Tinha dois temas me coçando para que eu postasse hoje. Um é relativo ao comentário do Júnior em meu último post. O rapaz se opôs irascivelmente às minhas críticas aos juízes, como se fossem suas excelências entidades sobrenaturais isentas de erros, impolutas por definição e isentas de críticas. Pelo teor das palavras do leitor, imagino que ele tenha alguma relação com algum juiz e preferi não discorrer sobre o tema, afinal de contas, sobre certas coisas é melhor não argumentar contra quem não quer ouvir argumentos ou sequer se dará ao trabalho de analisar as intenções do debatedor.
O segundo assunto é a nota de explicações do MST do Pará em relação aos acontecimentos sangrentos de dias atrás. Os terroristas do campo contrariam a imprensa, as imagens e a inteligência de qualquer brasileiro minimamente informado sobre os métodos e objetivos desse (mal)dito movimento social.
A propósito, a foto que ilustra esse meu post não foi retirada de um site de direitistas reacionários. O ar de guerra, as ferramentas erguidas como armas, o incêndio na lavoura que se vê ao fundo estão no site do PCO, Partido da Luta Operária, furiosos comunistas que apoiam o MST e onde também está o manifesto.
Publico o manifesto na íntegra e dou meus pitacos na cor vermelha:
Em relação ao episódio na região de Xinguara e Eldorado de Carajás, no sul do Pará, o MST esclarece que os trabalhadores rurais acampados foram vítimas da violência da segurança da Agropecuária Santa Bárbara. Os manifestantes ocuparam a fazenda e se recusaram a negociar a desocupação. Por ser de Daniel Dantas, o MST acha-se no direito de apropriar-se, mesmo sendo uma fazenda produtiva, confiscando a propriedade antes da Justiça fazê-lo. Com o aval do governo federal e de várias ONG, o partido de terroristas do campo enverga-se da autoridade cabível, constitucionalmente, ao Poder Judiciário. Os sem-terra não pretendiam fazer a ocupação da sede da fazenda nem fizeram reféns. Assim como vários outros veículos de comunicação, inclusive com vídeos, o Portal na Hora publicou: “A chegada da imprensa no domingo deixou os ânimos ainda mais tensos. Os manifestantes correram atrás das equipes de reportagem para tentar pegar os equipamentos de filmagem dos repórteres e quebrar. O veículo da reportagem do DIÁRIO ficou em poder dos invasores e a equipe foi ameaçada de ter o equipamento fotográfico apreendido.” Nenhum jornalista nem a advogada do grupo foram feitos reféns pelos acampados, que apenas fecharam a PA-150 em protestos pela liberação de três trabalhadores rurais detidos pelos seguranças. Os jornalistas permaneceram dentro da sede fazenda por vontade própria, como sustenta a Polícia Militar. Esclarecemos também que:
1- No sábado pela manhã, 20 trabalhadores sem-terra Pela foto pode-se ver que são muito mais que 20 vermelinhos entraram na mata para pegar lenha e palha para reforçar os barracos do acampamento em parte da Fazenda Espírito Santo, que estão danificados por conta das chuvas que assolam a região. A fazenda, que pertence à Agropecuária Santa Bárbara, do Banco Opportunity, mesmo eles próprios afirmando que as terras são devolutas – algo que cabe à Justiça declarar – reconhecem que as terras, oficialmente, pertencem a uma empresa. Como os petistas e ex-terroristas dos anos 70 gostam de dizer, estão apropriando-se de bens alheios em nome de uma causa. ou seja, a Fazenda Espírito Santo não pode ocupar as terras porque elas pertencem ao estado, mas o MST pode. está ocupada desde fevereiro, em protesto que denuncia que a área é devoluta. Depois de recolherem os materiais, passou um funcionário da fazenda com um caminhão. Os sem-terra o pararam na entrada da fazenda e falaram minha opinão totalmente subjetiva e empírica, reconheço: como esses profissionais da extorsão rural costumam fazer, ainda mais quando armados e em grande número, eles não conversam, eles não pedem, eles impõem, ameaçam e determinam o que fazer em terras alheias que precisavam buscar as palhas. O motorista disse que poderia dar uma carona e mandou a turma subir, se disponibilizando a levar a palha e a lenha até o acampamento.
2- O motorista avisou os seguranças da fazenda, só umas perguntinhas pra eu poder entender: como o caminhoneiro avisou aos seguranças se ele estava com os sem terra? Ou os sem terra estavam carregando o caminhão sem a presença do motorista? Ou os sem terra se apossaram do caminhão deixando o motorista no meio do caminho para poder avisar aos seguranças? estamos façando de uma fazenda nos cafundós da Amazônia onde, muito provavelmente, não há celular e onde motorista não tem celular por satélite. Mas isso é de menos, talvez tivesse walkie-talkie que chegaram quando os trabalhadores rurais estavam carregando o caminhão. Os seguranças chegaram armados e passaram a ameaçar os sem-terra. O trabalhador rural Djalme Ferreira Silva foi obrigado a deitar no chão, enquanto os outros conseguiram fugir se fugiram sem-terra de homens armados, é porque esses não tinham a intenção precípua de atirar.. O sem-terra foi preso, humilhado e espancado pelos seguranças aí seria uma violência quase gratuita por parte dos seguranças. Digo “quase” porque é sua obrigção zelar pelo patrimônio de quem paga seus salários e porque não temos a narração dos fatos que por ventura tenham provocado a fúria dos seguranças. Quem conhece fazendas em terras mais bravias, sabe bem que a truculência é ferramenta determinante para a sobrevivência. Imagino que quem trabalhe de segurança em fazenda em Xinguara (que vive entre conflitos agrários desde a instalação de terroristas por lá nos anos 70) não deva ser gente calma da fazenda de Daniel Dantas.
3- Os trabalhadores sem-terra que conseguiram fugir voltaram para o acampamento, que tem 120 famílias, sem o companheiro Djalme. Avisaram os companheiros do acampamento, que resolveram ir até o local da guarita dos seguranças para resgatar o trabalhador rural detido se houve rapto, mais uma vez caberia aos órgãos de segurança pública resolver a questão. Mais uma vez os sem terra se colocam a fazer atividades que cabem aos órgãos públicos, ao Estado. Logo depois, receberam a informação de que o companheiro tinha sido liberado. No período em que ficou detido, os seguranças mostraram uma lista de militantes do MST e mandaram-no indicar onde estavam. Depois, os seguranças mandaram uma ameaça por Djalme: vão matar todas as lideranças do acampamento Djalme, a exemplo de seu ídolo Genoíno, entregou os companheiros? Só curiosidade. As ameaças dos seguranças poderiam ser sérias ou apenas uma intimidação, afinal de contas a bravata também faz parte do jogo. Cabia aos ameaçados procurar a polícia e denunciar a ameaça, mas eles são polícia, promotor, juiz, advogado e carrasco, colocam-se acima dos órgãos legalmente constituídos. No jornal O Liberal, a ameaça dos seguranças, reportada por um dos sem terra, tem cor diferente: 'Eles humilharam e bateram muito nele antes de soltá-lo. Mandaram ele voltar e nos ameaçando dizendo que tinham munição para enfrentar a gente por três dias', o seguranças diziam ter munição para enfrentá-los, não para assassiná-los.
4- Sem a palha e a lenha,não é por nada, mas palha e lenha tem em todo lugar naquelas matas, determinarem que teriam que ser retiradas da fazendo ocupada é provocação os trabalhadores sem-terra precisavam voltar à outra parte da fazenda para pegar os materiais que já estavam separados. Por isso, organizaram uma marcha e voltaram para retirar a palha e lenha, para demonstrar que não iam aceitar as ameaças. Os jornalistas, que estavam na sede da Agropecuária Santa Bárbara, acompanharam o final da caminhada dos marchantes, que pediram para eles ficarem à frente para não atrapalhar a marcha novamente, eles não pedem, determinam. E o propósito não é evitar que a marcha seja atrapalhada, é usar os jornalistas como escudo humano. Não havia a intenção de fazer os jornalistas de “escudo humano”, até porque os trabalhadores não sabiam como seriam recebidos pelos seguranças. Aliás, os jornalistas que estavam no local foram levados de avião pela Agropecuária Santa Bárbara, o que demonstra que tinham tramado uma emboscada se os seguranças, a mando dos proprietários, haviam armado uma emboscada, imagino que a última coisa que eles gostariam de ter por perto era a imprensa. Se os jornalistas foram em avião da Fazenda ou não, pouco importa no fato de terem sido raptados, ameaçados e feitos de reféns. Um erro não justifica outro.
5- Os trabalhadores do MST não estavam armados no jornal O Liberal: “A nota da Agro Santa Bárbara sobre o incidente enviada ontem à redação afirma que um dos posseiros preso trabalha como pistoleiro na região e já tem ficha criminal.” e levavam apenas instrumentos de trabalho e bandeiras do movimento. Apenas um posseiro, que vive em outro acampamento na região, estava com uma espingarda se houve meia hora de tiroteio, ou a espingarda era uma metralhadora, ou os seguranças são muito ruins de tiro, ou havia mais armas entre os posseiros. Quando a marcha chegou à guarita dos seguranças, os trabalhadores sem-terra foram recebidos a bala e saíram correndo – como mostram as imagens veiculadas pela TV Globo. Não houve um tiroteio, mas uma tentativa de massacre dos sem-terra pelos seguranças da Agropecuária Santa Bárbara.
6- Nove trabalhadores rurais ficaram feridos pelos seguranças da Agropecuária Santa Bárbara. O sem-terra Valdecir Nunes Castro, conhecido como Índio, está em estado grave. Ele levou quatro tiros, no estômago, pulmão, intestino e tem uma bala alojada no coração. Depois de atirar contra os sem-terra, os seguranças fizeram três reféns. Foram presos José Leal da Luz, Jerônimo Ribeiro e Índio volto a frisar a presença da imprensa. duas empresas privadas fazem a segurança da fazenda, alguma delas seria suficientemente estúpida para começar o tiroteio iante das câmeras sem provocação prévia? Difícil de acreditar nisso, dado o histórico de violência em que os sem terra sempre são vitimizados pela imprensa e pela Justiça e os fazendeiros, via de regra, condenados tanto pela Justiça quanto pela opinião pública.
7- Sem ter informações dos três companheiros que estavam sob o poder dos seguranças, os trabalhadores acampados informaram a Polícia Militar por que só então? Talvez, justamente, para fazerem mise-en-scène para as câmeras. Em torno das 19h30, os acampados fecharam a rodovia PA 150, na frente do acampamento, em protesto pela liberação dos três companheiros que foram feitos reféns. Repetimos: nenhum jornalista nem a advogada do grupo foram feitos reféns pelos acampados, todos os veículos representados no local por jornalistas afirmam o contrário mas permaneceram dentro da sede fazenda por vontade própria. Os sem-terra apenas fecharam a rodovia em protesto pela liberação dos três trabalhadores rurais feridos, como sustenta a Polícia Militar.
MOVIMENTOS DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA - PARÁ
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Taí o post enorme e reconhecidamente parcial. De fato, em se tratando de MST nos moldes atuais de sua atuação, de modo algum conta com minha simpatia. Sou a favor da reforma agrária e da liberação de créditos para que se produza no campo, mas não posso achar normal o terrorismo apoiado pelo estado, a tendenciosidade da justiça, o apoio de ONG estrangeiras armando física e ideologicamente os camponeses, a distribuição de milhões de dólares do erário para os líderes do movimento fazerem suas falcatruas a fundo perdido, a profissionalização dos sem terra que vendem os lotes recebidos gratuitamente, muitas vezes para o próprio fazendeiro indenizado com dinheiro público, e depois partem para outro acampamento para repetirem o golpe.
©Marcos Pontes