Pesquisar neste blog e nos da lista

sábado, julho 24, 2010

Palmada é política de Estado

Anistia Comunista

 

Não consigo deixar de pensar no PT/governo de hoje com o PT/oposição de ontem, da minha adolescência, do meu tempo de esquerdista. É, crianças, já fui bem mais idiota do que sou hoje.

Me lembro, por exemplo, do discurso, não só do PT, mas de outras coisas também chamadas esquerdistas, como o MDB, que era o PMDB despiorado, de Tancredo, Teotônio e Ulysses, em que se dizia que o Estado era muito intrometido na vida do cidadão, que não cabia a ele, o Estado, decidir os gostos e vontades do homem, que só cabia a ele dar condições para que o sujeito sob sua tutela, decidisse os rumos a tomar.

Parece absurdo ouvir isso da esquerda de hoje, mas era o que ouvíamos nos 80. E, pior, acreditávamos nesse discurso liberal.

Leonel Brizola, um dos ícones do esquerdismo nacional, até criou o tal “socialismo moreno” como forma de justificar o novo discurso, tão diferente da prática esquerdista soviética, chinesa ou albanesa, sem falar em Cuba e todos os outros. Brizola mostrava um discurso liberal, da livre iniciativa (provavelmente por perceber que o modelo soviético era inaplicável por essas bandas sub-equatorianas, talvez porque a tinta da democracia ainda estava fresca e ele não quisesse despertar a fúria dos milicos que ainda hesitavam em voltar à caserna) e o Lula, a nova estrela dos vermelhos, não tinha a mínima noção teórica do socialismo, talvez sequer tivesse ouvido falar de Marx, era um trabalhador de linha de montagem que se via descontente com as más condições de trabalho e que logo passou a ser a marionete dos socialistas mais “estudados”, aquela gangue que participava dos partidos proscritos, que recebiam orientação e recursos internacionais para a “subversão”.

Lula, desde cedo um notório ególatra, tornou-se o porta bandeiras e abre-alas dos comunistas que mexiam os cordões de seus gestos grosseiros. Reparem nos discursos antigos do então líder sindical em ascenção. Não vamos encontrar jargões fáceis da época como “mais valia”, “movimento”, “revolução”, e tantos outros criados pelos esquerdistas de laboratório, os vermelhinhos do banco universitário. A palavra popularizada por Lula foi “pelego”, repetido à exaustão, bastava o sujeito dizer que estava satisfeito com a empresa em que trabalhava.

O discurso começou a ficar com cara intelectualizada quando os manipuladores começaram a escrevê-lo, mas essa é outra história.

Quando a esquerda, já livre da mira dos fuzis, começou a eleger-se para o legislativo, passou a pregar, entre outras liberalidades, o orçamento participativo. Você deve lembrar, caro leitor, de como a esquerda reclamava das políticas impostas de cima para baixo, de como exigia que o cidadão participasse mais efetivamente e tivesse sua voz ouvida, e como a direita centralizava as decisões e blá-blá-blá de mesmo teor. Lembra? Eu lembro.

Aí a gente vai ficando velha, os questionamentos começam a responder-se e darem espaço a novos questionamentos, respostas até sem pergunta vão aparecendo, o que era aceitado pelo cérebro desde que entrasse pelo ouvido já não fazia tanto sentido sem a compreensão histórica e a busca profunda de razões. A história passava a ser percebida melhor depois de passada e vivida.

Quando a Dilma, ainda ministra, mas já candidata, disse que acabaria com o “estado mínimo”, percebi que a esquerda brasileira não era desigual das totalitárias do leste europeu. Percebi que o socialismo moreno foi apenas uma viagem de Brizola depois de ter dado um tapa na erva da Neuzinha. Percebi que a esquerda, mormente o PT, não sofre influências horizontais, muito menos verticais de baixo para cima, muito pelo contrário, toda a linha de atuação do partido é vertical de cima para baixo. Um grupelho, ou melhor, uma camarilha da corrente majoritária do partido, não mais de uma das facções formadoras que se acotovelavam pelo controle, como Libelu, Luta Operária, MR-8, Colina... Mas os milionários, os mandatários coligados (Zé Dirceu, Mangabeira, Lula, Mercadante, Berzoini, Dutra, Palocci, Genoíno, Marta...) era quem determinava o que os cegos militantes, soldadinhos de papel e acéfalos, deveriam gritar, que idéias deveriam defender, a quem agredir, que política defender, quais projetos de leis deveria ressaltar e louvar, que figuras deveria endeusar e tudo o mais.

A direita aceita sugestões e interferências horizontais, muito ao contrário da esquerda, que segue os ditames do comitê central.

A lei da palmadinha, crianças, não tem nada a ver com palmadinhas, é apenas mais uma maneira do Estado saber se pode entrar na sua casa e determinar o que você e sua família devem ou não fazer sem contestação. Não demorará o dia em que o Estado resolver lhe dizer o que deve ou não vestir, deve ou não comer, deve ou não falar e pensar será terminantemente proibido. “Pode deixar, cidadão, que nós pensamos por você. A você cabe apenas obedecer. Deitado!”

©Marcos Pontes

5 comentários:

S.L. Snake disse...

O orçamento participativo, da primeira vez que ouvi, foi proposta da Marta Suplicy.
Quando o povo viu que era só um jeito de os subprefeitos ganharem mais força dentro do governo, parou de participar e a coisa ficou como era.

No Brasil (ou seria no mundo), esquerda é só uma maneira de tornar privado o que é público, mas sem privatizar. O lance é por no bolso direto.

Beatriz disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Doroni Hilgenberg disse...

Marcos,
Muito da nossa esperança se foi com o Tancredo Neves.
E nesse mundo de subversão em que o pais se encontra, o governo quer se intrometer numa simples palmada que muitos pais dão na hora certo como unica forma de corrigir uma mal criação ou desobediencia severa. Um absurdo! Criei 5 filhos, dei palmadas e puxões de orelhas, hoje 4 estão formados, casados, bem empregados, não fumam e não bebem e a mais nova segue o mesmo caminho.
O Estado precisa de um choque de realidade e issso depende de nos.

Na revista Veja de n. 2174 do dia 21 de julho, há um texto de Maílson da nóbrega que vale a pena ler. Fala do famigerado BNDS e da ajuda que ele dá para empresas que não precisam e que ganham rios de dinheiro sem fazer esforço nenhum. Apenas aplicando essa gratuita ajuda à custa de todos nós.


Ah..,quando puder venha conferir minha entrevista
http://antologiamomentoliterocultural.blogspot.com/2010/06/doroni-hilgenberg-entrevista.html

bjs

Hélio Sales Jr. disse...

Marcos, lendo os seus textos e vendo as eleições chegando eu me pergunto: Por que alguém como você não tenta carreira política? O país agradeceria! Tava com saudades de passar por aqui... abraço!

Filipe disse...

O Brasil já virou uma implosão de maus costumes e falta de crítica. Isso talvez se deva ao fato das primeiras palmadas distribuídas, e muito bem aceitadas, infelizmente.