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quinta-feira, janeiro 13, 2011

A Desgraça Anunciada

encostas

Daqui a duas semanas, dia 27 de janeiro, o governador Sérgio Cabral estará comemorando 48 anos de idade. Há alguns dias o governador fluminense está em Paris, segundo a agenda oficial. Muito chic passar o aniversário em Paris, qualquer sujeito com o mínimo de bom gosto gostaria disso. Para alguns, melhor ainda seria se a festa fosse bancada por um amigo ou pela viúva companheira, não que este seja o caso do governador do Rio, homem de posses, dono de fortuna pessoal que não lhe permitiria tirar férias tão caras às custas do erário.

Vamos retificar. O governador Sérgio Cabral encontrava-se de férias em Paris, mas já encontra-se no Brasil, pelo menos isso. Solidariedade às vítimas da tragédia na Serra de Itaipava será demonstrada com ar de pesar e palavras de consolo devidamente decoradas. Nenhuma novidade até aí, uma vez que, há pelo menos 30 anos, o governador do Rio, seja quem for, em janeiro é obrigado a vir às televisões e jornais, face lúgubre, dizer-se pesaroso com os males das chuvas e enchentes que vitimaram pessoas, destruíram família, desabrigaram cidadãos e coisas que tais. Falo em 30 anos que é o quanto minha memória pode me levar, recordando de desgraça igual ocorrida em 1981.

Ao contrário da mentalidade paulista, a dos governadores do Rio não levam a obras e medidas eficazes para evitar que a tragédia se repita no verão seguinte.

Ano passado houve uma enchente terrível no Jardim Romano, as águas não baixavam, por semanas as pessoas passavam sobre tábuas pelas ruas fétidas. Este ano a chuvarada repetiu-se, pessoas morreram, regiões paulistanas foram alagadas, mas o Jardim Romano, símbolo da desgraça de 2010, já não ficou submerso. Em um ano a prefeitura construiu um piscinão que deu conta do problema, minimizando os males que as chuvas poderiam repetir naquele quinhão de terra bandeirante. Já no Rio...

Dom Pedro II, um sujeito inteligente, brasileiro que amava o Brasil, estudioso dos problemas nacionais, tanto que locomoveu-se de Norte a Sul, conhecendo o continente que administrava, em carruagens, trens, navios e lombo de burro, já havia proibido a construção nas encostas da Serra de Itaipava. Há 200 anos o imperador já sabia dos perigos de se desmatar as encostas, de construir na ribanceira com fundações rasas. Seu decreto, provavelmente, salvou muitas vidas durante os anos em que tal lei foi respeitada.

Veio a República e tudo o que era legal na época da monarquia passou a ser démodé nos novos tempos. Em nome da tal égalité, fraternité et liberté, criamos uma democracia burra, liberdade de mais, se é que possa existir excesso de liberdade. Defino, pois, “liberdade de mais” como a liberdade sem responsabilidade, o tipo de liberdade que coloca as vontades pessoais acima das vontades coletivas. O caso, por exemplo, do cidadão achar que pode construir pendurado no morro sem importar-se que seu ato pode levar perigo aos que moram abaixo de sua construção.

A culpa maior dessa tragédia que se repete anualmente não é só do cidadão que constrói sem alvará em áreas de risco, mas, principalmente, dos órgãos públicos que não fiscalizam, mostrando-se eficientes somente depois que as mortes são computadas às dezenas. Se o governador Cabral, já indo para seu quinto anos de mandato, ou todos os que o antecederam, tomassem medidas sérias, proibitivas, fiscalizatórias, punitivas e inibidoras, muitas vidas teriam sido poupadas, mas, infelizmente, após cessarem as águas, já podemos nos preparar para as mesmas manchetes no verão de 2012. Espero estar errado, mas os últimos 200 anos não me fazem pensar assim, infelizmente.

 

©Marcos Pontes

quinta-feira, janeiro 06, 2011

Cabeça de Brasileiro

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Quem está na rede é pra se molhar, parafraseando o ditado popular numa referência à internet. Precisava explicar diante da obviedade? Pois bem, meu post anterior chegou aos olhos do jornalista Lucas Echimenco, o que nos levou a uma breve e curta discussão, como o Twitter permite. Travar duelos longos com sentenças de 140 caracteres é missão para monge tibetano. Dessa discussão surgiu um desafio, no bom sentido, proposto por Echimenco: por que não escrevíamos sobre o mesmo tema, postássemos em nossos blogs e colocássemos as sentenças nas mãos dos leitores. Lógico, creio que a intenção dele não era o duelo gratuito, mas uma discussão mais aprofundada.

Pedi que ele sugerisse o tema e ele mandou “a cabeça do brasileiro”, motivado pelo livro de mesmo nome, de Alberto Carlos de Almeida. Missão um tanto dura, já que o Almeida levou 280 páginas para concluir que não somos tão simples de entender, o que também me parece óbvio.

Para se entender a mentalidade de um povo e uma vila que seja, muitos são os fatores a se levar em conta, a começar da origem dessa população, das miscigenações surgidas no decorrer de sua história, de seus hábitos alimentares, do seu sistema social de classes ou castas, enfim, uma gama infindável de afluentes que levam ao caudaloso rio da interação social. Como imaginar, então, que é uma ciência exata traçar o perfil de quase 200 milhões de cabeças?

Partindo para o simplismo que o empirismo me apresenta, já que não sou sociólogo, antropólogo ou sequer analista do IBGE ou do IPHAN, me atrevo a determinar alguns traços comuns à maioria dos brasileiros, mesmo sabendo que desagradarei aos mais ufanistas, sem levar em conta, porém os regionalismos. Os sulistas, por exemplo, julgam-se mais cultos que os nordestinos; os paulistas, com alguma razão, alegam que transportam o país em suas costas econômicas; os alagoanos raramente abandonam seu estado, enquanto que os cearenses espalham-se mais que gíria em boca de adolescentes; os cariocas, quando criticados, costumam alegar, como se fosse a defesa ideal, que o restante do país os inveja. O país é muitos, parafraseando Thayguara que um dia cantou “o homem é mil”.

Ouvi, desde a primeira infância, que o Brasil tinha muitos problemas por ser um país jovem. A história se encarregou de me mostrar que essa justificativa é falha. Os Estados Unidos têm apenas 8 anos a mais que nós e, talvez, mais de 8 vezes o tamanho da nossa economia. Já ouvi a justificativa que a culpa de nossas mazelas é nossa colonização feita por bandidos, degredados e aproveitadores. Ora a Austrália, além de descoberta 160 anos depois de nós, somente em 1770 passou a ser oficialmente uma colônia inglesa, além de ter sido moeda de troca com bandidos condenados. Ou eles cumpririam suas penas ou iriam, como “voluntários”, desbravar, colonizar e explorar a possessão na longínqua Oceania. Em 1997 o PIB da Austrália era de US$ 988, 99 trilhões e o do Brasil, em 2010, 13 anos depois, foi de US$ 2,1 trilhão; a renda per capta da Austrália, em 1997, era US$ 35.677, enquanto que a do Brasil, em 2010, foi US$ 10.296. E olhe que a Austrália não tem a metade dos recursos naturais que nós temos.

Talvez, então, os bandidos portugueses eram mais vorazes que os ingleses. Se lá eles exploraram as riquezas naturais, escravizaram os aborígenes e arrumaram tempo para construir um país que respeitasse à risca as leis do Império britânico, os nossos bandidos também exploraram as riquezas da terra, também escravizaram e mataram os aborígenes, mas fizeram suas próprias leis e preferiam contrabandear os produtos explorados do que pagarem altos impostos para a corte portuguesa. A propósito, a Austrália jamais sediou a moradia dos reis ingleses, mas nós já fomos moradia da Coroa portuguesa. Seriam nossos imperadores mais venais que os bandidos ingleses?

Talvez por termos tantas riquezas, tanto alimento e água, negligenciamos o valor das coisas, afinal, já vaticinava Pero Vaz, em se plantando, tudo dá. Para quê tanto esforço se basta esticar o braço e tirar da mata ao lado o alimento de amanhã?

Talvez por contarmos em nosso DNA a mistura de tantas culturas, algumas conflitantes, como os bantos e os Boubon, uns silvícolas e macumbeiros, outros nobres europeus e católicos por determinação do estado, tenham havido conflitos de idiossincrasias e dificuldade na formação de uma identidade nacional.

Nos acostumamos com a vida fácil, levando vantagem econômica as regiões que mantiveram-se mais fiéis aos costumes europeus: A São Paulo poliglota, o Rio Grande Alemão, o interior paulista italiano e japonês (que, embora não europeu, aprendeu cedo a lutar contra as forças naturais e inimigos poderosos, China e EUA, para produzirem alimento, moradia, educação, saúde e transporte para sua população hoje quase tão grande quanto a nossa numa ilha do tamanho do Piauí), os pomerodes catarinenses e espiritossantenses. Essa gente já veio ao país sabendo que seu suor é o maior adubo para sua riqueza, enquanto que os norte-nordestinos, e não vai aqui nem uma discriminação maldosa, foram educados com a esmola do Estado, o assistencialismo eleitoral, a compra de sua produção por favores mentirosos.

No segundo Império, mesmo que houvesse boa intenção, D. Pedro II tratou o Nosdeste com uma região de coitados que mereciam a ajuda dos demais sem a necessidade da contrapartida. Na primeira República, instaurada por um alagoano e tendo outros grandes nomes nordestinos no pelotão de frente, como Floriano Peixoto, também alagoano, apelaram para o ufanismo e o privilegiamento, embora parco, do Nordeste, do que no investimento sólido em educação e geração de emprego e renda. Mais uma vez o assistencialismo e a esmola social, precursora das bolsas sociais, foi moeda de compra de consciências.

E assim nascemos, crescemos e envelhecemos sob antigos hábitos e mudanças de hábitos não se dão por decreto e composição de caráter levam gerações, enquanto isso não se dá, e nem afirmo que seja bom ou ruim que mudemos, vamos vivendo como país de mil cabeças e muitas sentenças.

Em Mossoró, em pouco mais de dois dias, ouvi a mesma queixa de três pessoas diferentes, em ambientes diferentes: como nosso sotaque é feio. De tanto assistirem ás novelas e programas do Centro Sul, muitos com discriminação patente contra qualquer cultura fora do eixo, faz com que quem não tenha os mesmos costumes envergonhe-se de quem é. O Rio de Janeiro deixou de ser a Corte, deixou de ser a capital da República, mas ainda dita as regras sociais tanto quanto São Paulo dita as regras econômicas. Somos uma grande periferia das duas grandes capitais, nos envergonhando de nossos hábitos, muitos dos quais deveriam mesmo ser razão de vergonha, e aceitando muitos dos hábitos de lá como os a serem seguidos, como a marra, a carteirada, o golpe econômico, o rouba ma faz de Maluf, ou o mundo nos inveja, de Sérgio Cabral.

Não somos uno, mas muitos países, cada um com sua identidade e alguns costumes se intercedendo, muitos dos quais vergonhosos e amorais.

 

©Marcos Pontes

terça-feira, janeiro 04, 2011

Enquanto outro ri

6. A mentira2

“E na vida a gente
Tem que entender
Que um nasce prá sofrer
Enquanto o outro ri..”
Namorei com uma socialista – é, amiguinhos, também tenho meus pecados – e ela criticava esse trecho da música Azul da Cor do Mar, do Tim Maia. Na sua análise marxista, isso era puro determinismo, equivalia a dizer que uns nasceram para mandar e outros para obedecer, uns para serem ricos e outros para serem pobres. Eu, na minha inocência juvenil, via apenas a dor de um sujeito abandonado por uma mulher feliz, talvez a mesma que Chico Buarque cantou:
“atrás de um homem triste
há sempre uma mulher feliz”
Esses dois sujeitos, as personagens do Maia e do Buarque, apenas amargavam as dores de corno inconformados com a alegria da mulher amada.
Essa amiga acreditava na ditadura do proletariado, a mesma que, anos depois do nosso enrosco, fizera água na União Soviética, levando ao naufrágio de todo o império bolchevique.
A revolução vindo das bases, ou melhor, tendo as bases como massa de manobra, sempre passaram por carnificina, sendo as maiores vítimas os mesmos idiotas úteis, como nos denominou Yuri Alexandrovich Bezmenov, o ex-agente da KGB. Aliás, aí está o primeiro contrassenso dos esquerdistas. Para eles só os adversários usavam e abusavam das massas de manobra, os comunistas usaram a cooperação dos injustiçados sociais.
Mas isso tudo foi antes do Gramsci.
O inteligente vermelhinho italiano percebeu que a revolução marxista poderia ser mais inteligente, pacífica e paciente se manipulasse os senhores de engenho, ao invés de incitar as massas ao combate armado. Alguns nasce pra sofrer, mas o que lhe interessava eram os que riem. Cooptar os mandatários e fazer deles comparsas na revolução seria mais proveitoso, levaria mais facilmente à tomada do poder. Gramsci, contrariando os comunistas que, como minha ex-namorada, repudiavam a idéia de classes dominante e comandada, que eles preferem chamar de dominada, idealizou a revolução de cima para baixo e isso se tornou o caminho da revolução bolchevique moderna.
Franklin Martins, Antonio Palocci e a convertida Dilma, junto com o metamorfoseado Dirceu, aprenderam a lição. Uns, por ideologia, outros por inteligência tardia. Dirceu e Dilma pegaram em armas, criam na revolução sangrenta, que terminou dando em nada, enquanto que os mais intelectualizados da esquerda, preferiram a paciência.
É pela aplicação dos mandamentos de Gramsci que essa camaradagem chegou ao poder. Usaram do capital para instalar o tal socialismo marrom de que falou Brizola, o que não mudou foi a incompetência, seja dos tempos de Lênin e seus consecutivos, seja da turma que governa a América Latina, com exceção do Chile que vai muito bem, obrigado.
Não é à toa que vemos grandes donos de fortunas apoiando esses governos vermelhos. A eles foram oferecidas mais fortunas, vantagens e negociatas em troca de algumas “taxas de sucesso” e verbas públicas diretas ou por meio de isenção fiscal.
Gramscianamente, aplicam a máxima leninista de usar o capital dos capitalistas para instaurar o comunismo de meia dúzia. Enquanto isso, nas carteiras de trabalho alguns sofrem enquanto que nos palácios vermelhos, outros riem.

©Marcos Pontes

segunda-feira, janeiro 03, 2011

Só faltam 1458 dias

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Como prometido e já sabido por todos os que me conhecem, não haverá trégua em relação ao governo atual, afinal de contas, 12 anos de PT é dose cavalar. Bom, 12 anos é a promessa, mas não são poucos os que apostam num governo peemedebista. Seja pela recidiva da doença da presidente, que teimam em especular nos corredores de Brasília, seja por um possível golpe dos hoje aliados.

No terceiro dia de mandato e primeiro dia útil, já há informação a rodo, embora jornalões, daqueles que não escrevem notícias, apenas reproduzem o que as assessorias de imprensa de políticos e empresas lhes envia, teimem em dar o cardápio trivial do almoço do ex-presidente, a cor da bermuda com que ele apareceu à sacada do seu tríplex e outras baboseiras.

Algumas posses dos ministros, que vêm ocorrendo a conta gotas, para que haja mais espaço nos noticiários, chamam a atenção, outras passam batidas, principalmente pela insignificância dos ministros e ministérios, outras já preenchem melhor as páginas de fofocas do que as de política e algumas outras tem muito texto no subtexto.

Um exemplo do último caso foi o discurso do ministro da Ciência e Tecnologia. No primeiro momento, Mercadante afirmou que seu ministério fará o máximo possível com os mínimos recursos que lhe caberão, numa referência aos cortes no orçamento, prometidos pelos componentes da área econômica. Antes da segunda parte do seu discurso, cabe aqui uma rápida reflexão sob alguns tópicos: 1. Lula não investiu os 4% do PIB em ciência e tecnologia, como havia prometido no início do seu segundo mandato; 2. Ciência e tecnologia, que podem ser consideradas infraestrutura, jamais foram priorizadas em qualquer governo, desde há meio século; 3. Se o orçamento já baixo vai sofrer redução, como fazer o máximo? Vai sobrar para fazer apenas o mínimo, principalmente depois de saldada a folha de pagamento.

No mesmo discurso o falso doutor promete repatriar os pesquisadores brasileiros. Ora, se existem tantos e tão bons pesquisadores brasileiros nos Estados Unidos e na Europa, isso se dá por conta, justamente, de compromisso dos governos e universidades públicas com a área da pesquisa. Nossos cientistas têm três caminhos: aceitam convites de instituições estrangeiras, de ensino ou fabris, que lhes darão salários dignos e condições materiais de primeira linha, além de toda um estrutura física e psicológica para a produção; ficam no Brasil em alguma instituição de ensino, orientando formandos e pós-graduandos em pesquisas meia-boca, sobrando apenas para um seleto grupo as pesquisas de ponta; ou abandonam a pesquisa e dedicam-se ao magistério teórico ou ao emprego burocrático atrás de alguma linha de produção. Lógico, sem falar nos que, simplesmente, abandonam a produção científica.

Se não vai haver recursos para acelerar, turbinar ou equipar a pesquisa no Brasil, situação admitida pelo próprio ministro ao referir-se aos cortes no orçamento, como sobrará verba para trazer de volta cientistas bem remunerados e apoiados no exterior?

Bem ao feitio petista, Mercadante repete a receita do ex-presidente e continua com discurso de palanque, por meio de promessas que não serão cumpridas, não só pela sua já tão conhecida incompetência, mas pelas próprias condições pecuniárias. Para bancar os 200 mil companheiros aboletados em cargos comissionados pelo presidente anterior e mantidos pela atual presidente, com promessa de aumento desse número de vermelhinhos sanguessugas, além das benesses que, por práxis histórica, os funcionários de primeiro e segundo escalões dos três Poderes se dão, desconsiderando completamente as urgências do populacho, alguma área tem que abrir mão de seu dinheiro e ciência e tecnologia sempre fez parte dos que abrem mão do pouco que têm em favor dos companheiros e compadres.

Eu já esperava que Mercadante pregasse na parede, numa moldura de ouro, sua incapacidade gerencial e sua falta de compromisso com a verdade, mas não esperava que fosse já no seu primeiro dia de expediente.

E este foi apenas o terceiro dia dos 1461 que teremos que agüentar essa gang nos governando. Por outro lado, só faltam1458 e contando.

 

©Marcos Pontes

domingo, janeiro 02, 2011

Meio ProUni

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A presidente de quem recuso citar o nome, falou em ampliar o ProUni para o Ensino Médio. Houve uma grita contra no Twitter, minha maior fonte de informação política, no momento. Acredito que oposição tem mais é que se opor mesmo, mas vou me contrariar aqui. Em 2006 eu já elogiava o ProUni, um programa de promoção social através da educação, mas sem as malditas cotas racistas ou sexistas.

O ProUni provou, no decorrer dos anos, que seus opositores estavam errados. Jovens de renda abaixo da média passaram a ter acesso a faculdades que jamais poderiam pagar, sem a necessidade do malfadado crédito universitário, aquela falsa bolsa que endivida os profissionais recém formados antes mesmo deles conseguirem o primeiro emprego, e sem a necessidade de serem negros, índios, deficientes físicos ou outra aparência física qualquer discriminatória.

Como é bem sabido, as classes mais pobres têm acesso à pior qualidade de ensino, não por serem pobres, como a esquerda gosta de fazer parecer, mas por terem acesso à escola pública, um depósito de jovens alunos que não são ensinados a serem estudantes. Nem mesmo esse governo que, ate que enfim, encerrou ontem, que fez tanto proselitismo e demagogia em nome dos pobres, fez algo para melhorar, deveras, a qualidade de ensino da escola pública.

Criou o piso nacional do magistério, ótimo. Mas para que serviu isso, se não para aumentar a renda de profissionais que continuam com a mesma prática de fazer de conta que ensina? Não melhorou a qualificação dos professores e nem exigiu deles a contrapartida da qualidade a ser avaliada em provas a cada ano. Pagou melhor pelo mesmo produto mal acabado.

Construiu ou reformou escolas federais e ajudou aos estados e municípios a construir e reformar as suas. Ótimo. Mas jogou lá dentro os mesmos desestimulados e mal preparados professores de antes. Ano após ano nossa posição nossa posição nos rankings internacionais estagna ou diminui, sinal de que a tão cantada e decantada melhoria na qualidade de ensino através de investimentos é uma grande mentira. Os indicadores mostram isso claramente.

Ao manter o ministro da educação do governo anterior, a presidente demonstra que não tem compromisso com a melhoria da educação, não só pelos fatos citados acima, mas também pelas seguidas demonstrações de incompetência, despreparo e falta de planejamento que o ministro Haddad vem demonstrando nos últimos três anos. Pior, com a conivência cega e bem remunerada da Justiça.

O ProUni, além de facilitar o acesso dos pobres à educação superior, ajuda às instituições privadas que apresentam ociosidade em boa parte de suas carteiras, algumas tendo que demitir professores ou contratar gente menos qualificada. O convênio com o ProUni obriga essas escolas a terem o mínimo de qualidade, a ser avaliada pelo Enade, correndo o risco de terem o convênio rompido se as metas não forem alcançadas.

Este modelo poderia muito bem sem empregado nas escolas particulares de ensino médio. Já que a educação pública esta sucateada, falida, catatônica e sem qualquer perspectiva de melhora, jovens pobres, mas que desejam estudar, fariam uma prova para conseguirem a vaga na escola particular e fariam uma avaliação ao final do ano letivo em que deveria comprovar o mínimo de assimilação dos conteúdos determinados pelo MEC.

Ganhariam os jovens, as famílias e, talvez, até a universidade pública, que receberia alunos pobres pela sua qualificação e não somente pela cor de sua pele ou pela deficiência física.

Meu lado de oposicionista sem condescendência a esse governo, desde antes mesmo dele começar, dessa vez dá uma trégua e apóia o ProUni para o ensino médio, seja lá que nome venha a receber, exigindo, porém, a avaliação anual das escolas e estudantes conveniados para que haja, de fato e não só na propaganda, a melhoria gradual de nossa educação.

Ah, diriam alguns, mas aí os donos das escolas ficarão ainda mais ricos. E daí?, pergunto eu. Sou um capitalista e gosto de ver as pessoas fazerem fortuna através do trabalho qualificado, do esforço e do investimento. Nenhum dono de escola, se a fiscalização for séria como deve ser, fará fortuna sem ser testado. O resto é choro de quem não consegue enriquecer e nutre esse ranço esquerdista contra os bem sucedidos.

 

©Marcos Pontes