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quarta-feira, janeiro 31, 2007

Duke, Super Notícia, MG


  • Estava eu, por total falta de opção para meu gosto, assistindo à entrevista de Marília Gabriela com o Faustão, no GNT. Eis que o apresentador me presenteia com uma pérola: "Eu só estou há 20 anos no comando do programa por conta da minha versatilidade. Às três horas eu começo com um público de filmes; às seis encaro um público de futebol. Dois consumidores totalmente diferentes. Eu tenho que adaptar".
    Das duas uma: ou o cara é realmente muito bom, ou eu sou uma anta completa que não consegue ver nenhuma diferença entre um Faustão e outro.

  • Uma blogueira está fazendo uma campanha para conseguir recursos para ajudar crianças carentes num outro país. Eis que me deparo com uma senhora que deu o calote numa outra blogueira que confeccionou o lay-out do seu blog. Agora me perguntem se eu tenho coragem de doar algum centavo para essa bem intencionada dama.

  • Como em qualquer reunião de gente formam-se as panelinhas, no mundo blogueiro também é assim. Não é uma crítica, por favor, apenas uma constatação. Algo muito natural.
    Aos poucos a gente vai se agregando com um e outro com quem comunhamos mesmas idéias, mesmos gostos, admiração... Os motivos são muitos. Se você parar para analisar, vai ver que nos blogs linkados no seu blog têm, pelo menos dois outros blogs que constam nas listas dos dois. Assim vai-se tornando mais uma rede dentro da grande rede.
    Visitando o blog do Fernando Cals, um arquiteto bom de letras, a quem admiro muito, me deparo com a notícia da morte e ressurreição de uma das mais antigas blogueiras brasileiras, a quem eu não conhecia.
    Curioso com essa história, saí caçando informações aqui e ali, a maior parte em blogs que eu jamais visitara. Encontro gente solidária e muita gente revoltada com a história, entre essa gente, blogueiros e jornalistas respeitados, como a Cora Rónai, uma das blogueiras mais lidas do país.
    Vários haviam escrito epitáfios lindos, outros lamentaram a grande perda, mais alguns juraram amor eterno... Aquelas coisas que a gente sempre fala quando alguém querido ou alguém de grande notoriedade com quem a gente tenha tido pelo menos uma rápida conversa por interlocutor morre.
    Um viúvo, até então desconhecido até dos amigos mais íntimos da morta, escrevera um post enorme e lamurioso, contando detalhes sobre a vida em comum e os últimos momentos da esposa saudosa.
    Uma enorme novela quixeramobiense.
    Eis que! Tchan, tchan, tchan tchan! Espalha-se a notícia que a morta nunca morrera.
    Foi outro panavueiro na rodinha, aliás, rodona, de amigos chorosos. Vem à tona que tudo não passou de uma maluquice, ou uma vontade por maior notoriedade do que a que a blogueira defunta tinha até então, ou um ato irracional de uma doente de depressão, uma cancerígena abalada pelas altas doses de quimioterapia... Enfim, surgiram diversas especulações e nenhum fato concreto. Tentaram devassar a vida dela em duas cidades no Brasil e em mais uma nos Estados Unidos. O marido dizia-se ofendido por as pessoas não respeitarem sua dor, mas não desmentiu sua história e nem ofereceu provas de que o passamento da esposa deveras tivesse ocorrido.
    Uma rocambolesca história que seria triste se não fosse histriônica, pelo menos para mim, mero espectador.
    A morta rediviva atende pelo codinome de MEG, para quem tiver a curiosidade que eu tive para sair em busca desse enredo mais enredado que o novelo que o gato pegou para brincar. Não adianta eu colocar o link do blog dela aqui porque ele foi deletado.
    Putas velhas nesse negócio de internet ainda acreditam em tudo que lhe cai nos olhos, tadinhas.

  • Essa aqui bem poderia ter ilustrado o post deontem, sobre o Dia Mundial da Não Violência.
    Um rapaz ligou para a produção de um programa policial da TV Diário, de Fortaleza, queixando-se que ele e três amigos foram assaltados por um rapaz munido de um revólver. O bandido leva tudo o que eles tinham, inclusive SUAS ARMAS! Tadinhos dos roubados...

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Atendendo à convocação do Lino Resende:

30 de janeiro, Dia Mundial da Não Violência


Violência


Quem escreveu a Bíblia já sabia, uma história, para ser boa, tem que ser maniqueísta, o bem contra o mal, o ruim contra o bonzinho, o feio contra o bonito, o branco contra o preto... Shekespeare também sabia e, juntando isso ao seu imensurável talento, tornou-se eterno, como a Bíblia.

Mas a violência não está exclusivamente ligada à maldade, como costumamos achar numa análise superficial. Voltando è Bíblia, Jesus Cristo foi violento quando expulsou os vendilhões do templo a chicotadas, e ele não era mau, apenas teve seu dia de fúria e usou da violência para defender seus ideais. Parece heresia? Pode até parecer, mas assim que vejo a coisa.

Ah!, então usar da violência para defender aquilo em que acredita é correto? Não diria isso. Stalin e Hitler usaram desse expediente e ninguém, carregado de culpas judaico-romano-ocidentais diria que eles estavam corretos.

Dia desses, assistindo a um documentário no National Geographic Channel vi uma assustadora cena de um chimpanzé assassinando outro a pancadas. Os animais costumam defender seus territórios tentando expulsar os intrusos, mas raramente um mata outro da mesma espécie nessas contendas. O mais fraco se rende e se afasta. Nessa embate a que assisti, o mais forte matou o fracote, chamou os companheiros que o ajudaram a surrar o cadáver e o arrastaram, jogando-o de um lado para outro, como a um tapete velho.

Essas cenas serviram para enraizar ainda mais minha crença de que a maldade e a bondade são inerentes à condição humana, sendo o chimpanzé nosso parente mais próximo na escala evolutiva. É, sou evolucionista.

Bom, pensando assim, a violência humana seria biologicamente justificável? Nã, nã, nim, nã, não. Não somos chimpanzés, temos consciência, livre arbítrio e bom senso. A educação e as normas sociais foram criadas pela nossa racionalidade em busca do bem comum, justamente para que a convivência entre iguais e diferentes se faça de maneira pacífica e ordeira.

A violência pode ser explicável, mas jamais justificável.

Fora as guerras e latrocínios, há a violência familiar que gera seres também violentos pelo exemplo dado por quem os educa , a violência no trânsito - quando o lado animal irracional, nosso lado chimpanzé, suplanta a racionalidade -, a violência comportamental - nossos ancestrais tribais afloram para mostrar que nossa tribo é superior à adversária.

É esse nosso lado animalesco não domesticado pela educação e pelos bons exemplos que os permite sermos racistas, anti-semitas, contra evangélicos, homofóbicos, ofendermos os gordos, os pagodeiros ou qualquer outro que não pertença à nossa própria tribo. Explicável, mas não justificável.

A anti-violência começa ou acaba no espaço entre nossas orelhas.

A violência nem sempre surge por maldade, como no caso de Jesus, mas também por desvio de comportamento, como a praticada por um viciado em drogas que nos assalta para sustentar seu vício ou pelos governos que declaram guerras pela vontade de seus comandantes para afirmarem sua superioridade testosterônica, cultural ou econômica sobre povos que não lêem na sua cartilha, como Bush e os republicanos têm feito em nome da superioridade ianque sobre o resto do mundo.

Somos violentos e temos que ter consciência disso para podermos vencer nossa violência, nem que seja no tapa.

sábado, janeiro 27, 2007

Frederick Scheibler, Rose Transon Window


Rosa

Tua sombra enorme
Cor de rosa
Me cerca,
Me nina e me desperta.

Tua sombra rósea
Me alegra à minha volta,
Me trás saudades,
Vai e volta,
Me agarra,
Não me solta.
Me impregna tua sombra
Da cor da rosa
Cor de rosa.

A cor rosa da tua sombra
Me colore
Mesmo no escuro
Da minha cor.
Tua sombra me envolve
E te vejo nela
Rosada
Da cor da rosa
Da tua cor,
Minha rosa perfumosa.

sexta-feira, janeiro 26, 2007

Amorim, Correio do Povo, RS


  • Nós, urbanos e suburbanos, costumamos discriminar aqueles que vivem na roça. Eu ia falar "no campo", mas morar no campo, no Brasil, significa ser rico e ter um sítio todo arborizado, com piscina e churrasqueira de tijolinhos.


  • Para nós, o campesino é ser chucro, semi ou analfabeto, ingênuo e o chamamos de tabaréu, capiau ou caipira. Achamos que eles se vestem mal, sofrem como devem sofrer os beócios, vivem de nossas sobras e, quando aparecem na cidade, com suas roupas domingueiras, rimos dos seus trajes, da combinação de cores que usam, da pintura das mulheres, do jeitão desconfiado dos homens, do deslumbre das crianças. Sentimos asco do seu cheiro natural, sem desodorante de vinte reais ou do último lançamento da perfumaria. Seus cabelos fora de moda nos causam risos escondidos à meia boca.


  • Já dizia Benjamin Franklin: "se destruirmos as cidades, o campo sobrevive. MAs se destruirmos o campo, as cidades morrem.


  • Em quê eles dependem de nós? Do nosso dinheiro para sua comodidade, de nossos rádios e televisões para seu entretenimento. E só!


  • Eles são muito mais livres, mais tranqüilos, mais amigos e solidários. Vizinho é compadre e companheiro. Enquanto precisamos da televisão para evitarmos ir às ruas violentas ou para pajear nossas crianças, para as quais não temos tempo, eles a querem apenas parase divertirem, chorarem diantedas novelas como choravam seus antepassados diante da Rádio Nacional e seus folhetins.


  • Desconfio até que sacaneamos com os campesinos por inveja.



  • Assistir ao BBB é como votar no Lula. Você não encontra ninguém que assista, assim como não encontra ninguém que votou no presidente, mas o BBB é líder de audiência e Lula fo o mais votado. Alguém pode me explicar esse mistério?


quinta-feira, janeiro 25, 2007

Jean, Folha de São Paulo


  • Ainda estou entendendo o tal PAC, lançado pelo governo, mas se os tucanos estão falando tão mal, alguma coisa de boa esse pacotedeve ter.

  • Por falar em PAC, uma coisa tem me chamado a atenção, o uso do FGTS para fomentar a construção civil. Quando havia o BNH, Banco Nacional da Habitação, o FGTS era utilizado para a construção de moradias populares. O BNH mostrou-se um fracasso devido às fraudes e à ma administração, sem falar que o país vivia numa inflação gigantesca, o qe ajudava o governo a lesar o mutuário, criando dívidas impagáveis, juros sobre juros e coisas que tais. Por outro lado, empregado nenhum teve seu dinheiro confiscado. Isso poderia acontecer se ocorresse um boom de demissões, fazendo que os cofres públicos ficassem esvaziados, sem dinheiro para pagar os demitidos, o que seria uma catástrofe, mas uma catástrofe infundada.
    Mesmo na década de 80, quando o país praticamente não cresceu, os demitidos ficaram sem receber sua parte no Fundo.
    Por isso não vejo, na minha inocência econômica, por que não se usar esse dinheiro para ajudar a reduzir o déficit de moradias por que passa o Brasil.
    Porém, creio que os juros dessa poupança forçada poderiamser maiores, uma vez que alguém vai lucrar com ele, as construtoras, e alguém vai pagar, os mutuários. São apenas 6% ao ano, de lucro real.

  • Os tempos mudam... Dessa vez a recepção que Lula recebeu em Davos foi diferente daquela dos anos anteriores. Talvez ressabiados com os rumos que a América LAtina vem toando, graças às atuações malucas de Chávez e Morales, levando na carona Brasil, Equador e Uruguai, os governos e empresários do primeiro mundo preferiram dar um gelo em Lula. Quem tem recebidoas loas é a China, crescendo mais de 10% no ano passado, comprando e vendendo às toneladas e cabeça de ponte da Organização Mundial do Comércio.

  • O Lino Resende está convidando os blogueiros para um post coletivo no próximo dia 30, dia mundial da não violência. Quem se interessar, pegue seu selo no blog dele.

Faça parte da corrente

  • Ainda de férias e desaco cheio de não fazer nada, resolvi aventurar nas telas de pintura. Um ótimo passatempo. Com tintas e pincéis nas mãos, tenho me ocupado horas, daí pouco tempo para outras coisas, inclusive postar. Perdoem o posts menorese menos atraentes, mas agora estou com outra paixão.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Silvino, A Charge On Line


  • A briga pela presidência da Câmara pode gerar um novo Severino. Preparemo-nos.

  • Na Europa já estão pensando na prescrição do Prozac para crianças. A neurotização globalizada, depois da erotização desmedida.

  • Um chinês que seria julgado por estupro, fingiu que estava em coma para tentar fingir do julgamento, mas o médico não caiu na dele e o desmascarou. Como é que um sujeito finge estar em coma? Deve ser mais difícil do que qualquer homem fingir orgasmo.

Há alguns dias, policiais do Rio mataram uma brasileira que vivia na Noruega e visitava a cidade com o marido, enquanto brincavam com suas armas e uma delas disparou acidentalmente, atingindo a brasilera na cabeça. Num ato de política da boa vizinhança, os policiais cariocas resolveram dar uma chance aos turistas permitindo que eles, os turistas brincassem com suas armas. A palhaçada aconteceu no Trigésimo Terceiro Batalhão, em Parati. Na foto abaixo, uma das turistas brinca de ser presa. Olha a cara de alegria do PM ao brincar de mocinho e bandido com uma loiraça gringa.
O blog foi retirado do ar

  • O blog onde foram postadas as imagens foi retirado do ar.
    É por gente com esse preparo técnico que a população é protegida.

terça-feira, janeiro 23, 2007

Dumm, Hoje em Dia, MG


  • Henrique Paes Bezerra é um garoto alagoano de 22 anos e acabou de ser aprovado no vestibular de História na Cesmac, e aguarda o resultado da Universidade Federal. Até aí nada demais, a não ser por um pequeno detalhe: Henrique é portador da Síndrome de Down. E o rapaz nem precisou de cotas. Parabéns a ele e à família.

  • Correntes no Orkut não é nenhuma novidade e é das coisas mais ridículas existentes na internet. O que me causa espécie é ver tanta gente em condições sociais privilegiadas, como médicos e advogados fazerem parte dos que as propagam. É a prova que diploma universitário não extingüe a idiotice.

  • Saca aquele saquinho com Q-Suco que é vendido em todo o país e que tem dezenas de nomes: geladinho, chope, sacolé, dim-dim...? Um sujeito aqui da cidade resolveu inovar. Criou o geladinho "da fruta" comleite e o geladão. Um saquinho de 300 ml. Putz!, se um saquinho pequenininho já é ruim, imagina um sacão desses.

  • De novo Juca Chaves:
    "cai, cai, cai, cai
    outra construção civil
    realmente ninguém segura
    a arquitetura do Brasil"
    Dessa vez em Minas Gerais. Um andaime desmoronou com vinte trabalhadores sobre. Três morreram. Por onde anda o CREA?

  • O momento é de se discutir o PAC, Plano de Aceleração do Crescimento, lançado ontem pelo governo federal. Não sou nenhum economista e nem tenho a mínima idéia do que sejam várias siglas, sinônimos de fundos, taxas e impostos, por isso não vou partir para o "não entendi e já não gostei". pela reação dos políticos, principalmente os governadores, o que ficou claro pra mim é que, pelo menos politicamente, nada muda.
    Quem é da base aliada elogiou o pacote; quem é da oposição criticou ou foi lacônico, caso do Aécio Neves que, igualzinho faria seu avô Tancredo, ficou em cima do muro no tipo "vamos ver como é que fica".
    O que percebi é que nas áreas da construção civil e tecnologia, tanto naprodução quanto no comércio, os incentivos foram bastantes, os maiores que já vi em pacotes oficiais anteriores. Seja na redução de impostos, seja na abertura de créditos. Isso, para gatos escaldados como eu, não significa redução de preços para o consumidor, mas aumento de ganho para os produtores, como aconteceu com os livros, que tiveram os impostos reduzidos no último ano e os preços continuaram os mesmos ou aumentaram. Quer comprovar? Cheque os livros escolares de seus filhos, sobrinhos, afilhados...
    Uma coisa, porém, não gostei nenhum pouquinho no pacote: a extinção da Rede Ferroviária Nacional e da Companhia de Navegação do São Francisco, uma continuidade no sucateamento do transporte de massa iniciado no governo FHC. Sempre achei inaceitável um país desse tamanho se deslocar basicamente por rodovias. Na época de JK foi justificável, mas ficamos atrás do bonde da história. Basta ver o que acontece na Europa e mesmo na Índia, onde o trem, que é mais caro de se implantar, mas muito mais barato na operação e manutenção, são meios de transporte de grande parte da produção e de passageiros. A quem interessa isso senão à indústria automobilística (de onde veio o presidente) e à indústria do IPVA?

  • Também tenho meu lado fútil (ainda bem). Realizei esse teste e deu esse resultado. É a minha cara, ara quem quer me conhecer melhor.

  • Nem tomaram posse e 45 deputados federais já mudaram de partido. Pelo percentual, fica claro que não será nessa legislatura que haverá uma reforma política profunda como o Brasil necessita há ddécadas.

  • Tomei conhecimento deste site no blog do Lino Resende. Achei interessante e me inscrevi por lá, não no intuito de ser rankeado como ele, merecidamente o foi, mas por ter uma lista inumerável de blogs de todo o mundo. Ótimo lugar para se passear. Conheçam oTechnorati Profile"> Technorati.

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Tempestade


Noite absoluta
De estrelas apagadas
Luz ausente
Flashes no horizonte
Absurdamente noite
De silêncio de vento
Relâmpagos no horizonte
Pescador não vai ao mar
Periga não voltar
Assovio no negrume
Assovio de sereia
Pescador não vai ao mar.

sábado, janeiro 20, 2007

Jottas, Expresso Popular, SP


  • A polícia canadense colocou no You Tube a fita de segurança de um posto de gasolina. Pouco tempo depois recebeu um telefonema denunciando quem eram os bandidos. Foi o primeiro caso de solução de um crime que contou com a ajuda do You Tube. Louvável. No Brasil isso não aconteceria. O tempo todo vemos imagens do Congresso Nacional e ninguém é preso...

  • Assisti num documentário na TVE que o dinheiro enviado para o Brasil pelos mestres de capoeira ao redor do mundo é mais vultoso do que o que o país recebe pela venda de soja. Impressionante! Se isso for fato, além de surpreendente, é a quebra do senso comum de que baiano é preguiçoso. Vamos encher o Congresso Nacional de capoeiristas!

  • A Polícia Civil do Ceará desbaratou uma quadrilha de traficantes de drogas. Nem uma novidade até aí. O que chamou a atenção dos policiais e da imprensa é que co os traficantes foram encontrados uma carteira de trabalho, nove carteiras de identidade, dois títulos de eleitor, um certificado de reservista, quatro carteiras de habilitação, duas certidõs de nascimento e um cartão de Bolsa-Família. Eram a garantia de que os viciados pagariam suas dívidas. Viu só? A Bolsa-Família não serve só pra comprar cachaça, como afirmam os críticos do programa e do governo.

  • Você acredita em mula-sem-cabeça, boi-tatá, lobisomem, curupira, saci-pererê e negrinho do pastoreio? Claro que não, isso são invencionices de pobres, capiaus, analfabetos. Bobagens.
    E em fadas, bruxas, duendes, pé grande e na Atlântida, você acredita? Bom, aí a coisa é diferente. Se foram os europeus e norte americanos que afirmaram a existência dessas entidades, a coisa deve ser séria. Imagina se povo do primeiro mundo inventaria essas coisas.
    E em disco voador e seres intra terrestres, você acredita? Como não? Óbvio que isso existe! Há um fundamento científico sério que comprovam a existência deles.
    Pois é, santo de casa não faz milagre mesmo.

  • Do discurso à prática há uma distância abismal, Dante Alighieri já sabia disso. Diariamente a gente vê uma das muitas celebridades nacionais aparecerem diante das câmeras defendendo a ética, a retidão, a honestidade, a cidadania. Mas seus exemplos deixam tanto a desejar...
    Hebe Camargo continua defendendo Paulo Maluf e se dizendo sua eleitora. Belo exemplo.
    Geovani e Oscar fazem propaganda de equipamentos de ginástica passiva que não têm nenhuma comprovação de eficácia, tudo em troca de algum dinheiro. Decepcionante.
    Artistas globais foram os primeiros a fazerem propagandas dos bancos que abrem crédito para aposentados, incentivando-os a se endividarem em troca de juros baixinhos. Aí apareceu a Polícia Federal e mostrou as muitas falcatruas que envolvem aquelas instituições financeiras. Os artistas sumiram, acabaram-se as propagandas, mas muitos velhinhos já estavam endividados e com sérios problemas para sanarem as dívidas contraídas.
    Essas pessoas têm uma obrigação social enorme, mas, assim como um popular qualquer, como você e eu, colocam sua situação financeira à frente dos interesses gerais. A diferença é que sua palavra tem um peso enorme para boa parte da população.
    Agora aparece o Ronaldo Ésper, senhor de todas as razões, o único que sabe das coisas, com excessão de seu desafeto Clodovil, outra sumidade em sapiência, preso por roubar dois vasos de mármore em um cemitério. Que vergonha... O cara aluga - não vende, aluga - um vestido de noiva por R$ 4.500,00 e não consegue desembolsar algumas centenas de reais para comprar dois vasos? Ou será que a coisa não é não poder pagar, mas a velha máxima popular que diz que "a ocasião faz o ladrão". Vergonha!
    Lógico que as socialites paulistanas quatrocentistas vão sair em defesa do costureiro, serão solidárias ao pobre moço depressivo que atravessa momentos difíceis, toma remédios de tarja preta que o incapacitam de raciocínios sensatos. Encherão as revistas, sites e televisões de fofoca com suas desculpas altamente coerentes. Um advogado cujos honorários são maiores que a soma dos salários de uma rua inteira de classe baixa, fará de tudo para que o costureiro, pego em flagrante, seja colocado em liberdade, vítima de uma injustiça que foi.
    Mas a pobre dona de casa, se roubar uma lata de leite para alimentar seus filhos famintos, irá para uma cela escura, sem escusas de quem quer que seja. A mãe está errada? Sim. Mas erro maior é desse senhor, que roubou por capricho e não por necessidade, assim como fazem muitos de nossos políticos.

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Elis


Elis, 25 anos


Música em minha casa foi uma constante. Meu pai tocava violão, cantava muito bem, era um comprador de discos e de vitrolas. Meusquatro irmãos mais velhos seguiram o caminho. Um deles, além de tudo, era um experimentalista: inventava de tocar xilofone, escaleta, percussão, além do violão, e ainda criava instrumentos, à moda de Hermeto PAscoal.

Assim fui educado ouvindo de Noel Rosa a Emerson, Lake & Palmer; de Assis Valente a Beatles; de Aracy de Almeida a Aphrodite's Child e muito mais coisas.

Esse irmão experimentalista alimentava uma dúvida tipicamente brasileira: quem era a melhor cantora brasileira em sua adolescência, Maria Betânia ou Elis Regina? Eu me atinha à condição de ouvinte.

Certa manhã, irmãos na escola, pai no trabalho, mãe na cozinha e eu vadiando, o único que estudava à tarde, recebi a ordem de limpar o jardim. Liguei o som, muni-me de vassoura, pá, ancinho e tesourade poda e fui cuidar da grama. Nossa casa ficava nos fundos de uma vila, muitas árvores ao redor, nenhum trânsito na rua e um silêncio delicioso. Ambiente ideal para se ouvir uma boa música.

Na FM começam os acordes de Travessia, de Milton Nascimento e Fernando Brant, e a voz de Eliz. Eu já ouvira a música, a cantora e as duas juntas dezenas de vezes, mas aquela audição ficou tatuada na memória. Acontecia como se fosse a primeira vez. Me encantou a melodia, a letra, o arranjo e, principalmente, a clareza da voz de Elis, as frases exatas, a dicção perfeita, a emoção em cada sílaba.

Justo eu que não sou chegado a idolatrias, havia ganhado um ídolo.

Pouco tempo depois, nessa mesma casa, quando eu estavasaindo para a escola, ouço a Leda Nagle, então apresentadora do Jornal Hoje, da Globo, anunciar a mortede Elis Regina.

Fiquei muito triste, mas ainda sem perceber a magnitude da perda. Não haveria substituta à altura do talento e do carisma de Elis. Vieram Adriana Calcanhoto, Marisa Monte, Selma Reis, Paula Toller, Zizi Possi e tantas outras, mas Elis é inalcançável.

Nunca perguntei ao meu irmão se ele sanara sua dúvida, mas, para mim, hoje é claro qual era a maior entre Betânia e Elis.



Esse post é minha contribuição à proposta da Vera de um post coletivo sobre os 25 anos de morte de Elis Regina.

quarta-feira, janeiro 17, 2007

  • O Gabriel foi minha trigésima milésima visita e exigiu que fosse citado nominalmente. Claro que sim! Ele é leitor de primeira hora, já faz parte da minha história. Obrigado também a todas as 29.999 demais. A história também é sua.

  • No dia 15 de dezembro caiu um tremendo toró e minha rua ficou assim:
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    Para minha surpresa, no dia seguinte os homens da prefeitura apareceram, arrancaram os paralelepípedos e trouxeram manilhas para refazerem a rede de esgotos. Poxa! Quanta eficiência, pensei.
    No dia 18 viajei feliz. O trabalho seria executado na minha ausência, o que me pouparia de ouvir toda a barulheira gerada nesses serviços, sem falar que a casa estaria sendo vigiada indiretamente, com tantos homens trabalhando em frente.
    Ó, doce ilusão. Voltei de viagem no dia 12 de janeiro e as coisas continuavam iguaizinhas a quando deixei. Manilhas espalhadas pela rua, paralelepípedos retirados e nenhum centímetro de buraco feito.
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    No dia 15 leio no jornal que o prefeito retomaria as obras paradas. Ótimo!
    Ontem, plenas férias, acordo com a barulheira que esperava evitar. Meu vizinho de frente assentava azulejos em sua fachada, com direito a maquininha para cortá-los e pancadinhas na parede, escavadeira sob minha janela, trator trazendo mais manilhas e o vozerio infernal dos trabalhadores:

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    Que bom que as obras estão sendo retomadas e que minha rua ficará bonitinha de novo, mas já sinto que meu primeiro dia de volta ao trabalho vai me encontrar estressado. Nesse momento a barulheira continua.

  • Por falar em obras, o desmoronamento do Metrô, em São Paulo, me faz lembrar mais uma vez uma musiquinha do Juca Chaves, feita quando ruiu o Elevado Paulo de Frontin, no Rio:
    "Cai, cai, cai, cai
    Outra construção civil.
    Realmente ninguém segura
    A arquitetura do Brasil"

    E fico me perguntando:
    • Quem indenizará as famílias prejudicadas por mais esse mal feito oficial?

  • Às pessoas que perderam suas casas, serão dadas casas no mesmo padrão e na mesma localização ou as enviarão para um Cingapura na periferia?

  • Quantos anos e quantos recursos judiciais serão necessários para que os males materiais sejam reparados?

  • Quem será punido? Os pedreiros e trabalhadores braçais, provavelmente. Engenheiros e autoridades sairão ilesos, como sempre.

  • Que tipo de assistência psicológica, financeira e material será dada aos familiares das vítimas fatais?

  • Os contratos entre o Metrô e as construtoras serão mantidos do jeito que estão? Creio que, como sempre, farão uma "meia sola" e ficará tudo como está depois que assentar a poeira e a mídia passar a se ocupar com a próxima catástrofe, provavelmente a ação da Força Nacional de Segurança no Rio de Janeiro.

  • As obras, realizadas sob terreno instável, alagado, serão embargadas? Que! Dirão que novas técnicas serão usadas doravante e que as obras não correrão mais riscos de acidentes. Já assistimos a esse filme.

  • O alívio é apenas pelo pequeno número de vítimas, embora não devesse ter nenhuma. Mas levando-se em consideração o trânsito normal daquelas vias e a grande quantidade de operários na obra, a catástrofe poderia ter sido bem pior.

terça-feira, janeiro 16, 2007

Xilogravura, J. Borges


O Menino e o Boi

O menino e o boi de canga,
O barro seco vira poeria.
A canga de levar comida,
Macaxeira, banana, caju,
Muda de função sob o sol saariano.
Carrega latões sem leite,
As vacas magricelas não produzem,
No barro seco não dá capim.
O menino e o boi de canga
Levam água tirada longe,
Sobra das chuvas de há muito.
O menino, o boi e os latões
Levantam pó de onde havia rio
Ou houve ou há de vez em outra,
Quando a água cai.
Onde vivem o menino e o boi
Dia em que choveu
Fic na memória,
Não se perde na poeira do rio seco.

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Madame Bel, Pablo Picasso


Dorinha, faz essa cara de pena, não. Não careço de pena. Vivi o que pude viver e não foi mais pior nem melhor do que a vida dos que vivem bem desde a nascença. Cada um tem sua cruz, amiga, ou muitas cruzes, e eu tive as minhas. A vida me escolheu, depois escolhi a vida.

Se a vida levou minha mãe quando nasci e meu pai pelas estradas antes d'eu nascer e, mesmo me deixando sozinha, sem leite e sem banho, ela não quis me levar, estava dizendo que, já que eu fiquei, vivesse tudo o que tinha que viver. E vivi, Dorinha.

Não levo nada e nem deixo qualquer coisa para ninguém, mal tive para mim, para meu sustento roto, como deixar algo para os outros? Bem que eu gostaria de ter uma casa, jóias caras, uma terrinha, um bangalô na praia... Nada disso para meu luxo, mas para poder deixar algo bom para você, amiga, que me deu comida, teto e carinho nesses últimos tempos, tempo mais ruim que todos os tempos ruins que já vivi. Deixar alguma coisa de boa para Philóphio, coitado do Philóphio, vinte anos de cadeia para me salvar do capiroto do Alesso. Se não fosse Philóphio chegar com a peixeira, Alesso tinha me matado, tudo por causa dos dez reais que ele não quis pagar pela trepada. Nunca mais fode ninguém! Mas fodeu com a vida do pobre Philóphio por vinte anos. Pobre Philóphio...

Queria deixar algo bom para Zineide também. A melhor amiga que eu poderia ter naqueles tempos. Não sei o que é ter mãe, mas ia saber o que é ser mãe, mesmo sem saber quem era o pai do meu filho que a morte não deixou nascer. Eu era bonita, Dorinha, os homens babavam para minhas coxas, para minha bunda, para meus peitos grandes e duros. Eu não podia perder aquela chance de ganhar dinheiro com a única coisa que tinha. Não fazia gosto ruim, foram muitos homens, de toda cor, cheiro, gosto. Se pagasse eu ia e fui muito. Ganhei uma fortuna naqueles tempos. Mas Deus não gosta de mim, Dorinha. Bem que ele poderia mer dizer por causa de que sempre me tratou como bastarda.

Justo quendo eu estava podendo cuidar de mim, dinheiro no banco, roupas novas e bonitas, casa para morar, de um ganhei um filho, de outro a doença. Daria tudo se morresse eu e ficasse meu filinho que nem nasceu. E a Zineide foi quem me deixou viva.

Eu tinha jurado para ela: Zineide, não quero mais ser rameira. Se Deus me curar e salvar meu filho, saio da vida, arrumo um emprego e vou viver para ele. Deus levou meu bebê e quem me sarou foram os remédios que a Zineide comprava com o dinheiro que ela tinha para comer, depois de eu ter gastado todo o meu com os médicos e laboratórios.

Agora vem essa outra sem cura e sem jeito. Para quê tanto remédio se não se pode matar a bicha? Vou tomar nenhum! Não vou dar mais dinheiro para médico, nem para farmacêutico, nem laboratório. Nem o meu, nem o seu! E não vou mais acordar de madrugada para entrar na fila sem fim da previdência. Se não há cura, para quê sacrifício?

Tenha dó não, Dorinha. Já sou uma velha nesses meus trinta e poucos anos. Não vê as rugas na cara? As da alma são mais e mais fundas. Eu morri em vida, amiga. Se há pecado, tenho crédito, muito crédito. Sofri mais do que pequei. Eu mereço o céu.

Mas não quero ir para cantar hosanas e passear de mãos dadas com os anjinhos- entre ele deve estar o meu que não nasceu-quero ir para encarar Deus nos olhos e exigir que me responda por que me odiou tanto.

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Aviso aos preguiçosos: Esse post será enorme!

Saí de Porto Seguro num dia nublado, como devem ser as despedidas. Despedidas com dia ensolarado perdem a dramaticidade do adeus, mesmo que o adeus seja apenas um até logo.
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Nas mãos Na Toca dos Leões, de Fernando Morais, com o qual terminei presenteando minha sobrinha Rebeca que está afim de fazer publicidade. Na mala Antonio Carlos Jobim, Uma Biografia, de Sérgio Cabral, e As Mentiras que os Homens Contam, de Luís Fernando Veríssimo. É, sou o único adulto relativamente bem informado que ainda não havia lido esse livro. Era uma das metas dessas férias, colocar as leituras em dia.

No Rio de Janeiro terminei de ler Na Toca... enquanto aturava as duas horas de atraso do avião. Como os outros dois livros estavam na mala que já havia sido despachada, fui à livraria do aeroporto e comprei Montenegro, coincidentemente do mesmo Fernando Morais. Um livro bastante interessante para meritocratas como eu. Lá fui eu rumo a Natal.

Lá terminei de ler o Montenegro entre um passeio e outro, dos quais falarei mais adiante e comecei o Tom. Para não misturar as estações, comentarei somente sobre os livros, por enquanto.
Terminado o Tom, engatei no Veríssimo que não passou de um suspiro. Devorei.

Aí o Alberto, meu terceiro irmão, me presenteou com o Freakonomics, de Steven D. Levitt e Stephen J. Dubner. Fantástico! Gostei tanto do livro que falarei somente dele num próximo post. Li com calma, degustando.

Encerrado este, fui a um sebo, em Mossoró, e ataquei as poesias. O Poeta na Praça, de J. G. de Araújo Jorge, e Mensagem, de Fernando Pessoa. O primeiro para pagar um pecado antigo. Eu sabia muito sobre o autor e nada sobre sua poesia. Não gostei, pelo menos desse livro. São poesias que ficaram velhas, ultrapassadas e panfletárias. Preciso ler mais alguma coisa dele para ver se mudo de opinião. O que sempre me chamou a atenção em J. G., desde menino, foi seu nome, sonoro, uma quase poesia por si só. E o Fernando Pessoa comprei porque sou apaixonado pela obra dele e estava me devendo mais um livro há muito.

Ataquei, então, O Mulo, de Darcy Ribeiro. Um livro bastante interessante pela sua originalidade e pelo vocabulário rosaniano (essa eu inventei para fazer uma alusão a Guimarães Rosa - confesso que nem eu gostei dessa minha invenção), mas de leitura difícil e, às vezes, cansativa. No fim o saldo foi positivo. E voltei pra casa lendo Travessia, o primeiro livro da mineira Maria Dolores. A autora ainda não tem estilo, mas a história é interessantíssima. Estou adorando.

Estava eu lendo a Travessia enquanto esperava o avião em Salvador, quando sou abordado por um daqueles vendedores de livros babacas, com o maior papo de Deus e blá-blá-blá. Terminei comprando o Ele Não se Esqueceu de Mim pra me livrar logo do cara.

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Belo Horizonte sob as nuvens


As nuvens que desenham carneirinhos quando somos crianças e depois viram objetos de analogia para os poetas e os filósofos de botequim; que são algodão doce e depois viram esperança para o sertanejo ou sonho de fortuna para o fazendeiro; que são chuva e brincadeira para a molecada e apenas água em suspensão para os cientistas, são apenas nuvens e perdem toda a graça quando vistas por dentro.

É, todos têm razão, inclusive eu, coração calejado e pragmatismo em alta. São apenas nuvens.

São passageiros que nunca chegam, surgem do nada e no nada se perdem. Carneirinhos não têm autogênese nem autoextinção; não são doces e nem sempre a salvação da lavoura, podem ser sua desgraça; os pais modernos, com medo da gripe, da constirpação, não permitem mais as brincadeiras na chuva e as nuvens são malditas pelos veranistas. São apenas nuvens.

A ciência venceu. São apenas água em suspensão e depois em precipitação, mais fulgazes que a própria vida. Apenas nuvens.

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O ribombar do mar
A flauta do vento
E a voz de Alice
Faziam ciranda.

Os homens jogavam o anzol
E Alice cantava.

Será que Alice vai lembrar
Do que criava ali?

Alice falava de dança
E depesca,
Da água verde
E do coco,
Cantava os peixes
E os pescadores.

Quando errava apalavra
Encerrava a cantiga
E se punha a inventar
Outra ciranda
Outra melodia.

Cantava fininho
Quase inaudível
Ciranda interminável.

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A Puta


Senta-se com os olhos cavucando os arredores, predadora.

De sob a canga, ali mesmo no salão, retira o sutiã do biquini, gestos lentos, provocantes. E da outra mirada nos homens das cinco mesas ocupadas, entre eles, eu.

Os demais, quase todos estrangeiros. Na mesa ao lado dois estadunidenses jogando poquer e tomando café. Me convidam para o jogo, mas me escuso.

Na mesa à minha frente, quatro italianos italianamente falam alto e gesticulam. Entre eles, o dono do lugar. Lá no fundo um outro estrangeiro, percebe-se pelos trajes e costumes. Em frente ao balcão dois brasileiros, paulistas, pelo sotaque. O baixinho não desvia os olhos dela. À esquerda, assim como eu, um solitário com um livro aberto sobre a mesa e uma garrafa de cerveja. Ou não a viu ou, assi como eu, não mostrou interesse.

Ela, tomando um refrigerante, retira um espelho da bolsinha e faz charme com os cabelos, se mirando.

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O baixinho paulista se aprsenta, falam algo sussurrado, ela abre um sorriso branco. Olha-o fixo nosolhos, toca seus braços peludos com a ponta dos dedos, carinho medido. Se diverte seduzindo-o.

Da mesa dos italianos o dono se levanta e a chama. Tenta comunicar-se em português, ela o surpreende, parla italiano.

Num átimo de silêncio, ouço sua voz:

- Non lavoro qui, lavoro em Italia.

Ela pega sua bolsa e paga o refrigerante com uma nota de cinqüenta reais, sem sorriso, ar sério, ofendido, mas não constrangido. Desce os dois degraus para a calçada.

O paulista baixinho faz um gesto do tipo "güentaí" para o amigo e a segue, sumindo depois da esquina.

Conversando com um vendedor de coco, ouvi hisórias sobre o turismo sexual em Natal. A que guardei conta da nova esperteza das menores de idade. Elas se insinuam para os motoristas, de preferência os que dirigem carros com placas locais. Os mais dispostos param e lhes convidam para entrar. Elas os convencem a dar uma volta pelos lugares mais badalados, onde haja muita gente. Quando chegam lá, elas abrem a porta do carro, colocam um pé no asfalto e fazem a chantagem: ou o incauto taradinho lhes dá muita grana, algo em torno de 150, 200 reais, ou elas fazem um alarme, gritam que estão sendo violentadas. Sabendo que dá cadeia e que estrelarão os noticiários do dia seguinte, os sujeitos pagam e somem dali rapidinho.
Elas estão muito safadinhas, mas não consigo ter nem um milímetro de pena dos otários.


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Forte dos Três Reis Magos

Os gritos na masmorra
Os gritos de comando
Os gritos de alerta
Ainda ecoam nas paredes grossas
Nas pedras do piso irregular.
Ainda sente-se no ar
O cheiro do medo
E o calor das saudades.
O olhar se perde longe
No verde que se espalha
Além das passarelas.
Claustrofóbica moradia
Dos que conquistaram,
Por querer ou ordem,
Um pedaço do paraíso.

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É uma tristeza rascante.
Milhões passeiam à sua volta, mas ele não é o centro de nada, apenas um pivete, um sem-casa, sem-escola, sem-roupa, sem-felicidade, um sem-ninguém.

Como se defende? Quem o defende?

Não vive, apenas existe.


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Invadiram as areias por necessidade de um teto ou esperteza? para saber, só lhes perguntando, mas não responderão. E foram ficando, vieram outros, virou um bairro.

A duna tem duas faces, por que ficar de fente para a feiúra? As janelas dão para o mar, à sua frente, só a África.

Sem leis foram ficando e aumentando, o infinito verde até onde a vista permite e o verde faz fronteira com o azul.

Sem leis, mas com dinheiro, outros lhes tiraram o mar, o único prazer gratuito, além do sexo.


Dezenas de milhões de pessoas a cada ano peregrinam a lugares sagrados, segundo suas crenças.

Para não me alongar, vou me ater aos cristãos.

São muitos esses lugares sagrados para os cristãos mundo afora. Para não divagar muito e chegar mais rápido aonde quero, vou me reduzir a Santiago de Compostela.

Há quem vá a Santiago para pagar promessa. Embora nunca tenha feito promessa religiosa, entendo isso e respeito.

Há quem vá por sugestão de amigos ou por curiosidade despertada ao ler ou assistir a uma reportagem. Também sinto curiosidades sobre lugares, comidas, espetáculos depois de ler ou assistir a uma reportagem. Entendo e respeito isso, portanto.

Há quem vá porque é chic, todos seus amigos do clube e da academia já foram. Ok, a humanidade tem uma grande parcela de futilidades em sua formação. Não respeito, mas aceito e entendo isso.

Há quem vá influenciado pelos livros de Paulo Coelho. Leia o parágrafo acima.

Há quem vá esperando um milagre. Para mim, milagre é o que a ciência ainda não explicou, por isso não creio em milagres. Mas entendo e respeito quem pensa o contrário.

Há quem vá em busca do autoconhecimento, na esperança de que seja despertado em seu âmago sentimentos mais nobres como o amor, a compreensão, o amor próprio, a solidariedade, a sensibilidade à beleza da simplicidade e aos problemas alheios; aqueles que desejam o aprimoramento de sua personalidade, a compreensão, a aceitação do diferente.

A esses uma sugestão: visitem o sertão nordestino brasileio. Não tem o glamour de uma caminhada sob o sol escaldante europeu? Não tem restaurante e pousadas cinco estrelas às margens do caminho, caso você mude de idéia e desista do sacrifício? Não será charmoso mostrar as fotos para os amigos do prédio ou exibi-las na internet? Não se fala alemão e nem um daqueles incompreensíveis idiomas europeus? Ao olhar para o lado não vai encontrar aquele mundo de gringos altos, loiros e de olhos azuis carregando mochilas de material impermeável, garrafas de água Perier, rosário de cristal e livros de falsos magos?

Tudo bem, esses que vão a Santiago.

Mas se seu intento é, de verdade, o autoconhecimento e aprimoramento humano e você tem pré-disposição a aceitar o diferente, em não se envergonhar pelo que não conhece, de admitir sua ignorância em relação ao seu próprio país mais do que orgulho de conhecer o estrangeiro, o interior do Nordeste é de uma riqueza extraordinária de lugares, pessoas, costumes, sabores, belezas indescritíveis.

Quase tudo o que ouvimos sobre o nosso sertão é sobre o calor, a fome e a miséria. Estereótipos! O sertão é mais que Graciliano Ramos, Patativa do Assaré, Rodolfo Teófilo, Cordel do Fogo Encantado, Luiz Gonzaga, Mestre Ambrósio... O sertão é lindo, rico e desperta em nós o desejo de nos questionarmos sobre nós mesmos. Mais que rico, o sertão é enriquecedor.

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A Jandira parece morta, mas, depois de dois dias de chuva ela se vete de verde, inacreditável.

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Eles também sonham.

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Não é engraçado, é irônico.

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O sertão é bem humorado.

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Tem petróleo e gás brotando em praças, no meio da cidade...

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... quase nos quintais e jardins...

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... e no campo.

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O sertanejo é bem humorado, criativo e crítico.

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É costume em todo o país se colocarem cruzes à beira da estrada, sinalizando o local onde uma pessoa querida perdeu a vida por atropelamento ou por outro tipo de acidente automobilístico, mas no Nordeste esse costume excede, é impressionante. São centenas de cruzes, mas a maioria é colocada como oratórios e o zelo com que cada cruz é cuidada é comovente. A não ser as mais velhas, que nos fazem deduzir que os parentes daquele morto se perdeu no tempo, mudou-se para longe ou não têm condições de se fazerem presentes com mais freqüência, as demais estão sempre pintadinhas, muitas com flores artificiais ou naturais e sempre se encontram restos de velas em seu interior.
Eu vejo nessas cruzes, além da expressão religiosa, um alerta para os motoristas, pena que muitos não percebem esses avisos.


Quando se trisca na morte, dá uma moleza...

Ela passou triscando. Não houve susto, não deu tremedeirra e nem se passou um filme com toda a minha vida, como dizem que acontece. Foi um avo de segundo, rápido. Ela veio por trás e desviou no último instante, passou assoviando à minha esquerda.

Vendo-a por trás que me dei conta que por muito pouco não poderia estar tendo aquela visão e pensei naquees que gostam de mim e talvez nunca soubessem que eu havia morrido ali, no meio do nada.

E aí veio uma moleza esquisita, uma sonolência. Voltei para casa e fiquei assim, meio catatônico, o resto do dia e metade do outro.

Quase viro cruz na beira da estrada.


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Ao meu pai

Eu sabia aqueles cheiros e sabores,
Sabia os caminhos e as vozes,
Entendia o que diziam as palavras,
Ouvi meu pai naqueles homens.
Eu sabia aquele sol e seu calor.
Já soube em vidas passadas,
Quando minhas raízes eram verdes,
Daquela terra e seus segredos.
Eu conhecia as músicas e danças,
Seus requebros e si bemóis.
Vim desse pó ardente
E já não o sei mais.
A vida me tirou tudo
E outro barro virei na vida.


E as fazendas de sal...
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A água do mar é bombeada para enormes piscinas como essa. Por noventa dias a água vai-se evaporando aos poucos, sobrando só o sal.

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Que é retirado por tratores, limpo, e industrializado em três tipos: o sal caseiro, o sal grosso e o sal para gado.

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São dezenas de montanhas brancas como essa no litoral oeste do Rio Grande do Norte. Se você olhar no saquinho de sal aí da sua cozinha, 90% de probabilidade de que esse sal seja potiguar. Esse é o percentual de sal norteriograndense no mercado nacional, fora o que é exportado.

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A arquitetura das igrejas sertanejas é dura, quadrada, forte e eficiente. Lembram um poema qualquer de João Cabral de Melo Neto.

No Lajedo de Soledade, em Apodi, senti a sensação de que somos apenas uma bolinha de sabão, quase nada.
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Tenho que me conter... Vejo as fotos, cavuco na memória e tem tanta, mas tanta coisa mais a falar daquele universo maravilhoso... Fico por aqui esperando ter deixado na boca de vocês um gostinho de quero mais, e, se quiserem, sabem onde encontrar. Não está em voga os turismos de aventura e o cultural? Então, aventurem-se!


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Para ele, esse post.

Não sou de falar de minhas intimidades, nem aqui, nem para quase ninguém, mas, como presente para aqueles que chegaram até aqui, vai aqui uma confissão:
Essa viagem seria uma lua de mel, mas, pouco mais de um mês antes de eu viajar, ela me deu um pé na bunda. Nada de traumas. Ela está feliz ronronando sob e sobre outros lençóis e eu... Bom, eu fiquei com um apartamento todo reformado, móveis novos, uma viagem maravilhosa e, de quebra, ainda vou me prsentear com um monitor LCD de 17 polegadas, hehe.
Mulheres, estou souto na capoeira!