Há sabe Deus quantas gerações, conheci um grupo de universitários que combatiam a ditadura, da qual meu pai fazia parte indiretamente, já que era oficial do Exército.
Um parênteses para explicar um pouco a postura do Chico, meu pai, antes que apareça um julgador prévio e o acuse de torturador e outras desinformações espalhadas pela esquerda idiota – desculpem, mais uma vez não consegui evitar a redundância.
Quando deu-se o golpe que, quer queiram, quer não, foi uma revolução, meu pai colocou-se contra. Na época ele servia no 230 Batalhão de Caçadores, em Fortaleza, justamente a terra de Humberto Castelo Branco, o primeiro general a sentar na cadeira da presidência. Haviam, então, três tipos de punição por insubordinação: cadeia, expulsão e exílio na fronteira. Por ser bom militar, meu pai foi enviado para Guajará-Mirim, no então Território Federal de Rondônia, lá na fronteira com a Bolívia, onde só era possível chegar em barcos pelo Rio Madeira-Mamoré ou por aviões da FAB.
Criado no ambiente militar e mais tarde estudante no internato do Colégio Militar de Manaus, aquela liberdade cantada e requisitada por aqueles jovens cabeludos, maconheiros, com bolsas a tiracolo e sandálias de couro de bode, me encantou (tirando a maconha, da qual nunca fui amiguinho). O ambiente de clandestinidade, mais por brincadeirinha de super herói, de alguns, o ar tenso das armações sub-reptícias contra o poder estabelecido, a propagação da idéia de igualdade para todos, as catequeses esquerdistas, o ar grave com que alguns levavam a sério as maquinações que mais tinham como fundamento a lavagem cerebral e incutir idéias bolcheviques na cabeça da negrada que sequer assistia às aulas sérias, a mim parecia, de fato, brincadeirinha de mocinho e bandido que eu travava com meus irmãos depois de assistir aos banguês-bangues nas matinês domingueiras no Cine Melhém. Estava em Belém.
Mas algo disso tudo eu filtrava: deveras era necessário democratizar o país.
Entre aqueles cabeludos fedorentos e as fedorentas de batas indianas, havia gente de todos os matizes vermelhos, do mais desbotado, quase róseo, ao mais vivo carmim. MR-8, Libelu, Colina, Luta Operária, PCB, PCdoB e sabe-se lá que outras letrinhas combinadas nessa sopa mal temperada. Todos queriam que seus grupos saíssem da clandestinidade, no que eu, idealista sem ideal ideológico, concordava.
Nas primeiras eleições livres para governador, aquela em que o MDB deu um baile na Arena e ganhou quase todas as governadorias do país, pasmem, votei em Jáder Barbalho. Essa conta eu terei que pagar a São Pedro.
Nunca participei de ações vândalas mais sérias do que pichar os muros do cemitério de madrugada, no máximo participei de algumas manifestações estudantis, fugi de uns cassetetes e aspirei algum gás lacrimogênio, clandestino do governo e da minha mãe, que sabia que essas minhas idéias “comunistas” poderiam me levar à cadeia ou a uma repreensão ao pai milico. O fato é que eu estava mais pra dar em cima das fedorentinhas de bata indiana, tomar tatuzinho de graça e fazer farra do que na intenção de derrubar qualquer governo à força. Eu simpatizava muito mais com os políticos que negociavam a abertura com convicções, argumentos e ações legais do que com aqueles aloprados adolescentes que achavam que poderiam mandar num paizão desse tamanho como mandava em seus tabuleiros de Banco Imobiliário ou War.
Aqueles caras terminaram criando o PT. Eu vi a salada vermelha que era o partido e vaticinava aos amigos de fora do grupelho, “o dia em que esses caras conseguirem o poder, vai ser uma briga de foice entre eles pra ver quem ficará no comando”. E isso aconteceu. O PT pariu o PSTU, o PSOL, o PCO e sabe-se lá quantos outros partidos. Uma turma mais séria, mais consciente de sua ideologia, de olho na real melhora do país, da Amazônia e do planeta foi ficando, ficando, ficando, até que emancipou-se e tornou também um partido, não só com gente fugindo do PT, mas de organizações não governamentais, que ainda não tinham essa deplorável classificação, de outros partidos e universidades, cérebros independentes que não se deixaram esmorecer pelos preconceitos, gozações e descrédito.
O Partido Verde sempre foi sério, embora apresente aqui e acolá um ficha suja que se aproveita da seriedade dos verdes para esconder suas intenções desonestas.
O Partido Verde de hoje é o PT dos anos 80, com uma grande vantagem, ele não quer conquistar o mundo, quer melhorá-lo e pode ajudar muito a melhorar esse Brasil nosso que vem sendo pintado de vermelho. Marina não conseguiu o segundo turno, o que é uma pena já que para todos seria muito mais promissora uma disputa entre ela e Serra do que entre Serra e a candidata do governo, mas bem poderia, mesmo com sua alma petista, emancipar-se do câncer que é aquele partido para sempre e ajudar Serra na luta contra o dragão encarnado que prepara-se para nos engolir sem mastigar.
©Marcos Pontes
6 comentários:
Adorei o Texto. Sensato, honesto e claro, dando a devida credibilidade ao PV e Marina Silva por este segundo turno. Parabéns !!!
eu vejo o PV como um dos braços mais antigos do PT, e até a Marina chegar por lá, o partido só era lembrado pelo projeto de lei do Gabeira pra legalizar a maconha. E quantas vezes eu fiz e vi gozações porque PV era sinônimo de maconheiro com nível superior, pelo menos nos círculoes em que eu andava. Como Marina tinha e tem um eleitorado cativo entre os evagélicos o PV até parou de falar em maconha, mas, ninguém se engane, Marina foi guerrilheira no Acre e o terroristazinho que a substituiu no ministério é do PV, então, pra não largar o osso, o PV vai naturalmente apoiar o PT. Melhor é o Serra continuar no ataque e mostar quem são do quê puxar o saco da Marina, que sempre foi candidato de aluguel do PT.
Em primeiro lugar é bom saber que vc é meu bicho: Zunzaravalho! Sou bem mais velho. Nos anos que vc tentava a batinhas eu entrava para o PCB, uma daquelas siglas componentes da sua sopa juvenil. Exatamente em 1966. Até hoje tenho um vínculo, sou do PPS.
São boas as suas lembranças, levara-me às minhas. Tdos nós sempre querendo um país melhor e mais Democrático. Hoje estou com as redes porque são sem centro e enquanto funcionado promovem sustentabilidade. Vamos mudar este Brasil com José Serra. Grande abraço.
Raulino
PS: Tb tenho um Blog: Velhinho na Rede. só botar no Google.
Ô Maarcos, vc escreve bem. É um prazer lê-lo.
Concordo com sua opnião sobre o PV em gênero, número, e grau.
se tenho uma turma, vc faz parte dela.
Me parece, vc não costuma responder a comentários, né?
Uma pena...
Abrçs.
Grande...
s pitads mordazes que compõem teu texto o abrilhantam mais... quase todos os que conheço lamentam o não segundo turno de Marina.
Tô voltado devgarinho à esfera blogal - rsrsrs
como sempre, um ótimo texto.
Contudo não concordo que os "verdes" brasileiros sejam eivados de qualidade. Marina independe do seu partido. Assim como o barbudo, ela tem vida própria.
Conheço um deputado "verde" do Rio de Janeiro que tiraria cabelo de cabeça de careca
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