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terça-feira, fevereiro 27, 2007

Fred, Correio da Paraíba, PB


  • Ri às gargalhadas ao ler os comentários do meu post do último dia 24. Coisas da tecnolgia cibernética... Me lembro que quando guri eu ficava lendo nos classificados dos jornais as orações de agradecimento por uma graça alcançada pelo intermédio de algum santo com boa aceitação no céu e as correntes de umbanda onde se faziam pedidos, ameaças, agradecimentos... E eu me colocava a pensar sobre as pessoas que encomendavam aqueles "recados". Fé, cada qual com asua, e até entendia que as pessoas viam nos santos, gênios, entidades, caboclos e coisas tais o seu bote salva-cidas, mas jamais esperava encontrar o mesmo expediente por aqui. Achei o maior barato, embora não possa deixar de achar engraçado também. Que me perdoem os crentes.

  • Desde a hora em que assisti à notícia, assim que o fato ocorreu, via Globo News, fiquei pensando em como a vida é irônica e a morte tem um senso de humor grotesco. Fiquei pensando naquelas pobres velhinhas, tranqüilas, passeando pelas calçadas de Copacabana, de repente serem surpreendidas - se é que chegaram a perceber o que estava ocorrendo - por uma laje de concreto despencando sobre suas cabeças. É muita crueldade! A pessoa atravessa uma vida cheia de percalços, deve ter enfrentado doenças, passou por todas as crises políticas, financeiras e morais por que esse Brasilzão atravessou e atravessa há 507 anos, para morrer de uma maneira tão estúpida durante um inocente passeio matinal. Coisas assim é que levam alguns a acreditarem no destino e pronunciarem a célebre frase "é porque era sua hora". Pragmático, continuo achando que é uma aberração praticada com a ajuda de empreiteiros inescrupulosos e por empresários que pagam pelo menor preço e não pelo melhor serviço, pouco importando-se com a vida dos outros. Como é o país da impunidade, alguém pagará uma multa ao CREA, se muito, e mais alguém deverá dar algumas merrecas como indenização. Infelizmente será merreca mesmo, isso depois de muitos anos com processos protelados na Justiça. Inevitavelmente merreca, uma vez que a visa de um idoso é baratinha num país que não valoriza o ser humano, somente a conta bancária do ser humano que tem grana alta.

  • Ando muito apertado, com falta de tempo para visitar os blogs e sites, coisa que adoro fazer. Tenho levado alguns esporros pela minha ausência, mas garanto que não é má vontade, apenas obedeço ordens dadas por Cronos. Mesmo na revista Extremo 21 tenho publicado apenas contos antigos. Tomara que o que tenha ainda a escrever esteja bem guardado em algum canto empoeirado do cérebro que, quando espanado, me traga um monte de idéias pelo menos razoáveis.

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Junião, Diário do Povo, SP


  • O populacho nem que mais saber dessa novela mexicana em que se transformou a reforma ministerial. Ainda há alguém que acredite nos políticos quando eles vêm diante das câmeras falar da reforma política, de sua urgência e necessidade?

  • E mais uma vez, tome Juca Chaves:
    "Cai, cai cai cai
    Outra cosntrução civil.
    Realmente ninguém segura
    A arquitetura do Brasil".
    As escolas de engenharia brasileiras são respeitadas mundo afora, somos considerados os melhores fazedores de concreto do mundo. De quem é a culpa, então, de tantos desastres com construções no Brasil? Um doce para quem acertar.

  • Estou passando por uma fase esquisitas em relação aos sonhos. A cada dia aparece um diferente, estranho, engraçado, lúdico... É o maior barato para quem não costuma lembrar dos sonhos.

  • Já pensaram se a Bolívia ou a Venezuela ganha um prêmio Nobel ou um Oscar antes do Brasil? Vão culpar o Lula ou sacanear com os dois outros malucos nossos vizinhos.

  • Assistam a esse vídeo e depois me respondam:

    Tem ou não tem maluco pra tudo nesse mundo?
    Que pai ou criança veria um falo na capa do disco da Pequena Sereia?
    Quem se daria ao trabalho de estudar um dialeto africano para descobrir palavras malditas numa música infantil?
    Aladim mandando as crianças tirarem suas vestes à velocidade de um narrador de turfe... Que criança entenderia isso?
    Poca Hontas, sabe-se lá em que língua indígena norte americana, é uma alusão aos espíritos do mal?
    O Rei Leão é uma apologia ao homossexualismo?
    E pensar que tanta gente segue cegamente esse tipo de tarado que vê maldade onde nós vemos diversão e lirismo... E ainda pregam que o mundo está no fim por conta das taras alheias. Eu, hein, Rosa?

domingo, fevereiro 25, 2007

Andarilho


Andarilho

Será sempre o mesmo homem? Minha dificuldade em gravar fisionomias não me permite responder.

Em todos os caminhos, picadas ou estradas por onde passo, lá está ele indo ou vindo. De trajes pobres e, por vezes, levando algo, uma enxada, uma espingarda, um saco de estopa, uma caça, um caçuá... Sempre ele à margem do caminho.

Esse homem de trajes sujos e maltrapilhos, chapéu de palha ou de feltro, está onde estou.

Para não perder o encanto que esse homem tem sobre minha alma, nunca parei para conversar, procurar saber de onde vem, qual seu destino.

Vejo-o de frente ou pelas costas e passo rápido e mais à frente o revejo, caminho sem fim.

Esse homem me causa piedade, mesmo que não a mereça ou deseje. Mas não deixo de sentir. Piedade pelos seus pés rachados e mal calçados, pela pele escura curtida de sol refrescada e desbotada pela chuva e pelo vento, pelos calos que nunca vi, mas sei que substituem as mãos. Sinto piedade daqueles que deixou em casa esperando pelo feijão com farinha para matar a fome cotidiana.

O que faço por esse homem que me desperta dó, me aperta o peito e me molha os olhos? Nada. Apenas o vejo passar e passo por ele.

sábado, fevereiro 24, 2007

Glauco, Folha de São Paulo


  • No Blog da Fal, que é amiga da família, li a boa nova que Nair Belo saiu do coma e já se comunica verbalmente. Se vocês leram isso em algum jornal e revista, me desculpem a notícia velha, mas só fiquei sabendo agora e fiquei muito feliz.


  • Autoridades britânicas mostram-se preocupadas com a intenção de Bush atacar o Irã. Justificável a preocupação britânica, afinal de contas se o senhor das armas cometer mais essa besteira, sua principal cozinha - nós somos apenas um puxadinho no quintal - vai se ver na obrigação de seguir o mestre. Se os caras não conseguem nem dar segurança para as autoridades que eles fizeram no Iraque e arrumaram um segundo Vietnã, imaginem a cagada que seria invadir o Irã, país bem mais coeso e organizado atualmente.


  • Guaratinga é uma simpática cidadezinha aqui perto, quase fronteira com Minas Gerais. Lá todo mundo se conhece, quando não é mais que amigos, parentes. E todos têm apelido, não se salva nem o padre. Propositadamente ou não, os apelidos quase sempre são antítese de seus portadores: Dona Mocinha tem sete filhos; Lourinho é um crioulo de 120 quilos; Sansão é careca, tem um metro e setenta e pesa cinqüenta quilos; Nosferatu é o sujeito mais bonito da cidade; Paladino é um conhecido ladrão de galinhas; Cupim é o urologista (tentem fazer a associação); Montanha tem um metro e cinqüenta de altura; e por aí vai. Não tem nada a ver, mas me lembrei da lista telefônica que me mostraram em Itapipoca. Todos os nomes de usuários foram substituídos por apelidos ou algo relacionado ao sujeito, como Nezinho da Farmácia, Chicotinho, Lu de Jão, Neco Padeiro, Sá Dorinha Parteira, Cabo Demóstenes, Razenza da Tapioca...


  • Mais uma vez a Justiça brasileira cala artistas, mesmo que eles não tenham qualquer qualidade ou suas obras sejam porcarias, todos, artistas ou não, deveriam ter o direito de manifestar-se. Afinal de contas, essa bodega é uma democracia ou não é? Um juiz democrata mandou retirar das prateleiras a biografia não autorizada de Roberto Carlos. Será que se eu pedir que ela, a Justiça, casse o direito de políticos, atores globais, rainhas de bateria e jogadores de futebol falarem em público ela vai acatar meu pedido? Hummm, acho que vou tentar...


  • Quanto tempo falta para a Semana Santa?

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Pé




Pé direito
Pé esquerdo
Pé certo
Pé errado
Pé destro
Pé canhoto
Pé na frente
Pé atrás
Contra-pé
Pé dentro
Pé fora
Pé fino
Pé largo
Pé chato
Pé-de-papagaio
Pé-de-atleta
Vou pelaí...

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Two Old Peoples Eating


Alguém já disse que começamos a ficar velhos quando nossos amigos começam a morrer. Hoje, sabe-se lá porquê, me vi computando meus mortos nesses últimos anos.

Si, 28 anos, causa mortis desconhecida; Betinho, 42 anos, acidente de moto; Damião, 42 anos, assassinado; Zezito, 60, ataque cardíaco; Joel, 50, acidente de carro; Hamilton, 22 anos, acidente de moto; Kelly baldo, 20, acidente de carro; meu pai, 66, câncer de próstata; Nicolau, 40, AIDS; Olívio, 22, acidente de carro; Aline, 23, suicídio; Aline, 15 anos, atropelada por um jet-ski;

Impressionante como os jovens morrem de causas tão evitáveis... Tenho certeza que estou esquecendo alguém nessa lista, infelizmente. Infelizmente não por eu esquecer, mas por eles terem ido.

Devo estar velho mesmo. E quantos outros ainda virei partir antes que eu próprio vá?

Não é um post mórbido, pelo contrário. Tenho o maior respeito por cada um deles, como tinha quando viviam, e relembrá-los aqui é uma forma de não esquecê-los. Nessas horas dá um desejo de uqe realmente exista paraíso ou reencarnação ou qualquer uma dessas segundas chances que teimamos em crer para evitar de pensar que tudo se acabou.

terça-feira, fevereiro 20, 2007

Até ela anda de mau humor


Quem passa por aqui há algum tempo já sabe que não sou muito chegado a correntes, mas responderei a essa por dois motivos: primeiro, porque foi enviada pela Christiani, sujeitinha porreta por quem tenho carinho e admiração especiais; segundo, porque a causa é justa e nobre, como ela mesma disse nos comentários do meu último post.

Ela pede para eu enumerar medidas cotidianas que tomo para evitar a agressão ao ambiente. Pois então, vamos lá:

1. Moro num prédio de apartamentos onde o lixeira, óbvio, é coletiva. Mas meu lixo é individual, ora, por isso vai devidamente separado: papéis, vidros, plásticos e lixo orgânico;

2. Pratos e copos descartáveis não entram na minha casa;

3. Não atiro nada nas ruas, nem mesmo papel de bala. Guardo no bolso até chegar em casa ou em um lugar onde haja lixeira;

4. Tomo banho e faço a barba usando somente a água necessária. A torneira não fica aberta inutilmente enquanto me ensabôo ou passo o gel de barbear. Antes mesmo de toda essa febre ecológica, minha mãe, mais por uma medida econômica do que preservacionista, gritava lá de fora do banheiro: "tá pensando que teu pai é sócio da companhia d'água!". O mesmo acontecia com o consumo excessivo de energia elétrica;

5. Não lavo a calçada, espero a chuva;

6. Como falei no ítem 4 em relação à água o mesmo se aplica às lâmpadas: lâmpada acesa só a do cômodo onde eu estiver e as lâmpadas são todas fluorescentes, coisa que relutei muito em fazer, mas me adaptei com facilidade;

7. Não costumo tomar banho quente. Isso só acontece em dias ou noites em que a temperatura está abaixo da média. Se bem que fazer isso aqui no Nordeste é fácil, o clima é cálido quase que o ano inteiro;

8. Troquei o velho monitor de tubo catódico por um de LCD, caro, mas que gera uma economia de energia de até 70% se comparado as dinossauros enormes e pesados;

9. Pilhas e baterias (que são pilhas também, dãããã) eu as entrego numa loja de celulares. Lá eles sabem o destino correto a ser dado. Aliás, as pilhas que uso são recarregáveis, com excessão das palitos do MP3 e dos controles remotos.

Eu deveria indicar essa corrente para mais alguém, mas não o farei, não gosto de correntes, lembram-se? Seria como fazer uma promessa para outros pagarem. Que sinta-se à vontade para aderir quem o quiser.





Tem conto meu na revista Extremo 21.

domingo, fevereiro 18, 2007

Carnaval


A princípio, nada contra o carnaval. Não há como negar a importância cultural dessa festa, a importância econômica com o grande afluxo de turistas de todo o mundo, a geração de empregos mesmo que temporários, a catarse popular e tudo o mais que estamos carecas de saber. Mas eu não gosto dele.

É engraçado ver pessoas que se dizem contra o Natal, o dia das mães e outras festas por serem datas comerciais e se entregarem ao carnaval como se fosse algo divino, coisa da alma, purificação do espírito... Essa, sim, é uma comemoração altamente comercial - e não tenho nada contra isso. Se não era essa a função do carnaval em seus primórdios, passou a ser com o passar dos anos. Se um baile de salão dava uma graninha para os donos do clube e para os músicos, os espertos transformaram avenidas e cidades inteiras num grande salão.

O carnaval carioca, o mais famoso, o mais rentável e o mais visitado por turistas nacionais e estrangeiros, foi deixando de lado os blocos de amigos, os corsos dos bairros e tornou-se uma atração no horário nobre, milhões de reais jorram dos bolsos dos foliões para os bolsos dos donos de escolas de samba, de televisão, de patrocinadores, de agências de turismos, de hotéis... Uma beleza! Faz o dinheiro girar, aquece a economia local, traz divisas para o país.

Por outro lado, aumenta os índices de violência, de acidentes de trânsito, de filas nos hospitais, que já estão um caos, surgem os filhos do carnaval, filhos de umas cervejas a mais e juízo a menos, a AIDS dá um salto quantitativo... Calma, não é nenhum discurso moralista de velho ranzinza, os números falam por si. Isso tudo faz parte da necessidade do brasileiro extravasar, embora seja um alívio de apenas três ou quatro dias, pelo menos fora de Salvador e de Olinda, cada um faz o que quer, o que pode e o que acha que deve, se achar alguma coisa depois de tanta birita.

O que me espanta de verdade é a exploração do pobre coitado assalariado, que para dançar na avenida, desembolsa parte do orçamento da família para comprar a fantasia. Entre os quatro mil brincantes de uma escola de samba, a minoria é da "comunidade", a maior parte é classe média do asfalto que pode pagar mais. O mesmo acontece nas arquibancadas. O pobre coitado que mora vizinho à escola não tem grana para a fantasia e muito menos para o ingresso, se amontoa pelos alambrados tentando fisgar com os olhos a passagem rapidinha dos carros alegóricos, aquela passista gostosa que a televisão mostrou a semana inteira, o filho que está na ala das "araras brancas de uma perna só que representa a reencarnação de Pagu sambando sobre as ruínas de Machu Pichu", naquelas explicações enormes que os carnavalescos usam e que só fazem sentido para si e para os jurados altamente capacitados.

Remando contra essa maré corporativistas das escolas de samba, no Rio proliferaram os blocos esse ano. Mais de trezentos se espalham pela cidade. Até que enfim estão percebendo que o carnaval deixou de ser uma festa verdadeiramente popular, estava se tornando uma festa classes média, alta e estrangeira.

Em Salvador a coisa não é muito diferente. Há quem pague um carnê, o ano inteiro, para ter direito ao abadá, à segurança das cordas e dos seguranças, à cerveja e a passar ou levar a mão na bunda sem correr o risco de um safanão da polícia. Os abadás estão tão valorizados e caros, mais e mais ano após ano, que sua distribuição precisa de segurança especial da polícia e de empresas particulares. Pessoas são assaltadas, fantasias são falsificadas por conta do alto preço daquela camisa de pano. Ao povão sobra a "pipoca", aquela turba sem dinheiro que segue atrás dos caminhões como penetras, pegando uma carona na música dos outros, no aperto, cotovelo no olho, pisada no pé, mão boba na bunda e na carteira.

No ano passado Carlinhos Brown causou constrangimento ao fazer um protesto diante do camarote (você tem idéia de quanto custa o ingresso numcamarote?) do ministro Gilberto Gil contra as cordas nos blocos. Segundo ele, e isso é fato, a corda é excludente. Hipocrisia à parte, o bloco de Carlinhos Brown também usa a corda. Esse ano Margareth Menezes anunciou que em 2008 seu bloco não terá corda. Será? Talvez a substituam por correntes.

Realmente nada contra o carnaval, só que não é pra mim. Não gosto de multidões, não gosto de me esfregar em gente suada, não gosto de ser empurrado, não gosto de pisão no pé, não gosto de bêbado chato, não sou fã de axé music e nem de samba de enredo, não gosto de barulho, não gosto de calor, não gosto de ônibus lotado, não sou cachorro pra correr atrás de caminhão, suo para ganhar meu dinheirinho para deixá-lo nas mãos de um batedor de tambor qualquer... Enfim, não vejo graça em carnaval, embora ache bonito a manifestação genuinamente popular e não as mega produções hollywoodianas em que transformaram os blocos de sujos.

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Bocage


Bocageana

Gaze, iodo, esparadrapo,
Papel, tinta, caneta,
Moela, cloaca, papo,
Zarolho, vesgo, perneta,
Cobra, perereca, sapo,
Asma, azia, enxaqueca,
Bonito, charmoso, guapo,
Azul, amarela, preta,
Molambo, remendo, trapo,
Pipeta, béquer, proveta,
Toalha, talher, guardanapo,
Ripa, madeira, vareta.

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Alma


Uma das diferenças entre a maioria das religiões ocidentais e o kardecismo, é que aquelas aprovam ou reprovam a alma com uma única avaliação, enquanto o espiritismo sempre a manda para a segunda época.

terça-feira, fevereiro 13, 2007

Bello, Tribuna de Minas


  • Ontem comentei no blog da Aline o comentário da ministra Hellen Gracie sobre não se discutir a respeito da redução da maioridade penal num momento de comoção. Eu dizia que o que a ministra não reparou é que a cada mês surge uma nova comoção pública provocada por um crime hediondo, continuando nesse ritmo, jamais chegará o tempo de se discutir tais medidas. Mais tarde, assistindo ao Jornal Nacional, fiquei muito feliz ao ver Fernando Gabeira, talvez nosso melhor deputado federal, falar praticamente a mesma coisa. O brasileiro vive comovido, não pode esperar a poeira assentar, tática por demais usada pelos políticos que empurram decisões sérias com a barriga.

    A redução da maioridade penal é apenas uma das muitas mudanças que precisam acontecer, mas virou bandeira, até mesmo cortina de fumaça que esconde os muitos problemas. No mesmo Jornal Nacional um juiz disse que o povo reclama da lentidão da Justiça, mas essa lentidão é provocada pelo excesso de recursos a que os advogados apelam para adiar uma sentença. Também estou de pleno acordo com o magistrado. Será que há necessidade de tantos recursos? Por causa deles Maluf jamais é condenado, Naji Nahas continua flanando enquanto suas vítimas vão morrendo de velhos, os assassinos de Dorothy Stang não foram julgados e por aí vai, milhares de exemplos poderiam ser citados.

    A Letícia comentou no post abaixo colocando-se contra a diminuição da maioridade penal. Ok, respeito a posição dela, mas vejo uma contradição em seu comentário: "Se pararmos para pensar, não tem muita diferença um menino de 16, 17 ou 18 anos... assim como 18,19,20.. então, é...". Exatamente, Let, o crime cometido por um garoto de dezesseis anos pode ser tão violento quanto o de um bandido velho, de 40, 50 anos. Se o velho pode e deve ser punido, por que um rapagote que sabe muito bem a diferença entre legal e ilegal, certo e errado, violência e paz, não pode?

    O que é urgente e necessário é aprimorar a educação pública. Concordo plenamente com quem usa esse argumento, mas uma coisa não é antítese de outra. Nicolau dos Santos Neto formou-se na melhor escola de direito do país, tornou-se juíz, presidente do Tribunal de Justiça, mas cometeu um crime e está sendo punido, embora não da maneira que a maioria dos brasileiros gostaria que fosse. Apenas um exemplo. Milhares de outros doutores roubam e matam Brasil a fora. Educação, portanto, não é sinônimo de bom caráter e boa índole. Que seja cobrada pelos cidadãos uma revolução na educação, como queria o Critóvam Buarque, mas enquanto ela não ocorre, não podemos ficar à mercê dos menores e dos maiores bandidos que nos impedem de sair de casa tranqüilos.

    Ah, pobres crianças, elas precisam de carinho, amor, atenção, alimentação, saúde, educação... Certo! Certíssimo! Isso não lhes dá o direito de tirar a vida das crianças educadas, acarinhadas, bem alimentadas, saudáveis, educadas e de seus pais que se esforçam, trabalham duro para lhes dar isso tudo e saírem praticamente impunes. Se alguns assassinos são menores, não esqueçamos que muitas de suas vítimas também o eram. Discriminações à parte, antes que me acusem disso, potencialmente, e a realidade prova isso, garotos como o João Hélio ou o casal vítima do Champinha estariam mais bem preparados para ajudarem a sociedade do que seus algozes. Falar isso pode parecer preconceito contra pobres e semi-analfabetos, mas não o é. Eu fui pobre, cheguei a passar fome e meu pai, meu maior ídolo, era semi-analfabeto, se esforçando depois de casado e pai para concluir o segundo grau e melhorar o padrão de vida da família e tornou-se um exemplo de honestidade para seus amigos e para seus filhos, exemplo que tento seguir a cada dia. O fato é que aquelas vítimas estavam melhores preparadas, sim, e discordando disso creio que estaria negando a importância da educação que se defende.

    Mas volto a falar, a redução da maioridade penal é apenas uma das muitas medidas que podem e devem ser adotadas.

    Penas mais duras, menos benefícios para os condenados, como poder cumprir apenas 1/6 ou 1/3 da pena, indultos para cada feriado, diminuição dos recursos, aumento do número de juízes, promotores e tribunais, vigilância permanente e mais eficiente das fronteiras, melhores equipamentos para as polícias assim como aumento de seus efetivos e melhor remuneração, penas mais duras para portadores ilegais de armas e para traficantes de drogas, treinamento rigoroso e sob supervisão das Forças Armadas para vigilantes, procuradorias independentes dentro das polícias, presídios e penas mais rígidas para servidores públicos, como policiais,promotores e juízes, envolvidos com criminosos e crimes...

    Não adianta muita coisa endurecer a cana para os condenados por crimes hediondos, se o Supremo Tribunal Federal vai jugar essas medidas inconstitucionais, como o fez no ano passado. Lembram?

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Kasio, Correio Brasiliense, DF


  • A cada mês, há anos, o Brasil vem batendo recordes de superavit na balança comercial, mas esse ano a coisa começou a dar revertério. Com o dólar baixo, em janeiro as importações foram maiores. Os produtores chiam, com razão, por conta da sua diminuição nos lucros, mas como nada é completamente bom ou ruim, os preços no mercado interno mantém-se estabilizados, salvo aqueles de produtos que tiveram a produção afetada pelas chuvas no Sudeste, Sul e Centro-Oeste. Ruim para uns, bom para outros. O governo federal também não se assombra, afinal de contas as contas externas também ficam mais baratas assim. O risco Brasil nunca esteve tão baixo.
    O que não pára de aumentar, porém, são as despesas públicas. Aí, sim, está um sério perigo para a estabilidade econômica. E ainda tem o rombo da Previdência. Com tantas bolsas-esmolas, de onde sai o dinheiro para mantê-las? Do nosso bolso, caro cidadão palhaço pagador de impostos.

  • Na típica política populista que assola esse país há 507 anos, o governo do Rio de Janeiro resolveu batizar uma praça com o nome do garoto assassinado por bandidos na semana passada, João Hélio. Tá, pode até ser uma medida simpática homenagear mais esse pequeno mártir da violência urbana, mas é muito pouco, ou quase nada, diante do muito que os governos têm que fazer para minimizar esse câncer social.
    Enquanto fazem discursos e se mostram indignados, os políticos nada fazem de eficaz. Cada cidadão brasileiro sabe que as leis são benevolentes com os marginais: o excesso de recursos para que um bandido seja deveras condenado; os benefícios que ele tem depois de e se condenado, podendo cumprir apenas um terço da pena e ficando livre para cometer outras atrocidades; os tais indultos de Natal, Dia dos Pais, Dia das Mães, quando muitos são liberados para passarem uns dias em casa e boa parte não volta ou volta depois de cometer algum crime; penas máximas de trinta anos, isso se o camarada for maior de idade e desses trinta anos, poucos cumprem a totalidade.
    Não me causa nenhuma boa impressão ver governador ou parlamentar aparecer diante das câmaras com ar contrito lamentando mais um absurdo cometido pela bandidagem. Me deixaria eufórico se eles viessem anunciar uma reforma profunda no Código Penal.
    Os governadores do Rio, Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo se reúnem para discutir a diminuição da idade penal. Igreja, defensores dos Direitos Humanos, OAB, CNBB e mais um caralhau de entidades, certeza absoluta, manifestar-se-ão contra essa medida. Pouco importa se menores praticam assaltos, roubos e assassinatos repetidamente em todo o país; pouco importa se esses menores estarão livres aos dezoito anos para repetirem a dose, só que com muito mais agressividade, depois de terem umas aulinhas com os mestres internos nas Febem da vida; pouco importa se suas vítimas foram crianças de seis anos, um pai que alimenta seis bocas ou uma velhinha aposentada. Os dezesseis anos do homicida, ainda vivo, são muito mais importantes do que as vidas ceifadas.

  • O PSDB, naquelas suas elucubrações, levantou a lebre que Lula estaria maquinando um plano para um terceiro mandato, à moda chavista. Os analistas políticos viram isso apenas como um daqueles boatos, que em Brasília chama-se "balão de ensaio" e que Jaguar chama de "lamber selo", se colar, colou. Hoje os jornais já expoem a coisa como um plano real do presidente. Quê que é isso, minha gente? Das duas uma (e aí só o tempo dirá): ou a imprensa tomou como verdade uma "viagem" tucana, ou algum jornalista próximo da grande esfera está sabendo algo que nós, pobers mortais, não sabemos. Mas que dá um friozinho na espinha, lá isso dá.

  • Tem conto meu na revista Extremo 21. O dessa semana já foi enviado e deverá estar no ar daqui a algumas horas.

sexta-feira, fevereiro 09, 2007


Esse tal de amor é muito esquisito mesmo. Além de ser o único ente que tem autogênese, autocontrole - embora haja quem afirme controlar o amor, maneira de não dar o braço a torcer - e autodestruição, o amor é caprichoso. Faz de quem ama gato e sapato.
Se a violência cotidiana é atribuída à luta de classes, sendo vilanizada as classes menos favorecidas por conta dos assaltos, assassinatos, seqüestros, as classes dominantes não ficam nada atrás, ou será que as guerras, em sua maioria, são provocadas pelos pobres? Os crimes passionais não escolhem classe, cor, credo ou qualquer um dos atributos que nós, os cultos civilizados, insistimos em nos impor. Eles ganham mais notoriedade quando praticados por ricos e famosos.
O triângulo amoroso da Nasa que tomou conta dos jornais essa semana é o mais novo exemplo.
Pessoas cultas, inteligentes, com um nível de escolaridade muito acima da média, inclusive de seu próprio país, confortavelmente instalados nos degraus altos da pirâmide econômica, tidos como potenciais heróis nacionais, envolvem-se num escândalo envolvendo sexo e amor. Uma astronauta, que inclusive já esteve no espaço, seqüestra uma engenheira aeronáutica e, segundo a polícia, pretendia assassiná-la, por conta do amor que ambas dividiam por um outro astronauta. O bonitão, solteiro, porém pai de três crianças; a astronauta casada; a engenheira também casada. Se Sidney Sheldon não tivesse morrido, invejaria essa trama que nem ele conseguiria escrever.
A carreira e a moral vão para a lama. As benesses do poder se esvaem. Anos da melhor educação ficam escanteados. O estigma de heróis se esvai. Tudo em troca do prazer carnal.
Se o amor é a solução para tudo, por outro lado ele pode ser a completa derrocada social.
Esse sujeito é muito poderoso, tenho medo dele.

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

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Fechadura


Vi os olhos pela fechadura
E os olhos da fechadura
Viram meus olhos pela fechadura.

Olhos nos olhos
Nos vimos pela fechadura
E a porta estava aberta.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Leiam a fábula


Carga Perdida


Na Curva do Bode, no alto da serra, início da descida, tombou o caminhão carregado de galinhas. Os poucos moradores do lugar rapidamente se juntaram, atraídos pelo barulho. Deram socorro ao motorista acenando para os poucos carros que passavam pela estrada de terra.

Gente simples, trabalhadora do campo, acostumada a plantar e a criar, levar seus produtos para a feira do povoado nos sábados pela manhã, levado o motorista, passaram a especular sobre o que fazer com as aves sobreviventes. Seu Onodério, o mais respeitado morador local, o mais idoso e mais antigo também, propôs que se juntassem as gaiolas sob uma árore e que alguém ficasse vigiando até que os donos viessem buscar a carga.

Sindrônio, rapagote de dezoito anos, inquieto e desejoso de aventura, como todos nessa faixa etária, ficou encarregado da missão de vigilância. Alguém trouxe água numa bacia que foi dividida em cuias pelas gaiolas e uma botija ficou para saciar a eventual sede de Sindrônio. O sol quente de março teria que ser refrescado com uns goles de vez em quando.

Mesmo contra seus instintos de inquietação, Sindrônio colocou-se calmamente escorado no tronco da sapucaieira, pastorando as galinhas. O tempo passava lerdo, mais lerdo que a lerdeza típica daquelas roças. O rapaz tomava um gole de água, mastigava o talinho doce de um capim, sonhava acordado com a festa da padroeira, fazia declarações de amor em voz baixinha para Valdicélia, imaginava garrotes e marrecos nas nuvens, seguia com a vista o colorido de um carro ou outro até que ele sumisse na lonjura no meio da poeira que levantava, e o tempo engatinhava. As penas esbranquiçavam o pasto assanhadas pela aragem.

A barriga começava a protestar, queria comida. A agonia do ócio tomava corpo e o corpo. O tempo esquentava com o sol a pino, mesmo sob a sombra da sapucaieira. O dono não aparecia para buscar os animais. E a fome apertava, a água diminuía na botija de barro, as nuvens sumiam por trás da serra, o tempo não andava...

Aquelas galinhas brancas, assim como o povo da cidade, não agüentavam aquele calor, a falta de conforto; aos poucos foram minguando, deitavam-se no apertado da cela. Não demorou, começaram a morrer. A princípio devagarzinho, uma de vez em quando, depois, três de vez.

Sindrôno tirou o canivete do bolso, retirou uma galinha da gaiola, sangrou o bicho, afastou-se um pouco para evitar as varejeiras e, sobre uma pedra, sem água quente para ajudar a depenar, retirou o couro inteiro, abriu a barriga, limpou por dentro. De volta à sombra da árvore, armou uma fogueira com os paus que encontrou no derredor, atravessou um na galinha tratada e pôs-se a preparar um churrasco. O que seria uma ave pela paga para quem tomava conta das demais, umas cem, que ainda viviam? O dono não haveria de se zangar.

Galinha demora a assar, dava tempo de ir até o cocho do outro lado da cerca e trazer um pouco de sal do gado. Quando voltou, encontrou Astrogildo e Denemário virando o assado no espeto. Dividiram a refeição.

De barriga cheia, os três deitaram-se na relva e passaram a discutir sobre o destino dos bichos, o sol já a caminho da descida.

- O homem num vem, não, Sindrônio.
- É, vem não.
- E os bicho?
- Vamo levar?
- Pra donde?
- Nós divide, o mesmo tanto pra cada um. Nós cria no terreiro.
- E se o homem vier?
- Nós adevorve.
- Tu concorda, Gildo?
- Concordo.
- E tu, Denemário?
- E num havéra de concordar? Eu que dei a idéia.
- Entonce vamo.

Levaram as vivas; já de noitinha voltaram para enterrar as mortas.

O dono nunca veio, só veio o guincho buscar a sucata do caminhão.

terça-feira, fevereiro 06, 2007

O visualmente virtuoso abutre


V


Vivo o uivo
O silvo
Vaga
Voa
Vertical o uivo
A vulva
A válvula mitral
O vazio mortal
A vaca verde
Vende o véu vermelho
Vibra o alvéolo
A veia vela o vício
O Vaticano se vinga
Da vírgula velha
Ventral varíola
Varicocele
Via vaginal
Para o óvulo da víbora
Vasta vergonha
A vasculhar com vassoura
As varizes da prima-vera
O vagabundo varrido
Vadia
Vigia o vigia
Que vigia o varal
Várias vezes o vendilhão
Foi visto
Veludoso
Venerando a vulnerabilidade
Da virgem.

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

O Rapto de Europa, Matisse.


Acho


A língua portuguesa, embora falada em todo o país, épara poucos quando se trata de escrever, ler e entender a mensagem. Antes que me acusem de presunçoso, devo dizer que suo sangue quando se trata de fazer um texto. Para piorar, não sou nenhum gramático, lingüista, lexicógrafo ou coisa que o valha. Apenas um teimoso.

Mas voltemos ao português.

Não tenho paciência para assistir a uma entrevista com jogador de futebol, por exemplo. Não sópela maneira entediante com que se expressam, como se as palavras mordessem, com aqueles ééé... popularizado por Rivelino quando ele jogava. Depois veio Marcelinho Carioca colocando "onde" onde não cabia. Por exemplo: eu estava na cara do gol, onde chutei a bola para fora. Quando, seria mais adequado. A propósito, ele também não falaria para e, sim, pra, como qualquer um de nós numa conversa falada.

Opa! Pleonasmo? E existe alguma conversa que não seja falada? Quem não conhece o MSN e o SMS podem achar que não. A gramática não está morta, precisa se atualizar com os costumes.

E o que falar do "acho". Aí já não é privilégio dos jogadores, é uma mania nacional. "Eu acho qu sou prifissional...", "Eu acho que estou com fome..."... Essa parece piada, mas encontrei um computador ligado à internet por ondas de rádio. Quando iniciado surge a mensagem "acho que está conectado" ou "acho que não está conectado". Caramba! Até computador está por uma fase de incertezas?

Mais um devaneio. Voltemos ao onde. Já reparam que essa palavrinha está na moda entre os futebolistas? Ele veio com o pé alto onde me atingiu na coxa. Por que o sujeito não usa o que?

Outra palavrinha, da qual já falei por aqui mais de uma vez, é a extremamente. Segundo o Aurélio: Que está no ponto mais afastado; remoto, distante; longínquo. Que atingiu o grau máximo; extraordinário. Final, derradeiro. (...)

Quando um comentarista diz Schumacher é extremamente rápido, estará ele dizendo que o piloto é mais rápido que a luz, a extrema velocidade atingida pelos entes físicos conhecido? Quando um de nós fala que está extremamente irritado, quer dizer que nada poderá irritá-lo mais? Pode até ser, mais seria uma afirmação extremada. Tudo bem, pode ser apenas uma hipérbole, um vício de linguagem aceitável, assim como o tabagismo. Só que o tabagismo só é aceitável por alguns, por isso me dou o direito de repudiar esse vício de linguagem. Ai, o Gianechini é extremamente lindo!. Tá, o cara é lindo, mas qual o aparelho usado para mensurar a beleza? Ainda não conheci, mas é muito provável que exista alguém que não o ache lindo, talvez bonitinho, e aí, como éque fica?

O quase presidente Tancredo Neves gostava de usar realmente em cada frase. Talvez para que não achássemos que quando ele não empregasse o termo, os cidadãos poderiam pensar se não realmente, deve ser mentiramente, falsamente. Lembremos que virtual ainda não era antítese de real, antônimo criado com a febre cibernética por que passamos.

Tudo isso pode até ser aceito, relevado, coisa que fazemos todo o tempo, mais grave é a falta de leitura crítica, aquela que nos faz interpretar o texto, o subtexto, o pretexto e contexto para que a mensagem fique clara, sem dúbia interpretação. Isso deveria ser ensinado nas escolas, mas, falo por experiência própria e profissional, aos professores, via de regra, dão-se por satisfeitos quando o aluno consegue unir as letras formando sílabas e as sílabas formando palavras e as palavras formando frases. Se essas frases formam um texto e se o aluno o compreendeu na íntegra, já não é problema seu, do professor.





Tem conto meu na revista Extremo 21. Ou melhor, têm dois. A cada semana terá um novo.

sábado, fevereiro 03, 2007

Mulher na praia, Cícero Dias


Desespero


Dá vontade de morrer ou de sofrer
Só para deixá-la com remorsos,
Mas se ela ficar com pena
O melhor é esquecê-la.

A não ser que me faça o cafuné
Pelo qual sempre esperei.
Mas se eu morrer, que besteira,
De que adiantariam os cafunés?

Ela é luz de dez mil sóis
E escuridão de noite apagada
No meio da selva sem frestas.
Ela é relâmpago quando passa.

E eu sofro de fazer dó
Por ela não vir que a vejo passar
No seu passo de pomba de guerra,
Ah, eu choro, como choro.

Em meio à multidão
De comércio em meio ao rush
Procuro a sombra iluminada dela
Mas só vejo sombras comuns.

Não sei se ela é de teatro, apenas,
De sei lá que literatura
Ou se é mulher de verdade,
Só sei que não a acho nos livros.

Mas quando a vejo
Fito-a com tanto cuidado
Com medo de quebrar com os olhos
Sua morenice fugidia.

Se ela é ou não é
Pouco importa para mim amante besta.
O que importa é que a amo
E como a amo, apatetado,

Largado de cara no mundo.
Um amor meio não quero
Como se de muito adiantasse,
com que diabos!, como preenche

O tempo, os espaços, o cérebro
A ponto de esquecer o resto,
De poetar calado para ela
Cada segundo, cada passo cardíaco.

E saio olhando as paredes,
As estrelas, as praias, o sol,
Imaginando como a vêem.
Parece que nada a viu

Porque nada me conta dela.
Me embriago esperando
Notícias dela no fundo do copo.
Copo vazio não fala e

Copo cheio se engasga ao falar.
Ela não está ali também.
Enfim, quando a encontro e
O coração tapa a boca

Querendo pular para a rua,
Não consigo falar da falta
Que ela me fez efaz.
Ela nem-te-ligo continua sendo ela

Gesso e bronze como estátua.
Estátua que anda e dança,
Não pára quieta, brinca e
bebe, sei lá em que botecos.

Estátua estática sou eu
Com medo que a um simples
Gesto se assuste e vá embora.
Fico quieto, estanque, estátua.

Nem assim a prendo.
Ela é máquina de se mexer.
Não sossega, é energia,
É força motriz, a danada.

No tempo de um piscar
Ela já sumiu entre ventos,
Folhas e papéis e lá se vai.
Tempo para reencontrá-la.

Caço e me coço para achar
Pelo menos as marcas do seu
Sapato, mas ela pisa tão suave
Que não deixa nem rastro para mim.

Ela é éter, tão volátil,
Que fico imaginando
de onde Orfeu a criou,
Se não é fantasia apenas.

Se há por baixo dos cabelos
Um cérebro pensante ou se é
Toda idéia minha. Se ela
Toma banho ou a água a atravessa.

Será que ela tem ossos?
Tem pensamentos? Saliva?
Será que ela dorme? Come?
Ou se alimenta de desejos?

Com tanta luz que irradia
Ela não pode ser real.
Ninguém pode vê-la, só eu,
Que sou um sonhador.

Ela é só mistério, é
História mal contada,
Mas não é apenas sonho.
Ela é mais que real.

Ela é passeio na praia,
Viagem a São Paulo,
É dança noturna, é
Beijo em lábios desconhecidos.

Ela é imagem gravada
Na eternidade do papel.
Ela é passos nas ruas,
É cerveja, suor e sol.

Como não violentar a vontade
E tentar invadir sua visão
Perdida nos paralelepípedos e
Solta na aragem litorânea?

Faço-me palhaço para ela,
Faço-me soldado, atleta,
Me faço de mago e bruxo
Para receber, de relance,

Um mínimo de olhar,
mesmo que não seja
Todo meu ou em minha
Intenção. Tento roubar

Qualquer segundo vazio
Que ela queira jogar fora.
Quero uma migalha de
Sua atenção dividida.

Tento um esbarrão descuidado:
Me desculpa, moça, eu...
Mas a oportunida flui, aérea
Por entre o estalo indeciso.

Tento, então, negar sua existência
Tão gasosa, tão querer, querente,
Cheia de arroubos de loucura e
Fuga, de descaso e aconchego.

Faço de conta que não existe
Só para me sentir bem.
Como me sentir bem
Sem a existência dela?

Como sonhar, comer, beber,
Andar vagabundo, poetar,
Se os sonhos que sonho
São todinhos delazinha?

Se os pratos que delicio
São feitos por suas mãos
E para seu fino paladar?
Se a água ou o álcool

Que refrescam o mínimo
Da memória que persiste
São em toda sua intenção
De existência infinita?

Se só ando vagabundo por
vielas pútridas, à toa, à toa,
Somente na esperança vã
De vê-la a uma esquina?

Se todos os versos poetados
São apenas e unicamente
Para dizer da saudade boba
E constante da presença dela?

A razão se torna amiga
Da emoção reforçada
Só para me contrariar
E dizer que ela existe, sim.

Quero a morte sem ar
Do último beijo dela.
Quero a vida intensa
Abraçado as braços dela.

Que todos os raios
Se reúnam no céu
E despenquem sobre mim
Se não conseguí-la aqui!

Que me venha a morte
Mais letal de todas as mortes
Se serei impotente de
Conseguir todo seu amor!

Que sequem os meus mares
E o horizonte se acabe
Se não forem para trazê-la
Com todo o seu feitiço!

Eu a sei morenice viva,
Viva, vida, viramundo, vaga,
E louco me enebrio
Bêbado de seus olhos.

Como eterno amante
Faço dela jamborandi,
Minha floresta e ar;
Elejo-a minha natureza.

Que danem-se os astros
E todos os horóscopos
Se predizem a distância
Que há de se impor

Entre nossos egos tão
Díspares e tão iguais
Na vontade de não mais
Ficarem lonje entre si!





Tem conto meu na revista Extremo 21.

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

CARO MARCOS...

Me enviaram para mim isso "

· Uma blogueira está fazendo uma campanha para conseguir recursos para ajudar crianças carentes num outro país. Eis que me deparo com uma senhora que deu o calote numa outra blogueira que confeccionou o lay-out do seu blog. Agora me perguntem se eu tenho coragem de doar algum centavo para essa bem intencionada dama.
E fiquei estupefata, Marcos, por que tivemos divergências, sim.Mas, nunca que eu tenha mencionado seu nome ou denegrido vc.Marcos, eu chegiuei a contactar Sérgio que vive aqui em Maceió paa contactar vc.


Eu não dei calote em ninguém.
Por quê vc nao checou antes de dar a notícia, em seu blog

Se vc está se referindo (...), Marcos.A história nao foi assim.EU NAO DEI CALOTE ALGUM.EU PAGUEI.SOMENTE NAO USEI O LAYOUT.

ISSO É CALÚNIA, MARCOS.E COMO VC OU ELA VAI PROVAR....HEIN..EU TENHO COMO PROVAR, MARCOS QUE NAO DEI CALOTE NENHUM POR QUE EU DEPOSITEI NA CONTA DELA O DINHEIRO E ELA RECBEU.

EU FAÇO MEUS LAYOUTS.TODO MUNDO SABE.ASSIM COMOF AÇO DE GRAÇA PARA DEZENAS DE PESSOAS.
E PEDI PARA TRÊS PESSOAS FAZEREM LAYOUTS PAA MIM E A TODAS, EU PAGUEI.


NUNCA DEI CALOTE E PELO CONTRÁRIO, MARCOS, RECEBI CALOTE MAS NUNCA EXPUS.

ATÉ HOJE, AMIGOS QUE ME CONHECEM SABEM...QUEM EU SOU.


O QUE EU TE FIZ, MARCOS PARA VC NAO ME OUVIR E IR DIRETO FAZER UM POST ME CALUNIANDO....
EU NÃO PEDI DINHEIRO, MARCOS.NEM A VC E NEM A NINGUEM....EU FIZ UM SORTEIO.
COMPROU QUEM QUIS.
EU TENHO QUASE 3 ANOS DE BLOGOSFERA, MARCOS.NUNCA ME ENVOLVI EM NADA QUE ME DENEGRISSE.

MAS SEI DE MEUS DIREITOS.E ISSO QUE VC POSTOU É UMA CALÚNIA.

QUANDO A AMIGA LEU, ELA PENSOU QUE VC ESTAVA SE RELACIONADNO A UM BLOG QUE FIZ E A PESSOA RETIROU MEUS CRÉDITOS...


O LAYOUT QUE A (...) FEZ PARA MIM, EU PAGUEI E TENHO COMPROVANTE.

SE EU NÃO USEI, COMO DISSE A ELA, O PROBLEMA É MEU, CONCORDA!!!!!!

Quem me enviou o post nao pensou que vc estava falando de mim, por que seu blog estava linkado ao meu.Sim, Marcos, linkado ao meum desde o dia em que vc divergiu de mim.Por que eu aceito todass as opiniões.
E falei apra (...) que of ato de vc discordar, vc escrevia textos bons ....

Hoje, mARCOS ME DEPARO COM ISSO...

VC NÃO SABE MARCOS O QUANTO VC ME MAGOA.


ANTES DE POSTAR ALGO, VEJA OS DOIS LADOS DA MOEDA, MARCOS.

POR QUÊ VC NÃO MEE SCREVEU PERGUNTANDO SE HAVIA VERACIDADE OU NAO...TÃO SIMPLES, MEU AMIGO...


EU TE DESEJO, APESAR DO QUE VC FEZ COMIGO, QUE DEUS TE PROTEJA DE TODO MAL QUE HOUVER NESTA VIDA.POR QUE EU TENHO MEU CORAÇÃO E MINHA ALMA TRANSPARENTES, MARCOS.DISTO TU PODES TER CERTEZA.
EU NAO VOU ENTRAR EM SEU BLOG E DISCUTIR.NÃO..AQUELE QUE ESTA LÁ EM CIMA ESTÁ VENDO, MARCOS SE MEREÇO O QUE VC FEZ...


E TE DIGO COM TODA SINCERIDADE:APESAR DA DOR QUE ME CAUSAS, NÃO TNHO RAIVA DE VC...NÃO...VC É HUMANO E PODE ERRAR.TENHO E ABOMINO O ATO QUE VC PRATICOU.ESTE, SIM, NÃO ACEITO.

FICA COM DEUS...




GRACE


Calma, Grace!
Em momento algum citei seu nome. A (...) foi quem fez essa referência por pura dedução dela.
Aliás, não me referi a blog nenhum e nem a qualquer pessoa específica ou a que crianças de que país a tal blogueira pretende ajudar. Convenhamos, mal-entendido tem limite.
Não vou dizer que houve maldade da (...), ela apenas acreditou em sua própria dedução. Nõ me fez qualquer pergunta, entrou direto em "sua defesa", coisa de amiga. Entendo e aceito isso.
São milhões os blogs brasileiros, centenas de campanhas nesses blogs.
Por favor, não se sinta acusada por mim, não fiz isso.
Coincidentemente, fiz algumas referências à sua campanha no blog do (...), mas releia o que escrevi lá. Sequer fui contra sua iniciativa, muito pelo contrário. Disse que é válida toda e qualquer ajuda a quem quer que seja, até te parabenizo pela iniciativa. Apenas eu prefiro assistir primeiro os mais próximos.
Não me referi sequer a quem fez o lay-out da tal blogueira. Se você teve algum problema referente à confecção de um para você pela (...), eu não tenho a mínima idéia de que problema seja esse.
Não vou pedir desculpas a você, Grace, porque tenho plena consciência de que não cometi erro que a ofendesse. Se ofendi a pessoa a quem me referi e essa me provar que estou errado, aí, sim, pedirei desculpas a ela.
Não tenho absolutamente nada contra você, pode estar certa. Nem estou magoado com a (...), tenho certeza que ela não teve intenção de fazer fofoca. Por alguma lógica que ela não me explicou, achou que eu me referia a você. Talvez até pelos poréns que coloquei no blog do(...). Sei lá. Só ela poderia explicar isso.
Você me adicionou no MSN e eu aceitei, já imaginando que você deveria ter sentido-se ofendida e gostaria de tomar satisfações, mas não tive tempo de conversar com você, estava na hora do almoço e tinha que voltar para o trabalho. Mas você está adicionada e poderemos conversar assim que coincidir de nos encontrarmos.
A propósito, no mesmo post tem um comentário de uma outra pessoa pedindo que eu mandasse um e-mail para ela dizendo quem era a blogueira para que ela se precavesse. E eu não respondi. Sabe por que? Porque não tenho interesse de expor quem quer que seja.
Aí você perguntaria: "então por que você falou no assunto?". E eu te respondo, pelo mesmo motivo que coloquei o tópico acima, no mesmo post. Para que as pessoas fiquem alertas sobre o que ocorre na blogosfera, que pesquisem antes de "comprar" e não sejam ludibriadas pelas falsas correntes, campanhas, vendas e coisas que tais.
Fique sempre bem e sucesso em sua campanha, mui digna, diga-se de passagem, e sem qualquer rancor de mim, mal interpretado apenas. Garanto que eu não tenho qualquer rancor por você e até entendo o estado de espírito em que se encontra agora.
Mas como você disse que eu deveria perguntar a você antes, você também deveria ter feito o mesmo, concorda?





Eu perguntar a quem e o quê;;;;Marcos quem é que na blogosfera faz campanha...quem....pelo amor de Deus..
A (...) foi em minha defesa por que a minha campanha é a única que ela conhece e muita gente me enviou o que vc escreveu.
A (...) não sabia de (...).Sabia da (...) que me pediu um blog e eu fiz.Na hora H, ela disse " não quero seu avatar que identifica o meu blog por que SPAulo nao tem praias."
Quanto a (...).E fez um layout pra mim e eu paguei.Não devo nada a ela;Mas vc me machucou profundmente.Meu marido que tem quase 60 anos, ao ler aquilo, a pressão subiu lá em cima...Vc pode imaginar isso....Marcos..Eu corríapra o tlefone, le localizei e ao deixar mensagens na sua caixa postal..não fiz outra coisa...a não ser chorar...
Por que só em 2006 eu fui a África 4 vezes.Por que faço por eles e nao pelos brasileiros, Marcos.!!!!Eu viví na Suécia , uma país de imigrantes, pois meu marido é sueco, e eu via láquanto sofrimento eles passavams e ao convrsar com eles, ouvia" pior nós vivemos no ´pais de origem, com as guerras e conflitos tribais"
Daí, decidid saber se a CDC-Convenção dos Direitos das Crianças era levado em conta na áFRICA E DECIDI FAZERMEU TCC BASEADO NISSO.E depois de visitar 6 campos, escolhí o de Moçambique.

E a ajuda que lá deixei nunca comentei em blog.Mas, qua ndo soube que muitas crianças estavam morren do por causa da lona azul da escola, que nao tme paredes, decidíajudar.EU soube por que continuo mantendo contato com o Administardor do Campod e Refugiados que é representanto do governo moçambicano.
Eu postei ontem sobr o sorteio.E sobr as confabulações via MSN por que 3 amigos meus não disseram queeram contra mas outro que foi a favorachou desleal os 3 estarem na net a falar da minha honestidade.

A (...) não viu outra coisa....A não ser a minha campanha falada pelas entrelinhas por vc...POr que eu tenho mais ou menos 70 blogs na internet e nunca ganhei ummcentavo por
isso.Vera, (...), (...)(me conheceu pessoalmente) e tantas outras, sempre pede meu endereço ara enviar presentes.Nunca enviei, Marcos.NUNCA aceitei presente algum.Eu faço por prazer.


E eu escrevi a (...), perguntando se tinha partido dela.

(...) me conhece Marcos.(...), tbm.A (...), nem tanto.Mas, se possível for gostaria QUE VC RESPONDESSE AO COMENTÁRIO DA (...) E DISSESSE QUE O SEU POST NAO TEM RELAÇÃO COMIGO.SOMENTE ISTO.

Eu nao tenho raiva de vc.Aliás, eu nao tnho de ninguém.Tenho de seu ato, se este foi dirigido a mim...somente isto.
Mas nao aprei de chorar desde a hroa em que li...
EU SOU HUMANA.
Tenho 3 anos de blogosfera e fiz amigos reais e sinceros.Não pedi dinheiro de ninguém.NUnca dei calote, mas, vc pode até dizer que não se referiu a mim, mas, as nuances de seu post, não tEM COMO NÃO IR EM MINHA DIREÇÃO.

DIAS FELIZES PRA TI E QUE DEUS TE PRTEJA DE TODO MAL.

GRACE


Você que está insistindo que falei de você, não eu. Ao explicar no último e-mail, muito bem explicado, deixei bem claro que não foi a você que me referi, mas, talvez por ainda estar chocada, prefere não acreditar em mim. Não conversei com a (...), não conversei com a (...), não conversei com qualquer outra pessoa a esse respeito, nem mesmo com a (...). De imediato me veio à mente o caso de uma outra blogueira, muito bem intencionada, por sinal, que fez uma campanha pró-Natal dos pobres. Você teve conhecimento dessa campanha? Volta e meia vejo outras. Tenho linkado uns 70 blogs, talvez conheça de visitas esporádicas uns trezentos, e isso é apenas a gota no oceano de blogs que existem.
Aos teus amigos que insistem que eu estava falando de você, por favor, transmita o que te falei no e-mail anterior e nesse: NÃO ME REFERI AVOCÊ E NEM TENHO QUALQUER INTERESSE EM NOMEAR A PESSOA A QUEM ME REFERIA. Se eles têm dúvida, que falem comigo antes de especularem. Sei que são seus amigos e têm a melhor das boas intenções em protegê-la, mas cometeram um erro tão grande quanto o que me acusam de ter comentado.
Quanto ao comentário da (...), me desculpe, Grace, mas já que foi ela quem citou seu nome, que ela vá lá e faça outro comentário referindo-se da maneira que achar melhor, uma vez que partiu dela a iniciativa de citá-la. Eu não posso ser responsabilizado pelo que ela disse.
Mais uma vez falo que NÃO TENHO ABSOLUTAMENTE NADA CONTRA SUA CAMPANHA. TODA E QUALQUER INICIATIVA PARA AJUDAR O PRÓXIMO É MUITO BEM VINDA. MAS
EU PREFIRO AJUDAR AOS QUE ESTÃO MAIS PRÓXIMOS.
Parabenizo a você e a todos aqueles que têm o desprendimento de ajudar os mais necessitados, sejam de onde forem, enquanto tantos não mexem um dedo para auxiliar sequer uma velhinha a atravessar a rua.
Está me parecendo que houve uma infeliz coincidência. Nesse momento estou conversando com a (...) no MSN e ela me falou, agora, que realmente houve um incidente entre vocês duas em relação a um template, mas que foi só um mal entendido. Que fique bem claro, ela jamais havia me falado disso, falou agora porque eu perguntei.
Bom, eu achava que as coisas estariam esclarecidas a partir do outro e-mail que mandei, agora já não sei em quem você vai acreditar, se em mim ou nos seus amigos especuladores. A propósito, pergunte a eles se em algum momento falei para algum sobre você.
Estou on no MSN, caso queira esclarecer isso tudo de uma vez.
Fique bem.





Omiti propositadamente os nomes citados em nossos e-mail para não expor mais ninguém, além do que, essas pessoas sequer sabem que eu postaria isso aqui.
A Grace me mandou mais um e-mail, mas não o reproduzirei aqui por ser demais agressivo a alguém que nada tem a ver com essa história.
Eu já expliquei o que tinha que explicar, se ela vai ou não acreditar em mim, nada mais posso fazer. No que me diz respeito, caso encerrado.
Kalighat Cat With Fish, Montu Chitrakar


Solitário e Arteiro


Não havia muito a se fazer naquela casa. Eu dormia, acordava, dava uma volta pelos cômodos, comia e voltava para o colchão macio de Carlota para dormir mais um pouco, hora após hora, todos os dias.

Me queixar? Que é isso? Era a vida melhor que eu queria.

Aos poucos fui ganhando uma coisinha ou outra para me distrair, o que foi ótimo uma vez que, com o passar do tempo, o sono foi diminuindo e o tédio começava a tomar espaço.

Carlota me amava, mas tinha o péssimo hábito de me manter preso quando saía para trabalhar.

O apartamento foi ficando pequeno, o que aumentava minha necessidade de procurar ocupação. Passei a explorar atrás de portas e portinholas, gavetas, subir nos móveis ou me meter sob eles em busca de novidades, como aquela aranha enorme embaixo do sofá. Tornou-se meu brinquedinho por horas até que, coitada, morreu de stress e inanição.

Quando Carlota chegava do trabalho e encontrava as roupas espalhadas pela casa, seus bibelôs em cacos pelo chão, panelas (que som engraçado elas fazem quando se estabacam das prateleiras) decorando o piso da cozinha, ralhava comigo, me punha de castigo e colocava ordem para eu ter o que faver no dia seguinte. Depois me colocava no colo, me perdoava e me fazia um cafuné gostoso.

Depois de uma tard de estrepolias, sonecava eu na poltrona, quando Carlota entrou com uma caixa devidro nas mãos. Hum, brinquedino novo, pensei eu. Mas na hora eu estava cansado, queria dormir mais um pouco. Preparei meus ouvidos para abronca pelo que fizera à tarde e voltei a dormir.

Esse brinquedo foi a minha desgraça.

Acordei de madrugada, cansado de dormir, dei uma voltinha pela casa, fiz uma boquinha, da janela do quarto, enquanto Carlota ronronava, fiquei olhando o movimento da rua, seu movimento lento àquela hora, os fittipaldis das altas horas desrespeitando os sinais, a velhinha sob os papelões embaixo da marquise, o jornaleiro em sua bicicleta azul... Naquela modorra, louco por uma aventura, lembrei-me do presente de vidro.

Corri para a sala, dei uma procuradinha rápida e o vi ali, na estante. Cheguei perto, meus olhos acostumados à pouca luz viram opeixinho dourado, devagarzinho de um lado para outro entre borbulhas.

Definitivamente, Carlota me amava! Embora tivesse lanchado havia pouco, não resisti. Me joguei sobre o aquário e me deliciei com aquele jantar surpresa.

Acordei com um puxão pelo cangote que quase me mata de susto entre gritos e choro de Carlota:

- Gato desgraçado! Só me dá dor de cabeça, prejuízo e trabalho, seu bosta!


Abriu a porta, me atirou no corredor e nunca mais pude entrar, nem depois de ficar lamentando à porta madrugada a fora.




Um presentinho para a Karlota.


Atendi a um convite e agora você pode me ler semanalmente também no Extremo 21,
que está sendo implantado agora.