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sábado, abril 14, 2007

Justiça

Coisas da Corte

Silvio e Silvia são irmãos. Ela tem 19 anos e ele, 17. Rena e Juninho Carroceiro são amigos dos dois desde a infância, estudaram juntos com Silvio. Rena tem 16 anos e Juninho é o mais velho dos quatro, tem 18.

Aos quinze Silvio teve um namorinho rápido com Andréia, coisinha rápida, sem conseqüência, mas ele ficou com um gostinho de quero mais depois que o namoro acabou. Andréia partiu para outra e passou a namorar com Rena, com quem se amasiou com pouco tempo de relacionamento.

Um dia Silvio chega à casa de Soraya e é recebido por Rena que, saindo do quarto, lhe atira, com ar de galhofa, um preservativo recém usado. Vendo ali a oportunidade de passar a perna no amigo e reconquistar Andréia, ele conta a ela que Rena a traía, que ele não a merecia. Que ela deveria romper com Rena, arrumar suas coisas e mudar-se para a casa de Silvio. Mas o tiro saiu pela culatra.

Andréia, magoada, tentando mostrar ao amante que também despertava desejos em outros homens, contou o assédio que sofrera de Silvio para Rena, que sentiu o ódio do ciúme.

Paralelamente a isso, sumiram 150 reais que Rena havia conquistado com os bicos que fazia no bairro da periferia. Juninho desconfiava que o autor do roubo fora Silvio e foi à sua procura. Silvio o recebeu com uma ameaça. Se Juninho contasse alguma coisa a Rena, Silvio o mataria. A amizade de criança entre os três estava profundamente abalada justamente por dois dos motivos mais comuns para se acabarem amizades: dinheiro e ciúme. O desfecho trágico ocorreu em fevereiro de 2005.

Como era comum, naquela tarde, por volta das quatro horas, Rena passou na casa de Silvio convidando-o para uma pelada de futebol na manga de uma fazenda ali perto. Aceito o convite, saíram os dois pelos becos do bairro, encontrando-se com Juninho mais à frente. Passaram pela cerca da fazenda e caminhavam pela picada aberta entre os arbustos, Silvio à frente, cada vez mais à frente. De repente percebeu que os dois amigos não o acompanhavam. Sentindo vontade de urinar, parou. Faria xixi enquanto aguardava os amigos. Virou a cabeça para ver se já se aproximavam, mas o que viu não foi nada agradável e sequer teve tempo para qualquer reação. Rena e Juninho portavam revólveres. O primeiro disparo atingiu Silvio na costa direita, logo abaixo da espátula, logo vieram outros nove. Caído e sangrando, Silvio fingiu-se de morto, na esperança que isso fizesse parar o tiroteio.

Rena aproximou-se e chamou Juninho. Vambora, Juninho, o vacilão já morreu, falou para o comparsa que, por sua vez, deu dois passos à frente e disparou o décimo primeiro tiro em Silvio.

Como se nada tivesse acontecido, voltaram tranquilamente para suas casas.

Silvia viu os dois voltaram e estranhou o irmão não ter vindo junto. Mas não deu grande importância. Começou a preocupar-se à noite. Já escuro, nenhuma notícia do amigo. Naquele bairro esquecido, como muito bairrosem todas as cidades do país, sem iluminação pública, sem o mínimo de segurança, ainda mais com o marido trabalhando como vigilante noturno e com uma filha pequena, Silvia não tinha coragem de sair àquela hora à procura do irmão.

Eram seis horas da manhã, dez horas depois de Silvio ter saído para jogar futebol com os amigos, quando Bio, prima de Rena, bateu à porta de Silvia com a notícia trágica. Silvio havia sido baleado na manga e a polícia o havia levado para o hospital. Desesperada, Silvia pediu à vizinha, justamente a mãe de Rena, que tomasse conta de sua filha, precisava ir ver o irmão que, sabe-se lá por que providência divina, não falecera depois de ser atingido por 11 balas de calibre .38.

Correu até o local onde haviam encontrado o corpo, mas só encontrou uma enorme mancha de sangue. Dali rumou, incontinenti, para o hospital. Encontrou Silvio sendo atendido pelos médicos que limpavam seus ferimentos e avaliavam os danos causados pelos projéteis. Por dez horas Silvio ficara deitado no mato, com onze perfurações no corpo, a coluna destroçada por uma bala, o que evitara que sequer se arrastasse, mas sobrivera.

Perguntado pela irmã sobre quem tinha feito aquilo com ele, Silvio negou-se a falar. Disse a Silvia que temia pela segurança dela, do seu marido e de sua filha. Mas Silvia insistiu e ele contou, pediu que a irmã não fizesse nada, que não valeria a pena. Ele não morrera e ficaria bem.

No bairro, Juninho e Rena, que tinha um irmão envolvido e várias confusões, sendo preso por várias ocasiões, levavam a vida normalmente, como se nada tivesse ocorrido. Juninho trabalhando numa oficina pintando caros, Renafazendo seus bicos, ambos jogando bola e fumando maconha. Mas a polícia começou a investigar o ocorrido, perguntava demais, falava com as pessoas... Apavorado, rena fugiu para Salto da Divisa, em Minas Gerais, levando as duas armas.

Marcelo, amigo de Silvio, ao visitá-lo no hospital, soube pelo amigo quem foram os autores do atentado. Jurou vingar Silvio, mas foi dissuadido pelo amigo a fazer qualquer coisa. Silvio temia que o amigo, sua esposa, a filha, assim como a própria irmã sofressem represálias. Mas Juninho ficou com um pé atrás em relação a Marcelo. Telefonou para Rena e contou-lhe a conversa entre Silvio e Marcelo. Marcelo queria vingar o amigo, compraria uma arma e mataria ele e Rena.

Achando que a poeira havia assentado, apenas quinze dias depois de terem atentado contra Silvio, Rena voltou, juntou-se a Juninho e assassinaram Marcelo dentro de sua casa, na presença de sua mulher, Hérvia, que conseguira fugir, correndo pelo mato.

Hérvia e a mãe foram à polícia e contaram o ocorrido. Com isso Silvia criou coragem e contou aos investigadores o que o irmão havia lhe contado no hospital. Questionado pela polícia, Silvio confirmou.

Rena e Juninho foram presos e essa história toda contada ontem no tribunal. Eu era um dos jurados.

Juninho foi condenado a 9 anos de prisão por tentativa de homicídio, Rena encontra-se sob os cuidados do Juizado de Menores e logo, logo, estará livre para cometer outras barbaridades. Daqui a quinze dias Juninho será julgado pelo assassinato de Marcelo. Silvio, hoje com dezenove anos, encontra-se tetraplégico, sem mais poder exercer sua profissão de eletricista de automóveis, causando transtornos e despesas para a família paupérrima.

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