

Triste ver aquelas pessoas que trabalham na terra vestindo-se igual às pessoas dos shoppings, com a diferença no preço das roupas e sapatos. As meninas com cabelos “chapeados” e calças de cós baixo, mesmo que transbordassem gordurinhas pelas laterais. Os rapazes de camisetas com escritos em inglês sem sequer terem idéia do que estampavam no peito. Tênis e não botinas; saltos finos e não sandalinhas.

Nada contra os confortos da vida moderna como microondas e antenas parabólicas, muito pelo contrário. Se as coisas estão facilitando o dia a dia, que sejam para todos. O que me entristece é a mudança dos costumes.

Não se consegue mais diferenciar uma garota pelo andar. Calçando o mesmo tipo de saltos e vestindo as mesmas roupas, mudando apenas as cores do modelito, elas andam todas iguais. Impossível reconhecê-las pelo cabelo. Todas usam o mesmo corte e as mesmas tinturas, só variando a cor do louro ou ruivo.

Mais triste ainda é ouvir o que falam e como falam. Até sotaque dos artistas da novela das oito é imitado.

A diversidade está em extinção. Tudo tão igual, monótono, cinza, triste. Os sorrisos sumiram, a moda é ser bad boy, mesmo no mais longínquo rincão.

Triste, muito triste e sem graça.

segunda-feira, janeiro 28, 2008

AUTO_novaes

  • Pela milésima vez vou citar a frase do velho Chico, meu pai: "se aparecer um esperto vendendo bosta em pó, sempre aparecerá um otário pra comprar". Só me veio isso à cabeça ontem ao ler uma reportagem sobre um tal Tabernáculo de Vitória, uma seita criada em Santa Tereza, Espírito Santo, que mantém isolados num prédio de 150 quitinetes 200 fiéis que aguardam o dia do Juízo Final. Um dos seguidores largou o emprego, vendeu tudo o que tinha, incluindo a casa e o carro, e doou todo o dinheiro, mais de 200 mil reais, para o "pastor" Ireneu, líder sa seita. Este, por sua vez, assim como o filho, andam pela cidade com carrões importados. Tem jeito não, quem pede para ser enganado, merece sê-lo.

 

  • A Advocacia Geral da União chegou à conclusão de que o aumento do IOF, promovido por Lula na ressaca do revellion, é constitucional e legal. Há muito eu já havia afirmado que isso aconteceria. Aliás, falta o STF fazer o mesmo e isso deverá ocorrer nos próximos dias. Não surpreendam-se, portanto, quando isso for noticiado.

 

  • Em ano eleitoral é comum vermos obras por todos os lados. O governo federal vem falando das obras do PAC que promoverá pelos quatro cantos do país e tal e coisa e coisa e tal. Prevendo um aumento de popularidade de Lula, caso isso aconteça (muito embora o PAC já fez aniversário e ainda não saiu do papel), os parlamentares resolveram tirar o pirulito da boca do presidente e fez um corte de 17 bilhões de reais no orçamento. O que a oposição não previu, na minha pobre análise, é que está dando a Lula argumentos para aumentar ainda mais os impostos ou criar um novo para fazer pelo menos algumas obras de maior relev^ncia para jornalistas verem.

 

  • Depois do Zé "horta de cebolinhas" Dirceu abrir o bico para a revista piauí, Delúbio resolveu falar alguma verdade na Justiça. O ex-tesoureiro e testa-de-ferrro afirmou que a cúpula do partido sabia da existência do caixa 2, coisa que ninguém duvidava. O que levou Nilcéia Pitta a entregar o ex-marido? O que fez com que Pedro Collor dedurasse os esquemas do irmão Fernando? Na verdade pouco importa as causas, o que fica claro mais uma vez é que o primeiro a entregar um corrupto são seus sócios arrependidos ou pressionados. Os caciques petistas devem ter abandonado Delúbio à própria sorte. Sentindo-se sozinho, acuado e pressionado, além de ter visto o chefe da gang abrindo o verbo para a revista, Delúbio deve ter tido uma crise de bomocismo. Tomara que a moda pegue e Silvinho e Genoíno, por exemplo, resolvam falar o que sabem também. Aliás, sobre o Genoíno, ouvi sérias acusações de traidor e dedo duro de um lavrador de São Félix do Xingu alguns anos Atrás. Zé Valdir, o agricultor, afirmava o ódio que povo que apoiou a guerrilha do Araguaia tem do Genoíno que, depois de preso, entregou nomes e dados dos companheiros que encontravam-se escondidos. Ele bem poderia repetir a dose agora para o STF.

sexta-feira, janeiro 25, 2008

Pessimista

raiva

 

Não acontecia nada ao seu redor que ele não visse com o pior dos olhos, tudo e todos tinham uma faceta maléfica escondida, segundas intenções escondidas, propósitos inconfessáveis.

Quando criança, evitava jogar bola com os coleguinhas. Olhava o zagueiro adversário e já adivinhava sua intenções em quebrar-lhe a perna. Fora de cogitação jogar de atacante. No meio de campo, no seu time havia um craque, esse não lhe passaria a bola, faria apenas figuração e papel de bobo. No time adversário jogaria o Manolo, moleque revoltado porque os pais vieram embora do Peru sem lhe pedir opinião, aquele moleque encontraria nele o esparro ideal. Nem penar! No gol? Tá maluco? Já notaram como o centro avante deles chuta forte? E se a bola lhe acertar a boca do estômago ou, pior, um pouco mais abaixo? Sem falar que se não se arranhasse todo no areião para evitar um gol poderia ser linchado pelos colegas.

Se era dia de prova, mesmo que tivesse estudado a noite anterior inteira, tivesse a matéria na ponta da língua, sabia que na hora lhe daria um branco. Sem falar que professor nenhum ia com sua cara, lhe dariam bomba só de sacanagem. Nunca tirou menos que sete, mas tinha certeza que os professores estavam esperando a hora certa para massacrá-lo no final do ano. Coisa que nunca aconteceu.

Os amigos o encorajavam a se aproximar de uma ou outra garota que lhe dava bola. Tá Louco? Essas garotas só querem nos fazer de palhaço. Nos conquistam, nos fazem pagar o sorvete, o cinema, as flores o presente de aniversário, fazem juras de amor eterno e, quando menos esperamos, nos deixam na mão, coração partido. Isso se não nos trocarem pelo melhor amigo, aí a gente perde a namorada e o amigo. Conhecia dezenas de casos e não cairia nessa.

Vestibular. Ah, meu Deus do céu, não iria passar. Mesmo tendo sido o primeiro aluno da turma, desde a alfabetização, tinha certeza que não passaria. Queria ser advogado, nem tentaria, era um dos cursos de maior concorrência. Decidira por biblioteconomia, meio candidato por vaga. Embora nada o demovia da idéia de que não conseguiria a pontuação mínima. Se dependesse dele, as vagas não seriam preenchidas. Passou em primeiro, com pontuação maior do que o primeiro de direito. Só havia uma explicação: ou os caras que fizeram direito são muito burros ou a correção dos gabaritos estava errada, imagina... Primeiro?

Cursou sabendo que não conseguiria emprego depois. Conseguiu. Melhor ainda, formou-se no mesmo ano em que o prefeito de sua cidade, de onde saíra para estudar na faculdade, resolvera inaugurar a biblioteca municipal. Voltou para sua terra querida, que mesmo com a instalação de uma fábrica de automóveis e o pólo moveleiro, jamais se desenvolveria, e enumerava as razões para a eterna estagnação do lugar. Errou em suas previsões, mas não dava o braço a torcer: havia dinheiro especulativo naqueles empreendimentos, um dia tudo ruiria ou a Polícia Federal descobriria o esquema, as fábricas seriam fechadas e todos os empregados iriam para a rua da amargura.

Aos quarenta anos, solteirão, cidadão respeitado, bibliotecário-chefe, casa própria, carro do ano, que fundiria o motor a qualquer momento, mesmo ele trocando o óleo e levando para a manutenção todas as semanas, teve um ataque cardíaco.

Prontamente atendido, levado às pressas para o hospital, ditava seu testamento para o enfermeiro. A casa iria para a tia Etelvina, o caro para o primo Hildebrando, a coleção de camisas de clubes campeões (todos por erros dos juízes ou azar dos adversários) iria para o afilhado, o automóvel ( se ainda estivesse funcionando) para o tio Godofredo, o dinheiro da poupança (e não era pouco, guardado para quando surgisse uma grande catástrofe) iria para o orfanato de Irmã Estileide, talvez pudesse salvar da inanição alguma daquelas quarenta crianças assistidas.

No hospital, o diagnóstico. Nada muito sério, apenas uma pequena veia, sem grande comprometimento para o funcionamento do coração, havia sofrido uma obstrução de setenta por cento. Nada que alguns medicamentos, alimentação saudável e repouso não resolvessem. Para ele não estava nada bem, os médicos eram uns incompetentes! Queriam sua morte! Foi atrás de segunda, terceira, quarta opiniões e todas eram a mesma. Melhor desistir, havia um complô. Além do mais, seu plano de saúde se recusava a pagar outros exames iguais.

Viveu muito e bem, embora sempre insatisfeito, temeroso e temendo o pior do mundo.

Há muito haviam esquecido seu nome, tornara-se apenas Urucubaca para os amigos e conhecido. Foi uma surpresa para a maioria quando o padre, na missa de corpo presente, homenageou o morto citando seu nome: Poliano.