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segunda-feira, maio 16, 2011

Montenegro e Palis X Collor e Dilma

matematica 

1. Quando o Brigadeiro Montenegro voltou dos Estados Unidos, para onde havia sendo enviado pelo Ministério de Guerra, Comando da Aeronáutica, com a missão de trazer aviões que o Brasil comprado, veio com a vontade de montar aqui um centro tecnológico nos moldes do MIT, Massachussets Institute of Technology, centro de excelência que mais deu prêmios Nobel no mundo. Não foi fácil. Teve que encarar a resistência dos incrédulos e das mais altas patentes militares e políticas da época, sendo o maior de seus entraves nada menos que o Brigadeiro Eduardo Gomes, um dos muitos heróis nacionais pouco conhecidos e, pouco tempo depois, candidato à presidência da República. Note-se que Montenegro era apenas capitão. Não desistiu. Procurou os maiores cientistas do mundo dispostos a virem para o calor tropical dos anos 50/60 e terminou trazendo gênios russos, húngaros, americanos e sabe-se lá de que muitos outros locais. Venceu a quebra de braço e criou o ITA, Instituto Tecnológico da Aeronáutica, em São José dos Campos, um oásis de ciência, estudo e pesquisa cercado pela ignorância Nacional;

2. Ao assumir a presidência, munido de uma só bala para matar a inflação, muitas idéias na cabeça e um canhão chamado Zélia nas mãos, Collor, no auge de sua louca prepotência, criou a reserva de mercado para cientistas nas universidades federais. Muitos dos cientistas estrangeiros que aqui militavam vieram na carona do ITA. A pensar que sabia tudo sobre tudo, Collor não ouviu a comunidade científica, causando a demissão, cassação de vistos de trabalho e conseqüente “deportação branca” de cientistas e pesquisadores das mais diversas áreas. Se por um lado ele acertou ao abrir os portos para as nações amigas, fazendo com que nossa indústria corresse atrás de melhorias tecnológicas para encarar em melhores condições os produtos estrangeiros que poderíamos importar com mais facilidade, embora ainda caros, por outro, ele nos deu um tremendo prejuízo, sabe-se lá em quantos anos isso pode ser contabilizado, ao nos livrar de grandes cérebros pensantes e formadores de outros grandes cérebros. A grita foi geral, levando-o a reconsiderar algumas demissões, mas o estrago já estava feito. Cientistas foram embora, outros aposentaram-se e mais alguns partiram para a iniciativa privada. Sem muito esforço e de uma só penada, Collor empobreceu enormemente nossa área científica;

3. Em seu discurso na abertura do ano letivo de 2011, Dilma, entre várias baboseiras, declarou sua intenção e a importância de enviar 75 mil estudantes para intercâmbio no exterior “principalmente os da área de ciências exatas”, incentivar a pesquisa, área sempre fraca e esquecida em nossas academias e mais blá-blá-blás. Confesso que não dei muita importância aos demais blá-blá-blás, mas o propósito de mandar nossos estudantes aprimorarem-se no exterior me deixou encafifado. Que é um ganho para o país especializar nossos cientistas no que há de mais moderno no exterior (se bem que nesse governo petista, aprimorar no exterior pode significar universidades de Angola, Irã ou Cuba), não resta dúvida, mas, e depois? Depois de especializados, serão absolvidos pelo Estado? Bons como alguns de nossos engenheiros e matemáticos são, como comprovam as Olimpíadas Internacionais de Física e Matemática que os vem premiando ano após ano e dando prêmios internacionais, como o Prêmio Balzan a Jacob Palis, entrevistado da semana nas páginas amarelas da Veja, receberão esses estudantes salários dignos e condições técnicas e ambientais satisfatórias para se fixarem no país ou cederão às propostas internacionais?

A entrevista de Palis me deu a idéia desse post. Não só por ser daqueles homens admiráveis pela sua genialidade, espírito científico no mais completo sentido do termo, mas pelas coincidências com o discurso de Dilma. Teria a presidente um informante dentro da revista ou tem mesmo tal propósito de investir mais do que os parcos 1,2% do PIB atuais em ciência, pesquisa e tecnologia nas universidades? Estariam Haddad, a maior vergonha que o Ministério da Educação já hospedou desde seu ano criação, e Mercadante, o ministro paraquedista e boquirroto da Ciência e Tecnologia, preparados e cientes da importância de maiores investimentos na área? Teria Mantega, o ministro que cuida do dinheiro nacional como um miserável que ganhou na loteria e não sabe se primeiro compra uma casa própria ou dá a volta ao mundo, disposição de retirar dinheiro das bolsas-votos para investir nessas áreas de eleite?

Algo me diz que Palis está para Montenegro assim como Dilma e Collor estão para Eduardo Gomes. Esperemos, torçamos, mas não acreditemos muito para não levarmos mais um tombo doloroso do cavalo da esperança.

©Marcos Pontes

3 comentários:

Ajuricaba disse...

Sem esquecer o merdandante que falou em repatriar centenas de cientistas e pesquisadores brasileiros no exterior.

TRISTÃO disse...

Caro amigo.

Tens razão, patriotismo não rima com baixos salarios.
Não temos sequer uma politica industrial digna do nome. Igualmente nossos ilustres empresarios não dão a devida importancia à ciencia e tecnologia.
Como sempre seus posts são magnificos.
Grande abraço.

Beatriz disse...

Marcos, ao PT não interessa uma população nem bem informada, nem bem formada. quanto menos saber..melhor para tomar cada vez mais o poder. Se ela Dilma se adiantou ou não ...sei lá. Eles tem poder pra calar a boca da mídia, quase toda cooptada, como sempre fizeram.
Parabéns pela lucidez. O que me deixou de cabelos em pé foi, depois de ler a página amarelas da veja com a tal entrevista...ler sobre a Pec - reforma política que é a tentativa mais podre de cassação de nosso voto.
Também, nem isso mais faz diferença. voto eletrônico nunca contou mesmo. Sob o pretexto de ser coisa avançada podem burlar as urnas. Estava desinformada e nem vi esse lance da reforma...vou voltar pras profundezas. Levei um baita susto.