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domingo, abril 08, 2007

Renato, A Cidade, R. Preto


  • Duas amigas têm algo em comum: a rebeldia, seja com causa ou não. Uma é jovem, seus 22 anos, filha de artistas e funcionários públicos; a outra uma jovem senhora, com 32 anos e mãe de uma menina. A garota viveu num ambiente "alternativo" com tios e pais envolvidos em movimentos populares, componentes de uma banda familiar de músicas próprias com letras voltadas para as questões sociais e regionais; a jovem senhora é filha de um madereiro, devorador da Mata Atlântica que montou uma loja depois que a madeira acabou, e é baterista de uma banda de punk rock. A primeira se veste a la indiana, com batas coloridas, sandálias de couro, roupinhas simples de algodão; a segunda veste-se de preto, acessórios de couro cheios de rebites, correntes e tachinhas à venda em lojas especializadas e com grife de roqueiros, se dizem alternativos, mas custam algo em torno de 500 reais uma bota e seiscentos uma calça camuflada.

    Ambas vomitam jargões iguaizinhos aos que eram gritados pelos estudantes em manifestações da UNE nos anos 70; ambas condenam o capitalismo e as multinacionais, utilizam seus pcs e o Windows XP para propagarem seus panfletos.

    Ambas acreditam que os hamburgueres da McDonald's são feitos de minhocas, sem pararem para fazerem as contas que produzir aquelas toneladas de carne diárias, seria muito mais caro usar minhocas do que vacas, mas não dispensam um trash food na lanchonete da esquina.

    A mais jovem diz-se socialista e sente saudades do velho PT, de que os pais são filiados desde a primeira hora; a outra dizia-se anarquista, sem nunca ter lido sobre a doutrina e nem conhecer sua história, mas é moda entre seus pares o serem e ela não poderia destoar do grupo, até que amigos mais letrados explicaram para ela do que se tratava e la concluiu que não era anarquista, apenas rebelde.

    A mais jovem cursa o terceiro grau e devora livros; a mais velha tem o segundo grau, não gosta de ler, mas acha que sabe de tudo da vida e das nuances da personalidade humana.

    A primeira aprendeu a respeitar as diferenças e, embora não goste e se afaste, entende quem ouça pagode, axé music, Sandy e Júnior...; a mais velha diz que todos aqueles que não têm o mesmo gosto seu são imbecis, idiotas e que deveriam morrer.

    Ambas condenam as datas comemorativas como Natal, Dia das Mães, Dia Internacional da Mulher, Páscoa... Para elas, são datas capitalistas, que servem apenas para explorar os bolsos dos pobres incautos desinformados. Enquanto uma se nega a participar de qualquer uma dessas datas, a segunda ajuda a mãe, católica fervorosa de origem italiana, a vender ovinhos de chocolate para ajudar no orçamento da casa e mandou mensagem para todos os amigos, via Orkkut, desejando uma feliz Páscoa.


  • Pesquisa do Datafolha conclui que 55% dos brasileiros apóiam a pena de morte. Esse número cresceu, desde a última pesquisa, e o culpado é o Estado que não tem dado à população o direito de ir e vir em segurança e não coibe a violência que prolifera mais que rato, que mantém escolas sucateadas enquanto discursa que a saída para todos os males está na educação, que deixa os hospitais à míngua e gasta mais com um presidiário do que com uma criança na escola ou um doente da UTI, que nada faz para endurecer as leis e, pelo menos, diminuir a impunidade. Se nada disso acontecesse, com certeza o resultado dessa pesquisa seria outro.


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