Iguais?
Um amigo comentava comigo sobre a violência do jogo entre Portugal e Holanda. Segundo ele, tudo havia começado pela falta de fair play dos jogadores holandeses que recusaram-se em devolver a bola aos portugueses depois que o jogo foi interrompido para que um atleta luso tivesse atendimento médico.
O escritor Ruy Castro, na biografia de Mané Garrincha, "A Estrela Solitária", diz que foi Garrincha quem criou essa prática de interromper a partida para que um adversário fosse socorrido. Na época, o Anjo de Pernas Tortas, como dizia Nelson Rodrigues, foi ovacionado e elogiado pela imprensa. Esse tipo de atitude não mudou as regras do esporte, mas tornou-se uma lei tácita que ninguém ousa desobedecer sob a pena de ser hostilizado pela platéia. Mas, cá pra nós, se seu time estivesse perdendo, a poucos minutos do final da partida eliminatória da competição, você daria colher de chá para a outra equipe?
Esse exemplo de tolerância bem poderia ter sido criada por algum soccer player estadunidense durante o governo de Bill Clinton, quando a chatice do "politicamente correto" tornou-se uma praga mundial. Virou educação compulsória.
Eu até gosto das intenções iniciais: maior respeito ao próximo, aceitação das minorias e sua valorização, igualdade diante das leis, respeito ao bem público e ao bem comum e coisas do tipo. Mas tem sempre um chato a mais que perde a mão na receita e exagera no fermento.
Da valorização à supervalorização foi um salto. Da política afirmativa vieram as cotas. Do apoio veio o paternalismo.
Não se pode mais falar o que se pensa, só é permitido falar o que agrada. Não se pode mais agir como se quer, apenas de modo que não ofenda quem quer que seja, como se fosse possível agradar a todos. Pagu e Leila Diniz seriam apedrejadas em praça pública se ressuscitassem hoje com os mesmos hábitos.
A própria democracia não é mais a mesma. Se não, vejamos o exemplo dos próprios jogadores de futebol. Ninguém fala o que pensa com medo de ser punido, suspenso ou até enxotado do esporte pelos generais de cartola da FIFA, da CBF ou da imprensa. É uma rasgação de seda que dá nojo.
As minorias ditam as regras e a imprensa lhes dá os jornais, revistas e câmeras. Sem Terra (e sem caráter) destroem propriedades privadas e não são punidos; processam o Tiririca porque ele cantou para a namorada fedorenta que era negra; Michael não-sei-de-quê vende milhões de discos porque se declara gay e é pego fazendo "imoralidade" com um namoradinho ocasional num banheiro público; Marina Silva, semi-analfabeta, ganha o cargo de ministra por ser mulher, seringueira e amiga de Chico Mendes; evangélicos de Salvador pregam a violência contra macumbeiros - minoria ainda menor que os evangélicos - e mais milhares de exemplos esdrúxulos poderiam ser dados.
Nada contra as minorias, repito, muito pelo contrário, mas esse protecionismo, antes de igualar os humanos, está criando um fosso e uma sociedade de castas. Ou você é rico ou pobre; branco ou preto; sem terra ou latifundiário; da barraca da moda ou farofeiro; metropolitano ou periférico; certo ou errado, no último caso, merecedor da fogueira da inquisição social; do sul ou de outro planeta; tem cabelos lisos ou é feia; gordo ou magro... As diferenças ficaram mais evidentes e mais discriminadas.
Assim não posso evitar a ironia: se você é mulher, homossexual, negra, pobre, analfabeta, deficiente física e mental, judia e mora longe, pode se candidatar à presidênciada república que é capaz de ser alçada ao cargo por cota.
O escritor Ruy Castro, na biografia de Mané Garrincha, "A Estrela Solitária", diz que foi Garrincha quem criou essa prática de interromper a partida para que um adversário fosse socorrido. Na época, o Anjo de Pernas Tortas, como dizia Nelson Rodrigues, foi ovacionado e elogiado pela imprensa. Esse tipo de atitude não mudou as regras do esporte, mas tornou-se uma lei tácita que ninguém ousa desobedecer sob a pena de ser hostilizado pela platéia. Mas, cá pra nós, se seu time estivesse perdendo, a poucos minutos do final da partida eliminatória da competição, você daria colher de chá para a outra equipe?
Esse exemplo de tolerância bem poderia ter sido criada por algum soccer player estadunidense durante o governo de Bill Clinton, quando a chatice do "politicamente correto" tornou-se uma praga mundial. Virou educação compulsória.
Eu até gosto das intenções iniciais: maior respeito ao próximo, aceitação das minorias e sua valorização, igualdade diante das leis, respeito ao bem público e ao bem comum e coisas do tipo. Mas tem sempre um chato a mais que perde a mão na receita e exagera no fermento.
Da valorização à supervalorização foi um salto. Da política afirmativa vieram as cotas. Do apoio veio o paternalismo.
Não se pode mais falar o que se pensa, só é permitido falar o que agrada. Não se pode mais agir como se quer, apenas de modo que não ofenda quem quer que seja, como se fosse possível agradar a todos. Pagu e Leila Diniz seriam apedrejadas em praça pública se ressuscitassem hoje com os mesmos hábitos.
A própria democracia não é mais a mesma. Se não, vejamos o exemplo dos próprios jogadores de futebol. Ninguém fala o que pensa com medo de ser punido, suspenso ou até enxotado do esporte pelos generais de cartola da FIFA, da CBF ou da imprensa. É uma rasgação de seda que dá nojo.
As minorias ditam as regras e a imprensa lhes dá os jornais, revistas e câmeras. Sem Terra (e sem caráter) destroem propriedades privadas e não são punidos; processam o Tiririca porque ele cantou para a namorada fedorenta que era negra; Michael não-sei-de-quê vende milhões de discos porque se declara gay e é pego fazendo "imoralidade" com um namoradinho ocasional num banheiro público; Marina Silva, semi-analfabeta, ganha o cargo de ministra por ser mulher, seringueira e amiga de Chico Mendes; evangélicos de Salvador pregam a violência contra macumbeiros - minoria ainda menor que os evangélicos - e mais milhares de exemplos esdrúxulos poderiam ser dados.
Nada contra as minorias, repito, muito pelo contrário, mas esse protecionismo, antes de igualar os humanos, está criando um fosso e uma sociedade de castas. Ou você é rico ou pobre; branco ou preto; sem terra ou latifundiário; da barraca da moda ou farofeiro; metropolitano ou periférico; certo ou errado, no último caso, merecedor da fogueira da inquisição social; do sul ou de outro planeta; tem cabelos lisos ou é feia; gordo ou magro... As diferenças ficaram mais evidentes e mais discriminadas.
Assim não posso evitar a ironia: se você é mulher, homossexual, negra, pobre, analfabeta, deficiente física e mental, judia e mora longe, pode se candidatar à presidênciada república que é capaz de ser alçada ao cargo por cota.
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