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segunda-feira, julho 31, 2006

Mariposa, Joseph Tany

Mariposas


Mariposas se batem no vidro, milhões de mariposas em frenesi, em festa, assustadoras, batem no vidro da janela que tende a se abrir ante a fúria das borboletas noturnas, silenciosas fazendo batucada de samba louco no vidro.

O vidro reflete as borboletas e as paredes refletem o som da batucada na sala escura de madrugada escura de mariposas negras que batem no vidro, forçando a janela que resiste, mas quer se abrir ante a fúria das mariposas que resistem àdureza do vidro da janela cerrada e escura da cor das mariposas e da madrugada que ecoa nas paredes como as mariposas se refletem no vidro.

domingo, julho 30, 2006

Solidão, Manuela Pinheiro


Limpeza


Em um único escarro bem dado cuspiu todos os amigos do bolso para o outro lado da rua da amizade.

Ouvidos tapados com cera de abelhas mal-criadas nas árvores da praça, como menores abandonados, para não ouvir novos amores.

Sem palavras, sem lágrimas, nada.

Gritos interiores no silêncio da noite, jacintas surdas, vaga-lumes cegos, morcegos insones, fábulas de mariposas e solidão.

Sorveu o sangue dos vampiros e o sêmen dos impotentes, lambuzou-se nos lábios inferiores das garotas da Playboy e ficou rolando na rede como um peão horizontal perdido e tonto. Nas vagas da maresia da vida que o embalam em sua pobreza.

sábado, julho 29, 2006

Tô ruim, mas não morri


Quando adoeço, costumo me isolar, não suporto ficar dando trabalho aos outros ou ser tratado como um dodoizinho-bilu-bilu, mas dessa vez a coisa tá braba. Nunca uma gripe me deixou tão mal! São três dias constirpado, uma tosse de vira-lata que pegou chuva, dor por todo o corpo, febre e nenhuma vontade de comer, embora não tenha relaxado com a hidratação. Tô precisando de uma mãe; qualquer uma serve. Pelo menos o telefone e o celular estão desligados para ninguém me peerturbar. Vou ali tentar respirar por algum orifício alternativo, se conseguir, eu volto.

sexta-feira, julho 28, 2006

Elle Indio, Piedra


Amor guarani


Voam, voam flores na aragem e o tempo voa. Voa infinitamente alto, tão alto que a vista não alcança. Voa longe, voa cinco anos, cinco tão distantes-próximos anos que as pernas parecem pequenas para percorrê-los.

Voa alegre e único o tempo, vôo de guaynumby arrastando notícias de um dia que não foi.

Voa o tempo graracy-aba cabelos do sol, arrastando nos filhos da noite notícias do outro mundo, qualquer mundo, onde o amor é alegria com os amores e alegrias de todo o mundo da ponta do longo bico.

Vôo eu nos teus brincos sendo tu flor e eu teu guaynumby, quem sabe?, guynamby!

Vôo festivo de alegre ave fazendo curvas e dribles no espaço de nós dois.

Tremo, tremo nesse espaço único e inacabável, infinito espaço que nos separa. Sugo tuas pétalas no ar, teu perfume persistente em busca do âmago, da essência, do átomo reluzente que forma tua estrutura inigualável das flores mais primeiras.

Vim do ipê em que reinavas à procura da juçara onde és majestade e recebo paãs no peito, doces e ardentes dos teus olhos distantes enquanto não chego e não sei se chegarei.

Enquanto não chego, te trago presa, guardada, em uru, nambi, patigurá, patuá, moco... Sei lá o que, dentro do peito.

Canto agora minha maranduba, minha poranduba, tuxaba inesgotável, morubixaba sem fim, moacara de longa data, nhengaçara inacabável de braços que tu querias para tua cintura, o amor.

Teu peito de ubiratã rejeita meus afagos, mas faço toryba aos teus acenos. Monto minha moroca longe dos teus rios e te observo do outro lado do pará, vestes nas mãos, elevando minha apem até as nuvens.

Tapuia que sou, me refugo nos matos e ipon-juca em tua defesa, quem ousa te olhar.

Cejy brilha no céu e tu naterra enquanto eu, morto na mata, sonho com o que vi, e verjo e sonho e espero e guardo.

Te encho de canitares nas noites mal dormidas, te enfeito de contas, te coloro de penas e pena que seja sonho.

A-por-u me comporto de dia, a-poro-tim à noite. Pelos teus cabelos ercebo que tua tribo é outra e tento me converter. Sou marabá caçador não de onças ou jaguares, de ava-canoeiros, quatis, surucucus, mucuri, honras ou malvadezas, sou marabá caçador de cunha filha da lua, dona da noite, de cunhataí. Sou caraíba perdido na busca de quem sou no corpo ignorante do amor que tenho. Sou ajurrendy-pira de Cojy nascido, por Tupã gerado, membyra de Ceci e vou morrer no porá imenso de tua boca.

quinta-feira, julho 27, 2006

Gaiola, Cândido Portinari


O que se prende?


O menino e a gaiola, dupla inseparável, procuram prisioneiro pelo prazer do canto.

Prendendo o menino se sente livre, correndo no mato, subindo na mangueira, fugindo de casa...

A gaiola e o menino, almas gêmeas, buscam, não se sabe, o bico ou o canto?

O canto não se prende, é a voz da liberdade chamando pela soltura que se espalha ao vento.

quarta-feira, julho 26, 2006

Il Signore Del Temo I


Vida que passa, passou


Os olhos cinzas da morte espiam pela fechadura, vigiam à caça insana, selando com um corte a sorte de maneira brusca, dura, com suas tenazes, tirana.

Os passos da vida cessam num repente inesperado, num raio sem trovão, as pernas dos que odeiam, amam, vindo de cima, baixo, lado, num ímpeto, de supetão.

Os dias ficam mais curtos, as noites nem se notam na ligeireza que passam, como tropel, um surto de mariposas que voam antes que os sóis renasçam.

A longa vida foi pequena nos seus momentos finais, lépida em seu vagar, furiosa quando serena, gulosas horas frugais que nem a vimos passar.

terça-feira, julho 25, 2006

Estou com problema em postar. Alguma coisa entre o novo lay-out e a configuração do Blogspot não está casando bem. Minha guru internética, Lelinha, já está remediando as coisas. Sabedeus quantas tentativas terei que fazer para colocar esse post no ar.

Olívia, Tony, Cristiano, , Shirlei, Princesa, Ariana, Manoel, Marita, Ana Carla, Lili, Do, Thais, Tasha, Fernanda, Fernando, Vinícius e Rhô, não precisam ficar nervosos e nem fazer chantagem emocional. Vocês serão colocados na minha lista de links assim que conseguirmos domar o HTML, podem ficar tranqüilos.

Voltaremos assim que as coisas estejam devidamente em seus lugares.

segunda-feira, julho 24, 2006

Velhinhos

Histórias Quebradas


Cedinho, antes do sol nascer, era possível ver aquelas quatro redes estendidas sob a marquise do armazém, ali, na esquina do mercado de frutas.

Chegando perto, seriam vistos os quatro velhinhos, cada qual em sua rede, dormindo tranqüilos, dois com seus óculos sobre os narizes, talvez vendo melhor seus sonhos. Os vigias das lojas velavam seu sono.

Aos primeiros barulhos das barracas sendo arrumadas, levantavam-se, cumprimentavam-se, dobravam as redes e três deles sumiam, ninguém sabia onde passavam o restante do dia. O quarto, Aristófanes, seria visto ali mesmo no armazém, sentado atrás de uma banquinha onde se lia "Jogo do Bicho". Recolhendo as apostas, complementava a parca aposentadoria. Não sorria, não conversava. Olhos tristes e cabelos brancos, apenas sentava ali esperando a clientela. Queixo escorado nas mãos, observava o ir e vir da rua do mercado.

Mal anoitecia e as lojas fechavam, apareciam os demais. O baixinho com sua careca branca e óculos de aros dourados remendados com epoxi, Laurentino era o primeiro. Cumprimentava Aristófanes, trocavam algumas informações sobre as novidades do dia, sempre muito poucas, e dividiam o café que Laurentino trazia numa pequena garrafa térmica. Aristófanes já colocara a um canto as redes que se encarregava de guardar nos fundos do armazém, com o consentimento do dono.

Por volta das sete aparecia o espigado Wilfredo, trazendo num saquinho de papel pardo as coxinhas e pastéis que sobraram na lanchonete da esquina e que dona Laudicéia lhe presenteava. Seriam a ceia dos quatro. Não comiam enquanto Adenilton não chegasse.

Vestiam-se com a sobriedade com que suas camisas puídas no colarinho permitia. As calças de tergal como há muito não se via mais nas ruas, sapatos velhos, com exceção de Adenilton que calçava uma sandália do tipo franciscana infinitas vezes remendada com linha de pesca. Com exceção de Wilfredo, todos usavam chapéus de feltro.

Uma noite um dos vigias da rua aproximou-se do grupo, curioso sobre suas vidas. Sentou-se na calçada e pôs-se a ouvir.

Aristófanes falava que recebera notícias da filha por um caminhoneiro que passara. Adelice e as crianças estavam bem. O marido dela havia sido promovido a gerente do banco e moravam numa casa grande com jardins floridos. Tinham um carro do ano e viajavam para a praia nas férias.

Laurentino contava que a esposa continuava sem reconhecê-lo, mas estava sendo bem tratada no asilo dos velhinhos. Tirando o Alzeheimer, mostrava uma boa disposição física, não falava muito, mas caminhava, assistia à televisão, se alimentava direitinho. Estava sempre bem vestida, penteada e cheirosa. Estava melhor tratada do que o tratamento que ele poderia dar-lhe se continuassem sozinhos na velha casa.

Wilfredo estivera no cemitério. Pedira algumas flores no jardim da casa do médico e os levara para comemorar o que seria o vigésimo aniversário do caçula. Depusera uma rosa sobre cada lápide. Ficara o resto do dia conversando com sua Darliseide. Insistia no pedido de perdão. Não deveria ter insistido em viajar à noite naquela estrada esburacada. Graças à sua teimosia perdera a todos, a mulher e os dois filhos, e ele próprio jamais se perdoaria, mas precisava do perdão dela e das crianças.

Adenilton nada tinha a contar. O vigia, porém, conseguiu entender que ele fora pescador. Tivera seu próprio barco, mas algo não havia dado certo.

Ali reuniam-se quatro sofredores, homens que perderam o encanto da vida, o brilho dos olhos. Quatro histórias fragmentadas que armavam suas redes sob a marquise que o destino lhes dera como refúgio para as intempéries.

Espalhada a notícia pelo quarteirão,a solidariedade manifestou-se de todas as partes. Alguém lhes trouxe cobertores novos, uma senhora ofereceu-se para lavar suas redes e lhes trouxe outras. Numa noite havia sopa quente, noutra um arroz com feijão, ganharam chaves do banheiro do bar para se lavarem. Ganhavam uma enorme família dispersa pelos quarteirões em volta.

Mas tudo tem seu fim. Ao chegar àquela sexta-feira, Laurentino não encontrou Aristófanes nem as redes. Na porta do armazém, numa folha de papel ofício, escrito a pincel atômico, lia-se Fechado por luto. Laurentino esperou os dois amigos e nunca mais foram vistos sob a marquise. Há quem diga que dormem no coreto da praça.




- Lelinha, adorei o novo lay. Seu talento engrandece meu blog. Muito obrigado.

- Senhoras e senhores, os links estão refeitos. Aproveitem.

domingo, julho 23, 2006

Layout Novinho

Oi...
Hoje trago a minha esferográfica azul pra rabiscar um pouquinho por aqui.
O dono do blog resolveu que estava na hora de mudar o layout e me convocou pra esta tão difícil tarefa há mais ou menos dois meses atrás.

Tão difícil quanto mudar o meu próprio, foi criar este. Não que o dono do blog seja chato, de primeira ele aprovou. Chata sou eu... sabe pessoas perfeccionistas? Pois é.
Mas valeu a pena tanto tempo pensado, o lay realmente está bacana e muito mais a cara do blog e de seu dono.

Marcos vive me propondo desafios e eu vivo me superando em todos eles.
O primeiro deles foi a confecção do lay e o segundo de vir escrever por aqui, mas escreve o quê, quando a imagem vale mais que mil palavras?

Modéstia à parte, ficou lindo, não!?

Ah sim (ele deixou eu fazer merchan)! Se você gostou do trabalho e quiser ver mais dos meus ou até dar um novo ar ao seu blog é só me procurar lá na Fábrica de Layouts.

Lelinha.

sexta-feira, julho 21, 2006

Beleza da Natureza, Marcio Melo

A Ditadura da Beleza

Vinícius de Moraes talvez possa ser responsabilizado pelo início dessa ditadura quando cometeu o verso "as muito feias que me perdoem, mas a beleza é essencial", lá pelos anos 60.

O verso virou um ditado popular e os menos cultos (por sequer saberem quem foi Vinícius de Moraes) ou mais seletivos retiraram o muito, deixando apenas "as feias que me perdoem, mas beleza é fundamental".A indústria de cosméticos poderia ter-se aproveitado disso e explorar tal frase à exaustão em suas propagandas, mas não o fez. Partiu para ataques mais sutis. Preferiu contratar celebridades lindas para promoverem seus produtos, comprar espaços enormes nos programas de televisão mais populares, investir pesado nas quartas capas das revistas mais lidas, namorar com a indústria do entretenimento fazendo com que seus modelos tronassem-se atores e contratou os atores e atrizes mais bonitos como garotos-propaganda.

Beleza é fundamental... O.k.. Beleza é fundamental! Beleza é fundamental? Fundamental pra quê? E mais, o que é beleza?Olhe bem para seus pais. Abstraia o fato deles serem seus pais. Faça de conta que nem os conhece. E agora seja franco(a), seus pais são bonitos?Provavelmente a maioria disse que sim. Óbvio que nossos pais são bonitos. Além do quê, não dá para esquecer, por mais que nos esforcemos, que eles são nossos pais. E por serem nossos pais, são bonitos. Se negássemos isso estaríamos negando nossa própria beleza e isso é crime maior do que passar rasteira em velhinha no ponto de ônibus.

Se beleza fosse fundamental, a humanidade não teria evoluído. Nossos ancestrais peludos eram muito feios.Aí alguém viria com a máxima criada para rebater a máxima de Vinícius: "o que vale é a beleza interior".Beleza interior... Se a beleza física já é tão subjetiva, como pode-se falar em beleza interior como uma coisa absoluta? Uma pessoa que você acha de uma beleza interior irretocável pode parecer a mim apenas um serzinho prepotente, pernóstico.

Citando um outro poeta do passado, Taiguara, "o homem é mil". Cada um de nós é mil. Não me comporto com um simples amigo (sim existem simples amigos,assim como existem grandes amigos, amiguinhos e o melhor amigo) como me comporto com a mulher que amo. Opa! Não estou falando de intimidades sexuais. Assim como nos comportamos de maneiras diferentes numa festa de carnaval e numa missa. Óbvio, diria você. Óbvio, digo eu.E sabe por que somos assim? Porque somos essencialmente estatutários. Seguimos leis muitas vezes tácitas, em cada ambiente diferente que freqüentamos. Se não, vejamos. Quando estamos sozinhos em casa nos comportamos como os senhores do reino. Fazemos e desfazemos a nosso bel-prazer. Ao sairmos passeando pela calçada somos pedestres e como pedestres nos comportamos. Andar pelos passeios e não pelo meio da rua é uma das regras tácitas. Ao pegarmos um ônibus passamos a ser passageiros e temos regras de passageiros a cumprir. Sentamos numa carteira de escola e já não somos mais passageiros e passamos a nos comportar como estudantes ou, no mínimo, como alunos, o que parece ser a mesma coisa, mas não o é. E essa transformação acontece incontáveis vezes a cada dia. Nesse momento, por exemplo, sou um digitador e você está sendo um(a) leitor(a). E como tais nos comportamos.

O que isso tem a ver com a beleza? Dependendo do ambiente e das pessoas que o compõem, nossos critérios de beleza mudam. Às vezes, radicalmente. Quando alguém nos diz que fulano ou fulana é bonito (a) ou feio(a), na maioria das vezes ainda não tínhamos parado pra pensar nessa pessoa com esses olhos de análise e, por passividade, concordamos. E quando discordamos nosso interlocutor normalmente se assusta. Como você não acha? Olha direito! Presta atenção! Já reparou na sua boca? Olhou direito para suas orelhas? Não notou as covinhas quando ri? E acabamos nos deixando influenciar e passamos a ver o ser analisado pelos olhos do amigo analisador. Somos hipócritas e influenciáveis. E passamos a defender essa tese como se nossa fosse.

A palavra de ordem desse início de século 21 é ser bonito e ponto final. A mídia nos bombardeia disso o tempo todo e os menos influenciáveis embarcam primeiro nessa canoa e passam a nos bombardear com a mesma idéia até que nos rendamos a ela. É bonito, por exemplo, mulheres vestindo calças de cós baixo. Pronto! Está instaurada outra ditadura. Todas as mulheres devem, portanto, vestir calças de cós baixo. Até mesmo as gordinhas que ficam parecendo um tubo de pasta apertado no meio. Mas só é bonito quem vestir-se assim e acabou.

A beleza não é fundamental, não mesmo. Ainda prefiro o antigo ditado popular que diz que "quem ama o feio, bonito lhe parece". A beleza é porcaria. No final das contas o que vale é o amor. Esse, sim, tem visão mais clara, menos analítica e menos influenciável. É o único ente completamente independente





Se você tem a impressão de que já leu isso antes, pode ficar seguro que já leu. Por total falta de inspiração e a morte batendo à porta, resolvi ressuscitar um texto antigo, lá de junho de 2005. Se não leu ainda, ótimo, leia agora e dê seu pitaco.

quinta-feira, julho 20, 2006

Joven virgen autosodomizada por su propria castidade, Salvador Dali

Sexo


- Depois de serem mães, muitas mulheres deixam de ser esposas. Talvez por isso tantos homens tenham medo de terem filhos.

- Sexo seria perfeito se não gerasse crianças.

- Os animais vão lá e pimba! Homens inventam perfumes, acessórios, meia-luz, som ambiente, lençóis ideais, palavras certas... Vão lá e falham.

- Onze em cada grupo de dez homens fantasiam com duas mulheres transando; nove em dez dos homens sentem-se atraídos por lésbicas; oito em cada dez morrem de medo delas.

- Há quem prefira chocolate a sexo. Eu também preferiria numa arquibancada de campo de futebol.

- O amor, definitivamente, não é uma coisa boa. Mulheres fazem amor, homens fazem sexo. Elas engravidam.

- Os hippies além de imundos eram hipócritas. Tinham como lema "faça amor, não faça guerra", quando, na verdade, queriam mesmo era trepar sem compromisso.

- Se Adão e Eva só tiveram filhos homens, quem comeu a mãe para perpetuar a espécie?

- A serpente incitou Adão e Eva. Teria a serpente experiência na coisa e por isso a sabia boa ou foi a primeira sexóloga da história?

- Se Freud tinha razão ao afirmar que a finalidade do homem é sempre o sexo, um tarado tem objetivos mais claros que a média das pesoas?

- Homens dizem sim; mulheres dizem não, que em seu idioma quer dizer sim.

- O homem-galinha é como o cachorro correndo atrás do pneu de caminhão. Quando o caminhão pára, não sabe o que fazer.

terça-feira, julho 18, 2006

Vitalino

Aristodemo


Aristodemo não teve o amor de mãe, morta no parto. "E daí?", respondia para fazer pouco caso de sua perda, "se mãe fosse bom Jesus não tinha deixado a dele". Em troca recebeu a vingança do pai, Deleutério, que o culpou por toda a vida por sua viuvez. Nem de longe isso afetou o garoto ingênuo que via em tudo ensinamentos e fortaleza. Sequer percebia o ódio mal contido do pai.

Não fosse a Dozinha, sua tia mais nova, para dar-lhe leite, trocar-lhe os cueiros e todos os cuidados mínimos, porém capengas, já que Dozinha tinha pouco mais de dez anos de idade e cuidava do bebê como se de uma boneca, Aristodemo teria morrido à mingua ou sufocado em suas próprias sujeiras.

Cresceu descalço e nu até que uma alma caridosa da vizinhança lhe presenteava com um calção velho que já não servia mais para os próprios filhos.

Quando não estava carregando água para a limpeza da casa, para o banho de Deleutério, indo e voltando da venda de onde trazia alguma farinha, rapadura e cachaça, varrendo o terreiro, alimentando os porcos e galinhas, que por sorte andavam livres pelo terreiro, diminuindo suas tarefas, o moleque pé-de-vento estava correndo de um lado para os outro pelas ruas do lugarejo. Metia-se nas conversas, ora enxotado, ora afagado, carregava sacolas na feira, sentava na calçada para ouvir o velho cego que tocava pífano na porta da igreja em troca de alguma moeda. Ajudava as lavadeiras com suas trouxas rumo ao rio, pegava na vassoura junto com o coroinha depois da missa para deixar o adro da matriz sem pó, ajudava as velhinhas a atravessar as ruas evitando as bicicletas e carroças. Não parava.

Um dia perguntou ao pai por que recebera tal nome, ao que, sem medir sua maldade, Deleutério dissera que era o nome do burro que ganhara do avô. Sem entender a ofensa, deixou de lado até que o Calafeu, filho do dono da venda, perguntou-lhe a mesma coisa. Inocentemente contou a origem do seu batismo - batismo por assim dizer, nuca fora batizado. Virou motivo de gozação da molecada, sem dar-se conta da crueldade por trás.

Dona Dorazilda, a professora, penalizada, tentou consolá-lo, mesmo sem ele nunca ter-se sentido ofendido, explicando que o burro era um animal forte, trabalhador, o melhor amigo do sertanejo. O efeito foi o contrário do esperado pela velha. A partir de então o próprio Aristodemo se apresentava como o menino-burro, orgulhoso, era forte, trabalhador e o melhor amigos das pessoas do lugar. Virou o Ari Burro e a chacota perdeu a força, virou nome.

Ari Burro crescia com um sorriso nos lábios, pernas rápidas, raciocínio pronto e sabendo fazer de tudo.

Um dia chegaram as freiras. Montaram uma escola. Saiam pela periferia daquela periferia catando as crianças mais pobres e as levavam para o semi-internato. Em troca da disciplina rígida, dos ensinamentos puxados de álgebra e gramática, acrescentavam-se os religiosos, de arte, canto e a inseparável palmatória. Davam roupas limpas, cadernos, lápis e três refeições por dia. A última parte interessou a Ari Burro.

Se fosse necessário aprender a ler, a somar e estudar a Bíblia naquelas intermináveis horas em troca de uma comidinha quentinha e feita por mulheres tão limpinhas, estava disposto ao sacrifício.

Não foi fácil domar o xucro Aristodemo. Foram palmatórias e mais palmatórias, vara de marmelo na bunda, puxões de orelha, ficar em pé por duas horas, imóvel, sob o sol quente, castigo de joelho no milho, mas aos poucos as irmãs o moldavam. Ele agüentava pela sopa, o pão, o café com leite, o arroz com galinha à cabidela nos dias festivos e os doces de batata que, volta e meia, aparecia em suas mesas.

Já não se via mais Ari Burro correndo pelas ruas, ajudando a quem precisasse, carregando embrulhos ou trouxas de roupas. As beatas varriam o terreiro da igreja, as velhinhas atravessavam as ruas sozinhas. Nem Deleutério tinha mais chance de espinafrar o filho que, quando em casa, se refugiava no fundo do quintal sob a jaqueira com seus livros e cadernos.

Em sua primeira semana no colégio das freiras, lhe perguntaram o que gostaria de ser quando crescesse.

- Deus.
- Ninguém pode ser Deus, Ele é Único!, assustou-se irmã Anunciata.
- Mas eu quero ser Deus.
- Não blasfeme, garoto, ou vai para o castigo.
- Irmã, a senhora não perguntou o que eu queria ser? Eu quero ser Deus.
- Você não quer ser padre?
- Eu até queria, mas agora eu quero ser Deus.
- E posso saber por que o senhor quer ser Deus?
- Porque ele é rico.
- Quem disse que Deus é rico?
- Eu sei.
- E como o senhor sabe?
- Todo dia o padre não passa um saquinho na missa recolhendo dinheiro do povo e diz que é pra Deus? Se fosse pro padre eu queria ser padre, mas já que é pra Deus, eu quero ser Deus.

Surra de vara de marmelo! Castigo! Um dia sem comer.

Desistiu de ser Deus. Padre já tava bom.

Já no seminário, um dia recostou-se na janela observando a vida na cidadezinha e viu um garotinho pretinho como ele, descalço, vestindo um calçãozinho rasgado e sujo, atravessando a praça correndo em direção à venda do seu Sodó. Pouco depois o garoto saia correndo de novo com um pacote de velas na mão, um sorriso na cara e a velocidade de um alazão.

Algo despertou em Aristodemo. Empertigou-se, clareou o cenho antes carregado como se iluminado por divina luz. O que estava fazendo consigo?

- Ora, ora, ora. Não é que estou me tornando um burro mesmo? Eu não era Ari Burro à toa...

Arrancou a batina, saiu do prédio e voltou à sua vida livre de antes com seu pífano, sua sandália, a pouca roupa e ajudando de verdade as pessoas a quem sempre teve tanto bem e não percebia.

segunda-feira, julho 17, 2006

Vestígios


Vestígios


Vermelho é muito óbvio para se associado a sangue, embora sangue remeta de imediato a coisas ruins, também é pulso, vida.

Negro é associado a noite, luto, tristeza... Mentes negativistas as nossas. Negro é, simplesmente, a ausência das cores. Mas não é o negro uma cor? Melhor não discutir Física e seus conceitos, leis e preceitos. Basta olhar. E pode-se ver o negro, sendo, por isso, uma cor para meu olho nem sempre exato.


O branco mesclado aos dois é o contra peso entre o vermelho da vida e o negro da morte? Não necessariamente. Pode ser um bacurau voando na noite com seu grito estridente rompendo o silêncio de beira-mar. O mar dela.

O respingo rubro à direita da tela, marca de uma vida que não é qualquer, mas de quem sabe do que se trata, de quem vive e nos deixa mensagem. A marca dela em salmoura ao pôr do Sol, da papoula de seus lábios, de seu vestido para a noite branca.

Devaneios, devaneios...





Este texto é um desafio da Cláudia, tremenda artista plástica, poetisa e blogueira. Uma tentativa de decifrar seu quadro. Click no link ou na figura e vá conhecê-la. Vale a pena.




Breve estarei atualizando os links. Senhores e senhoras blogueiros que andam longe dos seus blogs, dêem sinal de vida, do contrário os excluirei, embora sentindo muito, uma vez que vários dos preguiçosos moram aquecidinhos no meu coração, mas não é justo eu remeter pessoas para lugares sem sinal de vida, não acham?

domingo, julho 16, 2006

Cada um acredita no que quer

- Mentir também é pecado, mas tão divertido quanto os outros.

- Dez mandamentos são para os homens. Das mulheres, só as lésbicas têm que obedecer o nono.

-Ainda bem que "o até que a morte os separe" não é levado a sério. Do contrário o assassinato de cônjuges seria a maior causa de mortes no Ocidente.

- Se a beleza fosse fundamental os chineses não adorariam Buda.

- O primeira carteirada da humanidade foi usada por Jesus Cristo que costumava se apresentar como "o filho de Deus".

- Estou ficando sensato demais. Hoje, antes de contar uma piada sobre Jesus Cristo, perguntei ao padre se podia.

- Não consigo entender os judeus. Eles se protegem tanto,mas negam a santidade de Jesus, um dos seus.

- Há anos ganhei de um irmão "A Decadência da Mentida e Outros Ensaios", de Oscar Wilde. Até hoje me pergunto se foi uma indireta.

sábado, julho 15, 2006

Redondilha maior... Parece pré-requiso de seleção para dançarina de gupo de axé.

quinta-feira, julho 13, 2006

Cena de boteco


Botecadas


Uma das coisas que os homens fazem e que a maioria das mulheres não entende e não aceita, é o gosto por botecos. Elas acham que vamos lá pela cerveja e para falar por mulheres. Nada disso. A cerveja é pretexto e mulheres, só se aparecerem e as dos companheiros, sobre quem ouvimos queixas ou elogios.

O que nos leva ao boteco é o bate-papo. Mulheres conversam no cabeleireiro ou ao telefone, homens conversam no boteco. A diversão garantida e barata, muitas vezes melhores que os filmes que elas insistem em assistir tentando amolecer nossos corações moles e fantasiados com carapaças. E o aprendizado.

No bar do Merônio, por exemplo, não se pode ficar imune às filosofias nem sempre profundas e às verdades nem sempre irrefutáveis.

O dono do boteco, percebe-se à primeira conversa, não é nenhum semi-analfabeto bronco e grosseiro. Muito pelo contrário. É um leitor voraz e pensador auto-didata, como gosta de se definir.

São de cunho do cearense Merônio:

- Ninguém quer envelhecer, mas a maioria quer que o tempo corra. Nenhuma das duas coisas é possível.

- Tinha tanta mulher mau humorada que o preço do absorvente dobrou.

- Filha minha só sai com quem eu deixar, ou quem tiver a peixeira maior.

- Casar com mulher da vida é bom, só que dura pouco. Toda vez que passa um homem na rua, ela sente saudade de suas raízes.

- Homem só trai numa ocasião: quando está respirando.

- Sujeito esperto foi o Vinícius de Moraes que engarrafou o melhor amigo e bebeu.

- Era tão pobre que abria a lata de sardinhas e soltava as bichinhas na caixa dágua para se produzirem.

- A única vez que bati numa mulher ela foi parar no hospital. Me levava sopinha todos os dias, a santa.

- Só perde pênalti quem joga; só leva chifre quem tem mulher.

- Eu só menti uma vez na vida. Foi quando minha sogra perguntou se ela era bonita.

- Na minha terra só tem dois tipos de corno: o que você conhece e o que ainda não lhe foi apresentado.

- Burraé a mulher que vai pedir conselho matrimonial ao padre. Ele usa saia, mas nunca teve marido.

- Eu não sou alcoólico, sou alcóofilo.

- Quem se gaba de ser um sujeito letrado, não é inteligente. O sujeito inteligente sabe mais que as letras.

- O pai da minha mulher só deixou eu casar com ela depois que o convenci que sabia o segredo de fazer filho homem. Tive quatro meninas. O velho nunca mais falou comigo.

- Homem que vai a puteiro deve ter suas raízes lá.

- Três coisas deixam qualquer cidade bonita: lagos, luzes e muito verde. Basta uma para estragá-las: pessoas.

- Só não o mandei tomar no cu porque não gosto de receber agradecimentos.

- O sujeito é mais mentiroso que advogado.

- Viado rico usa Rolex.

- O escritor é tão inseguro ou tão presunçoso que coloca suas palavras nas bocas dos outros, até mesmo nas daqueles que nem existem.

Da próxima vez que seu marido ou namorado for a um boteco, vá com ele. Satisfação garantida ou você nunca mais volta. Ele voltará.

terça-feira, julho 11, 2006

A Maternidade, Pablo Picasso


Quase Pai


O bebê nasceria a qualquer momento. Adanálio alertou os colegas de trabalho e os chefes que, assim que a esposa telefonasse dando o alarme, deixaria tudo como estivesse e partiria correndo, não perderia por nada o parto de seu primeiro filho.

Precavido, durante toda a semana voltava para casa pelas ruas que denominava rota de fuga, ruas laterais onde o trânsito era bem menor que o das grandes vias. O trajeto ficava um pouco mais longo, mas poderia ser percorrido em vinte minutos, enquanto que pelas vias principais poderia levar quarenta minutos ou mais. Familiarizava-se com cada buraco, esquina, semáforo.

O expediente matutino estava no meio quando o celular tocou.

- Amor, vai ser agora.

A mensagem curta sequer foi ouvida até o final. Pulou da cadeira gritando "ta na hora!". Estabanado saiu correndo do escritório em direção aos elevadores antes dos colegas recuperarem-se do susto com o grito que quebrara a calma habitual.

- O elevador! Segura o elevador!, bradava durante a corrida.

Para sua sorte a porta abria-se no justo momento. Entrou, a porta fechou-se. Estava subindo.

- Droga!

Apertou o botão 6 do andar imediatamente superior. A porta abriu-se mais lenta que sempre. Saltou. As escadas. Desceu como um atleta de cem metros rasos. Passou a toda pelo saguão, pela portaria, pela porta rumo ao estacionamento.O carro na vaga 1. As chaves! Esquecera-as no bolso do paletó pendurado na cadeira. Cérebro rápido como um ladrão, pega o celular e liga para o escritório. Os dois toques antes do atendimento pareciam um ano.

- Sanderléia, rápido, esqueci a chave no bolso do paletó. Rápido! Joga pela janela.

Sanderléia prestativa, mas com um raciocínio lento, esbaforida abre a janela, vê Adanálio na calçada fazendo gestos como um operador de taxiagem, não entende os que sinalizava o quase pai, atira o paletó com a chave no bolso.

Aberta ao vento, a roupa faz acrobacias e cai sobre a marquise, lenta como um pára-quedas. Xingava enquanto corria para a portaria, "mulher burra!".

O porteiro não entendia nada pela segunda vez em poucos minutos ao vê-lo passar como um raio. Nada de elevadores. Escadas subidas de dois em dois degraus. Corredor. Abre a porta da sala de espera do escritório do advogado num supetão. A secretária solta um grito, atira os papéis que segurava para o alto, tropeça no bebedouro derrubando o garrafão quase cheio que se arrebenta no chão. Cachoeira mineral que alaga o carpete e os documentos.

Em sua carreira irrompe o escritório. O advogado, em choque, vê sua peruca voar enquanto despenca da cadeira aos gritinhos. A cliente idosa reage apenas com o esbugalhar dos olhos e a cara de pânico. A janela travada por causa do ar condicionado. Pega a cadeira vazia do advogado, agora encolhido no canto da sala em posição fetal, e a arremessa contra o vidro, lançando cacos em todas as direções e o barulho de um trovão seguido da sirene do alarme.

Salta para a marquise, pega o paletó. Tem vontade de se jogar dali direto para a rua, mas, sensato, percebe que altura não recomenda. Salta de volta para o escritório. Na porta já coalhavam curiosos. A secretária histérica grita "pega! Pega!". O contador tenta segurá-lo, a dentista, o office-boy, a pequena multidão. Com os braços agitados como um nadador frenético, tentava se desvencilhar enquanto berrava "sai! Meu filho vai nascer!". O cotovelo acertou um nariz, o dedo entrou num olho, a palma da mão acertou uma orelha, viu uma dentadura voando.

Sob impropérios e palavrões a escada que desceu voando. Portaria. Uma peitada no moto-boy jogando cada um para um lado aos tropeções, reequilibra-se como Pelé e vê um capacete no ar seguido por dois envelopes. Calçada. Estacionamento.

- Moto-boy filho de uma égua!

Xingava não pela trombada, mas pela moto estacionada fechando seu carro. Tentou arrastá-la. Não conseguiu, as rodas travadas. Atirou a moto no chão e, com uma força que não sabia ter, afastou-a para longe do caminho dos pneus. Abriu a porta, atirou o paletó no banco do carona e partiu a mil. Ainda pôde ver a turba saindo pela portaria à sua caça.

Viraria à direita no primeiro semáforo. Fechado! Um ano para abrir e os carros da frente impedindo que cometesse uma infração. Abriu. Vira. Acelera.

Como previra, o trânsito era tranqüilo naquelas ruas. Poderia aumentar a velocidade, na maioria vias preferenciais. E se houvessem crianças brincando na rua? Um cachorro? Um velhinho atravessando? Corria apertando a buzina com força desejando que fosse uma sirene.

Voava pelo asfalto liso. Ao passar por uma esquina, teve a impressão de ter visto um policial numa moto na transversal à direita. Estava certo, era um policial que se apresentava à sua retaguarda, sirene e luzes ligadas.

A cidade estava muito violenta, a polícia muito tensa. Melhor parar para não correr o risco de receber um tiro de um policial afoito que já se comunicava pelo rádio, provavelmente pedindo reforço, via pelo retrovisor. Seta para a direita, reduz a velocidade e encosta no meio-fio. O policial pára alguns metros atrás, saca a arma, agacha-se atrás da moto.

- Rápido, seu guarda, rápido. Multa logo e me libera, falava entre dentes.

- Abra a porta devagar e saia do carro, gritava o policial.

Pombas! Tem que ser devagar?. Obedeceu, mãos para o alto.
Ele não queria sair devagar, desejava apressar as coisas, mas não faria nada impensado que pudesse fazer seu filho nascer órfão de pai.

O policial com a pose de autoridade que é peculiar à função, talvez esperando uma oferta de propina que não viria jamais do correto Adanálio, ou apenas exercitando o poder, dava sermão e multa. Inquieto o quase novo pai ousou interromper e explicar que a esposa o aguardava para que a levasse à maternidade, daí tanta pressa.

- Por que o senhor não disse antes? A minha também está grávida e eu imagino seu desespero. Não se desespere, cidadão! Siga-me que lhe farei a escolta, falava de peito inchado o policial do alto do seu coturno e importância.

Agora eram dois sem freio pelas ruas do bairro: o policial, sua moto e sua sirene, e Adanálio com seu desespero e a camisa empapada de suor.

Oitenta, cem quilômetros por hora pelas ruas estreitas. Os poucos carros que vinham à frente encostavam ao som e luzes da polícia. Agora as coisas estavam quase perfeitas.

Malditos vândalos! Roubaram a tampa do bueiro!

O policial viu a tempo de reduzir a velocidade, mas não de evitar a queda. Saiu catando cavaco pelo asfalto, moto estraçalhada quicando sem rumo, a freada brusca de Adanálio que mal espera o carro parar e já salta correndo em direção ao policial deitado que mantinha a pose de herói:

- Vá, cidadão, sua esposa precisa mais do senhor do que eu nesse momento.

Com o celular na mão e ligando para o serviço de ambulância, Adanálio sabia que não poderia abandonar o soldado sozinho sobre o asfalto fervente e sob o sol escaldante.

Já juntava gente. Turba, burburinho, os moleques depenando a moto, as velhas e seus "coitadinho", os inventores de histórias e suas várias versões, o calor infernal e nada de ambulância.

Juntos chegam o socorro e a rádio patrulha. Pressa no socorro, vagar nas explicações. O próprio guarda ferido fala a um colega o ocorrido, ajudando a liberar Adanálio.

Dificuldade em se livrar da multidão. Atenção no caminho, velocidade controlada e nervos quase. Nada mais poderia dar errado. E não deu. Caminho livre e sereno até o edifício onde morava no oitavo andar.

"Olá" para o porteiro, corrida até o elevador, aperta o botão e a luz não acende.

- Tá sem energia, doutor, faltou agorinha.

Escada. Por sorte não parara com o futebol domingueiro, o preparo físico seria essencial. Subida, dois em dois degraus, oito andares. Rezava enquanto subia.

Na porta do apartamento o bilhete curto e duro: "Fui de táxi, seu irresponsável!".

Exausto, sentou-se no chão, recostou-se na porta, respirou fundo e tomou uma decisão definitiva e irrevogável:

- Vasectomia.

segunda-feira, julho 10, 2006

Despedida

Retrato de Despedida


A dor lhe deu uma infindável missão. Talvez não; talvez ele próprio tenha tomado emprestado da dor essa culpa. Acreditava que o amor era um só como acreditam os jovens que, quando abandonados, imaginam que o mundo tenha acabado junto e, por autopiedade, alimentam a perda até a própria dor exaurir-se, cansada do alimento excessivo. E a vida encarrega-se de apresentar outro e mais outro, tantos amores no decorrer do tempo.

A sua dor, porém, era insaciável e tão insegura quanto ele próprio. Recusava-se a abandoná-lo. Havia um comensalismo entre a dor e seu dono. E ele criou seu próprio poço das Denaides, não permitiria que aquele amor fosse substituído.

Com afinco e sem pressa, fabricou a moldura, comprou o pano, encerou, montou a tela. Pesquisou e criou as suas tintas e pincéis, os mais finos, com menos pêlos, que conseguia fazer.

Não precisava de rascunho. Fechava os olhos e nas pálpebras fixava a imagem daquela que amaria para sempre e com os pincéis fabricados com os próprios cabelos, pasou a pintá-la. Seria a pintura eterna.

Durante todo o dia diante do cavalete, mal conseguia pintar dois fios da cor e do formato dos cabelos que ela mostrara pela última vez.

Os dias passavam-se, as semanas passavam-se, os meses, os anos. Muito lentamente a pele branca e viçosa se mostrava, o nariz, os lábios finos num leve sorriso mostrando seu batom rosa de quase menina, o pescoço fino e longo, o colo... Anos, muitos anos. Não se formava a imagem de uma pintura, mas a mais fiel fotografia. Deixara por último as sobrancelhas, fininhas, delicadas.

Em suas têmporas os fios brancos abundavam enquanto os cabelos dela mantinham o imutável castanho. Fio a fio fez as linhas negras acima dos olhos.

Trinta e quatro anos depois do início, todos os retoques feitos e refeitos até a perfeição, o quadro pronto e terminado, ele o colocou sob o braço, iria entregar a ela como o último presente.

Atravessou a cidade a pé, abriu o enorme portão de ferro, ajoelhou-se diante da amada esquecida por tantos e eternizada por ele, depositou o quadro sobre a lápide negra em que se lia o nome dela corroído pelo tempo e deitou-se ao lado, pronto para encontrá-la na segunda parte da eternidade.

sábado, julho 08, 2006

Portrait Of Caroline Blackwood

Outra Língua


Depois do expediente, como de praxe, os amigos reuniam-se no barzinho da esquina. A animação do final de uma semana a mais de ganha pão e cansaço era comemorado efusivamente aos primeiros goles da cerveja gelada e, aos poucos, os grupinhos iam se formando. Por afinidade ou por interesses as mesmas turminhas de todas as semanas separavam-se aos pouquinhos e a conversa, antes animada, deixava de ser festa e virava bate-papo.

Alguns mais estressados não deixavam de falar do trabalho, da nova conta que teriam que conquistar na segunda-feira; as casadas não evitavam discernir sobre os últimos acontecimentos do lar, o filho que crescia bonito e inteligente, a empregada que não sabia cozinhar, a desconfiança que o marido tinha uma amante; as solteiras não cobiçadas pelos colegas agrupavam-se para combinar a balada desta noite, quem ficaria com quem, Astrobaldo iria?, Celineide estava ficando com Valdiomírio ou já estava com Garvanil?; as mais atiradinhas e desejadas viam-se cercadas por aqueles que as queriam e lhes faziam a corte, eles na esperança da conquista, elas na certeza que os despachariam na primeira oportunidade; os três mosqueteiros, Berlindo, Cariosso e Brólio, recepcionavam o novato Bugio, assim apelidado por ter vindo do Mato Grosso, Ijuína, pela primeira vez na cidade grande.

Para enturmar o colega, fofocavam sobre as vidas dos demais. Gracejos, piadas, indiscrições eram a pauta. Berlindo, o mais falador, começou a falar sobre Birdiana, a gostosa séria que para ninguém dava conversa.

- ... aí descobri que o namorado dela é médica, continuava seu relato.
- Era médico, tentava corrigir o ingênuo Bugio.
- Não, médica mesmo.
- Saquei. E aí?, o interessado Cariosso não segurava a curiosidade.
- Daí eu cheguei...
- Peraí. Por que médica e não médico? Você não estava falando do namorado dela? Não se conformava Bugio com a aparente discordância de gêneros.
- Isso aí. O namorado dela é médica.
- Como? Ta maluco? O namorado, masculino; médica, feminino. Essa concordância ta errada, rapá.

Os outros dois que haviam entendido o sentido da colocação de Berlindo, gargalhavam da inocência do matogrossense.

- Que é? O que foi que não peguei?

Lógico que Bugio sabia o que eram lésbicas, da tv, dos filmes, das novelas, mas jamais havia tido contato com uma, imaginava ser algo das ficções. Não conseguia acompanhar o raciocínio de Berlindo.

É mais ou menos como o pessoal do Sudeste ou Sul ouvir falar que no Pará se come pato no tucupi, achar uma coisa normal, existe, sim, deve ser gostoso e coisa e tal, mas não saber reconhecer o prato quando deparar-se com ele. As informações, assim como na escola, são incompletas se não se conseguir tatear, não tiver contato direto com a coisa ou situação.

O professor de história fala que os navegantes portugueses corriam sérios riscos de contraírem beribéri e cobrava isso na prova, mas quem sabia o que, de fato, é beribéri? Não interessava, ninguém tinha beribéri que mais parece nome de fruta amazônica. Lésbicas, para Bugio, era beribéri. Algo de livros e não palpável.

- Pára e pensa, Bugio. O namoradO, sacou?, é médicA, sacou?
- Pra mim continua sendo um assassinato da gramática.
- Que moleque burro! Ela é lésbica, mané, e está namorando uma médica!
- Uai! Lésbica?
- Nunca viu uma lésbica não, capiau?
- Eu não. Pensei que elas fossem parecidas com machos, cheias de pêlos, falando grosso, cabelos com corte militar... Vocês tão de sacanagem, é trote no novato... Saquei.
- Que trote o quê! Você vai ter muito o que aprender sobre a cidade, ô, da roça.
- É verdade, então? Ela é lésbica mesmo? com os olhos arregalados e ainda incrédulos, Bugio não conseguia esconder seu assombro.
- Ih! Tem mais um monte lá na firma?
- Pô, mas ela é tão bonita, delicada, cheirosinha... Eu tava até pensando em dar uma encostada, convidar para um cinema, sabe como é?
- Ué, convida, ela é gente boa. Só não chama pro motel.
- Eu hein? Vai que ela topa e quer dar uma de homem pra cima de mim?

Os estereótipos estavam arraigados no imaginário do ingênuo Bugio que não teve como escapar das gozações implacáveis dos colegas.

Trabalhando diretamente sob a coordenação de Birdiana, Bugio evitava olhá-la de frente a partir da segunda-feira, esquivava-se inventando algum afazer urgente quando se via só com ela na sala, olhava-a de soslaio por trás da pasta que abria para disfarçar sua curiosidade, na esperança de vê-la coçar o saco em público.

Birdiana percebendo as fugas nada dissimuladas do colega, querendo entender o que se passava, chamou-o à sua sala e mandou que fechasse a porta quando entrasse. Ofereceu-lhe uma cadeira em frente à sua escrivaninha e foi direto ao assunto.

- O que está havendo, Bugio, por que você está estranho comigo?
- Nada, não, impressão sua, tentava disfarçar o rapaz, incomodado na cadeira, como se fosse um catre de faquir.
- Vai, fala comigo. O que aconteceu? Fiz alguma coisa que o ofendesse?
- Não, senhora, quê isso?, apressou-se.
- Você está insatisfeito aqui, quer mudar de sessão?
- Se a senhora não se importa, gostaria, sim.

No dia seguinte, foi enviado para o setor de correspondência. Ao apresentar-se, foi recepcionado pelo chefe, Flaurínio, que o recebeu com incontida alegria.

- Ai, que lindo! Até que enfim um homem bonito nesse departamento. Sente, querido, você vai ser meu assistente direto.

sexta-feira, julho 07, 2006

Tudo passa, menos a ameixa que é fresca.


Angeli, Folha de São Paulo

Início da campanha eleitoral, hora de trocar os cotonetes por papel higiênico.




Ohoooohhhhh! As tarifas telefônicas vão baixar de 0,3% até 0,5%! As telefônicas são tão boazinhas... Assim vai sobrar uma graninha pra eu comprar aquele botão que caiu da minha blusa há três anos.




Por falar em telefônicas, essa semana recebi uma ligação surpreendente da TIM. Sem mais nem menos, me ofereceram um desconto de 50% na assinatura do meu celular. Escaldado, perguntei qual seria minha contra-partida. Nenhuma, disseram eles, apenas eu me comprometeria a manter minha linha por mais um ano. Só isso? Só isso. Não preciso mudar de plano? Não. Não tem nenhuma pegadinha? Não, senhor. Como eu não tinha nenhuma vontade de me desfazer do meu celular, da minha concessionária e nem de plano, aceitei. Mas juro que ainda estou desconfiado, eles estão me preparando alguma... É bondade de mais...




Além de assassinarem os agentes penitenciários, os bandidos paulistas estão apelando para bombas dentro de trens. Pelamordedeus, onde estão as autoridades?

Caramba!, não há mais nada que qualquer cidadão de bem desse país já não tenha falado indignado contra o que está se passando e os políticos, principalmente os parlamentares federais que agora só trabalharão três dias por mês, fazem ouvidos de mercador e não fazem nada! As leis são velhas, o sistema penal é uma sucata,até a polícia já tem medo de sair nas ruas, o Código Penal é altamente benevolente com os marginais e ninguém se mexe?

QUE PORRA É ESSA! Chega de passeatas e protestos pacíficos! Tá na hora de pressionar as autoridades no corpo a corpo, assim como eles fazem conosco quando querem nossos votos. Somos nós que estamos precisando dos votos deles, nesse momento.

Chega de discursinho do tipo "queremos justiça", "sou da paz", "direitos humanos para os homens de bem"! Ao terminar esse post, vou começar a enviar mais e mais e-mails para os parlamentares, exigindo que se mudem as leis e não vou ser nala macio com as palavras. Não me convidem para passetas, nem para manifestos vazios, mas pra ação direta, estou pronto!




Um juiz me confessou que os parlamentares são uníssonos no discurso que nossas leis são boas, quase perfeitas e blá-blá-blá por um motivo muito simples egoista: mudando as leis, o Código Penal, a Constituição, eles teriam que voltar a estudar para atualizarem-se e as velhas práticas que vêm desde Ruy Barbosa, teriam que mudar. Os magistrados teriam que investir em cursos, além de despacharem os zilhões de processos que mofam sobre suas mesas. Por puro corporativismo, não vemos os juízes manifestarem-se contra a lesgislação em voga. Mais um absurdo e todos calam.

quinta-feira, julho 06, 2006

Acabaram com a tristeza; hoje tudo é depressão.


E a gente paga a conta

Os franceses assassinaram o português mais do que os cantores de rap, funk e hip-hop.




Um estudo encomendado pelo PFL conclui que o governo Lula investe mais em propaganda do que em saneamento básico. Isso não é nenhuma novidade no Brasil, desde Collor que todos os governos investem mais em propaganda do que em saneamento e outras atividades essenciais. O que diminui o impacto do estudo é ele ter sido encomendado pelo PFL, partidinho vagabundo de gente vagabunda que há anos contribui para a falta de crescimento do país. É o roto falando do mal vestido.




Ó pa isso: "Criminoso assasina sargento da PM em São Paulo", da Folha On-Line. Sinto pelo sargento e sua família, mas me refiro à manchete em si. Alguém conhece alguém que não tenha matado outro alguém e o alguém matador não é um criminoso? Esses jornalistas...




A interpelação judicial de Diogo Mainardi contra Lula foi arquivada pelo Supremo Tribunal Federal. A interpelação proposta por Mainardi deveu-se à uma declaração de Lula, quando estava na Áustria, referente a um artigo na revista Veja. "Não sei se o jornalista que escreve uma matéria daquelas tem a dignidade de dizer que é jornalista. Poderia dizer que é bandido, mau caráter, malfeitor, mentiroso", disse Lula. Convenhamos, Lula pegou pesado, mas qualquer bigorna na orelha do babaca do Mainardi é pouco. Tendencioso e derturpador da verdade, Mainardi tem feito fama apelando para o que eu chamo de "populismo para a elite". Ele usa a pena para fazer o mesmo discurso que os comunicólogos semi-analfabetos como vários que encontramos por aí, por exemplo Datena e Ratinho, só que para ser deglutido pelos amigos tucanos, pefelistas e que tais. O tal Mainardi não teria minha confiança nem para cuidar do cachorro que eu não tenho. Mais uma do roto falando do mal vestido.




Onde está Ronaldo? Passeando em Nova Iorque com a namorada, aquele saco de ossos. Quando o Brasil perdeu a Copa na França, depois de uma bicicleta mal dada dentro da área por Roberto Carlos, o lateral esquerdo da seleção tentou calar a imprensa dizendo que o relógio que usava no pulso era mais caro do que o apartamento dos jornalistas, ele usava um apartamento no pulso. Se relógio ganhasse jogo, a Suíça era imbatível; se dinheiro ganhasse Copa, os Estados unidos seriam eternos campeões. Indo pelo mesmo raciocínio do colega, Ronaldo foi amenizar a mágoa em algum McDonald's da Big Apple ou fazendo feira na Sack's. Por outro lado, o lateral Gilberto teve seu carro popular, um Audi, rebocado no Rio por não ter pagado o IPVA de 2002. Tadinho... Quero que Zidane!

terça-feira, julho 04, 2006

A mentira é boa quando a verdade é feia.


Duke - Supernotícia, MG


Sophia Loren parece muito com uma amiga minha. Depois que percebi essa semelhança, Sophia Loren deixou de ser bonita. Minha amiga é feia, chata e tem uma das vozes mais irritantes que já ouvi, mas é minha amiga, e daí? Hoje leio que Sophia Loren estuda proposta de posar nua, nada demais para os dias atuais se Sophia não tivesse 71 anos. Eu não gostaria de ver minha mãe ou minha avó nua,por que veria Sophia Loren. Sophia foi bonita, deixou de ser bonita, hoje é feia e ridícula.




Almodóvar ganha mais um prêmio com seu último filme, ou melhor, mais recente filme. Honestamente, não vejo nada demais nos filmes do Almodóvar a não ser ele fugir dos lugares-comuns do cinemão hollywoodiano. Sei que terminei de dar a testa a pedradas, mas completar o massacre, acrescento: não vejo graça nenhuma nas fontes de sangue de Quentin Tarantino. Agora, sim, podem me xingar e atirar os paralelepípedos.




Adoro a liberdade de expressão! Adoro a liberdade de expressão nos Estados Unidos, os xerifes da liberdade no mundo, os paladinos da democracia! Pois o ex-marido da Jenifer Lopez foi proibido de lançar um livro em que contava "causos" da época de casado. Eu jamais compraria tal livro, como sequer li um dos milhares sobre a vida íntima de qualquer estrela ou não do shoubizzz, mas acho uma afronta proibirem quem quer que seja escrever sobre o que quer que seja. Lê quem quiser e quem não quiser ver suas aberrações nas livrarias que se comporte como gente, uai.




O Zico já tem emprego. Será treinador do Fenerbahce, da Turquia. E tome grana! E olha que tirar grana de turco não é fácil...




O que os comerciantes farão com toda aquela montanha de material verde-amarelo que adquiriram na esperança de que os desocupados milionários fossem mais longe? Será que estraga se guardarem até o Pan-Americano ou até 2010?




O Tribunal de Contas da União divulgou uma lista com 2.900 nomes de políticos e juízes inelegíveis nas próximas eleições, todos por mau uso do dinheiro público. Cadeia e ressarcimento da dinheirama desviada, nem pensar... O governo é um agiota tão bonzinho, nem quebra as pernas de seus devedores, que, diga-se de passagem, devem a cada brasileiro.




A eleição do México deve dar origem a mais uma novela que o SBT deve comprar e apresentar em horário nobre, antes do Programa do Ratinho.

domingo, julho 02, 2006

Casamento caipira - Clóvis Graciano

Conversa na Calçada


É verdade, sim, sinhô, seu moço. Eu fui muito ruacêro na minha juventude, o sinhô nem magina. Mai sempre fui dereito, sim sinhô. Era eu e meu cumpadi Secundino os mais ruacêro daqui. Todo dia nóis fazia arte cum povo daqui, só por arrelia, pá dexá o povo neuvoso.

O povo ia pá quermesse pá mó de dá dinhêro pu pade, nóis ia pá mexê cum as moça, mai num era quarqué moça, não, só cum as que tinha namorado, só pá mó de vê o cabra ficá sortando fogo pelas venta. Daí, quando ele vinha tomá sastifação, nóis abraçava ele, dizia que era brincadêra e terminava ficano amigo, inté tomava umas pinga junto pá comemorá.

O Secundino casô premero que eu. Ficô engraçado com a cumade Eleutéra e quetô. Eu fiquei sem o amigo das pândega, mai continuamo amigo. Pu sinhô vê como eu sô dereito e num gosto de malaquiage, o cumpade Secundino mandô a fia mais véia dele instudá na capitá. Só que ela num instudava nem nada, ela virô rapariga, meu fio Quedim que discubriu. E meu cumpade Secundino todo babão da fia que tava fazeno iscola de dentista em Salvadô. Era dotôra Valdicéa pá cá, dotôra Valdicéa pá lá, inté que um dia encontrei o Secundino no Corrêo, ele ia mandá dinhêro pá ela comprá os negóço de dotôra lá dela. Todo mêis ele vendia uma vaquinha pá mó de mandá dinhêro pá fia rapariga lá dele. Eu sô dereito e num gosto de malaquiage. Contei pu Secundino que a fia dele num instudava pá dotôra nem nada, era rapariga de déis conto, lá isso era. Ele nunca mais mando dinhêro pá ela e nem inscreve mais carta. Num tô certo? Tô certo, sim. Se tô!

Isso dexô o Secundino véio. Ele tem o mesmo tanto de ano que eu, mai tá muito mais véio.

Eu num gosto de véio, num gosto, não. Véio tem umas mania besta. Pu exempro, o sinhô é meu fio? Não, o sinhô num é meu fio, num é mesmo. Num sei nem quem é sua mãe, como é que o sinhô é meu fio? Se bem que uns minino instudado me disse que os cientista inventaro um jeito de fazê fio sem fazê indecença com a muié. Um tal de bebê de vrido. Tem ôtro nome lá, mai só me alembro desse negóço de bebê de vrido. E minhas coisa é lá garrafa pá eu fazê bebê de vrido? Deus me deu minhas coisa pá mijá e fazê fio em muié, não em garrafa de vrido.

Apois intão, véio tem mania de chamá todo moço mais novo de "fio". O Secundino chama os moço tudo de "fio", "fia". Meus fios são o Quedim, a Maluza, o Zequeu, a Diocéa, a Varmira, o Zabuco, a Hélia e o Setembrino. Eu tenho um ôtro fio, mai num é bem meu fio. Tinha uns tempo que toda vêiz que eu quiria fazê indecença, minha muié Faliça inventava uns calô estranho. Num era calô nem nada, acho que ela tava ficano véia tomém e num quiria mais brincá, perdeu o gosto. Aí eu fui lá na casa das minina e cabei emprenhando a Saldiva, uma rapariga de lá. Diz ela que o fio é meu, o dotô tomém feiz um inzame de deneá e falô que é meu. Mai o menino é mai fio dela que meu. Fio de rapariga, o sinhô sabe. Hoje ele é vereadô. Fio de rapariga nunca fais nada dereito, taí o Quinzinho, virô político. Coisa de fio de rapariga. Num dá nada certo. Dá? Num dá.

A Faliça, adispois que a Saldiva imprenhô, remoçô. Passô os calô lá dela e hoje ela já gosta de fazê imoralidade de novo. O bão é que num pode mais imprenhá.

É bom tê fio, mai na nossa idade, magina tivesse um minino agora... Quando ele compretasse dez ano num ia mais tê pai pá brincá com ele, como é que eu ia jogá bola com ele, insiná ele a muntá no potro, insiná ele a caçá preá? Num pudia, pudia? Num pudia. Mió num tê mais fio, Deus sabe o que fais.