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sexta-feira, julho 28, 2006

Elle Indio, Piedra


Amor guarani


Voam, voam flores na aragem e o tempo voa. Voa infinitamente alto, tão alto que a vista não alcança. Voa longe, voa cinco anos, cinco tão distantes-próximos anos que as pernas parecem pequenas para percorrê-los.

Voa alegre e único o tempo, vôo de guaynumby arrastando notícias de um dia que não foi.

Voa o tempo graracy-aba cabelos do sol, arrastando nos filhos da noite notícias do outro mundo, qualquer mundo, onde o amor é alegria com os amores e alegrias de todo o mundo da ponta do longo bico.

Vôo eu nos teus brincos sendo tu flor e eu teu guaynumby, quem sabe?, guynamby!

Vôo festivo de alegre ave fazendo curvas e dribles no espaço de nós dois.

Tremo, tremo nesse espaço único e inacabável, infinito espaço que nos separa. Sugo tuas pétalas no ar, teu perfume persistente em busca do âmago, da essência, do átomo reluzente que forma tua estrutura inigualável das flores mais primeiras.

Vim do ipê em que reinavas à procura da juçara onde és majestade e recebo paãs no peito, doces e ardentes dos teus olhos distantes enquanto não chego e não sei se chegarei.

Enquanto não chego, te trago presa, guardada, em uru, nambi, patigurá, patuá, moco... Sei lá o que, dentro do peito.

Canto agora minha maranduba, minha poranduba, tuxaba inesgotável, morubixaba sem fim, moacara de longa data, nhengaçara inacabável de braços que tu querias para tua cintura, o amor.

Teu peito de ubiratã rejeita meus afagos, mas faço toryba aos teus acenos. Monto minha moroca longe dos teus rios e te observo do outro lado do pará, vestes nas mãos, elevando minha apem até as nuvens.

Tapuia que sou, me refugo nos matos e ipon-juca em tua defesa, quem ousa te olhar.

Cejy brilha no céu e tu naterra enquanto eu, morto na mata, sonho com o que vi, e verjo e sonho e espero e guardo.

Te encho de canitares nas noites mal dormidas, te enfeito de contas, te coloro de penas e pena que seja sonho.

A-por-u me comporto de dia, a-poro-tim à noite. Pelos teus cabelos ercebo que tua tribo é outra e tento me converter. Sou marabá caçador não de onças ou jaguares, de ava-canoeiros, quatis, surucucus, mucuri, honras ou malvadezas, sou marabá caçador de cunha filha da lua, dona da noite, de cunhataí. Sou caraíba perdido na busca de quem sou no corpo ignorante do amor que tenho. Sou ajurrendy-pira de Cojy nascido, por Tupã gerado, membyra de Ceci e vou morrer no porá imenso de tua boca.

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